ANO C
Mt 23,27-32
Comentário do Evangelho
Deus não se deixa levar pela aparência.
Os vv. 27-28 repetem a
mesma ideia dos versículos anteriores: a hipocrisia dos escribas e fariseus;
neste capítulo 23, o objeto da lamentação de Jesus é a oposição entre interior
e exterior. Mas a aparência de justiça, ao empenhar-se nas práticas religiosas
só para serem vistas pelos homens, não impede Deus de penetrar no coração, na
verdade de cada pessoa. Deus não se deixa levar pela aparência. É este o apelo
de Jesus aos discípulos: “Guardai-vos de praticar a vossa justiça diante
dos homens só para serdes vistos por eles” (6,1).
Deus vê no segredo (cf.
6,4.6.18). Nos versículos 29-32, Jesus lamenta a hipocrisia dos escribas e
fariseus, porque eles utilizam da glória
dos profetas em benefício próprio.
O seu rigor legalista e,
em razão dele, suas faltas presentes, os tornam coniventes com a morte dos
profetas. Não é exatamente o que farão ao condenar Jesus como blasfemo?
É bom que tenhamos claro
que não é a observância da Lei que é atacada por Jesus, mas a sua
deformação.
Carlos Alberto Contieri,
sj
Vivendo a Palavra
Celebrando hoje a festa
de Santo Agostinho, nós sentimos como a condenação de Jesus aos doutores da Lei
e fariseus orientou sua caminhada de conversão: Agostinho procurou viver o amor
de forma cada vez mais transparente e é, para nós, Igreja de Jesus, exemplo de
como vencer a hipocrisia do mundo.
VIVENDO A PALAVRA
Celebrando hoje a festa de Santo Agostinho, nós
sentimos como a condenação de Jesus aos doutores da Lei e fariseus orientou sua
caminhada de conversão: Agostinho procurou viver o amor de forma cada vez mais
transparente e é, para nós, Igreja de Jesus, exemplo de como vencer a
hipocrisia do mundo.
Reflexão
Devemos sempre estar
alertas em relação à nossa vivência da fé porque, se não nos cuidarmos, podemos
criar um abismo muito grande entre o que falamos e o que vivemos ou, pior
ainda, podemos viver uma religiosidade de aparências, uma religiosidade ritual
em detrimento de uma real vivência de fé, de uma resposta pessoal aos apelos
que nos são feitos para que assumamos os compromissos do nosso batismo a partir
de uma vida verdadeiramente profética que denuncie os contravalores do mundo e
anuncie a verdade dos valores que foram pregados por Jesus Cristo. Deste modo,
a nossa vida religiosa não será simplesmente ritual, mas também compromisso.
Reflexão
Jesus
revela a incoerência dos doutores da Lei e fariseus. Não são o que mostram
exteriormente. Ao contrário, o exterior deles oculta o interior. Jesus o
ilustra com duas imagens. Primeiramente, a figura do sepulcro belo por fora e
cheio de podridão por dentro. A segunda figura faz referência aos túmulos que
as lideranças religiosas edificavam para os profetas. Prestaram-lhes homenagem
como a pessoas beneméritas, no entanto eles próprios os haviam eliminado. Na
linguagem coloquial, Jesus teria dito aos doutores da Lei e fariseus: Essa cara
de anjo não me engana! Com efeito, estão se organizando para matar o maior dos
profetas, o Messias, e na sequência os discípulos dele. Façam-no! Quem sabe
batendo forte na canga de suas consciências, Jesus consiga fazê-los desistir de
seus planos malignos!
(Dia a dia com o Evangelho 2019 - Pe. Luiz Miguel
Duarte, ssp)
Meditação
Exteriormente revelo
aquilo que vai em meu coração? - Procuro demonstrar bondade, fraternidade,
sinceridade? - Pratico e insisto para que pratiquem a justiça para com todos? -
Será que apenas enfeitando a carroça o burro andará mais depressa? - Minha imagem
espiritual, interior, é correspondente àquilo que aparento exteriormente?
Padre
Geraldo Rodrigues, C.Ss.R
Meditando o evangelho
AS APARÊNCIAS ENGANAM
O modo de vida dos mestres da Lei e dos fariseus era falso. O que
realmente eram passava despercebido, pois que se apresentavam carregados de
méritos e de virtudes. Jesus não se deixou impressionar por isto. Pelo
contrário, decididamente desmascarou a fragilidade das aparências. A máscara de
homens justos e sábios escondia uma gama de hipocrisias e iniqüidades. Suas
vítimas primeiras eram as pessoas ingênuas e de boa-fé.
