ANO C
32º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Ano C - Verde
“
Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos!”
(Lc 20,38)
Lc 20,27-38
Ambientação
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Saduceus de ontem e de hoje mantém o mesmo princípio e defendem a mesma tese: a ressurreição depois da morte é uma impossibilidade. Não crêem na ressurreição dos mortos e, assim, impossibilitam a eternidade. Reduzem a vida a alguns anos, que termina com a morte e com algumas pás de terra escondendo um caixão de defunto. Duvidosos, gostam de desafiar quem crê na ressurreição dos mortos, como nós cristãos. É dentro desse contexto criado pelos saduceus, que a liturgia de hoje vem confirmar a fé dos discípulos e discípulas de Jesus na ressurreição dos mortos. A principal reação diante desse desafio é manter-se firme na esperança, como nos incentivará São Paulo.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, nossa esperança é firme: fomos criador para Deus, para Deus estamos a caminho! Somos cristãos porque cremos firmemente na ressurreição e na Vida Eterna. Celebrando a Eucaristia, somos mergulhados no mistério da morte e ressurreição do Senhor. Sua Páscoa é, já, a certeza de nossa Páscoa! Por isso, entreguemos nossa vida com confiança ao Senhor e busquemos vivê-la de tal forma que possamos merecer estar para sempre na presença do Senhor.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Acreditar na vida futura não significa fugir da responsabilidade atual de transformar o presente. Nós, cristãos, somos testemunhas da ressurreição. Quando dizemos que o nosso Deus é dos vivos e não dos mortos, afirmamos que ele está em nosso presente e não apenas a nos aguardar para a eternidade. Ele é o Deus dos que hoje são verdadeiramente vivos, empenhados inteiramente em melhorar a situação da humanidade. E esta vida não termina, mas continua após a morte física, porque é a vida do próprio Deus.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Irmãos
e irmãs, nossa esperança é firme: fomos criador para Deus, para Deus estamos a
caminho! Somos cristãos porque cremos firmemente na ressurreição e na Vida
Eterna. Celebrando a Eucaristia, somos mergulhados no mistério da morte e
ressurreição do Senhor. Por isso, entreguemos, confiantes, nossa vida ao Senhor
e busquemos vivê-la de tal forma que possamos merecer estar para sempre em Sua
presença.
A RESSUREIÇÃO DOS MORTOS
A liturgia da Palavra do 32º Domingo Comum propõe o tema da vida após a morte. Nos versículos do Evangelho de Lucas, pessoas do grupo dos Saduceus, que negava a ressurreição (Lc 20,27), vão até Jesus, e com certo deboche, apresentam questionamento acerca da vida após a morte. Os saduceus só aceitavam o Pentateuco, os quais narram o ciclo de Moisés. Como nestes escritos a crença na ressurreição ainda não estava delineada, recusavam a proposição da continuidade da existência após esta vida.
Nesse sentido, o trecho do livro dos Macabeus, é importante porque apresenta pela primeira vez a doutrina da ressurreição no Antigo Testamento. É interessante notar que diferentemente da postura dos Saduceus que recorreram a raciocínios especulativos para negar a ressurreição vista no Evangelho de hoje, na primeira leitura, esta doutrina é afirmada no contexto do martírio de sete irmãos diante da mãe. Um deles a testemunha, “É melhor para nós, entregues à morte pelos homens, esperar, da parte de Deus, que seremos ressuscitados por Ele” (2 Mac 7,14).
Aí a ressurreição é a grande esperança destes Macabeus que para permanecerem fiéis à fé, preferem morrer injustamente.
Na cena do Evangelho Jesus responde aos saduceus recorrendo à revelação de Deus a Moisés, no episódio da sarça ardente (Ex 3,6), Eu sou “O Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó”. Diante disso, Jesus retrucou aos Saduceus com a afirmação de que Deus não é Deus de mortos, mas de vivos (Lc 20,37-38). E a profunda intimidade de Jesus com o ‘Deus dos vivos’ levou-O ao enfrentamento da morte sem temê-la. A ressurreição de Jesus Cristo é a garantia de que os filhos e filhas de Deus também ressuscitam.
