ANO C
Lc 6,27-38
Comentário do
Evangelho
O amor implica “fazer o bem”
O trecho proposto para hoje é a continuidade do
“Sermão da planície” e está dominado pelo tema do amor aos inimigos. Amor que
implica “fazer o bem” (v. 27), pois o “amor se põe mais em gestos que em
palavras” (Santo Inácio de Loyola). Os destinatários deste trecho são os “vós
que me escutais”, aqueles que não simplesmente ouvem, mas que, ouvindo,
permitem à palavra cair no mais profundo do coração, lá aonde só Deus chega e
transforma radicalmente a existência humana.
Deus é misericordioso. É preciso que os que ouvem
o Senhor se deixem configurar por este mesmo Deus: “Sede misericordiosos, como
o vosso Pai é misericordioso” (v. 36). Esta identificação é traduzida na
prática do amor aos inimigos, que já é superação da teologia da retribuição:
“Se amais somente aqueles que vos amam... se fazeis o bem somente aos que vos fazem o bem... E se prestais
ajuda somente àqueles de quem esperais receber, que generosidade é essa?” (vv.
32-34).
O amor aos inimigos é o “plus” exigido para uma
vida cristã autêntica.
Carlos Alberto Contieri, sj
Oração
Pai, predispõe-me a amar meus inimigos e
perseguidores. Só assim estarei dando testemunho do amor que devotas a cada ser
humano.
Vivendo a Palavra
Outra uma vez nós mergulhamos no mais profundo e
radical mandamento do Evangelho de Jesus: o Amor que inclui até mesmo nosso inimigo.
Amor vivido como misericórdia e não só com palavras; amor que não significa
apenas ou necessariamente ‘gastar de’, mas que se traduz em querer e fazer o
bem a todos os irmãos colocados ao nosso lado na caminhada.
Vivendo a PalavrA
Outra vez nós mergulhamos no mais radical
mandamento de Jesus: o Amor, que inclui até nosso inimigo. Amor vivido como
misericórdia, e não só com palavras; amor que não significa apenas, e nem
necessariamente, ‘gostar de alguém’, mas que se traduz em desejar e fazer o bem
a todos os irmãos que se encontram ao nosso lado na caminhada.
Reflexão
A regra do ouro da vida do cristão é resumida por
Jesus na frase: 'O que vós desejais que os outros vos façam, fazei-o também vós
a eles'. Todas as pessoas desejam ser amadas, compreendidas e servidas, por
isso, todos devem amar, compreender e servir. Devemos ser diferentes das
pessoas que vivem a reciprocidade: devemos viver a gratuidade, ser diferentes
dos que vivem fazendo justiça: devemos ser misericordiosos. O critério do nosso
agir em relação aos outros não pode ser o agir dos outros, mas sim o próprio
Deus, que não nos trata segundo nossas faltas, mas ama a todas as pessoas,
indistintamente, com amor eterno e as cumula com a abundância dos seus bens. Se
vivermos segundo esse critério, seremos filhos do Altíssimo e será grande a
nossa recompensa nos céus.
Reflexão
A
seus discípulos, e a nós, Jesus propõe um caminho exigente. Não se trata apenas
de ter amor no coração; é necessário demonstrá-lo com ações. São exigências que
vão na direção contrária de nossas tendências egoístas. Aqui a ordem do Mestre
é sair de nós mesmos e favorecer gratuitamente o próximo. Mais que isso, é amar
os inimigos e rezar por aqueles que nos caluniam, lembrando que a calúnia
produz um rasgo profundo no íntimo da vítima. A motivação para tudo isso é
sermos semelhantes ao Pai celeste; é assumirmos as atitudes benevolentes que
ele assume em relação a todos, bons e maus. Por isso, Jesus declara
solenemente: “Sejam misericordiosos, como o Pai de vocês é misericordioso”.
Nossas escolhas, se forem segundo as exigências do Reino, serão recompensadas
por Deus em larga medida.
(Dia a dia com o Evangelho 2019 - Pe. Luiz Miguel
Duarte, ssp)
Meditação
Rezo por aqueles que me injuriam? - Em que
consiste para mim amar os inimigos? - Como procuro resolver os pequenos
conflitos do dia a dia? - Procuro em Deus a ajuda de que necessito para vencer
as dificuldades? - Quando tomo conhecimento de algum problema, jogo sobre ele
um balde de água ou de gasolina?
