ANO A
Jo 12,24-26
Comentário do Evangelho
O grão de trigo que morre
Nos evangelhos sinóticos encontramos a parábola da semente que cai na terra, germina, e dá frutos. A semente, aí, significa a Palavra de Deus ou o Reino de Deus (Mc 4,26-34). João usa a mesma imagem, com o grão de trigo, porém seu significado é o próprio Jesus. Destaca o aspecto da "morte" do grão, para a transformação que dará origem à planta que germina e aos frutos que virão. É uma alusão a Jesus que entrega sua vida, com fidelidade total, até a morte, gerando os frutos das comunidades de discípulos que continuarão sua missão.
Este "morrer" é a expressão do desapego completo da vida enquanto sua realização conforme os critérios deste mundo. É com este desapego que se dão frutos para a vida eterna.
O encontro com a vida não se dá de forma individual e egoística. Este encontro se dá na comunhão solidária com os irmãos, particularmente os mais excluídos e carentes. Salva-se a vida neste mundo quando se compreende que a sua própria vida, sua alegria e felicidade são encontradas à medida que se empenha no resgate, na valorização e no desabrochar da vida dos irmãos, sem exclusões. O seguimento de Jesus se faz com o dom total de si mesmo, a favor da vida. Assim se estará onde Jesus estiver, junto ao Pai, na união do eterno Amor.
José Raimundo Oliva
Oração
Senhor Jesus, a vida jorrou abundante de tua fidelidade até à morte de cruz. Possa eu beneficiar-me desta plenitude de vida.
Comentário do Evangelho
A paixão e morte de Jesus são para a vida
Jesus está em Jerusalém para a festa da Páscoa. Aproxima-se o tempo da glorificação de Jesus: “Chegou a hora em que este Homem será glorificado” (Jo 12,23). A glorificação de Jesus vai se dar por sua paixão e morte. A imagem do grão de trigo ajuda a compreender o caminho de glorificação de Jesus. Para produzir fruto, o grão de trigo tem que cair na terra; esta queda na terra é a condição da fecundidade da semente. A paixão e morte de Jesus, seu sofrimento e seu sepultamento, não são estéreis, são para a vida. Aqui, em João, o grão é identificado com o próprio Cristo, à diferença das parábolas do Reino dos céus (Mt 13,3ss), em que a semente é identificada com a Palavra de Deus.
Com esta pequena parábola do grão de trigo que cai na terra, Jesus dá sentido à sua paixão e morte: “... produz muito fruto” (v. 20). o fruto de sua glorificação é a vida do mundo: “O pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo” (Jo 6,51).
O que se espera do discípulo é sua identificação com o Mestre: “O discípulo não é mais que o mestre, nem o servo maior que o seu senhor; ao discípulo basta ser como o seu mestre, ao servo como o seu senhor” (Mt 10,24-25). Esta identificação impõe ao discípulo aceitar livremente a vida proposta por Jesus. Nesse sentido, o caminho de glorificação de Jesus é o caminho para o discípulo que deve ser caracterizado como servidor do Reino de Deus (cf. v. 26; Jo 13,12-15).
O discípulo atualiza e prolonga na história a entrega de Cristo. A vida verdadeira está no desapego, inclusive no desprendimento da própria vida. É o apego à vida que gera o medo de perdê-la. A vida brota do grão de trigo que cai na terra. Esta entrega é fruto do amor: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13).
Carlos Alberto Contieri, sj
Oração
Senhor Jesus, a vida jorrou abundante de tua fidelidade até à morte de cruz. Possa eu beneficiar-me desta plenitude de vida.
Vivendo a Palavra
A morte do grão de trigo é o caminho que ele segue para nascer de novo e produzir muitos grãos. Este é o modelo que o Mestre nos encoraja a assumir. Viver a vida em plenitude, com leveza, sem medos, confiantes no Amor do Pai e com a certeza de que a morte, quando chegar, não será o fim, mas a porta para a Vida Nova.
VIVENDO A PALAVRa
A lembrança do grão de trigo nos ensina que a ressurreição passa pela morte. E não é apenas a morte última do corpo, aquela que encerra os nossos dias nesta terra, mas as pequenas mortes do dia-a-dia que devemos aceitar com alegria e generosidade para o bem do irmão. A compaixão foi o jeito que Jesus de Nazaré nos ensinou para trilharmos os caminhos do Reino do Pai – Reino que já chegou aos nossos corações, mas precisa ainda ser conquistado.
