ANO A
Mc 6,30-34
Comentário do Evangelho
A compaixão não se confunde com dó
Trata-se da volta dos Doze da missão para a qual foram enviados (cf. Mc 6,6b-12). A indeterminação do período de duração da missão parece querer fazer parecer ao leitor que a missão se estende para além de qualquer circunscrição histórica. Depois da partilha (v. 30), os discípulos são convidados por Jesus a ir a um lugar distante para descansar. O “descanso” permite ver que, em todo o bem feito, é Deus quem está na origem. O descanso é dado para recordar o quanto o Senhor fez por seu povo. A proposta não pôde ser levada a termo em razão do grande número de pessoas que procuram Jesus (cf. tb. Mc 3,20) e do sentimento que move Jesus na realização de sua missão: a “compaixão” (v. 34). A compaixão é um sentimento divino que faz agir em favor das pessoas, socorrendo-as em suas necessidades; não se confunde com simples pena ou dó, mas abre o coração para que a pessoa ofereça o melhor de si mesma em favor dos demais. O abandono do povo por aqueles que deviam cuidar dele, qual pastor cuida do seu rebanho, é a causa da compaixão de Jesus (cf. v. 34; ver: Nm 27,17; 1Rs 22,17). O seu ensinamento orienta e congrega. Nosso texto serve de introdução ao relato da “multiplicação dos pães” (vv. 35-44).
Carlos Alberto Contieri, sj
Oração
Pai, dá-me as disposições necessárias para eu realizar bem a missão recebida de Jesus, tendo-o sempre como modelo.
Vivendo a Palavra
O Mestre cuida do bem estar dos discípulos e os convida a descansar em lugar deserto. Lembremos disto em nossas relações com os companheiros de viagem e de fé. Não os sobrecarreguemos com tarefas demasiadas, deixando-lhes tempo e inspiração para se colocarem a sós em oração, na companhia do Pai Misericordioso.
VIVENDO A PALAVRA
Nas entrelinhas, lições de humanidade de Jesus: seu cuidado com o cansaço dos amigos, a busca da convivência fraterna no seio da comunidade e, ao fim, o abrir mão da desejada intimidade em benefício da multidão que afluía para ouvi-Lo. São pormenores que devemos guardar para repetir em nossas relações comunitárias e sociais.
Reflexão
Devemos colocar a nossa felicidade onde se encontram os verdadeiros valores. As pessoas que vivem segundo os valores desse mundo colocam a sua felicidade nas coisas do mundo. São pessoas materialistas e hedonistas, marcadas pelo desejo do acúmulo de bens materiais e de poder e também na busca desenfreada de todos os prazeres proporcionados por este mundo, como é o caso do sexo e dos vícios em geral. São pessoas insatisfeitas porque na verdade foram criadas à imagem e semelhança de Deus e só podem ser satisfeitas plenamente em Deus, uma vez que são abertas ao infinito. Somente quem coloca a sua felicidade nos valores eternos encontra em Deus a sua plena satisfação.
Reflexão
É a segunda vez, no Evangelho de Marcos, que aparece a expressão “não tinham tempo nem para comer” (cf. Mc 3,20), referindo-se a Jesus e seus discípulos envolvidos com as numerosas multidões. O que busca essa fileira de homens, mulheres e crianças? Querem, antes de tudo, recuperar a esperança e o sentido de viver. E Jesus lhes dá, em abundância, esse alimento espiritual. As pessoas anseiam por uma sociedade assentada em valores como a justiça, a boa convivência familiar e social, a prática do perdão e os atos de misericórdia. É isso que Jesus ensina. É isso que Jesus pratica. São essas as bases do Reino que ele veio anunciar, implantar e propagar. Os que acorrem a Jesus sabem que ele tem palavras de vida eterna; que ama a todos e dá preferência aos empobrecidos e marginalizados.
Oração
Ó Jesus, incansável evangelizador, convidas teus apóstolos para uma pausa restauradora. Voltam da missão, cheios de novidades e ansiosos para partilhar os prodígios realizados. Não deu tempo. Multidões aguardavam a tua presença e a deles. Tiveram prioridade, pois “eram como ovelhas sem pastor”. Amém.
(Dia a dia com o Evangelho 2020 - Pe. Luiz Miguel Duarte, ssp (dias de semana) Pe. Nilo Luza, ssp (domingos e solenidades))
Recadinho
Procuramos agir com dedicação quando se trata de testemunhar a Graça de Deus? - Nós nos preocupamos com o repouso necessário dos que se dedicam ao serviço? - Procuramos nos alimentar sempre das coisas de Deus? - Procuramos momentos específicos para nossa comunicação com Deus? - Não há muita gente esquecida, que vive na solidão?