Padre Geraldo Rodrigues, C.Ss.R
Meditando o evangelho
O PAI, MODELO DE MISERICÓRDIA
O ensinamento de Jesus a respeito do amor aos inimigos é o maior desafio
para quem aceita tornar-se seu discípulo. Este amor aos inimigos foi
especificado de várias maneiras. Responder o ódio com a prática do bem, a
maldição com a bênção e a calúnia com a oração são todas formas de amar os
inimigos e, assim, quebrar a espiral da violência. Oferecer a outra face a que
o esbofeteou e dar a túnica a quem lhe tirou o manto são também sinais deste
amor. O discípulo, agindo assim, reverte uma maneira esteriotipada de reagir,
pela qual as pessoas tendem a revidar o mal com o mal e a violência com
violência. Só é capaz de agir assim quem tem o coração repleto da misericórdia
do Pai. Caso contrário, não terá condições de realizar os gestos heróicos
propostos por Jesus.
O modelo inspirador da ação cristã é a misericórdia do Pai. Ele é
igualmente bondoso para bons e maus. Se ele respondesse às ofensas humanas,
eliminando o pecador, boa parte da humanidade deveria desaparecer. O Pai tem
paciência com os ingratos e malvados por nutrir a esperança de que se convertam
para a misericórdia no trato mútuo.
O mesmo se dá com o discípulo. A capacidade de fazer frente à violência,
com o amor, justifica-se pela esperança de conquistar o malvado para o Reino. A
atitude cristã pode fazer o perverso abandonar seu caminho de violência e
levá-lo a optar pelo caminho indicado por Jesus.
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese
Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado
no Portal Dom Total).
Oração
Senhor Jesus, dá-me força e coragem para retribuir o ódio com o amor e,
assim, poder conquistar meus inimigos para o Reino.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. AMAR OS INIMIGOS!
(O comentário do Evangelho
abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP)
Este é um evangelho daqueles bem desconcertantes, porque em
tempo em que se cometem crimes horrendos que chocam a opinião pública,
praticados por bandidos cruéis, há no coração do povo um sentimento de
vingança. Um pouco pela própria natureza humana, que diante de uma agressão
pensa na vingança como forma de punir o agressor, mas este sentimento é também
calcado no coração das pessoas pela mídia sensacionalista que mistura
indignação, ódio e vingança, enfiando tudo goela abaixo do povo que a toma como
uma verdade absoluta sendo que a proposta é sempre a mesma: eliminar a árvore,
porém sem mexer em sua raiz, eliminar o efeito sem se preocupar com a causa.
“Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam,
abençoai os que vos maldizem e orai pelos que vos injuriam” Para muitos
cristãos este evangelho é difícil de ser praticado e então o empurram para
baixo do tapete, como fazemos com aquela “sujeirinha” inoportuna, quando não
queremos fazer uma faxina pra valer em nossa casa. Primeiramente é bom que se
esclareça algo muito importante: Jesus não fez esse ensinamento a toda
multidão, mas apenas aos que o ouviam, isto é, aos seus discípulos, os mesmos
para os quais já havia dito no sermão da planície, a frase revolucionária
“Feliz os pobres porque deles é o Reino de Deus”.
Mas afinal de contas quem é o nosso inimigo? É todo que nos faz
ou nos deseja algum tipo de mal, de pequenas ou de grandes proporções. A
inimizade existe em todo lugar, escola, trabalho, família, vizinhança, esporte,
e até em lugar onde ela nunca deveria existir: na comunidade, entre ministros,
agentes pastorais, dirigentes, coordenadores e obreiros. Diante desse
evangelho, imediatamente pensamos nas situações críticas da sociedade onde
assistimos a confronto de classes, chacinas, extermínios, atos de violência
explícita no confronto entre nações. Então um sentimento de impotência nos
domina e achamos que nada há para se fazer a não ser rezar.
Mas a coisa mais importante que devemos fazer, de maneira bem
prática, é olharmos mais perto, para o nosso quotidiano onde nos relacionamos
com as pessoas. Que sentimentos alimentamos, com nossos gestos, palavras
e atitudes? A quem devemos ouvir e dar razão: ao mundo que propõe a vingança e
o extermínio de quem pratica o mal, ou ao evangelho de Cristo, que nos ensina o
amor, o perdão e a misericórdia?