Reflexão
Hoje em dia, mais do que nunca, o testemunho dos valores do Evangelho se faz necessário até às últimas conseqüências. A partir daí percebemos uma das maiores responsabilidades do discipulado: a vivência de forma radical dos valores evangélicos e o testemunho da verdade anunciada por Jesus. Todas as pessoas que assumem esta radicalidade do Evangelho mostram ao mundo que existe a verdadeira esperança de superar todos os males que marcam o nosso tempo e construir uma nova realidade, fundamentada nos valores evangélicos, que pode trazer às pessoas humanas a verdadeira felicidade, e que, na sua busca, vale a pena o sacrifício até mesmo da própria vida.
Reflexão
Lourenço é um dos mártires mais conhecidos e venerados, já desde os primeiros séculos. Encarregado de cuidar dos bens da Igreja, repartiu-os entre os pobres, já que pressentia prisão iminente. Aprisionado junto com o Papa Sisto II, não sofreu de imediato o martírio, mas suportou corajosamente atrozes dores na grelha incandescente. Alguns escritos permitem introduzir aqui um gracejo de Lourenço. No meio de tormentos, ele teria dito ao carrasco: “Vira-me, pois deste lado já estou bem assado”. Entretanto, a maioria dos escritores modernos julga que Lourenço tenha sido decapitado como o Papa Sisto II, martirizado três dias antes. Morreu em 258 e foi sepultado no Campo Verano, na Via Tiburtina (Roma), onde Constantino edificou a basílica que tem o seu nome.
Oração
Ó Jesus Mestre, com palavras claras e perturbadoras, preparaste teus seguidores para os embates da vida. Muitos cristãos e cristãs sofreram o martírio, assim como o teu servidor São Lourenço. Dá-nos fortaleza para perseverarmos no teu caminho, mesmo cercados de duras provas e perseguições. Amém.
(Dia a dia com o Evangelho 2020 - Pe. Luiz Miguel Duarte, ssp (dias de semana) Pe. Nilo Luza, ssp (domingos e solenidades))
Meditação
Explique a seu modo a realidade do grão de trigo que cai na terra. - O que acontece com a morte do grão de trigo? - É fácil escolher desapegar-se desta vida para ganhar a outra? - O que tem que fazer quem opta por seguir a Jesus? - Quem escolhe o reino do Pai tem que renunciar a muita coisa?
Padre Geraldo Rodrigues, C.Ss.R
Meditando o evangelho
DA MORTE BROTA A VIDA
A hora de Jesus foi se aproximando. Ele tinha plena do consciência da sorte que o espera. A morte despontava, como inevitável, no horizonte de sua existência. Jesus sabia muito bem que sua vida seria fecunda se, no momento crucial, ele fosse capaz de passar pela prova suprema da morte. Aí sua fidelidade radical abriria, para a humanidade, o caminho de acesso a Deus.
O modo positivo como Jesus encarou a consumação de sua existência não deixou de perturbá-lo interiormente. Uma tentação possível, neste momento, seria a de pedir ao Pai para privá-lo desta circunstância pavorosa. Jesus, porém, reconheceu que toda a sua vida terrena esteve voltada para esta hora. Não seria correto, agora, preferir um atalho. Seria indigno optar pela fuga. A missão exigia dele seguir adiante.
A tragicidade da hora de Jesus assumiu uma conotação particular por ele estar certo de não ter sido abandonado pelo Pai. Sua morte inseria-se na dinâmica de glorificação do Filho pelo Pai. Não era fácil compreender o modo divino de agir, quando a cruz despontava com toda a sua crueldade. Na perspectiva divina, porém, a morte de cruz representava a subjugação do poder do mal e da injustiça e o triunfo do senhorio do Pai na vida do Filho Jesus. Da cruz, proviria a vida nova e gloriosa, penhor de redenção para a humanidade.
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total).
Oração
Senhor Jesus, a vida jorrou abundante de sua fidelidade até à morte de cruz. Possa eu beneficiar-me desta plenitude de vida.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. “O Serviço que requer o Rebaixamento”
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)
A palavra Diakonia, do grego que significa servir, nasceu ainda em forma embrionária na Igreja primitiva, conforme relato de Lucas em Atos 6. Muito pouco se fala no Novo Testamento dos sete primeiros Diáconos da nossa Igreja, a não ser Estevão, o proto mártir, e Felipe, que após a expulsão dos cristãos das sinagogas, saiu pregar na Samaria e depois em outras regiões, inclusive sendo ele o grande articulador do Cristianismo no mundo grego, pois neste evangelho de hoje é ele que conduz os gregos até Jesus.
