domingo, 19 de fevereiro de 2012

O Terço - Mistério Gozosos - Segunda-Feira e Sábado.


Terço do Rosário: Mistérios Gozosos 

São Conrado - 19 de Fevereiro




São ConradoO santo de hoje viveu em Placência, na Itália, lugar onde casou-se também. Um homem de muitos bens, dado aos divertimentos e à caça. Numa ocasião de caçada, acidentalmente provocou um incêndio, prejudicando a muitas pessoas. 

Ele então fugiu, e a polícia prendeu um inocente, que não sabendo se defender, estava prestes a ser condenado e executado.

Quando Conrado soube disso, se apresentou como responsável pelo incêndio e se propôs a vender todos os bens para reconstruir tudo o que o incêndio destruiu.

A partir daí, ele e sua esposa começaram a fazer uma caminhada séria e profunda no Cristianismo, buscando a vontade de Deus.

No discernimento dessa vontade, o casal fez o 'voto josefino'. Ambos se consagraram a Deus para viverem o celibato. Ela foi para um convento e ele retirou-se para um alto monte vivendo por quarenta anos como um eremita. Na oração e na intimidade com Deus, se ofertou a muitos. A muitos que hoje causam prejuízos para si e para os outros.

São Conrado, rogai por nós!

FONTE DE PESQUISA: Canção Nova

BOM DIA

Uma linda semana pra você!

Mensagem do Papa Bento XVI para a quaresma de 2012




«Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras»  (Heb 10, 24)

Irmãos e irmãs!

A Quaresma oferece-nos a oportunidade de reflectir mais uma vez sobre o cerne da vida cristã: o amor. Com efeito este é um tempo propício para renovarmos, com a ajuda da Palavra de Deus e dos Sacramentos, o nosso caminho pessoal e comunitário de fé. Trata-se de um percurso marcado pela oração e a partilha, pelo silêncio e o jejum, com a esperança de viver a alegria pascal.

Desejo, este ano, propor alguns pensamentos inspirados num breve texto bíblico tirado da Carta aos Hebreus: «Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras» (10, 24). Esta frase aparece inserida numa passagem onde o escritor sagrado exorta a ter confiança em Jesus Cristo como Sumo Sacerdote, que nos obteve o perdão e o acesso a Deus. O fruto do acolhimento de Cristo é uma vida edificada segundo as três virtudes teologais: trata-se de nos aproximarmos do Senhor «com um coração sincero, com a plena segurança da fé» (v. 22), de conservarmos firmemente «a profissão da nossa esperança» (v. 23), numa solicitude constante por praticar, juntamente com os irmãos, «o amor e as boas obras» (v. 24). Na passagem em questão afirma-se também que é importante, para apoiar esta conduta evangélica, participar nos encontros litúrgicos e na oração da comunidade, com os olhos fixos na meta escatológica: a plena comunhão em Deus (v. 25). Detenho-me no versículo 24, que, em poucas palavras, oferece um ensinamento precioso e sempre actual sobre três aspectos da vida cristã: prestar atenção ao outro, a reciprocidade e a santidade pessoal.

1. «Prestemos atenção»: a responsabilidade pelo irmão.

O primeiro elemento é o convite a «prestar atenção»: o verbo grego usado é katanoein, que significa observar bem, estar atento, olhar conscienciosamente, dar-se conta de uma realidade. Encontramo-lo no Evangelho, quando Jesus convida os discípulos a «observar» as aves do céu, que não se preocupam com o alimento e todavia são objecto de solícita e cuidadosa Providência divina (cf. Lc 12, 24), e a «dar-se conta» da trave que têm na própria vista antes de reparar no argueiro que está na vista do irmão (cf. Lc 6, 41). Encontramos o referido verbo também noutro trecho da mesma Carta aos Hebreus, quando convida a «considerar Jesus» (3, 1) como o Apóstolo e o Sumo Sacerdote da nossa fé. Por conseguinte o verbo, que aparece na abertura da nossa exortação, convida a fixar o olhar no outro, a começar por Jesus, e a estar atentos uns aos outros, a não se mostrar alheio e indiferente ao destino dos irmãos. Mas, com frequência, prevalece a atitude contrária: a indiferença, o desinteresse, que nascem do egoísmo, mascarado por uma aparência de respeito pela «esfera privada». Também hoje ressoa, com vigor, a voz do Senhor que chama cada um de nós a cuidar do outro. Também hoje Deus nos pede para sermos o «guarda» dos nossos irmãos (cf. Gn 4, 9), para estabelecermos relações caracterizadas por recíproca solicitude, pela atenção ao bem do outro e a todo o seu bem. O grande mandamento do amor ao próximo exige e incita a consciência a sentir-se responsável por quem, como eu, é criatura e filho de Deus: o facto de sermos irmãos em humanidade e, em muitos casos, também na fé deve levar-nos a ver no outro um verdadeiro alter ego, infinitamente amado pelo Senhor. Se cultivarmos este olhar de fraternidade, brotarão naturalmente do nosso coração a solidariedade, a justiça, bem como a misericórdia e a compaixão. O Servo de Deus Paulo VI afirmava que o mundo actual sofre sobretudo de falta de fraternidade: «O mundo está doente. O seu mal reside mais na crise de fraternidade entre os homens e entre os povos, do que na esterilização ou no monopólio, que alguns fazem, dos recursos do universo» (Carta enc. Populorum progressio, 66).

A atenção ao outro inclui que se deseje, para ele ou para ela, o bem sob todos os seus aspectos: físico, moral e espiritual. Parece que a cultura contemporânea perdeu o sentido do bem e do mal, sendo necessário reafirmar com vigor que o bem existe e vence, porque Deus é «bom e faz o bem» (Sal 119/118, 68). O bem é aquilo que suscita, protege e promove a vida, a fraternidade e a comunhão. Assim a responsabilidade pelo próximo significa querer e favorecer o bem do outro, desejando que também ele se abra à lógica do bem; interessar-se pelo irmão quer dizer abrir os olhos às suas necessidades. A Sagrada Escritura adverte contra o perigo de ter o coração endurecido por uma espécie de «anestesia espiritual», que nos torna cegos aos sofrimentos alheios. O evangelista Lucas narra duas parábolas de Jesus, nas quais são indicados dois exemplos desta situação que se pode criar no coração do homem. Na parábola do bom Samaritano, o sacerdote e o levita, com indiferença, «passam ao largo» do homem assaltado e espancado pelos salteadores (cf. Lc 10, 30-32), e, na do rico avarento, um homem saciado de bens não se dá conta da condição do pobre Lázaro que morre de fome à sua porta (cf. Lc 16, 19). Em ambos os casos, deparamo-nos com o contrário de «prestar atenção», de olhar com amor e compaixão. O que é que impede este olhar feito de humanidade e de carinho pelo irmão? Com frequência, é a riqueza material e a saciedade, mas pode ser também o antepor a tudo os nossos interesses e preocupações próprias. Sempre devemos ser capazes de «ter misericórdia» por quem sofre; o nosso coração nunca deve estar tão absorvido pelas nossas coisas e problemas que fique surdo ao brado do pobre. Diversamente, a humildade de coração e a experiência pessoal do sofrimento podem, precisamente, revelar-se fonte de um despertar interior para a compaixão e a empatia: «O justo conhece a causa dos pobres, porém o ímpio não o compreende» (Prov 29, 7). Deste modo entende-se a bem-aventurança «dos que choram» (Mt 5, 4), isto é, de quantos são capazes de sair de si mesmos porque se comoveram com o sofrimento alheio. O encontro com o outro e a abertura do coração às suas necessidades são ocasião de salvação e de bem-aventurança.