Jesus não condena uma pessoa que quer justiça e vingança contra
alguém que lhe fez mal. Esta é uma reação humana, perfeitamente compreensível e
natural, de acordo até com um ensinamento bíblico do Antigo Testamento, de que
se deve fazer o bem a quem nos faz o bem, e o mal a quem nos deseja o mal, é a
lei do talião, olho por olho e dente por dente, fato que acontece com o melhor
e mais santo dos cristãos .Somos homens desta terra, descendentes de Adão e
irmãos de Caim, que cometeu o primeiro crime da história ao matar seu próprio
irmão Abel por ciúmes e inveja.
Porém, lembra-nos o apóstolo Paulo na segunda leitura, o
Espírito vivificante nos transformou em Homens celestiais a partir da graça que
Jesus nos concedeu, dom imerecido que nos santifica e nos configura ao próprio
Cristo, portanto capacitados para viver na relação com o próximo, aquele único
e verdadeiro amor com o qual Deus nos ama em seu Filho Jesus.
A proposta desse jeito novo de se relacionar é apenas para os
discípulos do Senhor que hoje são todos os que creem e são batizados, vivendo
em comunidade com os irmãos e irmãs. É aí que devemos trabalhar no sentido de
superarmos na graça de Deus, qualquer sentimento de ódio, mágoa ou vingança,
contra alguém que nos fez o mal.
Da comunidade vamos para a família e desta para o nosso ambiente
de trabalho, é isso que Jesus pede de nós nesse evangelho, pois somente nos
exercitando no amor, na misericórdia e no perdão, com as pessoas com quem
convivemos, é que teremos a coragem de anunciar o evangelho falando o contrário
do que o mundo nos ensina.
Somente assim estaremos sendo Filhos do Altíssimo, imagem e
semelhança do Pai de Misericórdia que em Jesus nos ama, jamais nos tratando
segundo as nossas faltas. Então o primeiro passo nesse processo de conversão, é
reconhecermos que somos imperfeitos, ainda uma imagem muito distorcida de Deus
que é todo perfeição e santidade. Dado este primeiro passo, a graça
transbordante do Senhor, em um processo dinâmico de conversão, nos configurará
a Cristo, imagem perfeita do Amor de Deus vivido com os irmãos.
2. Que generosidade é essa?
Proclamadas as bem-aventuranças, Lucas destaca o que
verdadeiramente importa na vida dos seguidores de Jesus: o amor efetivo. Não o
amor só de palavras, mas o amor prático, que se deixa ver naquilo que se faz.
Para nos ajudar e animar na prática do amor fraterno, Jesus nos diz que “a
medida que usarmos para os outros, servirá também para nós” e assim “tratar os
outros como queremos ser tratados”.
Liturgia comentada
No seu santuário... (Sl 150)
Este Salmo que conclui o Hallel, no fecho do
Saltério, começa por um convite com tonalidade imperativa: “Louvai a Deus no
seu santuário!” E onde estará o santuário do Senhor?
Na Primeira Aliança, multidões de israelitas
acorriam de todo o mundo para adorar a Yahweh no Templo de Jerusalém, o “lugar”
onde Deus morava, na penumbra do Santo dos Santos, junto à Arca da Aliança. Até
estrangeiros, como o eunuco da Rainha Candace (cf. At 8,26ss), para lá se
dirigiam com a mesma intenção de “adorar”.
Estaria o Criador prisioneiro de um templo?
Aquele que é maior que o Cosmo estaria ausente de sua Criação?
O teólogo Gianfranco Ravasi escreveu um livro
muito inspirado para responder à pergunta: “Onde estás, Senhor?” [Dove sei,
Signore? Ed. San Paolo, Milão, 2012] Trata-se de uma “teologia do espaço”. Qual
é a casa de Deus, o lugar próprio para sua adoração?
Claro que os templos têm sentido. O aforisma da
tradição judaica afirmava: “O mundo é como o olho: o mar é o branco do olho; a
terra, a íris; Jerusalém é a pupila, e a imagem nela refletida é o Templo”. O
Povo Escolhido situava no Templo – hoje reduzido a um muro que recolhe lágrimas
– a Presença do Senhor, a sua Shekinah. A ruína do Templo extinguiu os
sacrifícios e o sacerdócio, concentrando as atenções na Palavra.
E se, um dia, forem proibidos os santuários e as
capelinhas do alto do morro? Nada de essencial irá mudar. Mesmo então,
poderemos repetir as palavras do salmista: “Para onde irei, longe de vosso
Espírito?” (Sl 139,7) Há muitas moradas de Deus à nossa volta. Sua Presença
preenche a toda a terra, onde o Vento rege a sinfonia da floresta. Preenche os
oceanos, onde os cardumes dançam o inigualável balé submarino.