Na eucaristia se celebra a páscoa de Jesus Cristo, anunciando a sua morte e proclamando a sua ressurreição. Nesta celebração os discípulos missionários de Jesus são iluminados em suas situações de morte presentes no cotidiano, as quais muitas vezes desafiam a fé e a continuidade da caminhada. Participar da eucaristia é também fazer páscoa, é passar aquela fronteira que conduz da morte e suas tristezas e desânimos para a vida oferecida no sacrifício gratuito da vida do Filho de Deus, até o momento de adentrar à vida eterna em Deus.
Na cultura atual não há muito espaço para uma reflexão séria acerca do mistério último da existência, não obstante os profundos anseios de vida do ser humano. A descrença dos saduceus está presente e encurta tanto o horizonte como as possibilidades para a vida humana. Este fenômeno pode gerar um indiferentismo em relação aos caminhos da sociedade, que sem a luz salvífica da ressurreição, descuida-se ou torna-se indiferente para com o que é justo, santo e edificador.
Nesse tempo, faz-se necessário que os seguidores do Senhor, vivo e ressuscitado, testemunhem com uma vida justa e empenhos em prol da garantia da vida, a grande esperança que sustenta a fé cristã, a ressurreição e a eternidade.
Dom Luiz Carlos Dias
Bispo auviliar de São Paulo
Comentário do Evangelho
Deus é surpreendente.
Agora, é a vez dos saduceus. Eles não são propriamente um grupo religioso, mas uma espécie de aristocracia ligada ao Templo de Jerusalém. Eles não acreditam na ressurreição dos mortos (cf. v. 27; At 23,8), ao contrário dos fariseus. Considerando o modo como eles apresentam o caso, a ressurreição na concepção deles é uma espécie de prolongamento ou repetição da vida presente. O caso apresentado por eles é absurdo e, provavelmente, com o intuito de ridicularizar a fé na ressurreição (vv. 19-23). Para isso, recorrem à lei do levirato (= cunhado): “Se dois irmãos viverem juntos e um deles morrer sem filhos, a viúva não sairá de casa para casar-se com um estrangeiro; seu cunhado se casará com ela e cumprirá com ela os deveres legais de cunhado; o primogênito que nascer continuará o nome do irmão morto, e assim não se apagará o nome dele em Israel” (Dt 25,5-6). Na resposta, Jesus revela a ignorância deles: interpretam mal a Escritura e desconhecem o poder de Deus, supondo que a morte anularia o poder de Deus. Eles pensavam, como dissemos, que a ressurreição fosse continuidade da vida terrena. Engano! Deus é surpreendente. É preciso se abrir à novidade de Deus e nele esperar: os que forem julgados dignos de participar do mundo futuro e da ressurreição dos mortos não se casam; e já não poderão morrer” (vv. 35-36). Pensaram poder falar da ressurreição prescindindo de Deus. Ora, sem a relação ao Deus dos vivos, a própria Escritura é letra morta. Jesus faz remontar a Moisés a crença na ressurreição: “Que os mortos ressuscitam, também foi mostrado por Moisés, na passagem da sarça ardente, quando chama o Senhor de ‘Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacó’” (v. 37).
A ressurreição não pode ser pensada como pura e simples continuidade de nossa vida terrestre. Há uma ruptura com nossa vida neste mundo: “Neste mundo, homens e mulheres casam-se”, mas no mundo futuro e na ressurreição não se casam (v. 34.35). Os ressuscitados têm um ponto em comum com os anjos: eles não podem mais morrer; logo, não necessitam de descendência. Deus é o Deus dos vivos (cf. v. 38): “Ninguém de nós vive e ninguém de nós morre para si mesmo, porque se vivemos é para o Senhor que vivemos, e se morremos é para o Senhor que morremos” (Rm 14,7-8).
Vivendo a Palavra
Os textos lidos conduzem ao mergulho no mistério da ressurreição – razão da nossa Esperança –, de que Paulo afirmou que se não existe ressurreição a nossa fé é vã. O cainho bom talvez não seja tentar compreender, mas aceitar com a pureza e a gratidão de uma criança que recebe um presente de seu pai.
VIVENDO A PALAVRA
Os textos conduzem ao mergulho no mistério da ressurreição, que é a razão da nossa Esperança. O apóstolo Paulo afirmou que se não existe ressurreição a nossa fé é vã. Esse Mistério é infinitamente superior à nossa capacidade de entendimento. O melhor caminho talvez seja não tentar compreende-lo, cheios de angústia, mas aceitá-lo com a pureza e a gratidão de uma criança que recebe um presente valioso e terno de seu pai.