Jesus se dava conta disto, comparando a contradição entre o que eles
ensinavam e o que faziam; ou seja, seus ensinamentos não eram acompanhados pela
prática da justiça. Detectava, também, uma deformação por parte dos mestres da
Lei e fariseus: estes seguiam as trilhas abertas por seus antepassados os
quais, em sua maldade, eliminaram os profetas que, por inspiração divina,
denunciavam as injustiças. Eram seus sucessores, e seu comportamento não era
diferente. Também eles se levantariam contra aquele que lhes estava denunciando
a maldade, e o eliminariam.
Jesus não tinha dúvida quanto à reação que sua denúncia haveria de
suscitar, contra si mesmo e contra os seus discípulos. A liberdade com que
desmascarava os que se consideravam baluartes da fé, não ficaria sem resposta.
Apesar de serem merecidas as denúncias feitas contra os mestres da Lei e os
fariseus, estes haveriam de preferir eliminar quem os denunciava a se
converterem.
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo
Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE –
e disponibilizado no Portal Dom Total).
Oração
Senhor Jesus, seja o meu agir expressão do que vivo e creio, de modo a
não enganar ninguém quanto àquilo que realmente sou.
Comentários do Evangelho
1 - Ai de
vós, escribas e fariseus, hipócritas! - Severino Alves
irmãos
e irmãs,
Jesus
parece estar furioso no Evangelho de hoje. Certamente está farto das coisas que
os fariseus andavam fazendo. No texto Jesus compara estas pessoas a sepulcros
caiados: "que por fora parecem belos, mas por dentro estão cheios de ossos
de mortos e de toda podridão". Os sepulcros nos tempos bíblicos em algumas
situações eram erigidos como se fossem monumentos em homenagens aos mortos, com
alguma sofisticação, ou mesmo pilhas de pedras bem arranjadas. Em ambos os
casos eram caiados, de forma que os transeuntes enxergassem de longe e
evitassem a contaminação ritual que acontecia se se entrasse em contato com
alguma coisa morta. Jesus chamou os fariseus de sepulcros caiados por causa da
vida de hipocrisia que levavam, mostrando uma imagem espiritual elevada sendo
que no interior viviam em estado de sujeira e pecado. Poderíamos dizer que
hipocrisia é o ato de fingir ter crenças, virtudes, ideias e sentimentos que a
pessoa na verdade não possui. Ou seja, o termo hipócrita designa alguém que
oculta a realidade atrás de uma máscara de aparência. A pessoa hipócrita pode
ser considerada falsa, fingida, muitas vezes desleal, infiel, traiçoeira,
incoerente, injusta que quer se passar por justa, ou outros sinônimos não
atrativos. Certamente não gostaríamos de uma convivência aproximada com pessoas
que tenham comportamentos assim. Isso deve nos alertar, já que pode ser que
tenhamos atitudes que se assemelham às ações dos fariseus e nem percebamos.
Sabemos que têm muitas pessoas que vivem uma vida de aparência. Falam a
verdade, mas não vivem a verdade. Pessoas que vivem nas diversas áreas de
trabalho e na convivência social mostrando uma face de amor e justiça, mas na
convivência diária ocorre outra realidade. Pregadores, professores, líderes em
geral que pregam, ensinam e sugerem costumes que eles mesmos não vivem. Ou
seja, não há coerência entre o que pregam e o que vivem. Já na família, sabemos
que muitos aparentam uma paz e um modo de vida que no dia-a-dia não vivem em
seus lares. Mas precisamos ter muito cuidado, pois Jesus continua a nos
interpelar, assim como fez com os Mestres da Lei e os fariseus a respeito da
sinceridade de suas ações. Vejamos o que nos diz o Salmo 139: "Iahweh, tu
me sondas e me conheces; Conheces meu sentar e meu levantar; de longe penetras
o meu pensamento (...); A palavra ainda não me chegou à língua, e tu, Iahweh,
já a conheces inteira (...); Para onde ir, longe do teu sopro? Para onde fugir,
longe da tua presença?" Assim, saibamos que diante de Deus não podemos ser
hipócritas, já que Ele conhece nossos corações, nossas intenções, nossos
pensamentos, nossos sonhos, desejos, frustrações, alegrias e tristezas. A Carta
aos Hebreus 4,13 nos diz: "E não há criatura oculta à Sua presença; tudo está
nu e descoberto aos olhos daquele a quem devemos prestar contas". Assim,
que a verdade, o amor, a bondade, a franqueza e a transparência sejam
princípios básicos nas nossas vidas.