Ravasi comenta: “O espaço - como sugere a imagem
de um cântico da sinagoga, na festa das Semanas (Pentecostes) – é um pergaminho
desdobrado entre o céu e a terra, sobre o qual estão escritas palavras de Deus
e palavras de louvor humano”. Mesmo antes que Deus se encarnasse na Torá, a Lei
dada aos homens, e depois no ventre da Mulher, um primeiro degrau da
“encarnação” já estava disponível ao homem que contempla a Criação e intui o
Criador.
Acima de tudo, porém, Deus habita no coração do
homem. Como esquecer a interpelação do apóstolo Paulo? “Não sabeis que sois o
templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o
templo de Deus, Deus o destruirá. Porque o templo de Deus é sagrado – e isto
sois vós.” (1Cor 3,16)
No santuário do coração, louvemos o nosso Deus!
Orai sem cessar: “Minha Presença irá contigo, e serei o teu guia!”
(Ex 33,14)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica
Nova Aliança.
HOMILIA
DIÁRIA
Você tem vontade de se vingar?
A vontade de se vingar daquele que nos fez mal e
outros sentimentos como esse não são de Deus, pois eles corroem nossa alma,
nosso espírito e nosso físico.
Disse Jesus: “Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que
vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, e rezai por aqueles que vos
caluniam” (cf. Lc
6,27-28).
O Mestre Jesus está nos ensinando a ter um
coração bom e misericordioso, mas talvez você diga: “Eu não consigo ser tão
bom, não consigo ter sangue de barata, não consigo ser tão manso dessa forma!”.
Nós nos colocamos na escola de Jesus, desejamos ter um coração como o d’Ele, e
uma vez que Ele assumiu ser um de nós, Ele quer nos ensinar o que temos de fazer
para ter uma vida plena.
Se não aprendermos a amar o nosso inimigo, a
fazer o bem a quem nos odeia e orar por quem nos persegue, outros sentimentos
vão tomar conta do nosso coração como a raiva, o ressentimento, o ódio e o pior
de todos eles: a vingança.
A vontade de se vingar daquele que nos fez mal
e outros sentimentos como esse não são de Deus, pois eles corroem nossa alma,
nosso espírito e nosso físico. Quantas pessoas padecem no corpo, na alma,
padecem no seu psíquico, porque estão martelando, alimentando, sendo corroídas
por este sentimento maldoso de se vingar, de alimentar, nem que seja na mente,
a vingança espiritual: “Tomara que ele caia, tomara que se dê mal, tomara que
ele pague por aquilo que fez”; e isso, às vezes, cresce em nós, vai virando rugas
em nossa vida e se transformando em um câncer dentro de nós.
Como Deus nos quer bem, como Ele nos ama! O
Senhor não quer ver-nos prostrados, doentes, enfermos. Ele nos dá o antídoto,
nos dá o remédio. Assim como alguém que é picado por uma cobra precisa do
veneno dela para ser curado para não morrer; nós também precisamos desse
antídoto.
Não é a vingança, não é a ira, nem é pagando
com a mesma moeda que obteremos a justiça que nós buscamos.
Que nós aprendamos em Jesus que o perdão nos
cura, restaura-nos e nos dá a condição de sermos mais plenos naquilo que
queremos viver. Vida plena para todos nós.
Que nós possamos aprender com o Mestre a amar,
orar e querer bem a quem nos quer o mal.
Deus abençoe você!
Padre Roger Araújo
Sacerdote da Comunidade Canção Nova, jornalista e
colaborador do Portal Canção Nova.
Oração Final
Pai Santo, nós te damos graças pelo Evangelho de
Jesus. Faze-nos profetas que anunciem a Boa Notícia do teu Reino de Amor. Ele
já mostra seus sinais neste mundo. Está em nós e entre nós, trazido pelo Cristo
Jesus, teu Filho Unigênito que se fez nosso Irmão e contigo vive e reina na
unidade do Espírito Santo.
Oração FinaL
Pai Santo, nós te damos graças pelo Evangelho de Jesus. Faze-nos
profetas que anunciam a Boa Notícia do teu Reino de Amor, que já mostra seus
sinais neste mundo. Ele está em nós e entre nós, trazido pelo Cristo Jesus, teu
Filho Unigênito que se fez nosso Irmão e contigo vive e reina na unidade do
Espírito Santo.