Reflexão
O DEUS DOS VIVOS E NÃO DOS MORTOS
I. INTRODUÇÃO GERAL
A fé na ressurreição é algo recente para o mundo antigo e não foi aceita por todos. Acreditar na ressurreição era um escândalo no mundo pagão. Jesus explica o fato da ressurreição a partir do próprio Deus. Os patriarcas devem estar vivos de alguma maneira, pois com eles sempre esteve o Deus da vida. Contra quaisquer objeções grosseiras por parte dos descrentes, a fé na ressurreição dá ânimo para o enfrentamento do martírio, pois ressuscitar é chegar ao pleno desenvolvimento da vocação humana. A ressurreição significa que todas as dimensões da vida serão transfiguradas à maneira do Cristo ressuscitado. O fundamento da fé na ressurreição é a fidelidade divina. Porque Deus é fiel ele não permitirá que a morte tenha a última palavra. Dessa forma, a fé na ressurreição é a motivação para a fidelidade humana diante das piores torturas ou da morte. Deus nos guardará e confirmará nossa fé na vinda de Cristo.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. Evangelho (Lc 20,27-38): Não mais poderão morrer
O texto de hoje nos oferece uma rica reflexão sobre a ressurreição dos mortos, tema ainda pouco compreendido também nos dias de hoje. Muitos cristãos hodiernos pensam como os saduceus, pois não entendem o que seja ressurreição. Por isso, a pergunta feita a Jesus retrata não apenas a descrença dos saduceus daquela época, mas faz eco ao que muitos cristãos pensam hoje.
Os saduceus aceitavam apenas os livros da Torah (Pentateuco) como Palavra de Deus. E a fé em uma ressurreição pessoal não surgiu até quando foi escrito o livro de Daniel (cf. Dn 12,2), portanto, não se encontra na Torah. A pergunta que fizeram a Jesus tomou por base uma norma da Torah, a lei do levirato (Gn 38,8; Dt 25,5-10). Segundo essa lei, um homem teria que casar com a cunhada viúva (caso o irmão falecido não tivesse deixado um filho homem para herdar seus bens), dessa forma se garantia que o falecido teria uma descendência e que suas propriedades permaneceriam na família. Nesse caso, se sete irmãos sucessivamente tivessem se casado com a mesma mulher, qual deles seria o marido legítimo quando todos ressuscitassem?
A intenção dessa pergunta é ridicularizar a fé na ressurreição, mostrando que é algo incompatível com o mandamento do levirato e, portanto, contra a Torah. Então, a fé na ressurreição seria um absurdo. A resposta de Jesus rejeita o princípio sobre o qual se fundamenta a narrativa proposta pelos saduceus, segundo o qual a ressurreição seria apenas uma projeção e um prolongamento da vida terrestre. Jesus mostra que a lei do levirato tinha por objetivo apenas garantir a conservação da vida terrena, mas em nada se referia à vida após a morte.
Jesus responde aos saduceus a partir do texto de Ex 3,6, esclarecendo que a ressurreição está implícita na Torah. Jesus faz uma distinção entre o mundo presente e o mundo vindouro, para sublinhar a diferença radical do futuro que Deus prepara para os justos. Estes participam da vida de Deus, estão em profunda comunhão com ele, não mais submetidos à ameaça da morte. São semelhantes aos anjos, ou seja, na ressurreição a procriação não é mais necessária para a preservação da vida. Portanto, o corpo ressuscitado deve ser diferente do corpo terreno.
Ao referir-se à autoridade de Moisés, Jesus afirma de maneira inequívoca o fundamento da fé no Deus vivo e verdadeiro, o qual mantém uma relação de comunhão com os fiéis no pós-morte.
A Escritura não pretende explicar como será a vida eterna, mas reafirmar o aspecto fundamental da fé cristã de que a vida não acaba com a morte, ela permanece de outra forma, plenificada, transformada. Na ressurreição se realiza a finalidade do ser humano, viver junto a Deus, numa vida sem fim, numa comunhão incondicional e infinita.
2. I Leitura (2Mc 7,1-2.9-14): O Rei do Universo nos ressuscitará
O texto mostra, primeiramente, que os justos preferem morrer a pecar (7,2), perder a vida a negar a fé. No tempo da grande perseguição religiosa retratada pelo texto do segundo livro dos Macabeus, as pessoas que, naquela época, eram consideradas as mais fracas foram as primeiras a oferecer a resistência da fé contra a intolerância religiosa.