O facto de «prestar atenção» ao irmão inclui, igualmente, a solicitude pelo seu bem espiritual. E aqui desejo recordar um aspecto da vida cristã que me parece esquecido: a correcção fraterna, tendo em vista a salvação eterna. De forma geral, hoje é-se muito sensível ao tema do cuidado e do amor que visa o bem físico e material dos outros, mas quase não se fala da responsabilidade espiritual pelos irmãos. Na Igreja dos primeiros tempos não era assim, como não o é nas comunidades verdadeiramente maduras na fé, nas quais se tem a peito não só a saúde corporal do irmão, mas também a da sua alma tendo em vista o seu destino derradeiro. Lemos na Sagrada Escritura: «Repreende o sábio e ele te amará. Dá conselhos ao sábio e ele tornar-se-á ainda mais sábio, ensina o justo e ele aumentará o seu saber» (Prov 9, 8-9). O próprio Cristo manda repreender o irmão que cometeu um pecado (cf. Mt 18, 15). O verbo usado para exprimir a correcção fraterna – elenchein – é o mesmo que indica a missão profética, própria dos cristãos, de denunciar uma geração que se faz condescendente com o mal (cf. Ef 5, 11). A tradição da Igreja enumera entre as obras espirituais de misericórdia a de «corrigir os que erram». É importante recuperar esta dimensão do amor cristão. Não devemos ficar calados diante do mal. Penso aqui na atitude daqueles cristãos que preferem, por respeito humano ou mera comodidade, adequar-se à mentalidade comum em vez de alertar os próprios irmãos contra modos de pensar e agir que contradizem a verdade e não seguem o caminho do bem. Entretanto a advertência cristã nunca há-de ser animada por espírito de condenação ou censura; é sempre movida pelo amor e a misericórdia e brota duma verdadeira solicitude pelo bem do irmão. Diz o apóstolo Paulo: «Se porventura um homem for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi essa pessoa com espírito de mansidão, e tu olha para ti próprio, não estejas também tu a ser tentado» (Gl 6, 1). Neste nosso mundo impregnado de individualismo, é necessário redescobrir a importância da correcção fraterna, para caminharmos juntos para a santidade. É que «sete vezes cai o justo» (Prov 24, 16) – diz a Escritura –, e todos nós somos frágeis e imperfeitos (cf. 1 Jo 1, 8). Por isso, é um grande serviço ajudar, e deixar-se ajudar, a ler com verdade dentro de si mesmo, para melhorar a própria vida e seguir mais rectamente o caminho do Senhor. Há sempre necessidade de um olhar que ama e corrige, que conhece e reconhece, que discerne e perdoa (cf. Lc 22, 61), como fez, e faz, Deus com cada um de nós.

2. «Uns aos outros»: o dom da reciprocidade.

O facto de sermos o «guarda» dos outros contrasta com uma mentalidade que, reduzindo a vida unicamente à dimensão terrena, deixa de a considerar na sua perspectiva escatológica e aceita qualquer opção moral em nome da liberdade individual. Uma sociedade como a actual pode tornar-se surda quer aos sofrimentos físicos, quer às exigências espirituais e morais da vida. Não deve ser assim na comunidade cristã! O apóstolo Paulo convida a procurar o que «leva à paz e à edificação mútua» (Rm 14, 19), favorecendo o «próximo no bem, em ordem à construção da comunidade» (Rm 15, 2), sem buscar «o próprio interesse, mas o do maior número, a fim de que eles sejam salvos» (1 Cor 10, 33). Esta recíproca correcção e exortação, em espírito de humildade e de amor, deve fazer parte da vida da comunidade cristã.

Os discípulos do Senhor, unidos a Cristo através da Eucaristia, vivem numa comunhão que os liga uns aos outros como membros de um só corpo. Isto significa que o outro me pertence: a sua vida, a sua salvação têm a ver com a minha vida e a minha salvação.

Tocamos aqui um elemento muito profundo da comunhão: a nossa existência está ligada com a dos outros, quer no bem quer no mal; tanto o pecado como as obras de amor possuem também uma dimensão social. Na Igreja, corpo místico de Cristo, verifica-se esta reciprocidade: a comunidade não cessa de fazer penitência e implorar perdão para os pecados dos seus filhos, mas alegra-se contínua e jubilosamente também com os testemunhos de virtude e de amor que nela se manifestam. Que «os membros tenham a mesma solicitude uns para com os outros» (1 Cor 12, 25) – afirma São Paulo –, porque somos um e o mesmo corpo. O amor pelos irmãos, do qual é expressão a esmola – típica prática quaresmal, juntamente com a oração e o jejum – radica-se nesta pertença comum. Também com a preocupação concreta pelos mais pobres, pode cada cristão expressar a sua participação no único corpo que é a Igreja. E é também atenção aos outros na reciprocidade saber reconhecer o bem que o Senhor faz neles e agradecer com eles pelos prodígios da graça que Deus, bom e omnipotente, continua a realizar nos seus filhos. Quando um cristão vislumbra no outro a acção do Espírito Santo, não pode deixar de se alegrar e dar glória ao Pai celeste (cf. Mt 5, 16).

3. «Para nos estimularmos ao amor e às boas obras»: caminhar juntos na santidade.

Esta afirmação da Carta aos Hebreus (10, 24) impele-nos a considerar a vocação universal à santidade como o caminho constante na vida espiritual, a aspirar aos carismas mais elevados e a um amor cada vez mais alto e fecundo (cf. 1 Cor 12, 31 – 13, 13). A atenção recíproca tem como finalidade estimular-se, mutuamente, a um amor efectivo sempre maior, «como a luz da aurora, que cresce até ao romper do dia» (Prov 4, 18), à espera de viver o dia sem ocaso em Deus. O tempo, que nos é concedido na nossa vida, é precioso para descobrir e realizar as boas obras, no amor de Deus. Assim a própria Igreja cresce e se desenvolve para chegar à plena maturidade de Cristo (cf. Ef 4, 13). É nesta perspectiva dinâmica de crescimento que se situa a nossa exortação a estimular-nos reciprocamente para chegar à plenitude do amor e das boas obras.

Infelizmente, está sempre presente a tentação da tibieza, de sufocar o Espírito, da recusa de «pôr a render os talentos» que nos foram dados para bem nosso e dos outros (cf. Mt 25, 24-28). Todos recebemos riquezas espirituais ou materiais úteis para a realização do plano divino, para o bem da Igreja e para a nossa salvação pessoal (cf. Lc 12, 21; 1 Tm 6, 18). Os mestres espirituais lembram que, na vida de fé, quem não avança, recua. Queridos irmãos e irmãs, acolhamos o convite, sempre actual, para tendermos à «medida alta da vida cristã» (João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte, 31). A Igreja, na sua sabedoria, ao reconhecer e proclamar a bem-aventurança e a santidade de alguns cristãos exemplares, tem como finalidade também suscitar o desejo de imitar as suas virtudes. São Paulo exorta: «Adiantai-vos uns aos outros na mútua estima» (Rm 12, 10).

