ANO C
Lc 9,46-50
Comentário do Evangelho
O maior é o menor no Reino de Deus.
O evangelho desta segunda-feira é o último
episódio da primeira parte do evangelho segundo Lucas (4,14–9,50), dominado
pelo tema da identidade de Jesus como profeta (ver: 7,16.39).
A discussão entre os discípulos de quem seria o
maior é a sequência do segundo anúncio da paixão-morte-ressurreição (cf. vv.
43b-45), e igualmente expressão da incompreensão dos discípulos (cf. v. 44). A
condição do discípulo é ser servo como seu Senhor, que se fez servo de todos. O maior é o menor no Reino de Deus.
A “criança” é, aqui, símbolo do próprio Cristo, o
“menor” de todos porque se fez servo de todos (cf. v. 48).
O nome de Jesus, isto é, sua pessoa, não é
propriedade ou monopólio de quem quer que seja (cf. vv. 49-50). Os seus “atos
de poder” e o seu ensinamento, que libertam o homem das cadeias do mal, não se
circunscrevem nos limites de um único grupo. Ninguém pode fazer o bem se Deus
não mover o coração. Dito de outra maneira, Deus está na origem do bem.
Por isso Jesus diz: “... quem não é contra vós,
está a vosso favor” (v. 50). É pela autoridade de Cristo (= no nome de) que o
mal é vencido.
Vivendo a Palavra
Jesus ensina aqui duas lições: humildade e
acolhimento. Nós devemos nos tornar como crianças para continuarmos no Reino do
seu Pai. Reino que de onde não podemos excluir ninguém, mesmo que não ande
conosco, não seja do nosso grupo... Assim deve ser a Igreja.
Vivendo a PalavrA
Jesus ensina aqui duas lições inesquecíveis:
humildade e acolhimento. Nós devemos nos tornar como crianças para continuar no
Reino do seu Pai, Reino de onde não podemos excluir ninguém, mesmo aqueles que
não andam conosco e não são do nosso grupo… Assim devemos ser – uma ‘Igreja em
saída’ para buscar e acolher os irmãos afastados.
Reflexão
A lógica que nos é proposta por Jesus nos desafia
a entender as relações de autoridade e de poder de uma forma totalmente
diferente da proposta pelo mundo: autoridade significa conduzir as outras
pessoas para uma vida melhor e poder significa serviço e humildade. Com isso, o
Evangelho nos mostra que devemos nos afastar da opressão, da dominação e do
autoritarismo do poder pelo poder. O Evangelho de hoje também nos mostra que o
fato de sermos a Igreja de Jesus Cristo não nos dá o direito de nos apossarmos da
sua pessoa e da sua ação, uma vez que ele chama diferentes pessoas através de
modos diferentes para que, de diferentes modos, continue agindo no meio dos
homens.
Reflexão
Jesus acabara de apresentar aos discípulos o segundo anúncio de
sua paixão. Mas eles não entenderam que, na qualidade de discípulos, deveriam
seguir o mesmo caminho do Mestre. Jesus se abaixa. Os discípulos querem se
elevar. Por isso, fazem entre si um bate-boca sobre qual deles seria o maior.
Estão longe de compreender o espírito da novidade que Jesus vem introduzir nas
relações humanas. Quem é o maior? O menor. Para ilustrar seu ensinamento, Jesus
dá destaque a uma criança, colocando-a do seu lado. Com isso revela o sentido
de toda a sua obra: a verdadeira grandeza está na humildade. Na sequência,
Jesus previne seus discípulos contra a tentação do fanatismo. Para Jesus, não é
necessário que alguém pertença oficialmente a seu grupo para ter o direito de agir
em seu nome. Ninguém tem o monopólio do bem.
(Dia a dia com o Evangelho 2019 - Pe. Luiz
Miguel Duarte, ssp)
Meditação
Quer ser grande? Acolha o pequeno, o simples! -
Falando em criança, temos consciência de que o futuro está nas mãos delas? -
Hoje fala-se muito em acolher! Temos consciência de que acolher significa
valorizar a pessoa do outro? - Ser grande significa valorizar o outro, ser
solidário e amigo dos que a sociedade despreza, não é mesmo?