Esse trecho de 2Mc expõe os elementos principais de uma teologia do martírio e da ressurreição dos justos: (1) é necessário, antes, estar disposto a morrer que pecar (v.2); (2) Deus tem misericórdia de quem é fiel a ele (v.6); (3) Deus nos deu a vida e, por amor a ele, devemos estar dispostos a perdê-la (v.11); (4) se morremos por causa da fé, seremos ressuscitados para uma vida eterna (v.7.9).
Isso significa que sem uma fé na ressurreição não há como enfrentar o martírio. A confiança daqueles jovens estava depositada unicamente na fidelidade do Deus da vida (7,7-9) o qual não abandonará na morte aqueles que preferiram morrer a negar a fé.
3. II Leitura (2Ts 2,16 – 3,5): O Senhor é fiel
O autor da carta ora a Jesus Cristo e a Deus Pai, pedindo-lhes que os destinatários tenham uma fé firme enquanto vivem em um mundo descrente. A hostilidade dos adversários (3,2) aponta para o fato de que muitas pessoas não apenas rejeitam a fé, mas também tentam impedir a propagação do evangelho.
Apesar disso, os tessalonicenses devem seguir adiante sem se deixar intimidar pelas dificuldades (v. 3-5), pois o Senhor sempre estará com eles e guiará seus corações para o amor de Deus e para a esperança perseverante de Cristo (v. 5). Isso significa que os tessalonicenses devem imitar a perseverança que Cristo demonstrou durante os sofrimentos pelos quais passou. Apesar dos ambientes hostis, os tessalonicenses devem ser pacientes e perseverantes até a vinda de Cristo.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
Os textos de hoje refletem sobre o tema central da fé cristã, a ressurreição. Contudo, é importante deixar claro que ressurreição não é a mesma coisa que reanimação de um cadáver, como pensavam os saduceus. Ressurreição é transformação da vida humana em outra realidade para além do tempo e da história. Por ser uma realidade meta-histórica, não há categorias históricas que possam explicitar essa experiência, a não ser metaforicamente. Uma imagem boa para se pensar a ressurreição é a metáfora da borboleta. Uma lagarta entra no casulo e, depois de um tempo, transforma-se em borboleta. A antiga lagarta passará a viver uma vida nova numa nova roupagem, já não estará mais presa ao chão.
A ressurreição é vida plena em Deus. É a realização da intenção divina ao criar o ser humano para estar com ele no Éden. Durante a caminhada histórica, o ser humano aprende a cultivar o jardim de sua existência em meio a dificuldades, perseguições e aridez. Mas o desejo de estar no jardim de Deus e a certeza de que ele está empenhado para realizar esse anseio fundamental da humanidade confortam o ser humano nessa busca de comunhão, fazendo-o perseverar mesmo em tempos de perseguição, pois sabe que a morte é a passagem deste mundo para uma realidade nova, onde Deus será tudo em todos.
Aíla Luzia Pinheiro Andrade
Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje - BH), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica e lecionou por alguns anos. Atualmente, leciona na Faculdade Católica de Fortaleza. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas).
E-mail: aylanj@gmail.com
Reflexão
EM NOME DA FELICIDADE
Há dias em que a vida parece vazia, uma angústia insiste em nos pôr para baixo. Há dias em que o mundo parece não ter jeito, em que tudo vira um caos. Há dias em que só sabemos reclamar. A liturgia de hoje quer nos tornar despertos para uma realidade nova. Deus não nos fez para a tristeza, nem para o desânimo, muito menos para o fracasso. Ele nos criou para a felicidade plena.
Nesta celebração, aprendemos uma lição para a vida: a felicidade é um presente! Presente de Deus. E ninguém tem o direito de nos roubar essa dádiva. No mundo há quem queira poder mais do que Deus. Há quem se considere dono das coisas e das pessoas, da vida, e por isso busca impor sofrimento aos outros, atirar fardos sobre os ombros de muitos. A firmeza dos sete jovens, na primeira leitura, mostra que quem confia em Deus não baixa a cabeça nas dificuldades, perseguições, angústias e calamidades. A firmeza deles nos diz hoje que não devemos desistir do projeto de Deus em nossa vida. Não devemos trocar o projeto de Deus pelos projetos egoístas.