Padre Geraldo Rodrigues, C.Ss.R
Meditando o evangelho
A SÓS, COM JESUS
No processo de formação dos discípulos, Jesus evitava que caíssem num ativismo incontrolado. Eram tantas as pessoas que os rodeavam, fazendo solicitações de todo tipo, a ponto de não terem nem tempo para comer. Essa situação, com o passar do tempo, poderia se mostrar prejudicial. O excesso de atividades levaria os discípulos a se desviarem do verdadeiro sentido de sua missão.
Por isso, Jesus os convida para estarem à sós, com ele, de forma a criar um espaço de convivência e de troca de experiências, útil para quem se via tão atarefado. Os apóstolos tinham para partilhar sua experiência concreta de missão. Eles tinham experimentado a força de sua palavra, pela qual os demônios eram expulsos. Viram como os doentes recobravam a saúde quando eram ungidos. Presenciavam a transformação operada na vida de quem se predispunha a converter-se ao Reino e fazer penitência por seus pecados. Eram testemunhas da alegria que se apoderava de quem se descobria amado por Deus e objeto de sua misericórdia.
O desejo de Jesus de estar sozinho com os discípulos não se concretizou. A multidão chegou antes deles, no lugar afastado para onde se dirigiam. Embora irrealizado, o desejo de Jesus não pode ser descartado sem mais. O ativismo é um perigo que deve ser evitado.
(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês)
Oração
Senhor Jesus, que eu saiba encontrar momentos para estar a sós contigo, revendo a minha vida de discípulo e me predispondo para continuar melhor a missão.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. Trabalhando na hora do descanso...
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)
Desculpem-me o título da reflexão, mas é isso mesmo! Os apóstolos de Jesus, depois de um final de semana cheio de atividades, reuniões, pregações e celebrações, resolveram procurar Jesus na Segunda Feira para contarem dos resultados positivos de tantos trabalhos, feitos com tanto amor e alegria. Mas Jesus notou que eles estavam cansados, precisavam retirar-se para um local ermo, descansar um pouco, descontrair e jogar algumas conversas fora, Jesus não era um homem carrancudo e tempo inteiro falando sério, ensinando, pois quando estava a sós com os discípulos, é exatamente como nós com os amigos mais chegados, quando ficamos a vontade, conta-se uma história engraçada e se dá muita risada. Faz-se alguma piada sobre alguém do grupo... Ah que gostoso imaginar um Jesus de Nazaré assim tão humano como a gente...
A agitação do trabalho pastoral era muito grande, gente que ia e que vinha para reuniões, celebrações, encontros, exatamente como é a comunidade em finais de semana. Então na Segunda Feira pegaram uma barca e decidiram dar um passeio para o outro lado, claro que teria oração de louvor e agradecimento, haveria um momento para a partilha da experiência missionária, um outro para as orientações de Jesus, mas tudo com muita descontração.
E quando já estavam bem à vontade, começando a jogar conversa fora e traziam naqueles rostos uma inexplicável alegria por estarem ali juntos, ao chegarem à outra margem, já, com o carvão e a carne para um churrasco, quem sabe, espantaram-se ao ver a multidão que os esperava ali na outra margem. As pessoas estavam maravilhadas e contagiadas com a alegria daquele grupo, a pregação dos apóstolos e aquele jeito ensinado por Jesus, fora uma estratégia que havia dado certo, não importava que era uma segunda-feira, dia de descanso para os ministros e pastorais, o povo não queria ficar longe daquele grupo fantástico que tinha uma proposta totalmente nova de vida, de uma religião marcada acima de tudo pela alegria de sentir tão de perto o amor de Deus.
Os apóstolos talvez ficaram meio chateados "Pronto, acabou-se a nossa folga...," Mas Jesus sentiu compaixão das pessoas porque eram como ovelhas sem pastor, isso é, não tinham uma referência importante ou uma liderança autêntica para seguirem, e Jesus começou e ensinar-lhes muitas coisas mostrando que atenção, carinho, amor e compaixão para com as pessoas da comunidade, não tem dia e nem hora pois a vida de quem se consagrou a Deus e aos irmãos na comunidade, já não nos pertence...