A Diakonia, que começou com o autêntico espírito de serviço, foi passando por transformações no seio da igreja e entre os séculos seguindo e terceiro, o Diácono era papel de destaque enquanto principal colaborador do Bispo, que por aquele tempo era quem presidia a “Fração do Pão”, ou em uma linguagem de hoje, só o Bispo é que celebrava missa.E assim a diakonia, cada vez mais foi tendo destaque no serviço do altar e na administração dos bens terrenos da Igreja e daí, a concorrência, a busca de poder, contaminou o Diaconato que ao final do século IV despareceu por completo da nossa Igreja.
Foi o Concílio Vaticano II que restaurou o Diaconato Permanente fazendo com que a Diakonia fosse resgatada, deixando de ser apenas um ministério transitório, para ser um Sinal Sacramental do Serviço. O Diaconato Permanente é um Sinal Sacramental de todas as diakonias presentes em nossas comunidades, não há distinção entre a diakonia leiga e a do Diácono, uma supõe a outra, uma sinaliza e torna a outra autêntica em si mesma.
O evangelho de hoje, portanto, aponta para aquilo que é essencial no Diaconato: o morrer para si mesmo, esvaziar-se de qualquer ambição, glória ou poder, servir com alegria, generosidade e grande disposição. Morrer para si mesmo é não clericalizar-se em excesso, não fazer questão de qualquer honraria ou distinção, por causa do ministério, morrer para si mesmo é anunciar a Palavra e esquecer-se de si mesmo. Morrer para si mesmo é não olhar para o Presbítero com um ar inferior, e nem tão pouco olhar para o leigo com um ar superior.
Morrer para si mesmo é manter a serenidade em toda e qualquer situação, é ser paciencioso e compreensivo com quem quer que seja, é não fazer uso da sua autoridade clerical, para dominar, se impor, ou obter qualquer benefício. Morrer para si mesmo é abrir mão de celebrações da Palavra pomposas, onde se exalta o próprio ego, é priorizar as comunidades pobres de bairros distantes, com as quais o Cristo a quem se serve, se identifica mais.
Enfim, o Diaconato é um tesouro inestimável pertencente ao Senhor, que se permite guardá-lo na insignificância dos modestos vasos de barro, que são os nossos Diáconos. E que São Lourenço nos ajude a todos quantos imerecidamente receberam esse Santo Sacramento, a manter incólumes tal tesouro pertencente ao Senhor, e que refulge o seu maior brilho no amor que se traduz em serviço na Dimensão da Palavra, da Liturgia e da Caridade, colunas mestras que dão sustentabilidade a toda e qualquer Diakonia.
2. MORRER PARA FRUTIFICAR
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês).
Após sua entrada em Jerusalém, com a acolhida entusiástica da multidão de peregrinos que também vinham à cidade, Jesus anuncia que é chegada a hora de sua glorificação pelo seu cumprimento fiel da vontade do Pai, até o fim, sem temor das ameaças de morte que sobre ele pairavam.
Os Evangelhos sinóticos narram a parábola da semente que cai na terra, germina e dá frutos. João usa a mesma imagem. O grão que não morre fica só. É o individualismo e o terror da solidão. O grão, para multiplicar-se em novos frutos, tem que cair na terra e morrer. É a comunicação, a fraternidade e o serviço à vida. A morte não é o último ato isolado da existência, mas é o termo de uma vida devotada ao amor. Apegar-se à vida é querer afirmá-la em conformidade com os critérios da ideologia de sucesso deste mundo sob controle dos poderosos, agentes da morte lenta ou violenta.
Guardar a vida na vida eterna supõe o desprezo desta ideologia de sucesso e poder, que impõe a submissão pelo temor. Quem não teme a própria morte está livre para colocar-se totalmente a serviço da vida. O seguimento de Jesus se faz com o dom total de si mesmo, a favor da vida. Assim se estará onde Jesus estiver, junto ao Pai, na união do eterno Amor.