Que
Deus nos abençoe e guarde.
Um
forte abraço para todos.
Fraternalmente,
Severino
Alves
2 - Sepulcros
caiado - Maria Cecília
É bom
relembrar que este texto faz parte do capítulo 23 do Evangelho de
Mateus, onde Jesus pronuncia sete "ais", contra escribas e
fariseus. Ao pronunciar cada "ai" para um grupo ou para alguém, Ele
expressa sua mágoa com as atitudes tomadas e faz uma advertência para as más
conseqüências que essas atitudes acarretarão.
A
reflexão de hoje é sobre o sexto e o sétimo "ai"de Jesus.
No sexto
"ai" (v. 27), a indignação de Jesus contra mestres da Lei e fariseus
é tão grande, que Ele os compara a "sepulcros caiados", pois têm a
aparência exterior de um túmulo recém pintado de branco que tenta esconder uma
realidade interior cheia de podridão. São eles aqueles que aparentando ser boas
pessoas, escondem uma realidade de mentiras, pecados e nada comprometida com os
preceitos morais.
No sétimo
"ai" (vv. 29-36), Jesus fala das edificações (sepulcros e sacrários),
que ficam ao redor de Jerusalém, para os profetas martirizados. Ele acusa
escribas e fariseus de serem descendentes (física e espiritualmente) dos
responsáveis por esses martírios.
É desta
forma, expressando seus "ais", que Jesus mostra sua mágoa pela forma
como escribas e fariseus fazem mau uso de sua liderança religiosa que
deveria estar a serviço da comunidade e não servindo para exaltação e interesse
próprio.
Este são
os mesmos perigos que permeiam nossas comunidades, ainda hoje, e que prejudicam
a vida espiritual de muitos. Certamente Jesus diria novamente um
"ai", se participasse das comunidades de agora.
Maria
Cecília
3 - Sepulcros
caiados - José Salviano
Era
costume do povo judeu, por ocasião das grandes festas, pintar ou caiar os
sepulcros para evitar algum contato involuntário de alguém que, assim, se
tornaria impuro.
Assim, a
comparação com o sepulcro tem dois significados: Primeiro, a diferença entre a
aparência dos escribas e fariseus e a realidade do seu interior. Isto
porque eles aparentavam ser santos, justos, quando na verdade, Jesus sabia
tudo o que eles realmente pensavam e faziam. O segundo significado, é o
foco de contaminação. Jesus compara com a doutrina dos judeus é contaminadora.
Irmãos.
Muitos de nós também somos iguais a um cadáver que foi maquiado, como as
mulheres costumam fazer quando vão a uma grande festa. Passam creme no rosto,
batom e outras "coisitas mais". Um defunto maquiado, está
bonito por fora, mais por dentro está em degradação para não dizer podre ou
apodrecendo. São parecidos com aqueles que por fora é só sorriso, falsa
gentileza, falsa cortesia e falsa educação. Porém dentro da sua mente é só
ódio, perversidade e maldade. A polícia explica que o pior dos bandidos é
aquele que chega de mansinho, com toda gentileza, conquista a nossa pessoa nos
fazendo confiar nele. Num momento seguinte, ele nos assalta, ou faz outro tipo
de mal.
Aconteceu
outro dia caso semelhante em uma cidade do Sul. Um cara agarrou uma garota na
rua, de noite, e estava tentando beijá-la... No mesmo instante apareceu outro
sujeito, e deu uns socos e chutes no malfeitor que saiu correndo. A garota
ficou toda agradecida, disse que estava indo para a casa da avó, e aquele bom
rapaz que era muito gentil e respeitoso, disse que também estava indo naquela
direção, e ofereceu uma carona.
A garota
disse que sentiu muita confiança no cara e entrou no carro. Conversaram, ele
dizia para ela não andar sozinha a noite porque era muito perigoso e outras
coisas que a deixara mais segura em estar na sua companhia. De repente o
primeiro cara surgiu não se sabe de onde com uma arma na mão e obrigou o
motorista a abrir a porta, entrou no carro, e começou a dar as ordens. Vira
aqui, vira ali, até chegar numa rua pouco movimentada...