Que todos, à vista de um mundo que exige dos cristãos um renovado testemunho de amor e fidelidade ao Senhor, sintam a urgência de esforçar-se por adiantar no amor, no serviço e nas obras boas (cf. Heb 6, 10). Este apelo ressoa particularmente forte neste tempo santo de preparação para a Páscoa. Com votos de uma Quaresma santa e fecunda, confio-vos à intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria e, de coração, concedo a todos a Bênção Apostólica.

Fonte: Zenit

Postado por Cesar Augusto às 02:28
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Preces – VII Domingo do Tempo Comum – Ano B


Sacerdote: Irmãos e irmãs, Deus acompanha a cada um de nós com solicitude paterna, e olha para nós cheio de compaixão.  Apoiados em sua misericórdia, dirijamos a Ele as nossas orações:

Todos: Senhor, tende piedade de nós!
1. “Eis que eu farei coisas novas, e que já estão surgindo”(Is 43, 19). Através do vosso Espírito, concedeis perene juventude à vossa Igreja, sempre bela e sempre jovem, concedei-nos amar a Igreja e por ela entregar a nossa vida. Rezemos ao Senhor.
2. “Feliz de quem pensa no pobre e no fraco” (Sl 40). Sustentai com vossa força todos aqueles que cuidam daqueles que foram esquecidos  e rejeitados, e tornai-nos solícitos  às suas necessidades. Rezemos ao Senhor.
3. “Filho, os teus pecados estão perdoados” (Mc 2, 5). Fazei-nos receber sempre e com alegria o Sacramento da Reconciliação, para que através dele, nos cureis da paralisia de nossos pecados. Rezemos ao Senhor.
4. “Nunca vimos uma coisa assim” (Mc 2, 12). Que a admiração daqueles que conviveram  convosco e viram os vossos milagres, não seja maior do que a nossa que convivemos convosco e vemos vossa sublime humildade no Sacramento da Eucaristia. Rezemos ao Senhor.
5. “E me por para sempre na vossa presença”. Colocai para sempre junto a vós, nossos irmãos defuntos, e concedei-nos um dia associar-nos a eles nos louvores de vossa glória. Rezemos ao Senhor.
Sacerdote: Deus, nosso Pai, que constantemente confirmais a nossa adesão a Cristo e que ungis e marcais vossos fiéis com o Espírito Santo, acolhei em vosso coração as preces que vossa Igreja agora vos apresenta. Por Cristo, nosso Senhor.
Todos: Amém.

Homilia de D. Henrique Soares da Costa – VII Domingo do Tempo Comum – Ano B


Is 43,18-19.21-22.24b-25

Sl 40

2Cor 1,18-22

Mc 2,1-12

Quatro idéias dominam hoje a Liturgia da Palavra.
A primeira: a humanidade é pecadora. Claramente e de modo comovente, o Senhor se queixa do seu povo na primeira leitura: “Tu, Jacó, não me invocaste, e tu, Israel, de mim te fatigaste. Com teus pecados, trataste-me como servo, cansando-me com tuas maldades”. Não é esta, caríssimos em Cristo, a nossa situação? Quantas vezes não invocamos o Senhor, isto é, não nos abrimos para ele, vivemos e decidimos como se ele não existisse… Isto, porque somos auto-suficientes, porque, na prática, nos julgamos donos da nossa vida e senhores do nosso próprio destino. “De mim te cansaste” – queixa-se Deus. Será irreal, tal queixa? Será sem razão, tal reclamação? O mundo de hoje aborreceu-se de Deus, cansou-se dele. Pronto! Simplesmente virou-lhe as costas… E nós, na nossa existência, quantas vezes já não fizemos isto?
Caríssimos, se a Palavra tem insistido em nos mostrar nossos pecados, nossas lepras, nossas infidelidades, não é para nos deprimir ou humilhar inutilmente. É para que tomemos consciência de nossa situação de infidelidade e, arrependidos, voltemo-nos para o Senhor, que é bom, que enche nosso coração, que salva a nossa vida da falta de sentido e da morte eterna. Vivemos tanto mergulhados numa humanidade orgulhosa de si mesma, consigo mesma satisfeita, que corremos o grave risco de nem mais perceber que somos pecadores e infiéis. Tudo vai parecendo normal, lícito, aceitável, tudo tem uma desculpa psicológica, tudo vai sendo colocado na conta do inconsciente e no direito de ser feliz e não se reprimir… Esse discurso, essa conversa não serve para um cristão! Olhemo-nos à luz da Palavra de Deus, avaliemos nossa vida com os olhos e o coração fixos na cruz, que nos revela até onde Deus nos ama e nos leva a sério e, então, veremos que não amamos a Deus o bastante, que não lhe demos tudo, como ele tudo nos deu em Jesus; veremos que somos egoístas, incoerentes, presos pelas paixões, lentos para crer, tardos para nos abandonar nas mãos do Senhor. Então, diremos: Senhor, sou pecador! Piedade de mim!
E aqui nos deparamos com a segunda idéia deste Domingo: Deus é carinho, é misericórdia, é vontade e desejo de nos perdoar. Basta que nos reconheçamos pecadores, basta que lhe estendamos as mãos e ele está disposto a apagar os pecados que mancham nosso passado. Ouvi que palavras comoventes, que declaração de amor o Senhor nos faz: “Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos. Eis que eu farei coisas novas! Sou eu, eu mesmo, que cancelo tuas culpas por minha causa e já não me lembrarei de teus pecados!”. Eis como o Senhor age conosco: desde que nos reconheçamos pecadores e lhe imploremos o perdão, ele nos perdoa! Se formos cínicos, se dissermos: “Não tenho pecado”, ficaremos sem o perdão; mas, se, humildemente, reconhecermos o que somos, pecadores, o Senhor inclina-se para nós com o bálsamo do seu perdão. Notai bem: Deus não desculpa o nosso pecado; ele o perdoa! Tem diferença? Muita! Qual? Ei-la: desculpar seria fazer de conta que não pecamos, seria passar a mão na nossa cabeça. Primeiro, seria uma falta de verdade, um mascaramento da nossa realidade. Depois, seria nos desvalorizar, não acreditar que somos capazes de nos superar, de caminhar para o melhor, de crescer sempre mais em direção a uma plenitude, a uma maior humanização. Quanto ao perdão, é diferente da desculpa, é de Deus: perdoar é dizer: Você errou, mas eu continuo acreditando em você; dou-lhe a oportunidade de melhorar, de crescer de ser mais maduro, ser mais livre em relação às suas incoerências; eu perdôo porque espero muito de você e sei que você poderá crescer! Eis aqui, caríssimos, o modo de agir de Deus: ele perdoa, ele é perdão. É assim também que ele espera que façamos com os outros. De modo particular, assim os pais deveriam fazer com seus filhos…
Agora, sim, podemos entrar na terceira idéia deste hoje. É em Cristo – e somente em Cristo – que podermos ver toda gravidade do nosso pecado e toda força do perdão de Deus. Na segunda leitura, São Paulo nos disse que “o Filho de Deus, Jesus Cristo, nunca foi ‘sim-e-não’, mas somente ‘sim’. Com efeito, é nele que todas as promessas de Deus têm o seu ‘sim’ garantido”.Caríssimos, que idéia tão profunda! Tudo quanto Deus preparou e prometeu no Antigo Testamento encontra sua realização plena em Cristo morto e ressuscitado! Contemplemos Jesus, cravemos os olhos na sua cruz! Aí veremos o quanto somos pecadores, aí compreendemos o quanto nosso pecado é grave, o quanto nossa infidelidade fere o coração de Deus! O homem nunca descobrirá a gravidade do pecado se não olhar para a cruz, fruto do pecado meu e do mundo! Mas, também na cruz, todas as promessas de amor de Deus encontram seu “sim”, sua verdade, sua confirmação! A cruz nos mostra a dimensão da gravidade do pecado, mas nos revela simultaneamente, a profundidade e magnitude da misericórdia de Deus. Na cruz, Deus não esqueceu nosso pecado; antes, mostrou sua gravidade – tão grande a ponto de provocar a morte do Senhor! Mas, também na cruz, o Senhor mostra toda a seriedade do seu amor, do seu perdão e da sua misericórdia. Se o Senhor Jesus disse hoje ao paralítico: “Filho, tem confiança, teus pecados te são perdoados”, é porque estava disposto a morrer por ele, para que ele tivesse o perdão e, curado, pudesse caminhar, caminhar na vida, caminhar para Deus! Eis, portanto: na cruz, Cristo, o “Sim” do Pai para nós, torna-se também nosso “sim” ao Pai, desde que, unidos a ele, nos deixemos por ele curar, por ele perdoar, como o paralítico do Evangelho de hoje.
Finalmente, a quarta idéia que a Palavra nos apresenta. Por que Jesus curou o paralítico? Que diz o Evangelho? Escutai: “Quando viu a fé daqueles homens, Jesus disse ao paralítico…” É surpreendente: é pela fé dos homens que carregavam o paralítico que Jesus vai perdoar e curar! Eis o mistério da comunhão dos santos! Nós somos fruto não somente da cruz do Senhor, mas também da oração e da santidade de tantos irmãos que formam a Igreja do Senhor! Por isso, podemos dizer: “Senhor, não olhes os meus pecados, mas a fé da tua Igreja!” Quando fraquejamos, quando estamos em  crise, é a fé da Igreja, é a santidade e a força de tantos irmãos que, misteriosamente, na comunhão dos santos, nos mantêm! – Obrigado, Jesus, por sermos membros do teu Corpo, que é a Igreja! Obrigado porque nesse Corpo encontramos o perdão e a paz, nesse Corpo encontramos a força para nos levantarmos do pecado que nos paraliza!
Eis, caríssimos as lições que o Senhor hoje nos dá! Saberemos aproveitá-las? Saberemos vivê-las? Que o Senhor no-lo conceda pela sua graça. Amém.
D. Henrique Soares