HOMÍLIA DIÁRIA
A graça da renúncia amorosa
Postado por: michelle
agosto 10th, 2012
Meus caros irmãos e irmãs, uma das temáticas do Evangelho segundo São João é a hora de Cristo, a hora da glória. Já estando em Jerusalém e sendo procurado por gregos, o Senhor exclama, talvez sem a compreensão imediata do apóstolo Filipe e André: “Em verdade, em verdade, vos digo: se o grão de trigo que cai na terra não morre, fica só. Mas, se morre, produz muito fruto” (Jo 12, 24).
Jesus Cristo chegou ali, mais do que para participar, mais uma vez, da Páscoa dos judeus, mas para celebrar e estabelecer a Sua hora, a Sua Páscoa gloriosa, inaugurando, potencialmente, a nossa páscoa. Pela Sua entrega total à vontade do Pai, que beneficiou a humanidade toda com a salvação! Pela Sua Páscoa, gregos e judeus, ou seja, todos os povos poderão ser redimidos e participarem da Páscoa Eterna.
Uma maneira ordinária e eficaz para sermos atingidos por este dom salvífico foi registrado pelo Evangelista no versículo seguinte: “Quem se apega à sua vida, pede-a; mas quem não faz conta de sua vida neste mundo, há de guardá-la para a vida eterna” (Jo 12, 25). De fato, Aquele que abraçou a todos pela Sua Encarnação, Vida, Paixão, Morte e Ressurreição, pede que seja abraçado também radicalmente. Para isto é preciso estar desapegado de tudo e de todos, que não significa descomprometido com o Reino, a Igreja e a humanidade.
O doutor e místico da Igreja, São João da Cruz, ensinava que o verdadeiro amor consiste “na prática da renúncia perfeita e o sofrer pelo Amado”. Este testemunho de pobreza radical, sem dúvida, é dom do Alto, como a própria vivência de uma fé madura e em constante purificação. E a quem Deus nega as suas graças? Se desejamos, então…humildemente peçamos!
Jesus não foi para Jerusalém somente para honrar o Pai das Misericórdias, mas, na força do Espírito Santo, viveu uma comunhão obediencial plena, a fim de também conquistar para nós, por Seus méritos, o direito de sermos, um dia, honrados pelo Pai, independente dos reconhecimentos humanos. no entanto, poderíamos dizer: “Eu não quero qualquer tipo de honrarias?”, mas este tipo de honra não massageia o nosso ego nem alimenta nosso orgulho, ao contrário, corresponde à vontade de Deus a nosso respeito: “Se alguém me serve, meu Pai o honrará” (Jo 12, 26). Esta honra é expressa do amor de um Pai que quer recompensar os filhos amados, salvos pelo Filho Amado!
Por isso todo e qualquer sofrimento que passarmos para viver aqui como verdadeiros filhos, servos e amigos de Cristo Pascal, será revertido em glória um dia. Para tal será preciso permanecer até o fim na busca orante e repleta do exercício da renúncia amorosa, da maneira ensinada também por São João da Cruz, acima citado. Portanto, existirá um caminho mais estreito e seguro do que este: “Se alguém quer me servir, siga-me; e onde eu estiver, estará também aquele que me serve” (Jo 12, 26).
Por fim, diante da nossa pequenez e grande tendência a nos apegarmos a tudo o que é visível e palpável, como também prazeroso, no risco de perdermos o essencial salvífico e pascal, prossigamos o caminho como discípulos e missionários, recordando uns aos outros as palavras que nos recoloca humildemente em condições de luta e recompensa: “Basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que a força se realiza plenamente” (2Cor 12, 9).
Padre Fernando Santamaria
Oração Final
Pai Santo, livra-nos do fantasma do passado e das preocupações com o futuro. Faze-nos discípulos de tua Igreja, para anunciarmos aos companheiros de peregrinação que o teu Reino de Amor já está presente em nós, hoje e aqui, e que um dia nós o viveremos em plenitude junto ao Cristo Jesus, teu Filho que se fez nosso Irmão e contigo reina na unidade do Espírito Santo.
ORAÇÃO FINAl
Pai misericordioso, inunda os nossos corações com a santa ousadia de entregar a nossa vida para o bem e o consolo dos companheiros que colocaste perto de nós nesta caminhada de volta ao Lar Paterno. Queremos ser parecidos com o Cristo, teu Filho Unigênito que se fez um de nós em Jesus de Nazaré, tornando-se nosso Irmão Maior. Por Ele, que contigo reina, na unidade do Espírito Santo.