Padre Geraldo Rodrigues, C.Ss.R
Meditando o evangelho
PENSAMENTO INCONVENIENTE
Jesus e os discípulos caminhavam em direções opostas. Enquanto
Jesus preanunciava seu destino de sofrimento e morte, os discípulos nutriam
ideais de grandeza, preocupados em saber quem dentre eles seria o maior.
Descurando as exortações recebidas, anteviam um destino de glória
e esplendor para si e para o Mestre. E procuravam organizar seu futuro a partir
desta lógica mundana. Em outras palavras, eram incapazes de imaginar um projeto
de vida fora de relações desiguais, próprias de uma sociedade de classes.
Jesus tentava fazê-los compreender ser possível viver de uma
maneira nova, dentro e fora da comunidade. Dentro da comunidade, as relações
interpessoais seriam regidas pelo princípio da igualdade e do serviço.
Prestígio, poder e autoridade nenhuma importância teriam. Com os de fora da
comunidade, o Reino exigia ser tolerante e respeitoso, superando toda tentação
de sectarismo e de fanatismo.
Os velhos esquemas deveriam ser invertidos, ou melhor,
substituídos pela novidade do Reino. Grandes seriam os menores da comunidade.
Os desprezados, como as crianças, tornar-se-iam objeto de atenção. O Messias
glorioso deveria ser encontrado nas pessoas marginalizadas, pois a grandeza do
Reino é bem diferente daquela que os discípulos imaginavam.
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório –
Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total).
Oração
Espírito de igualdade, tira de mim todo ideal de grandeza que
consiste no domínio sobre meu semelhante, e torna-me servidor humilde dos mais
pequeninos.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. Entendemos mal o significado da palavra “Poder”
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo
Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim
– SP)
A palavra "poder" ganhou uma conotação do mal, por
causa da opressão e da exploração, de alguns que ocupam o Poder, e a famigerada
"busca do poder" virou sinônimo de coisa ruim, proveniente do
maligno, algo que corrompe. Entretanto, basta ligarmos a palavra ao seu sentido
correto que é a Possibilidade, poder, portanto, vem de possibilidade de fazer
coisas e agir.
Na comunidade há pessoas que tem pouca possibilidade de fazer
algo, outras, ao contrário, pela responsabilidade que tem, podem e devem fazer
muito mais, pois tanto um quanto outro são carismas que Deus concedeu. Entre um
irmão que se ocupa humildemente da limpeza do templo, e outro que tem a função
de coordenar a comunidade, este último pode mais, não no sentido de mandar, de
ser o maioral e o mais importante, mas no sentido de fazer, implementando as
ações das quais a comunidade têm necessidade.
O Pároco tem Poder em uma paróquia, que poder é esse? As
possibilidades decorrentes do ministério específico que exerce nesse sentido
ele pode muito mais que todos, e por isso mesmo deve fazer mais do que todos. O
Senhor Bispo Diocesano pode muito mais, e deve fazer mais do que todos o seu
trabalho de supervisor. A questão não é o que fazemos, mas como fazemos...
Não podemos nos esquecer de que o próprio Senhor delegou a Pedro
a Chefia da Igreja, nunca no sentido de ficar dando ordens, e ser o todo
poderoso chefão, mas no sentido de fazer muito mais que os outros. Mas os
discípulos não haviam, compreendido isso, e os cristãos dos nossos tempos
também não....Pensavam em qual deles era o mais importante, o maioral, aquele
que tinha de ser obedecido, e que dominaria sobre os demais....Jesus não
desmonta a hierarquia, ao contrário, lhe dá um significado novo. Poder torna-se
sinônimo de serviço e nessa ótica, o todo Poderoso é aquele que serve. O
próprio Jesus usa o seu Poder para tornar-se um Servo, eis aí algo que o homem
nunca conseguirá compreender, um Deus Todo Poderoso que se faz servo.
Mas servir a quem? Na sociedade, servir a alguém poderoso dá
status e prestígio, mas servir aos miseráveis, marginalizados, sem voz e sem
poder algum, um morador de rua, um dependente químico, que recebe carinho e
atenção, como ele poderá retribuir? Por isso Jesus faz a dinâmica do
acolhimento e serviço colocando no meio deles uma criança, mostrando então que
esses pequenos, totalmente dependentes, devem ser o centro das atenções dos
servos e servas de Deus. Quanto mais insignificante for a pessoa a quem se
serve, mais autêntico será o amor manifestado, porque é sempre feito em nome de
Jesus de Nazaré, o Deus que inverteu o quadro e se fez um Deus Servidor dos
Homens, por isso agora vem até eles naqueles que têm necessidades.