Homilia do Mons. José Maria – VII Domingo do Tempo Comum – Ano B


Jesus, o Pecado e a Confissão

O Evangelho (Mc 2, 1-12) apresenta Jesus e o Pecado.
Quatro amigos levam à presença do Senhor um paralítico desejoso de ver-se livre da doença que o mantém preso ao leito. Depois de inúmeros esforços para consegui-lo, ouvem as palavras dirigidas ao amigo enfermo: “Filho, os teus pecados estão perdoados” (Mc 2, 5). É muito possível que não fossem essas as palavras que esperavam ouvir do Mestre; mas Cristo indica-nos que a pior de todas as opressões, a mais trágica das escravidões que um homem pode sofrer é o pecado, pois este não é apenas mais um dentre os males que podem afligir as criaturas, mas é o único mal absoluto.
Os amigos que levaram o paralítico à presença de Jesus compreenderam que acabava de ser-lhe concedido o maior de todos os bens: a libertação dos seus pecados! E nós não podemos esquecer a grande cooperação para o bem que significa empregarmos todos os meios ao nosso alcance para desterrar o pecado do mundo. Muitas vezes, o maior favor, o maior benefício que podemos fazer a um amigo, ao irmão, aos pais, aos filhos, é ajudá-los a ter muito em conta o sacramento da misericórdia divina (a confissão). É um bem para a família, para a Igreja, para a humanidade inteira, ainda que aqui na terra muito pouca gente se aperceba disso.
Cristo liberta do pecado com o seu poder divino: Quem pode perdoar pecados senão só Deus? Ele veio à terra para isso: “Deus, porém, rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, e estando nós mortos pelos nossos pecados, deu-nos a vida por Cristo” (Ef. 2, 4-5). Depois de perdoar ao paralítico os seus pecados, o Senhor curou-o também dos seus males físicos. Este homem não deve ter demorado a compreender que a sua grande sorte fora a primeira: sentir a sua alma trespassada pela misericórdia divina e poder olhar para Jesus com um coração limpo.
O paralítico ficou curado de alma e de corpo! E os seus amigos são hoje um exemplo para nós de como devemos estar dispostos a prestar a nossa ajuda para o bem das almas – sobretudo mediante um apostolado pessoal de amizade – e a potenciar o bem humano da sociedade por todos os meios ao nosso alcance: oferecendo soluções positivas para anular o mal, colaborando com qualquer obra a favor do bem, da vida, da cultura…
A cura do corpo testemunha o perdão dos pecados; é sinal externo, ao alcance de todos, do perdão concedido e, ao mesmo tempo, demonstra a grandeza do perdão de Deus, que não destrói somente os pecados do homem, mais também o cumula de maravilhosos bens.
O perdão dos pecados é uma iniciativa da misericórdia de Deus que procura todos os caminhos para salvar o homem, criatura do Seu amor.
O poder de perdoar pecados, que Jesus tinha, continua na Igreja a quem foi entregue, na primeira aparição do Cristo Ressuscitado, na tarde do dia de Páscoa (Jo 20, 19-23): “Recebam o Espírito Santo, a quem perdoardes… serão perdoados…”. Os apóstolos foram enviados a perdoar em nome de Deus… Daí a beleza e a grandeza do Sacramento da Reconciliação ou Penitência (Confissão). É o Sacramento da Alegria: Nasceu no dia de Páscoa, num clima de alegria e vitória (sobre a morte e o pecado). A alegria de experimentar o Perdão do Senhor e a Comunhão com os irmãos; sentir-se perdoado e aceito por um Deus, Pai e Amigo, que nos repete: “Filho, teus pecados estão perdoados…”
Não podemos reduzir o Sacramento da confissão a apenas um ritualismo de contar os pecados ao padre. Precisa de um processo de conversão, pelo qual o cristão se reconhece pecador e deseja refazer sua vida cristã.
O Sacramento da Confissão constitui uma forma especial de ação de graças pelo mistério do Cristo que perdoou ou que manifestou à humanidade a misericórdia do Pai através do perdão aos pecadores. Como Deus, Ele pode perdoar pecados e deseja perdoá-los, bastando que as pessoas, arrependidas, reconheçam o seu pecado. Para que esta reconciliação adquira uma forma perceptível ou sacramental, Jesus transmitiu o seu poder de perdoar os pecados aos apóstolos e seus sucessores.
Demos graças a Deus por todas as vezes que fomos perdoados no Sacramento da Penitência (Confissão) e por toda graça que já recebemos através desse sacramento.
Mons. José Pereira