Jesus Cristo é, por excelência, modelo da adesão e da fidelidade a Deus. A comunidade cristã tem a garantia de que, caminhando na estrada de Jesus, está segura. Não está imune à dor, ao sofrimento, porque ainda vivemos num mundo marcado pelo pecado. Mas a vida é mais que o sofrimento presente. Desde agora os cristãos, em Jesus Cristo, experimentam a certeza da felicidade. Nós ressuscitamos com ele todo dia e, no futuro, teremos a vida plenamente realizada. É o que chamamos de salvação. Não se trata de algo somente para um futuro distante. A salvação acontece no agora, na labuta diária.
Trata-se do nosso testemunho de fé vivido na história. A salvação é dom de Deus, é a graça divina agindo em nós. As orientações da segunda leitura vão justamente no sentido de dizer à comunidade que é preciso ter os pés firmes no chão para alcançar a eternidade. Não somos salvos como que num passe de mágica. Jesus nos salvou por amor, esvaziando-se totalmente. Também somos chamados a nos esvaziar do egoísmo e nos encher da alegria do serviço ao próximo, aos mais necessitados de vida, aos tristes e desiludidos do mundo. Nada de orgulho. Tudo o que fizermos é fruto da graça de Deus. Sem ela, todo esforço seria inútil.
Veja-se a atitude dos saduceus no evangelho. Eles faziam parte de uma classe aristocrática de homens apegados à lei escrita. Conservadores, pretendiam manter a situação para não comprometerem os benefícios políticos, sociais e econômicos de que desfrutavam. Na controvérsia com Jesus, parecem totalmente convencidos de sua sabedoria. Não se dão conta, porém,de que a sabedoria verdadeira supera os rigores da lei. A sabedoria verdadeira é Jesus. Ele é a plenitude da lei. Ele é a ressurreição e a vida. Quem nele crê, mesmo que morra, viverá (Jo 11,25).
Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
Reflexão
VIDA PRESENTE E FUTURA
Entram em cena, neste domingo, os casos de duas famílias, com sete irmãos cada uma, para ilustrar o mesmo tema: a ressurreição dos mortos. O primeiro (primeira leitura) é histórico e o segundo (evangelho) é fictício. O caso do evangelho, proposto pelos saduceus, que negavam a ressurreição, vem questionar a crença na vida após a morte. Querem testar Jesus a respeito do despropósito, segundo eles, da fé na vida eterna.
Jesus, percebendo a malícia dos seus opositores e não se prendendo à lei do levirato, desmascara-os e esclarece que a vida após a morte não é continuação da presente. As preocupações e as questões desta vida não perdurarão na eternidade. A vida de ressuscitados será diferente da que temos hoje.
O que será da pessoa após a morte? Eis uma questão que está sempre na cabeça de qualquer mortal – também dos cristãos. Outra questão que nos incomoda: Por que temos de morrer? O certo é que, alguns antes e outros depois, todos morreremos.
A fé na ressurreição não nos aliena da vida nem nos tira da história; ao contrário, mergulha-nos nela e nos torna os seus principais artífices, ao procurarmos moldar a sociedade segundo o projeto de Deus, na qual todos tenham seu lugar e todos se realizem como seres humanos.
Desde que nasce, a pessoa convive com a vida e a morte. Às passagens pelas várias etapas da existência humana correspondem perdas e conquistas. Para haver ressurreição, passagem para uma vida melhor, faz-se necessária a morte. Vida e morte, duas irmãs inseparáveis, são parte de nossa experiência terrena e nos acompanham no dia a dia.
A realidade do pós-morte continua sendo um mistério, embora nossa fé nos garanta que a vida não se limita aos anos deste mundo. A fé no além da morte deveria nos levar à reflexão e à valorização da vida presente. A ressurreição precisa ser vista como a plenitude do viver cotidiano: inicia-se com o nascimento e plenifica-se com a morte.
Pe. Nilo Luza, ssp
Reflexão
Jesus termina sua longa caminhada e já se encontra em Jerusalém. Lá enfrenta alguns adversários e procura esclarecer algumas dúvidas da comunidade. A dúvida do evangelho deste domingo é sobre a questão da ressurreição posta pelo grupo conservador dos saduceus. A ressurreição é o antigo e sempre atual questionamento sobre o que acontece depois da morte. Os saduceus são os sacerdotes guardiões do templo e da Lei. Eles só aceitavam o Pentateuco (a Lei), no qual nada se fala de ressurreição. Diante disso, apresentam o caso da mulher que teve sete maridos (lei do levirato) e perguntam a Jesus de quem ela será esposa depois da ressurreição. Introduzem esse caso para mostrar o absurdo da ressurreição. Jesus responde aos saduceus em dois momentos: o outro mundo não é reprodução do presente; o Deus da revelação é Deus dos vivos (Abraão, Isaac e Jacó). O sentido da vida humana é viver para Deus. Uma vida assim vivida não conhece fim. Quem está com Deus estará sempre vivo. O Deus criador da vida é também o ressuscitador que leva o ser humano à sua plenitude. Amando o Deus que é amor estaremos nele nesta vida e na eternidade. O Deus do amor deseja para todos uma vida feliz e plena para sempre.