Quando a
garota acordou morrendo de frio, estava semi-nua dentro de uma perua Kombi
velha. Permaneceu ali encolhida até o dia amanhecer, quando ia
passando um casal, ela pediu socorro e eles a levaram para casa. Os dois
caras fizeram tudo combinado. Um aborda, o outro se faz de bonzinho e defende a
vítima, depois os dois se juntam novamente...
A
menina disse que no assoalho da perua havia um pedaço de pano umedecido que
cheirava éter ou coisa parecida. Era o mesmo pano que um dos deles havia tirado disfarçadamente
do bolso e depois disso ela afirma não ter se lembrado de mais nada. Ela
acredita que eles a apagaram colocando em seu nariz alguma substância
química para cheirar.
Prezados irmãos.
Não se sabe se realmente tudo aconteceu de acordo com a versão daquela
jovem. Mais uma coisa é certa. Realmente, muitos de nós
somos como os escribas e fariseus. Bonitos por fora e por dentro...
Sal
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. Síndromes
do Farisaísmo
(O
comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)
A gente olha para os Fariseus e os Escribas, em seu contexto religioso e
ficamos surpresos: ”Como podem ser tão falsos e incoerentes com aquilo que
creem e pregam?”
Em maior ou menor escala, nós cristãos desde segundo milênio, temos
também a Síndrome do Farisaísmo, quando não ligamos pensamento e ação, quando
não há nenhum vínculo entre Fé e Vida. Não precisa se ir muito longe para
encontrar um fariseu, ás vezes o homem ou a mulher que atua na Pastoral ou
no Movimento, e que são um testemunho espetacular de casal que vive bem a
sua Fé, na fidelidade ao Evangelho, no amor a Eucaristia e a oração, e
são até solicitados ás vezes a darem conselhos a outros casais que têm
dificuldades em seu relacionamento. Mas lá um belo dia a “Casa Cai” e o casal
se separa...
O maridão que era um agente de pastoral firme e exemplar vai se embora
com uma mocinha do grupo de jovens, troca a esposa e filhos por um amor
ardente, movido pela paixão. Essa ruptura entre ambos não ocorreu de um dia
para outro. Já fazia tempo que a relação ia de mal a pior. Por que não pediram
ajuda? Por que não procuraram um sacerdote? Precisavam manter a aparência da
fama conquistada na comunidade. Imaginem o casal que ajuda a resolver casos
difíceis e faz orações poderosas, admitir que estão quase se separando, porque
não se entendem mais.
Farisaísmo não é “doença” só de leigo. Há membros do clero que há tempo
apenas mantém a aparência de vocacionado, nada sobrou de sua vocação ingênua,
baseada em fantasias de endeusamento do seu Ego, e que não resistiu á dura
realidade do dia a dia. Ser Padre ou Diácono por causa do “status” dentro da
própria igreja. Pregar a Palavra de Deus faz parte da Vida Ministerial, mas a
vivência cristã, pautada pela sinceridade, autenticidade de uma Fé íntegra, há
muito se perdeu, e os seus maus testemunhos falam mais alto que suas belas
pregações.
Há farisaísmo nas relações, tanto do clero como do Laicato, que deveriam
ser pautadas pela fraternidade e misericórdia, mas que na verdade são marcadas
tristemente pela inveja, ciúmes, disputas e contendas que parecem não ter mais
fim. Depois, leigos e Clero vão para a Santa Assembleia, ouvir a Santa Palavra,
em torno da mesma mesa, demonstrando que tudo está bem, quando na verdade, até
ali na Assembleia Litúrgica dão vazão ao egoísmo e egocentrismo de Egos
exaltados.
O Farisaísmo nas reuniões de Conselho, de Leigos que querem ser os
“Donos da Bola” nos assuntos em pauta, o Farisaísmo da guerrinha fria que ainda
persiste, entre os defensores de uma Eclesiologia mais tradicional, ou
Progressista, contra Movimentos de Linha pentecostal, dentro da própria Igreja,
e a guerra se amplia, saindo das discussões do dia a dia, indo para a grande
Mídia, onde um tenta minimizar o “sucesso” do outro. Estou olhando para a nossa
Igreja, mas em todas as Igrejas Cristãs, o Farisaísmo nefasto traz cada vez
mais divisões diabólicas.