Homilia do Pe. Françoá Costa – VII Domingo do Tempo Comum – Ano B

Paralisia-raiz

Jesus está em Cafarnaum. A multidão está pendente dos seus lábios. Cada uma das suas palavras ressoa no silêncio expectante do povo sedento da Palavra de Deus. De repente rompe-se o silêncio e se começa a ouvir um barulho estranho no teto. Incrível! Os primeiros raios de sol perpassam o pequeno buraco até que se vai fazendo maior e a casa fica totalmente iluminada, naturalmente iluminada. Mas, desde quando os tetos se abrem sozinhos? Há algo por trás.
Verdade é que algumas daquelas pessoas, acostumadas a andar com Jesus, não se assustariam tanto, pois sabiam que quando este novo Rabi fala algo acontece. Ordinária ou extraordinariamente, as suas palavras sempre se fazem críveis pelas obras. De todas as maneiras, seja para essas pessoas seja para aquelas que vieram ao encontro de Jesus pela primeira vez, é preciso dizer que nem todos os dias se vê uma cama descendo pelo telhado! É algo verdadeiramente estranho! Mas, como se não bastasse, extremamente estranhas ressoam aquelas palavras ditas com excelente dicção e força extraordinária: “Filho, perdoados te são os pecados” (Mc 2,5).
Imagino como estaria o pobre paralítico! Num momento se vê descoberto diante de Jesus de Nazaré. Bem que ele tinha dito aos seus quatro amigos que o deixassem quieto, que ele não queria ser incomodado nem queria incomodar o Rabi, que já fazia muitos anos que ele estava paralítico e que já estava conformado com a situação! A meu ver e segundo a minha fluente imaginação, foram os amigos que insistiram com ele para que fosse ao encontro de Jesus. Quando o paralítico lhes objetara que ele não podia andar, os amigos, em sua prudente teimosia, pegaram o leito do homem e, não sei se entre um querer e um não querer, o paralítico foi carregado ao encontro de Jesus.
Mas, nova dificuldade! Quando chegam à casa de Simão, onde Jesus estava, “não podiam encontrar lugar nem mesmo junto à porta” (Mc 2,2). Tal era a multidão! Mas, desistir agora? Depois de tantos esforços para convencer o paralítico e do suor para trazer-lhe no próprio leito… Desistir agora? Não. O que fazer? Simples, se não se pode entrar pela porta, vamos entrar pelo teto. É lógico! Mas não segundo a lógica humana!
Que trabalhão! Subir com uma cama contendo um enfermo pelo teto de uma casa! Ainda bem que eram quatro… mas, ainda assim! Aqueles caras eram amigos do paralítico, valiam diamantes, pois somente uma pessoa que se interessa pelos outros de verdade pode fazer tal coisa. Neste momento, cresce em mim a convicção de que devemos imitar os amigos do paralítico: não podemos deixar que os nossos amigos continuem paralíticos em seus pecados, em seus vícios e numa vida sem sentido, temos que levá-los ao encontro com Jesus. E se eles disserem que não querem e que os deixemos em paz, tenhamos uma santa teimosia e insistamos para que esse encontro se dê, pois Jesus é a verdadeira paz (cf. Ef 2,14). E se for preciso, subiremos aos telhados! É preciso que sejamos teimosamente apostólicos, evangelizadores aferrados, homens e mulheres que não desistem perante as dificuldades, pessoas dispostas a “comer o mundo” visto desde o amplo panorama do apostolado!
“Filho, perdoados te são os pecados!” O paralítico e seus amigos se interessavam pela cura corporal e escutam palavras que vão à raiz de todos os males, o pecado. Ainda que não exista uma conexão necessária entre paralisia e pecado, existe uma conexão necessária entre pecado e paralisia: todo pecado nos paralisa!
Diante do milagre, os que ali estavam “ficaram admirados e glorificaram a Deus” (Mc 2,12). Jesus surpreende: perdoa o pecado e manda ir para casa (cf. Mc 2,11). Somente os reconciliados podem viver em casa. Estar em casa, em família, é característica intrínseca daquelas pessoas que estão na graça de Deus, que vivem uma vida segundo Deus porque o Senhor fez delas templos sagrados.
Vamos ajudar os nossos amigos – caso alguns deles estejam fora de casa ou dela afastado pelo pecado mortal – a retornar, a morar em casa, em família, na Igreja. Aqui, sim, se é feliz! E, se algum dia nós mesmos estivermos paralisados, peçamos ao Senhor que nos conceda um amigo, uma pessoa que, carinhosa e teimosamente, nos conduza novamente ao coração de Deus, à sua casa.

Comentário Exegético – VII Domingo do Tempo Comum – Ano B


EPÍSTOLA (2 Cor 1, 18-22)