Por isso quando alguém de fora do grupo anuncia o evangelho,
realiza curas e prodígios, em sintonia com Jesus, o que lhe dá autenticidade é
a ação em si, e não a fachada religiosa a qual pertence. Não dá para
monopolizar o amor e por isso Jesus censura os discípulos que o haviam proibido
de fazê-lo em nome de Jesus, se o que se faz em nome de Jesus, é um ato de
amor, seja no anúncio da Palavra libertadora, ou em um gesto de solidariedade
com quem sofre e passa alguma necessidade, essa ação torna-se autêntica e
ninguém poderá impedi-la de ser feita...
2. O menor, é o maior!
Os apóstolos estavam tão perto de Jesus, ouviam os seus
ensinamentos e assim mesmo disputavam entre si o primeiro lugar. São apóstolos,
mas são humanos, e a natureza humana é imperfeita. Eu quero ser o maior, e
quando compreendo que não deve ser este o desejo pessoal de um seguidor de
Jesus, digo que maior é o grupo no qual eu estou. Eu não sou o maior, mas o meu
grupo, sim. O meu grupo é o maior porque estou nele. Continuamos na mesma: eu
sou o maior. Hoje celebramos um grande homem da nossa Igreja. Tinha um gênio
difícil, mas era muito capacitado. O Papa São Dâmaso o encarregou de fazer uma
revisão dos textos latinos das Bíblias existentes na época. Eram chamados de
Vetus Latina. O resultado do trabalho de São Jerônimo foi a Bíblia Vulgata, um
texto latino mais fiel aos originais grego e hebraico. São Jerônimo também
tinha de vez em quando ímpetos de querer ser o maior. Soube, porém, canalizar a
sua energia trabalhando para a obra de Deus. Dedicou-se com afinco à tarefa da
organização da Bíblia latina. Foi um homem penitente e de oração e viveu grande
parte de sua vida em Belém, na Judeia. Foi sepultado numa das grutas ao lado de
onde nasceu Jesus.
Liturgia comentada
Este é que é o maior... (Lc 9, 46-50)
O mundo exalta o sucesso e humilha os perdedores.
O mundo celebra os vencedores e prega medalhas de ouro no seu peito. O mundo
aplaude os sabidos e paga caro por seus conselhos e... palpites. A grande
maioria da população do planeta forma a legião dos esquecidos, a anônima
multidão. Exatamente aquela turba que Jesus contemplava condoído, vendo-a como
ovelhas sem pastor...
No Evangelho de hoje, até os seguidores mais
próximos de Jesus surgem comparando sua importância, sem esconder seus sonhos
de grandeza. Coisas da humanidade adâmica, pois não? Natural que venham a se
espantar quando, no Cenáculo, Jesus vestir uma toalha e lavar os pés dos
apóstolos!
Desta vez, Jesus tenta abrir os olhos de sua
troupe para o beco sem saída em que estão entrando. Para isso, traz uma criança
para o centro do grupo e aponta para ela. Naqueles tempos, a criança era uma
espécie de “homúnculo”, um “projeto de homem”, algo que não se contava nos
recenseamentos. Em suma, valia quase nada.
E Jesus causa surpresa ao fazer da criança a
medida de valor: o que vale menos é quem vale mais! Aliás, vivendo como
crianças, nosso fardo se torna mais leve. É notável a reflexão feita por S.
Josemaría Escrivá: “Quando um menino tropeça e cai, ninguém estranha, e seu pai
se apressa em levantá-lo. Quando quem tropeça é adulto, nossa primeira reação é
de riso. Às vezes, passado o primeiro momento, o ridículo dá lugar à piedade.
Mas os adultos têm de se levantar sozinhos...” E o santo conclui: “Não queiras
ser grande, mas menino, para que, quando tropeçares, te erga a mão de teu
Pai-Deus.”