2. Vinde, a sós, e descansai um pouco! - Mc 6,30-34
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por Côn. Celso Pedro da Silva, ‘A Bíblia dia a dia 2017’, Paulinas e disponibilizado no Portal Paulinas - http://comeceodiafeliz.com.br/evangelho)
Os apóstolos voltaram da missão e apresentaram seu relatório a Jesus. Jesus é a figura do Adão que Deus imaginou para este mundo. Imaginou, porque o fez à sua imagem e semelhança. E aqui está o novo Adão, que é o próprio Deus encarnado, revelando seu coração humano. Eles chegam cansados e Jesus os leva a um lugar tranquilo para que descansem. Jesus é sensível e percebe a situação em que os outros se encontram. Se ele fosse insensível, não perceberia nada. Seu coração é humano, por isso gostamos tanto do Sagrado Coração de Jesus. A multidão corre atrás de Jesus e mais uma vez ele sintoniza-se com aquele povo necessitado de ensinamento, de alimento, de saúde. Sente pena ao ver tanta gente abandonada à própria sorte. Compara a multidão a ovelhas sem pastor. Diz, então, o evangelista que Jesus começou a ensinar-lhes muitas coisas. Jesus está sempre ensinando, explicando as Escrituras, fazendo gestos, contando parábolas. O que Jesus teria ensinado naquela ocasião? Ele gostaria que fôssemos verdadeiramente humanos no trato uns com os outros. Assim, o Pai se sentiria honrado e feliz com seus filhos e filhas.
HOMILIA
JESUS TEM PENA DO POVO
Jesus havia escolhido os doze apóstolos e os enviara em missão. Agora retornam e contam a Jesus o seu desempenho. Na missão o ensino é acompanhado da ação libertadora e vivificante, o que é simbolizado pelas curas e exorcismos.
Uma leitura superficial do texto de hoje faz saltar aos olhos um tema muito central - o da “compaixão” de Jesus. Aliás, os evangelhos todos - e especialmente Lucas - enfatizam este aspecto da personalidade e da missão de Jesus. Ele demonstrou a quem o encontrasse a verdadeira natureza de Deus: de ter compaixão para todos os que sofrem. Os versículos de hoje demonstram este traço de Jesus no seu relacionamento com os discípulos e com as multidões. Com os discípulos, Ele ressalta a necessidade de descanso depois das tarefas apostólicas. Quando voltam empolgados com os resultados da missão, a primeira reação do Mestre é convidá-los para uma retirada, para que possam refazer as forças. Jesus tem critérios que não correspondem com o grande critério da sociedade nossa - o da eficácia! Para Ele, os apóstolos não eram máquinas; mas, em primeiro lugar pessoas humanas, que necessitavam de serem tratadas como tal.
O trabalho - mesmo o trabalho missionário - não é o absoluto. Jesus reconhece a necessidade de um equilíbrio entre todos os aspectos da vivência humana. Aqui há uma lição para muitos cristãos engajados hoje - embora devamos nos dedicar ao máximo pelo apostolado, não devemos descuidar das nossas vidas particulares, do cultivo de valores espirituais, da saúde e do relacionamento afetivo com os outros. Caso contrário, estaremos esgotados em pouco tempo, meras máquinas ou funcionários do sagrado, que não mostram ao mundo o rosto compassivo do Pai. Mais ainda, o texto ressalta a compaixão de Jesus para com o povo sofrido. Era tão procurado pelo povo, rejeitado e desprezado pelos chefes político-religiosos de então, que nem tinha tempo para comer.
Quando Ele se retirava, o povo ia atrás d’ Ele. O que atraía tanta gente? Com certeza não foi em primeiro lugar a doutrina, nem os milagres, mas o fato de irradiar compaixão, de demonstrar de uma maneira concreta o amor compassivo de Deus. Jesus não teve “pena” do povo, não teve “dó” dos sofridos. Teve “compaixão”, literalmente, sofria junto, e tinha uma empatia pelos sofredores, que se transformava numa solidariedade afetiva e efetiva. Este traço da personalidade de Jesus desafia a Igreja e os seus ministros hoje, para que não sejam burocratas do sagrado, mas irradiadores da compaixão do Pai. Infelizmente, muitas vezes as nossas secretarias paroquiais mais parecem repartições públicas do que lugares de encontro com a comunidade que acredita no Deus de Jesus!