Nas realizações ou empreendimentos arquidiocesanos, não se veste a
camisa da Unidade e Comunhão com o Bispo, mas enfileira-se neste ou naquele
grupo, liderado por este ou aquele pensamento. E isso fora as ideologias
estranhas que alguns “Iluminados” querem colocar no cristianismo, contrariando
a Sã Doutrina. Todos nós Cristãos, em menor ou maior escala, contribuímos para
a conservação desse Farisaísmo, quando deixamos de falar a Verdade, quando nos
omitimos na comunidade, quando preferimos deixar o barco correr, sem dar a
nossa opinião, porque temos medo de magoar esse ou aquele.
O Papa Francisco tem combatido incansavelmente essa Igreja do
estrelismo, do alisamento do Ego, que nada mais é do que fruto do Farisaísmo
presente em nosso meio. Humildemente peçamos perdão! E eu o faço em primeiro
lugar...
2. Ai de vós, hipócritas!
“Por fora bela viola, por dentro pão bolorento”, diz o ditado popular.
As aparências enganam. Nem tudo o que reluz é ouro, nem tudo o que balança cai.
Jesus chama os hipócritas de seu tempo de sepulcros caiados. Sepulcros bonitos
e bem arrumados por fora encobrem cadáveres em decomposição. Ao longo da
história, profetas foram rejeitados e mortos. Nós não teríamos feito isso,
diríamos hoje, reconhecendo o que fizeram os antigos. Somos então descendentes
de quem matou profetas? A série de “ais” contra os hipócritas termina com esta
cena: “Vocês reconhecem que são filhos dos que mataram os profetas? Completem,
então, a medida de seus pais”, isto é, matem este profeta que está falando. É
uma referência à morte de Jesus. Os ataques contra a hipocrisia, que se
encontram neste capítulo de Mateus, são dirigidos diretamente aos fariseus e
aos escribas. No entanto, no momento da prisão, dos diversos interrogatórios, e
da morte de Jesus, os fariseus praticamente não estão presentes. São João os
menciona discretamente e faz referências a seus soldados. A presença marcante é
de anciãos e Chefes dos Sacerdotes.
Liturgia comentada
Por fora parecem
belos... (Mt 23,27-32)
O povo antigo tinha um
dito para nos alertar: “por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento”. Neste
Evangelho de tonalidade assustadora, Jesus emprega uma linguagem ainda mais
forte: “sepulcros caiados”. Para os judeus, quem esbarrasse em um túmulo, ficaria
ritualmente impuro e deveria passar por complicado processo de purificação. Daí
o costume de caiar os sepulcros, de modo que ficassem bem visíveis e
ninguém os tocasse por descuido. No entanto, mesmo limpinhos por fora, nada
mudava sua podridão interior. Não adianta salvar as aparências...
Jesus se vale dessa
imagem crua para denunciar a falsidade dos homens da religião judaica que
“vendiam uma imagem” exterior de piedosos quando, por dentro, alimentavam
sentimentos contrários à Lei de Deus, como a autossuficiência, a vaidade e a
avareza. É para eles – os religiosos de fachada - que Jesus reserva o adjetivo
“hipócritas” (cf. Mt 23,13; Mc 2,16).
Em sua juventude, quando
morava em Nazaré, é bem provável que Jesus tenha visitado uma das cidades de
cultura helenizada, ali mesmo na Galileia, como Tiberíades ou Cesareia de
Filipe, onde peças de teatro eram representadas nas arenas. Nestas, os atores
usavam máscaras sobre o rosto (trágica e cômica) e simulavam tristeza ou
alegria, lágrimas ou gargalhadas, conforme o seu papel. Claro, eram sentimentos
fingidos, não correspondiam ao íntimo dos artistas.
Jesus se vale desta
situação (a de estar “debaixo da máscara”) para definir a atitude dos fariseus
que rondavam o Templo de Jerusalém. Não havia nenhuma sinceridade em seu culto,
em seus jejuns, em suas orações de pé, à vista de todos, tampouco em suas esmolas
lançadas bem do alto para que as moedas retinissem nas arcadas do santuário e
todos as percebessem... (Cf. Lc 21,1-4)
Por oposição, Jesus de
Nazaré se mostra atraído pela oração daquele publicano anônimo que se humilha e
confessa o próprio pecado (Lc 18,13), e ainda elogia o publicano Zaqueu,
disposto a reparar suas falcatruas, com uma frase de admiração: “Hoje a
salvação entrou nesta casa!” (Lc 19,9) Na contramão de nossa sociedade, Jesus
quer apenas a sinceridade de coração: só os corações que se abrem à luz
podem receber os cuidados do Senhor, que incluem a cura e o perdão.