(Dia a dia com o Evangelho 2019 - Pe. Luiz Miguel Duarte, ssp)
Recadinho
Também nós corremos o risco de nos apegarmos a um materialismo exagerado? - Em que depositamos nossa felicidade? - Sabemos reconhecer os grandes dons de Deus? - Preocupamo-nos com a vida eterna? - Em que consistem nossas preocupações? - O que podemos fazer em nosso ambiente de vida para combater o materialismo exagerado?
Padre Geraldo Rodrigues, C.Ss.R
Meditando o evangelho
A VIDA SUPERA A MORTE
Ao questionar Jesus, os saduceus tinham a intenção de ridicularizar os fariseus, cuja fé na ressurreição dos mortos era bem conhecida, por ser uma crença propagada nos meios populares. Os saduceus queriam também conhecer a posição de Jesus, para saber de que lado se posicionava.
O ponto de partida da pergunta foi uma história um tanto grotesca, fundada numa teologia mal-enfocada. Supunha-se, erroneamente, que a ressurreição fosse a continuação pura e simples da vida terrena. Que a humanidade está envolvida por um determinismo cruel, estando todos os seres humanos fadados a idêntico destino eterno. Que a morte supera a vida, pois é para o sheol, lugar de trevas e sombra, que caminham todas as pessoas. Que Deus não tem o poder de interferir no destino eterno delas.
Jesus responde, estabelecendo uma distinção entre "este mundo" e o "outro mundo". O erro dos saduceus consiste em confundi-los. O ser humano está destinado a viver neste mundo, sem perder de vista o outro. Sendo Deus o Senhor da vida, pode doá-la tanto neste mundo quanto no outro. Entretanto, no mundo vindouro, a vida será vida plena, sem as limitações da vida terrena. Cessam, aí, as preocupações terrenas, como casar-se e dar-se em casamento, e desaparece, também, as ameaças da morte. A comunhão com o Pai torna-se penhor de vida eterna. A morte dá início, neste caso, a uma explosão de vida.
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total).
Oração
Espírito vivificador, que a esperança na ressurreição dos mortos me faça viver neste mundo, sem perder de vista que meu destino é a vida plena, na comunhão com o Pai.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. RESSURREIÇÃO É VIDA NOVA!
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)
Há muitas pessoas que desdenham do “céu” por achar que ele não existe, e que portanto não há ressurreição dos mortos. Para estes, a vida se resume a esta existência terrena, “céu e inferno é por aqui mesmo!“- dizem de boca cheia.
Claro que esta concepção de um “Paraíso Terrestre” só considera a felicidade que o mundo nos oferece, porque se fundamenta no TER e no PODER. Para estes, felicidade é desfrutar da vida tudo o que ela pode oferecer, em todo e qualquer prazer, realizando qualquer desejo. Esse paraíso sonhado e inventado pelo homem, termina inesperadamente, em um leito de hospital, em um acidente, em um ato de violência e daí, toda esta bela fantasia acaba enterrada em uma cova ou colocada em um túmulo, pois até quem não crê, sabe que desta vida nada se leva. Portanto, viver em função desse falso paraíso, pode ter certeza de que não vale a pena! É preciso descobrir o verdadeiro sentido dessa vida.
Mas há pessoas mais ingênuas que crêem em uma ressurreição enquanto revivicação do cadáver, ou seja, ressuscitar é voltar a esta vida, sendo que era este o conceito rudimentar de ressurreição no antigo testamento. De modo prático podemos pensar no seguinte, a pessoa morreu vítima de um acidente de trânsito, ressuscita e volta novamente a esta vida, com todas as suas limitações e fragilidades, um dia morre vítima de uma grave enfermidade. De que adianta a ressurreição, se tudo volta à mesmice?