Esperta foi a Pequena Teresa: “Sou apenas uma
criança, impotente e fraca, mas é minha própria fraqueza que me dá a audácia
para me oferecer como Vítima ao teu amor, ó Jesus! (...) Não posso, Jesus,
aprofundar o meu pedido, recearia ver-me acabrunhada sob o peso dos meus
desejos audaciosos... Minha desculpa é ser uma criança, e as crianças não medem
o alcance das suas palavras. (...) A criancinha lançará flores, perfumará o
trono real; com sua voz argentina, cantará o cântico do Amor...” (Man. B, 256,
257.)
Deus é simples e discreto. É bom desconfiar de
projetos grandiosos em nome de Deus...
Orai sem cessar: “Mantenho em calma e sossego a
minha alma, tal como uma criança no seio materno...” (Sl 131, 2)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
HOMILIA
DIÁRIA
Devemos amar, cuidar e querer bem nossas
crianças
Como nós devemos amar, cuidar e querer bem nossas
crianças! Elas são nossa maior riqueza, nosso maior tesouro, é o maior presente
que nós temos em nossas casas.
“Quem receber esta criança em meu nome, estará
recebendo a mim. E quem me receber, estará recebendo aquele que me enviou” (Lc 9,48).
Hoje, celebramos o dia de São Jerônimo. No
encerramento do mês da Bíblia, lembramo-nos daquele que é o patrono das
Sagradas Escrituras, pois foi ele quem fez a tradução vulgata delas, a tradução
do original para o latim, e foi dessa tradução que saiu as demais traduções da
Palavra de Deus.
Mais importante que a tradução é a paixão de São
Jerônimo pela Palavra do Senhor; dedicava dias e noites meditando a fundo em
cima da Palavra de salvação do Nosso Deus.
Queremos, hoje, voltar-nos com um olhar maior,
abrir os nossos ouvidos, o nosso coração para que a Palavra de Deus penetre em
nosso ser, para que ela seja o grande alimento para a nossa vida. Aprendamos
com São Jerônimo a amarmos a Palavra de Deus como o nosso alimento de cada dia.
Aquilo que diz hoje o Evangelho – “Quem receber
esta criança em meu nome, estará recebendo a mim” – faz-nos lembrar que, na
tradição judaica, a criança não tinha importância, ela não era nem contada, era
vista com desprezo e, por isso, quando os discípulos estão discutindo quem é o
maior, é óbvio que, neste grupo, as crianças não eram nem levadas em
consideração. É por essa razão que Jesus, ao invés de responder quem é o maior,
ele mesmo diz: “Se alguém está recebendo uma criança em Meu nome, é a mim mesmo
que está recebendo”.
Como nós devemos amar, cuidar e querer bem nossas
crianças! Elas são nossa maior riqueza, nosso maior tesouro, é o maior presente
que nós temos em nossas casas. Nós devemos lutar pelos direitos que pertencem a
elas e não podemos permitir que elas sejam corrompidas por este mundo, que
percam a dignidade, o respeito, a estima.
Não se trata somente das nossas crianças que
estão em nossas casas, mas daquelas que estão na rua, maltratadas, esquecidas,
abandonadas. Em cada uma dessas crianças está a impressão do amor do Pai. Todas
as vezes que nós dermos atenção a uma criança abandonada, a um menino de rua, a
uma criança que está sendo desprezada, desvalorizada, que está sofrendo –
acredite – estaremos acolhendo o próprio Jesus.
Precisamos abrir o nosso coração para cuidarmos
dos nossos pequeninos!
Deus abençoe você!
Padre Roger Araújo
Sacerdote da Comunidade Canção Nova, jornalista e
colaborador do Portal Canção Nova.
Oração Final
Pai Santo, que a glória deste mundo não nos
seduza. Faze-nos, Pai amado, simples e puros como as crianças, receptivos e
acolhedores para todos os irmãos que colocas perto de nós na caminhada por este
Planeta encantado que nos emprestas para que dele cuidemos. Por Jesus Cristo,
teu Filho e nosso Irmão, na unidade do Espírito Santo.
Oração FinaL
Pai Santo, que a glória deste mundo não nos
seduza. Faze-nos, amado Pai, simples e puros como as crianças, receptivos e
acolhedores para todos os irmãos que colocas perto de nós na caminhada por este
Planeta encantado que nos emprestas para que dele cuidemos. Por Jesus Cristo,
teu Filho e nosso Irmão, na unidade do Espírito Santo.