Os que parecem bons
(escribas e fariseus) são rejeitados. E para escândalo dos honestos, aqueles
que parecem maus (prostitutas e publicanos) ouvem promessas de salvação. Qual
será o nosso grupo?
Orai sem cessar: “Senhor, sabeis tudo
de mim...!” (Sl 139,1)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
HOMILIA
DIÁRIA
Sua alma anda inquieta?
A alma que
anda inquieta precisa encontrar um repouso, um sentido para tudo aquilo que
faz. Que o nosso coração inquieto repouse no coração do Pai.
Celebramos, na liturgia
de hoje, Santo Agostinho. Lembrávamos, no dia de ontem, a mãe dele, Santa
Mônica, e também vimos que tudo o que ele é, foi e será para a Igreja é graças
às lágrimas e às orações convincentes de Mônica.
Santo Agostinho andou
perdido nos caminhos da vida e deu muito trabalho para sua mãe. Ele viveu
distante, longe como um filho errante, perdido nas estradas da vida.
Quando lemos a grande
obra escrita por ele, a qual retrata sua vida e lembra as lágrimas de sua mãe,
chamada ‘As confissões’, o santo mesmo se manifesta: “O meu coração estava
inquieto, enquanto não repousava em Deus”. Mas que inquietação era essa? De uma
alma que buscava, nos prazeres, nas satisfações da vida, nas alegrias do mundo,
o sentido para a sua vida, mas nunca o encontrava.
“Eram prazeres
momentâneos”, recorda Santo Agostinho em sua obra ‘As confissões’. “Eram
prazeres de horas, coisas que me faziam curtir a vida, no entanto, ela só
encurtava e eu não encontrava nenhum sentido e nenhuma direção.”
A alma que anda
inquieta, perturbada, encontra-se sem sentido muitas vezes; faz muitas coisas,
corre para lá e para cá, mas precisa encontrar um repouso, precisa encontrar um
sentido para tudo aquilo que faz. E foi no coração de Deus, no coração de Jesus
que Agostinho encontrou seu referencial.
Foi o coração do Senhor
que converteu o coração do jovem Agostinho. Aquilo que antes para ele era
prazeroso, tornou-se algo fatigante; aquilo que antes lhe causava repugnância e
não o fazia sentir nenhum prazer pelas coisas de Deus, tornou-se o sentido e o
prazer para sua vida.
Por isso Agostinho
consagrou a sua vida inteiramente a Deus, tornou-se bispo de Hipona. Ele trouxe
ensinamentos iminentes para a Igreja da sua época e para a Igreja de todos os
tempos.
A Igreja bebe da
sabedoria que vem do coração convertido deste santo, um coração que
experimentou as doçuras de Deus e, por isso, sua alma tornou-se um referencial
para todos nós.
Nós que estamos no
caminho da conversão, da mudança de vida, precisamos, a cada dia, nos
encontrarmos com o Senhor. Que o nosso coração inquieto, perturbado, repouse no
coração do Pai.
Deus abençoe você.
Padre Roger Araújo
Sacerdote da Comunidade
Canção Nova, jornalista e colaborador do Portal Canção Nova.
Oração Final
Pai Santo, nós cremos,
mas aumenta a nossa fé! Ensina-nos a proclamá-la aos companheiros peregrinos
através de palavras sábias e, sobretudo, pelo testemunho de uma vida sóbria e
coerente com o caminho trilhado pelo Cristo Jesus, teu Filho que se fez nosso
Irmão que contigo reina na unidade do Espírito Santo.
ORAÇÃO FINAL
Pai Santo, nós cremos, mas aumenta a nossa fé!
Ensina-nos a proclamá-la aos companheiros peregrinos através de palavras
modestas, sábias e, sobretudo, pelo testemunho de uma vida sóbria e coerente
com o caminho trilhado pelo Cristo Jesus, teu Filho que se fez nosso Irmão e
contigo reina na unidade do Espírito Santo.