Os Saduceus eram uma classe elitizada, pertencente a uma corrente religiosa que não acreditava na ressurreição, e nessa conversa com Jesus inventam uma novelinha de linha bem humoresca, baseada na lei de Moisés, de certa mulher que pelo visto, devia ser “Fogo na roupa”, porque casou-se com sete irmãos, um após a morte do outro, e por fim, um belo dia a coitada também “bateu com a cacholeta”, também não era para menos...
A história irônica tem como objetivo desmoralizar a doutrina cristã sobre a ressurreição dos mortos, perguntando de maneira até irreverente, de quem a tal mulher seria esposa após a ressurreição, já que havia se dado em casamento a todos os sete, como se a gente levasse para a vida eterna todas as intrigas e demais complicações desta vida. Se fosse assim, a ressurreição seria um grande engano.
Mas Jesus rebate os gozadores com um argumento muito consistente: os que forem considerados dignos da Vida Eterna, não morrerão. Isso é, não deixarão de existir mas entrarão em uma Vida totalmente nova, passando a ser um homem renovado, um ser glorioso, sem limites e sem mais nenhuma necessidade terrena.
E qual a relação entre esta vida nova da pós-morte, e esta vida terrena? As relações nesta vida, inclusive a conjugal, nada mais são do que um exercício para este amor da plenitude, que só encontramos em Jesus Cristo após a ressurreição. Por isso, nesta vida terrena temos necessidade do próximo com quem nos relacionamos nesse constante aprendizado, que vai nos santificando em cada momento.
A expressão muito usada, na morte de um ente querido, de que um dia iremos reencontrá-lo, é legítima e verdadeira, porém, este encontro não será como imaginamos, marcado por lembranças, sentimentos, recordações, emoções: “Oi, como vai? Há quanto tempo a gente não se vê. E daí ? Como está a vida nova? Estou louco para rever todos os que partiram antes de mim... Vamos por a conversa em ordem”.
Seria muita ingenuidade ficarmos imaginando coisas assim, na ressurreição. De nada disso teremos mais necessidade, pois todos estaremos em Deus, mergulhados em sua santidade, plenitude e perfeição. Nada mais teremos a aprender. Poderá por acaso um acadêmico retorna a um curso de alfabetização?
O que importa é viver a vida com essa certeza de que a vivemos para Deus, aproveitando cada minuto para praticar o amor, a única virtude que levaremos para a Ressurreição. Quem viver assim, não morrerá jamais! Palavra de Jesus de Nazaré, ressuscitado pelo Pai, e que vai à nossa frente, mostrando-nos o caminho, dando-nos alegria e coragem e acima de tudo confirmando-nos que o nosso Deus é o Deus dos vivos e não dos mortos!
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
2. Ele é Deus dos vivos - Lc 20,27-38
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por Côn. Celso Pedro da Silva, ‘A Bíblia dia a dia 2017’, Paulinas e disponibilizado no Portal Paulinas - http://comeceodiafeliz.com.br/evangelho)
Jesus está em Jerusalém. A longa caminhada chegou ao fim e aproximam-se os dias de sua glorificação. Nós também nos aproximamos do fim do ano litúrgico e do ano civil. Na perspectiva do fim dos tempos e do nosso tempo, a liturgia nos faz refletir sobre a ressurreição. Os saduceus, que eram sacerdotes do Templo e não aceitavam a ressurreição dos mortos, fizeram a Jesus uma pergunta capciosa: “Na ressurreição, uma mulher que se casou sete vezes, e todos os maridos morreram, vai ser esposa de qual deles?”. Os saduceus argumentam como se a ressurreição fosse uma simples repetição desta vida. A ressurreição não é repetição, é plenitude. O que aqui começa, lá desabrocha na perfeição. Na eternidade não haverá morte, por isso não haverá casamento nem geração de filhos. Entraremos numa novidade de vida, que prolonga a atual, sem repeti-la. Não vamos sobreviver. Vamos ressuscitar.