(Pe.Ignácio, dos padres escolápios)
INTRODUÇÃO: Paulo foi gravemente caluniado como falso apóstolo, especialmente após o escândalo do incestuoso (1 Cor 5, 1-5) e de não cumprir suas promessas de visitar os corintianos, coisa que não realizou de imediato. Daí que o seu sim fosse também não como parece indicar no começo de hoje. Ou seja, que ele não tinha uma palavra da qual se podia confiar. Este trecho da sua carta é sua defesa como palavra sempre a ser realizada, o que constituía definitivamente um sim a ser cumprido, sem que houvesse depois um não que o desdissesse.
FIDELIDADE DE DEUS: Fiel, pois, o Deus porque nossa palavra a (prometida) a vós não se tornou sim e não (18). Porque o Filho de Deus, Jesus Cristo, quem (está) em vós por meio de nós anunciado, por mim e por Silvano e por Timóteo, não foi sim e não, senão sim nEle feito (19). Fidelis autem Deus quia sermo noster qui fit apud vos non est in illo est et non Dei enim Filius Iesus Christus qui in vobis per nos praedicatus est per me et Silvanum et Timotheum non fuit est et non sed est in illo fuit. Paulo apela ao exemplo de seu Senhor, Jesus Cristo, a quem ele segue fielmente. Mas antes propõe como testemunha da firmeza de sua palavra o próprio Deus. Ele, Paulo, tinha verdadeiro propósito de visitá-los. Porém, alguma circunstância contra sua vontade, o impediu. Não era culpa sua. Porque o homem propõe, mas é Deus quem dispõe, como diz o provérbio. Temos colocado entre parêntesis a palavra prometida para dar um pouco mais de compreensão à frase. Na realidade, a tradução direita seria: nossa palavra a vós não se tornou sim e não. Uma outra versão do grego tem estin  (é) no lugar de egeneto (se tornou). A diferença é mínima e não afeta o sentido da frase, que implicaria em Paulo um caráter inconstante, por não dizer mentiroso. A política de indecisão, ambiguidade e engano não era própria da índole integrista e monolítica do apóstolo. Ao propor Deus como testemunha, Paulo está indicando como está dorido por essa calúnia que o mostra como indeciso ou talvez como falso e enganoso. Sua palavra tem o valor de seu anúncio evangélico, como diz na continuação. Discípulo como era de Cristo, anunciando sua doutrina, Paulo tinha sempre na sua memória as palavras do Mestre, evitando todo juramento e dando à palavra um valor certo e autêntico: Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna (Mt 5, 37). E ainda acrescenta o exemplo do Cristo que foi sempre um sim à vontade do Pai e sim a toda súplica humana, sem mudança, como diz Hb 13, 8: Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente. E o explica no versículo seguinte.
CRISTO É O SIM DO PAI: Porque quantas as promessas de Deus nEle o sim e nEle o amém para Deus para glória por nosso meio (20). Quotquot enim promissiones Dei sunt in illo est ideo et per ipsum amen Deo ad gloriam nostram. O SIM É NELE: De fato, Jesus não quis evangelizar os gentios e mandou seus apóstolos dizendo: Mas ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt 10, 6). Assim cumpriu as promessas divinas feitas a Abraão. Por isso escreve: Qual é a vantagem de ser judeu?… É grande em muitos aspectos. E primeiramente porque Deus confiou a sua promessa aos judeus (Rm 3, 1). Dos quais é a adoção de filhos, e a glória, e as alianças, e a lei, e o culto, e as promessas. Paulo chama a Cristo de ministro da circuncisão por causa da verdade de Deus, para que confirmasse as promessas feitas aos pais (Rm 15,18). O AMÉM: era a palavra final das orações judaicas em que se desejava se cumprisse a petição precedente. Como perfeita realização dos planos divinos e das promessas, Cristo é o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus (Ap 3, 14). Para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios por Jesus Cristo, e para que pela fé, nós recebamos a promessa do Espírito (Gl 3, 14). De modo que assim escreve Paulo aos romanos: Que os gentios glorifiquem a Deus pela sua misericórdia, como está escrito: Portanto eu te louvarei entre os gentios, e cantarei ao teu nome (Rm 15, 9). Pois a rejeição dos judeus abriu a porta aos gentios e a glória de Deus se manifestou, como escreve Paulo no fim da mesma carta: Glória seja dada para sempre a Deus todo-poderoso, único e sábio, por meio de Jesus Cristo. Amém (Rm 16, 27).
UNÇÃO, CARIMBO E DEPÓSITO: Pois quem nos confirma convosco em Cristo e nos ungiu, (é) Deus (21). O qual também nos selou e deu o depósito de Espírito em vossos corações (22). Qui autem confirmat nos vobiscum in Christum et qui unxit nos Deus. et qui signavit nos et dedit pignus Spiritus in cordibus nostris.  Neste versículo, Paulo retoma sua defesa perante os corintianos, afirmando que foi o próprio Deus quem o ungiu como profeta. Ele reclama três aspectos da obra do Espírito nele: 1) A UNÇÃO [chrisma<5545>= unctio] que aparece para todo cristão em 1 Jo 2, 20: Vós tendes a unção do Santo, e sabeis tudo;  e 27: E a unção que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele permanecereis. A ideia é que a unção é uma preparação para um serviço especial, diretamente unido à divindade, como eram o rei, o Sumo Pontífice e o profeta. E se em especial os apóstolos eram os ungidos e enviados, também segundo Pedro, todo cristão tinha essas qualidades que mereceram no AT a unção: Vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa (1 Pd 2, 5), confirmado em Ap 5, 10. Em segundo lugar o CARIMBO [sfragis<4973>=signaculum], como selados e protegidos e identificados com o Espírito após ter crido no evangelho: Fostes selados com o Espírito Santo da promessa (Ef 1, 13) ao qual não devemos entristecer, pois é o sinal com que Deus vos marcou para o dia da libertação (idem 4, 30). Selo que recebeu primeiro o Filho (Jo 6, 27). Finalmente, a doação desse Espírito como DEPÓSITO ou penhor [arrabön<728>=pignus] nos corações. A palavra arrabön significa empréstimo, entrada inicial. Temos recebido o Espírito como uma entrada inicial, um penhor do que Deus nos prepara na vida eterna. É uma garantia do futuro em que entraremos a formar parte da família de Deus. Esta paga inicial é própria de Deus que tem invertido em nós o primeiro investimento de sua casa e habitação permanente. Para isto mesmo nos preparou foi Deus, o qual nos deu também o penhor do Espírito (2 Cor 5, 5). Esse penhor é de nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória (Ef 1 14). Em nossos corações, como diz Paulo já chamamos a Deus de Pai, o Abbá (Rm 8, 15), como filhos que um dia o veremos como tal (1 Cor 13, 12).

EVANGELHO (MC 2, 1-12)