A frieza humana frequentemente marca as nossas atitudes, pregações e cuidado pastoral. Num mundo que exclui que marginaliza e que só valoriza quem consome e produz, o texto de hoje nos desafia para que nos assemelhemos cada vez mais a Jesus, irradiando compaixão diante das multidões, hoje, como dois mil anos atrás, semelhantes a “ovelhas sem pastor”.
Pai, dá-me as disposições necessárias para eu realizar bem a missão recebida de Jesus, tendo-o sempre como modelo.
Padre Bantu Mendonça Katchipwi Sayla
HOMÍLIA DIÁRIA
Peça a Deus a sabedoria para discernir entre o bem e o mal
A sabedoria que nos dá discernimento, que nos mostra o caminho, que nos permite acertar e jamais nos afastar do caminho do Senhor!
”Dá, pois, a teu servo, um coração compreensivo, capaz de governar o teu povo e de discernir entre o bem e o mal” (1Rs 3,9 ).
Meus queridos irmãos e irmãs, nós estamos acompanhando a ascensão do rei Salomão ao trono de Israel, para suceder o seu pai, Davi. Ainda muito jovem, com o coração temeroso, mas, ao mesmo tempo, também temente a Deus, o jovem Salomão se apresenta diante de Deus e faz uma oração que agrada demais ao coração do Senhor. Talvez a oração mais profunda, a oração mais humilde, mais sincera, que tocou o coração de Deus como nunca fora tocado antes.
Deixe-me dizer por que razão isso aconteceu, porque Salomão se apresentou diante de Deus, não foi para pedir mais riquezas, mais saúde, vida longa, não foi pedir para aniquilar seus inimigos, para poder tornar o seu reino mais esplendoroso e mais expansivo. Não! Salomão foi pedir a Deus ”sabedoria”.
Você sabe o que é sabedoria? Sabedoria não se trata de inteligência, de conhecimento a mais, de se tornar a mais sabido. A sabedoria que Salomão foi pedir a Deus foi a de ter um coração compreensivo, um coração que seja capaz de escutar o que era a vontade do Senhor e o que não era a vontade d’Ele. Um coração que possa discernir entre aquilo que o bem e agrada a Deus e aquilo que é o mal e não agrada a Deus.
Deus ficou extremamente comovido com a oração de Salomão, abençoou-lhe e deu aquilo que o seu coração pedia. Nós precisamos, hoje, aprender com Salomão a fazer nossas orações diante de Deus, porque nós, muitas vezes, pedimos isso ou pedimos aquilo, estamos em busca das coisas materiais, estamos em busca de conquistar isto ou conquistar aquilo.
E quem é que falou que isso que nós queremos será o melhor!? O que nós precisamos, meus irmãos e minhas irmãs, é ter a sabedoria, dom do Espírito Santo, a sabedoria que nos dá discernimento, a sabedoria que nos mostra o caminho, a sabedoria que nos permite acertar e jamais nos afastar do caminho do Senhor!
No seu coração, peça, hoje, que Deus lhe conceda essa sabedoria! A você que é pai e a você que é mãe, que o Senhor lhes conceda sabedoria para educar seus filhos. A você que está casado, sabedoria para seguir no seu casamento. A você que é jovem, moça, rapaz, sabedoria para conduzir tudo e para fazer as escolhas certas na sua vida.
Como nós precisamos de sabedoria, como nós precisamos de discernimento nesta vida! Nós, muitas vezes, quebramos a cara, batemos a cara, por este mundo afora, por falta de sabedoria.
Que hoje possamos abaixar nossa cabeça e suplicar ao alto que o Espírito Santo venha em nosso socorro e nos conceda a sabedoria divina!
Deus abençoe você!
Padre Roger Araújo
Sacerdote da Comunidade Canção Nova, jornalista e colaborador do Portal Canção Nova.
Oração Final
Pai Santo, livra-nos do ativismo e nos faze recordar da dimensão humana dos nossos irmãos de fé. Lembremo-nos do exemplo do Mestre, que cuidava para que os discípulos tivessem oportunidade de estar a sós com Ele em descanso e oração. Nós Te pedimos, Pai amado, pelo Cristo Jesus, teu Filho e nosso Irmão, na unidade do Espírito Santo.
ORAÇÃO FINAL
Pai Santo, que os nossos momentos de descanso e repouso não nos impeçam de estar atentos aos apelos dos nossos companheiros de caminhada. Faze-nos, amado Pai, amigos compassivos, capazes de servir, mais do que de usufruir. Por Jesus Cristo, teu Filho que se fez nosso Irmão, e contigo reina na unidade do Espírito Santo.