O Livro dos Macabeus relata o martírio de sete irmãos com sua mãe na época do rei Antíoco IV Epífanes. O rei queria substituir a religião dos judeus pela cultura dos gregos e seus ídolos. Muita gente ficou firme na fé e preferiu morrer a aceitar as imposições do rei. Assim também esta mãe e seus sete filhos. Todos ficaram firmes, suportando a tortura até a morte. O quarto filho, pouco antes de morrer, disse: “Prefiro ser morto pelos homens tendo em vista a esperança dada por Deus, que um dia nos ressuscitará”. E dirigindo-se ao rei, lhe disse: “Para ti, porém, ó rei, não haverá ressurreição para a vida”. Este jovem judeu professou sua fé e sua esperança na ressurreição. Tinha certeza de que Deus ia ressuscitá-lo. O rei também ia ressuscitar, mas não para a vida. Um dia, vamos despertar, ver a face do Senhor, e sentir-nos plenamente saciados. Como diz o salmista: “Eu verei, justificado, a vossa face e ao despertar me saciará vossa presença”. São Paulo escreve aos tessalonicenses que Deus os amou, lhes deu uma consolação eterna e uma esperança feliz. A consolação nos é dada nesta terra em vista do que acontecerá no fim. Vendo o fim, adquirimos ânimo para a prática do bem e não nos associamos aos reis Antíocos deste mundo.
Liturgia comentada
Eles estão vivos! (Lc 20,27-38)
Sim, nossos mortos estão vivos. Não “dormem”, em animação suspensa, como aqueles ricaços norte-americanos que, tomados por um câncer até aqui incurável, mandaram congelar seu corpo em nitrogênio líquido, à espera da evolução da ciência médica... Com a morte, nossa alma se separa do corpo. Este, lançado à terra, com o respeito e a veneração devidos àquele que foi por tantos anos o “templo do Espírito Santo” (cf. 1Cor 6,19), logo se desfará em seus elementos químicos originais.
Mas é imortal a nossa alma espiritual. Vive para sempre, à espera do novo corpo que lhe será dado na ressurreição da carne, conforme professamos ao rezar o “Símbolo dos Apóstolos”.
Vive onde? – alguém perguntaria. Ora, Vive em Deus! Os ramos da videira não são podados pela morte. Os membros do Corpo de Cristo, depois de uma vida em comunhão com Cristo-Cabeça, irrigados pela mesma circulação da Graça, não são amputados pela morte. Esta comunhão (sýssomos, um só corpo com Cristo, sýnaimos, um só sangue com Cristo – na expressão de São Cirilo de Jerusalém!) permanece e se projeta além de nossa morte.
De outra forma, como poderíamos entender a disposição de S. Teresinha do Menino Jesus de “passar o céu trabalhando na terra”, se a Pequena Teresa estivesse toda anestesiada, à espera da Segunda Vinda?! Não estivessem vivos os nossos mortos, como poderiam cumprir a “permanência do amor” lá no céu, mesmo quando já não exista espaço para a fé e a esperança, como ensina o Apóstolo Paulo (cf. 1Cor 13,8).
Desde o início, quando celebrava a Eucaristia sobre o túmulo do fiel martirizado na véspera, a Igreja sempre soube que nossos mortos celebravam conosco, junto aos coros dos anjos, reunidos em volta do altar. Esta “memória” mística se manifesta nas expressões rituais típicas de cada Oração Eucarística: o “memento” (do verbo meminisse = lembrar) dos mortos, paralelamente ao “memento” dos vivos. É que o sacrifício de Cristo-Cabeça é inseparável do sacrifício de seus membros, que o celebram e atualizam por Cristo, com Cristo, em Cristo.
É em Cristo que nossos mortos vivem, após uma vida em comunhão com Ele. Foi a promessa de Jesus em seu discurso eucarístico (Jo 6,51): “Eu sou o pão vive que desce do céu. Quem comer deste pão viverá para a eternidade.”
Orai sem cessar: “O Senhor resgata a vida de seus servos!” (Sl 34,23)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
santini@novaalianca.com.br
REFLEXÕES DE HOJE
10 DE NOVEMBRO-DOMINGO
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Oração Final
Pai Santo, sei que é pequena a minha fé. Mas sei também que é grande a minha vontade de crer. Ajuda-me, Pai amado, a guardar no coração e anunciar com minha vida o Mistério da Ressurreição para o qual nos conduz o Cristo Jesus, teu Filho e nosso Irmão, que contigo reina na unidade do Espírito Santo.
ORAÇÃO FINAL
Pai Santo, sei que é pequena a minha fé. Mas sei também que é grande a minha vontade de crer. Ajuda-me, amado Pai, a guardar no coração e anunciar com minha vida o Mistério da Ressurreição para o qual nos conduz o Cristo Jesus, teu Filho que se fez nosso Irmão e contigo reina na unidade do Espírito Santo.