O PARALÍTICO

(lugares paralelos Mt 9, 1-8 e Lc 5, 17-26)
(Padre Ignácio, dos padres escolápios)
INTRODUÇÃO: Outros dois evangelistas narram o mesmo fato. Os detalhes não interessam a Mateus e são próprios de Marcos e Lucas com a diferença de que Lucas não conhece as casas da Palestina e fala, talvez propositadamente, de telhas [kéramoi] para se deixar entender pelos greco-romanos. Marcos, pelo contrário, nos fala do terraço [stegos] de fazer um buraco nele como escotilha, após ter subido o doente ao mesmo. Um terraço feito de pau a pique, com argila entre varas de madeira. A cura é feita após Jesus louvar a fé deles, ou seja, dos 4 homens que carregavam o leito [krabatos grego, grabatos latino, catre, padiola ou maca em português]. A cura serve para introduzir o verdadeiro ofício de Jesus: perdoar os pecados. E Jesus usa a cura para demonstrar que ele tinha como homem [filho do homem] poder para perdoá-los. Deus se serve dos homens para salvar os homens. Essa é a grande lição.
AS CIRCUNSTÂNCIAS: Dias depois, entrou de novo em Cafarnaum e se escutou que está em casa (1). Et iterum intravit Capharnaum post dies. A Vulgata tem uma divisão diferente. Une a segunda parte do versículo 1 com a primeira parte do segundo. Mas vejamos a interpretação do grego tal e como o temos traduzido, como tradução literal de Marcos. Mateus nada diz além de que, de barco, chegou a sua cidade, que era Cafarnaum e não Nazaré, segundo a narração do próprio Mateus em 4, 13: deixando Nazaré, foi morar em Cafarnaum, à beira-mar. Lucas inicia o relato com estas palavras: E sucedeu, num certo dia, e ele estava ensinando (5,17). As traduções são as mais literais possíveis, apesar de alguma falta de sintaxe. Temos, pois, que era em Cafarnaum onde o relato tem lugar. De Marcos podemos deduzir que a casa era a de Pedro, segundo 1, 29. Pelas dificuldades do relato posterior, alguns sugerem que a cura não foi dentro da casa de Pedro, mas na sinagoga. Vejamos a argumentação: Segundo Lucas, estavam sentados fariseus e professores da lei os quais tinham vindo de todas as vilas da Galileia, e da Judeia e de Jerusalém (5, 17). A pergunta é: como podia estar sentada tanta gente dentro de uma pequena casa particular?  Não seria melhor interpretar a casa da qual fala Marcos como figura literária, no sentido de estar no lugar onde estava o domicílio? De modo semelhante um carioca diria: estou de volta em casa, após uma viagem fora da cidade do Rio. Por outra parte é improvável que Jesus tivesse escolhido uma casa particular para dentro dela falar como se fosse uma sinagoga. Inicialmente usou as sinagogas, mas quando a multidão superou a capacidade das casas de oração, como eram chamadas as sinagogas, Ele usaria a ladeira do monte (Mt 5, 1 e Jo 6, 3) ou uma planície (Lc 5, 17) para pregar o Reino. Quando curou, após o sábado em que livrou da febre a sogra de Pedro, muitos doentes, a multidão, se aglomerava diante da porta da casa. Agora Jesus está dentro do edifício. Logo deve ter sido a sinagoga num dia que não fosse sábado, como terça ou quinta feira. Nesses dias a sinagoga era casa de oração e de doutrina. Assim podemos interpretar muito bem Lucas, que indica estavam sentados os fariseus e mestres da lei que tinham na sinagoga assentos próprios. De todos os modos, esta teoria não é absolutamente provada e podemos pensar na casa de Pedro, suficientemente ampla, com um pátio central,  cheio de gente; e Jesus, desde a porta, falando a seus ouvintes.
A MULTIDÃO: E imediatamente confluíram muitos, de modo a  não haver espaço, mesmo diante da porta. E falava a eles a palavra (2). Et auditum est quod in domo esset et convenerunt multi ita ut non caperet neque ad ianuam et loquebatur eis verbum. Já temos explicado as diferenças, com o latim, na divisão dos versículos.  Esta pequena introdução é para justificar a ruptura do teto [furar o mesmo] e assim demonstrar a fé dos 4 homens que portavam a padiola.  Evidentemente, a palavra era o ofício principal de Jesus. O anúncio do evangelho, que hoje afirma o Papa como opus proprium [ofício próprio] da Igreja, junto ao serviço da caridade e a administração dos sacramentos. As casas da Palestina estavam formadas ao redor de um pátio comum, formando um quadrado para o qual se abriam as portas das mesmas. Podemos imaginar que a multidão, no início dentro do saguão da casa, se estendia fora  diante da porta até o pátio. Isto, caso a interpretação seja a tradicional; mas no caso da sinagoga, estando esta lotada, também haveria gente às portas da mesma.
A PADIOLA: E vêm a ele, levando um paralítico, tomado por quatro (3). Et venerunt ferentes ad eum paralyticum qui a quattuor portabatur.  A tradução literal indica a rudeza de linguagem de Marcos que Lucas suaviza dizendo: E eis que [alguns] homens, levando sobre um leito um homem que era paralítico e buscavam introduzi-lo e pôr diante dEle (5, 18). Segundo Marcos era um krabatos, segundo Lucas um klinê. Krabatos [grabatus latino] era um leito pobre [catre], e apropriado para descrever a padiola de um enfermo, e Klinê [lectus latino] era o leito  onde se reclinavam os comensais e a cama onde dormiam os moradores de uma casa. Ambos podiam consistir de um colchão ou divã, apoiado em varas para o transporte, como parece o caso. Em At 5, 15 aparecem ambas as palavras traduzidas ao latim por lectulus e grabatus [cama de enfermo ou pequena cama {daí o espanhol camilla}, e maca].
O FURO NO TETO: E não podendo aproximar-se dEle por causa da multidão, descobriram o teto [stegê, tectus, roof] onde estava e tendo escavado, deixam (sic) baixar o catre onde o paralítico estava deitado (4). Et cum non possent offerre eum illi prae turba nudaverunt tectum ubi erat et patefacientes submiserunt grabattum in quo paralyticus iacebat. Lucas escreve: E não havendo encontrado de que maneira o introduziriam por causa da multidão, subindo sobre o eirado [dôma, supra tectum, housetop], o desceram através das telhas, com o catre [literalmente pequeno leito: klinidion] no meio, diante de Jesus (5, 19). Como vemos, os versículos 3 e 4 de Marcos e 18 e 19 de Lucas podem se referir a uma casa ou a uma sinagoga, sendo que o versículo 17 é o único que favorece a interpretação de ser o teto [dôma<1390> grego ou super tecta latino] o terraço de uma sinagoga, como explicamos anteriormente. Embora a palavra dôma grega signifique edifício ou casa inicialmente, também significa uma parte da casa como o terraço. Os orientais usam os terraços de suas casas para passear e para meditação e oração. Este fato é confirmado pelos Atos quando Pedro teve a sua revelação do grande lençol (10, 8-11). A sinagoga era o lugar preferido por Jesus para o anúncio da palavra, até que a grande multidão o levasse à beira-mar ou lugares abertos como ladeiras de colinas. Ao terraço podia-se subir por uma escada externa de modo que os judeus diziam que a uma casa se podia entrar ou pela porta ou pelo terraço.
O PERDÃO: E tendo visto Jesus a fé deles, diz ao paralítico: Filho, foram remitidos teus pecados (5). Cum vidisset autem Iesus fidem illorum ait paralytico fili dimittuntur tibi peccata. Mateus acrescenta ao filho o imperativo Tharsei [confide latino] e que podemos traduzir por ânimo! O verbo remitir [aphiêmi<863>, dimittere, be forgiven] é mais usado para pagar uma dívida. Originalmente significa deixar de lado. Parece que imediatamente Jesus devia incluir a cura corporal pela qual todos os cinco tinham procurado com tamanho trabalho; mas existe uma outra cura que Jesus prioriza e é a cura da alma. Seguramente que o paralítico estava preocupado com sua vida anterior e pensava que a sua doença era produto de sua infidelidade para com a lei. Jesus o acalma e lhe diz que suas contas estão zeradas. Não há por que se preocupar. Um outro detalhe é que se Marcos e Mateus usam o tecnos<5043> [filius, child, filho], Lucas no mesmo versículo usa homem [anthropos, homo, man]. Não cremos que exista para a mudança  uma razão merecedora de explicação.
O AUDITÓRIO: Porém estavam sentados ali alguns escribas [grammateos, scriba, scribe ou secretary] e fariseus, arrazoantes em seus corações (6). Erant autem illic quidam de scribis sedentes et cogitantes in cordibus suis. Lucas descreve os escribas como nomodidaskaloi<4547>, que significa literalmente professores da lei, para que seus leitores entendam o termo. O mesmo evangelista diz que vieram de toda a região da Palestina: Galileia, Judeia e Jerusalém, fato que indica a fama de Jesus como já conhecida em toda a região. Seguramente que já estavam presentes, mais como raça de víboras do que como ouvintes, pois esperavam como apanhá-lo nalguma palavra (Mt 22, 15). A cura do sábado, dentro da sinagoga, de um endemoninhado, suscitava uma certa prevenção entre os amantes da Lei, fossem letrados ou simples leigos na matéria. Desta vez não era sábado e o lugar não era tampouco a sinagoga. Mas o perdão dos pecados era coisa que um homem não podia fazer em boa lógica.
