sexta-feira, 13 de setembro de 2013

O tradicionalismo anti-Vaticano II


É bem conhecido o argumento dos tradicionalistas anti-Vaticano II, segundo o qual, por não ter condenado os erros do mundo moderno, o Concílio Vaticano II automaticamente assimilou-os.
Assim, o Concílio Vaticano II seria um Concílio maçônico por não ter condenado a Maçonaria...
Seria modernista por não ter condenado a heresia do Modernismo... Seria marxista por não ter condenado o marxismo... Seria protestante por não ter condenado o Protestantismo... Seria alguma coisa por não ter condenado alguma coisa...
Este argumento de causa e efeito vale para qualquer uma das acusações sobre supostos erros e heresias que os tradicionalistas anti-Vaticano II tenham a disferir contra este Concílio Ecumênico. Dizem eles que ao recusar-se a se pronunciar dogmaticamente, e ao querer manter num nível “meramente pastoral” (como não cansam de repetir), o Concílio Ecumênico Vaticano II teria perdido sua autoridade, teria se condenado e condenado a Igreja a uma autodemolição, teria fundado uma anti-Igreja, feito surgir uma “Roma neo-modernista e neo-protestante”... e blá-blá-blá.
Vale salientar, contudo, que a condenação aos erros modernos, que os falsos tradicionalistas tanto cobram do Concílio Vaticano II, já fora inúmeras e repetidas vezes proferida pela Igreja antes do Concílio, e continuou a sê-lo após o Concílio. A igreja já condenara a Maçonaria, já condenara o Protestantismo (e há muito tempo!), já condenara o Modernismo, já condenara o Marxismo... Todas estas condenações já haviam sido proferidas.
Ao invés de repetir anátemas que já haviam sido proferidos contra os erros e heresias modernas, a Igreja achou melhor fazer refulgir as luzes da Fé Católica, confrontando-as com os erros modernos. Como sabiamente disse o Papa Beato João XXIII, no Discurso de Solene Abertura do Concílio Vaticano II, a 11 de Outubro de 1962, explicando que o combate aos erros neste momento se daria pela demonstração íntegra da Verdade: “Ao suceder uma época a outra, vemos que as opiniões dos homens se sucedem excluindo-se umas às outras e que muitas vezes os erros se dissipam logo ao nascer, como a névoa ao despontar o sol. A Igreja sempre se opôs a estes erros; muitas vezes até os condenou com a maior severidade. Agora, porém, a esposa de Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia do que o da severidade. Julga satisfazer melhor às necessidades de hoje mostrando a validez da sua doutrina do que renovando condenações. Não quer dizer que faltem doutrinas enganadoras, opiniões e conceitos perigosos, contra os quais nos devemos premunir e que temos de dissipar; mas estes estão tão evidentemente em contraste com a reta norma da honestidade, e deram já frutos tão perniciosos, que hoje os homens parecem inclinados a condená-los, em particular os costumes que desprezam a Deus e a sua lei...” (SS. PAPA BEATO JOÃO XXIII, Discurso de Abertura do Concílio Vaticano II).
A Igreja, portanto, aponta agora a Verdade, o caminho correto a ser seguido pelo mundo moderno, já que os erros e as vias tortuosas já haviam sido indicados por Pio IX no seu corajoso Syllabus, por Leão XIII na sua magistral Humanum Genus, por S. Pio X na sua magnífica Pascendi Dominici Gregis, etc.
Isto explicou o Papa Paulo VI há 44 anos, em Alocução aos sacerdotes participantes da XIII Semana Italiana de Atualização Pastoral, a 6 de setembro de 1963. As palavras de Paulo VI são deveras esclarecedoras, e fulminantes (um verdadeiro torpedo) para o argumento dos tradicionalistas anti-Vaticano II:
Não se creia também que esta solicitude pastoral, assumida hoje pela Igreja como programa primordial que absorve sua atenção e polariza seus cuidados, signifique uma modificação do julgamento formulado acerca dos erros disseminados em nossa sociedade, e já condenados pela Igreja, como o marxismo ateu, por exemplo. Procurar aplicar remédios salutares e urgentes a uma doença contagiosa e mortal não quer dizer mudar de opinião a respeito dessa doença, mas, pelo contrário, significa procurar cambatê-la não somente em teoria, mas praticamente; significa que se quer, depois do diagnóstico, aplicar uma terapêutica, isto é, após a condenação doutrinária, aplicar a caridade salutar” (SS. PAPA PAULO VI, Alocução a 6 de setembro de 1963) (grifos nossos).
Que palavras claras e esclarecedoras!
Que golpe duro no argumento errôneo e absurdo dos tradicionalistas anti-Vaticano II!
O Papa deixou mais do que claro que “esta solicitude pastoral, assumida hoje pela Igreja [...] [não significa] uma modificação do julgamento formulado acerca dos erros disseminados em nossa sociedade, e já condenados pela Igreja”. Que clareza! Combater o erro mostrando a Verdade não é modificar a opinião de que aquele erro é um erro! Não condenar novamente os erros que “já [foram] condenados pela Igreja”, mas optar por combatê-los mostrando a beleza da Fé Católica, não significa assimilá-los, como absurdamente concluem os falsos tradicionalistas, pois “procurar aplicar remédios salutares e urgentes a uma doença contagiosa e mortal não quer dizer mudar de opinião a respeito dessa doença”! Que esclarecedor foi o Papa Paulo VI!
Para aqueles que negam a autoridade de Paulo VI (sedevacantistas) ou que embora a reconheçam dizem que seu Magistério nada vale, pois o acusam de ter sido um Papa liberal, eis o que disse sobre ele Irmã Lúcia, uma dos pastorinhos de Fátima, ela que viu, ouviu e falou com Nossa Senhora:
"Não há outro que seja verdadeiro, nem escolhido por Deus para cabeça do Seu Corpo Místico sobre a terra. Ele é o guia do Seu povo. Povo de Deus, o que constitui a Igreja militante, da qual nós temos a felicidade de ser membros; precisamos manter-nos fiéis, firmes na Fé, na Esperança e na Caridade, unidos ao representante de Cristo na Terra, seguindo a Sua doutrina, os Seus ensinamentos, as Suas directrizes: - se alguém lhe disser o contrário, não lhe dê crédito, porque esses tais estão em erro; são os de quem fala Nosso Senhor no Seu Evangelho: ‘As varas que, separadas da cepa, murcham, secam e só servem para ser lançadas ao fogo e arder’. Permaneçamos unidos à videira, para que a seiva Divina corra nas nossas almas e nos salve...” (O Segredo de Fátima. Irmã Lúcia; Edições Loyola, São Paulo, 1991. Pág. 189) (grifos nossos). 
Onde está agora a coerência dos tradiconalistas anti-Vaticano II, onde estão corretos, quando o próprio Sucessor de Pedro os refuta de forma tão clara e certa?
Com estas palavras, o grande Sumo Pontífice Paulo VI, em tom moderado mas em linguagem firme, deu um duro golpe no tradicionalismo anti-Vaticano II, deixando em cacos um dos pilares mais fortes de sua argumentação.
Criado em Segunda, 22 Outubro 2007 00:00
Escrito por Taiguara Fernandes de Sousa

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