A MURMURAÇÃO: Por que este, assim fala blasfêmias? Quem pode dimitir pecados senão unicamente (o) Deus? (7).Quid hic sic loquitur blasphemat quis potest dimittere peccata nisi solus Deus. O verbo usado é dialogizomai<1260> [cogitare, reason, arrazoar]. Segundo Marcos, a objeção às palavras de Jesus é interna [dentro dos seus corações] que podemos traduzir como em seu interior ou para seus botões em frase vulgar. Já que coração [leb hebraico] tinha o mesmo sentido figurado que mente para nós. Mateus é ambíguo na interpretação e Lucas parece que até o murmúrio era audível, pois declara que diziam: quem é este que fala blasfêmias? E a razão para afirmar que as palavras de Jesus eram blasfemas era porque ele atribuía a si mesmo uma autoridade que só pertencia a Deus: Quem pode perdoar pecados senão só Deus? (7). Palavras que Lucas traz quase literalmente substituindo o só por unicamente. Porque unicamente o ofendido pode perdoar a ofensa do ofensor; somente o credor pode perdoar a dívida do devedor. Estavam corretos quanto à razão, porém não podiam pensar que Deus estava presente na humanidade de Jesus, assumida pelo Verbo como natureza em que se encarnou e se tornou visível a divindade.
A RESPOSTA DE JESUS: E imediatamente, conhecendo Jesus em seu espírito que assim arrazoavam entre si, diz-lhes: Por que arrazoais estas coisas dentro de vossas mentes? (8). Que é mais fácil de realizar [eukopoteron]? Dizer ao paralítico, remitidos são teus pecados; ou dizer: Levanta, e toma teu catre e anda? (9). Quo statim cognito Iesus spiritu suo quia sic cogitarent intra se dicit illis quid ista cogitatis in cordibus vestris. quid est facilius dicere paralytico dimittuntur tibi peccata an dicere surge et tolle grabattum tuum et ambula. A palavra eukopoteros <2123> é usada por todos. Deriva de  Eukopos [realizável], e, como comparativo, mais fácil de efetuar. Logicamente a resposta era dizer que perdoar os pecados. Ou os oponentes ficaram sem responder ou Jesus se adiantou em sua resposta. Por isso declara: Pois, para que saibais que o Filho do Homem tem autoridade de perdoar os pecados sobre a terra, diz ao paralítico (10). As palavras de Jesus são exatamente iguais nos três evangelistas. Unicamente Lucas corrige o grego popular de Marcos ao escrever disse no lugar de diz. A frase merece uma reflexão: Nesta situação, Jesus  atua como homem [Filho do Homem] e não revela sua identidade com Deus. Ele compara o perdão dos pecados com a cura imediata de uma doença que não poderia ser atribuída a remédios ou médicos. E ambas as atividades devem ser atribuídas ao poder ou a autoridade de Deus. Se um homem cura, um homem pode perdoar. Evidentemente esse homem era aquele que pronunciou as palavras: filho, teus pecados são perdoados. Não é casual que os três sinóticos falem com as mesmas palavras sobre o Filho do Homem. Qual era o significado desta expressão? Literalmente seria o homem, mas nas circunstâncias em que Jesus disse essa frase significava eu, esse homem, que vocês estão vendo e ouvindo. Um homem tem a potestade de perdoar os pecados, coisa que parecia um paradoxo, e em momentos em que ainda o mistério cristão por excelência, a Trindade, não tinha sido revelado. Jesus vinha declarar que desde aquele momento um homem, e, portanto, todo homem escolhido pela vontade de Deus, podia perdoar os pecados. Esta afirmação deve ser mantida em toda sua integridade pelo que diz Paulo: Foi em tudo semelhante a nós (Fl 2, 7), a exceção do pecado (Hb 4, 15). Primeiramente estão as palavras de Jesus que indicam claramente sua atividade principal: perdoar os pecados, e suas credenciais: o milagre. Logo temos a realização do que é visto [a cura] para que a fé veja o que não pode ser visto [o perdão].
O MILAGRE: A ti digo: levanta, toma teu catre e vá para tua casa (11). Tibi dico surge tolle grabattum tuum et vade in domum tuam. Praticamente com uma linguagem mais polida Lucas diz o mesmo. São três ordens numa só, precedidas de uma palavra de atenção. Só a ele perdoa e a ele unicamente cura, de forma total. O paralítico não era só um enfermo, mas um inválido com a impossibilidade de tomar qualquer peso ou mesmo de andar. E ambas as coisas resultam fáceis para quem era impossível momentos antes. Tudo pela palavra de um homem, presente ali.
FINAL: E levantou-se, e imediatamente tomando seu catre saiu, à vista de todos, de modo a todos ficarem atônitos e glorificarem a Deus dizendo que nunca assim temos visto (12). Et statim ille surrexit et sublato grabatto abiit coram omnibus ita ut admirarentur omnes et honorificarent Deum dicentes quia numquam sic vidimus. Mateus nos dá uma versão particular muito interessante: Vendo isso as multidões tiveram medo e glorificaram a Deus que tinha dado tamanha autoridade aos homens (Mt 9, 8). Mateus usa o plural homens, para indicar que não só Jesus mas todo homem escolhido por Deus teria desde esse instante semelhante autoridade que mais se relacionava com o perdão do que com o carisma da cura. Lucas também fala do temor que se apoderou dos presentes dizendo: Hoje vimos umas paradoxa <3861> [coisas longe do comum, inusitadas, incríveis], que o latim traduz como mirabilia [coisas as mais admiráveis].
PISTAS: 1) Havia duas razões para perdoar os pecados: a 1a, consequente com as ideias na época, era que toda doença tinha como causa um pecado. Perdoado este, a doença não tinha razão de existir. Daí que o paralítico recebesse com as palavras de Jesus uma injeção de esperança. Sua cura estava próxima. A 2a era que Jesus queria dar uma lição aos seus ouvintes, preparando o anúncio do Reino. Este é: perdão antes de cura. Se o perdão está presente, o reino está também atuando.
2) Mais, o perdão é maior do que a cura e, não pedido, é totalmente graça divina. Perdão por parte de Deus, mas perdão anunciado por um homem, pois Jesus poderia ser ao máximo um profeta, mas era homem para todos os assistentes ao sucesso. Aliás, o perdão era sua finalidade como Cordeiro de Deus: tirar o pecado do mundo. (Jo 1, 29) Como Paulo, João, de quem é a expressão, toma o pecado em termos pessoais como se fosse uma maldade personificada, que Jesus iria destruir como Cordeiro, ou seja, com seu sacrifício.
3) Consequentemente, todo pecado pessoal pode ser remetido em nome de Jesus, e Ele usa este poder ainda antes de sua imolação porque é em seu nome que a salvação entra no mundo (Rm 10,13) assim como o pecado entrou em nome do poder do diabo, a antiga serpente.(Ap 12,9).
4) A argumentação de Jesus é contundente: O perdão só pertence a Deus. A cura desse paralítico só pertence a Deus. Logo se cura, é porque Deus age por meio dele da mesma forma que atua para perdoar. Para que saibais que o filho do Homem  tem autoridade para perdoar os pecados, dirá Jesus: levanta-te, toma tua maca e vai para casa (11). A expressão Filho do Homem era o mesmo que eu ou a gente, e assim se deve entender a não ser que em consonância com Daniel 7, 13-14 Jesus queira aqui assumir o papel do Reino de Deus em sua pessoa. O milagre feito é corretamente interpretado pela gente humilde, dando glória a Deus: Nunca vimos coisa semelhante. (12)
5) Jesus, o homem, foi e é um instrumento da divindade. Os que com Jesus se identificam pela comunhão perfeita, também podem ser instrumentos da mesma; daí a importância dos santos, os verdadeiros crentes em Jesus, que farão até maiores obras do que Ele (Jo 14,12).
6) Se nós não somos instrumentos da divindade poderemos ser de sua misericórdia. Caso isto não aconteça é porque a habitação do Espírito não é experimentada por nós. Não podemos esquecer que o maior milagre é a presença do amor num mundo indiferente ou violento com o próximo. O perdão que damos é um milagre de Deus em nós e na vida dos que considerávamos nossos inimigos. Se as misérias e infelicidades do mundo que nos rodeia não nos atingem, nem nos comovem, é porque o amor ainda não penetrou profundamente em nossas vidas, o amor cuja personificação é o Espírito Santo. Porque um grande amor tem como fonte uma profunda compaixão.
7) Se meu amor se limita à família, aos filhos de modo especial, o mundo estaria tão mais necessitado e injusto que esteve até agora. Por isso, é o necessitado, o doente, o injustiçado quem mede essencialmente a pureza de meu amor e proporciona a medida de minha entrega a Deus. Como Disse Jesus, citando o profeta Oseias, ide, pois, aprender o que significa, é a misericórdia que eu quero, não o sacrifício. (Mt 9,13).