ANO C
Mt 5,27-32
Comentário do Evangelho
Apelo ao perdão.
O texto de hoje apresenta a segunda (vv. 27-30) e
a terceira (vv. 31-32) antíteses. A segunda antítese é um exemplo do que
significa ser puro de coração. Não só não é permitido romper o lar do irmão
tomando a mulher dele, mas não se pode deixar nascer o desejo de provocar esta
ruptura. A integridade do lar do outro é tão importante a ser respeitada, para
quem quer viver com retidão a prescrição da Aliança, que ela incide sobre a
integridade física, tão cara e preciosa ao homem, pois o olho lhe permite que se
conduza, e a mão, que aja. A terceira antítese exprime a capacidade de
fidelidade, de pureza, de reconciliação. O repúdio da mulher acontece por dois
motivos: ou o coração está dividido por outra mulher ou aconteceu uma inimizade
invisível; portanto, não havendo misericórdia, perdão, paz, a mulher é
repudiada. O texto é um forte apelo ao perdão.
Carlos Alberto Contieri, sj
Oração
Pai, tu exiges respeito mútuo entre homens e
mulheres. Não permitas jamais que a cupidez e a malícia do mundo tomem conta do
meu coração.
Vivendo a Palavra
Devemos cumprir compromissos assumidos diante do
Senhor. Adultérios não acontecem apenas nos casamentos: nós adulteramos a
verdade, cultivando ilusões; adulteramos nossa fé, adorando ídolos mudos;
adulteramos nossa saúde, com hábitos desordenados e lesivos ao corpo;
adulteramos nossa Vida em Deus, não amando como Jesus amou.
VIVENDO A PALAVRA
No Sermão da Montanha – em que continuamos hoje
o nosso mergulho, cheios de encantamento – Jesus aponta o caminho excelente da
santidade: é a busca de ir mais fundo no cumprimento da Lei. Ultrapassar os
limites da letra, inebriados pela vontade de seguir os passos daquele que deu
tudo, até a própria Vida pela libertação da humanidade.
Reflexão
O valor da pessoa humana não pode ser diminuído
em hipótese alguma. O Evangelho de hoje nos mostra o valor da pessoa como
motivação para a vivência plena da Lei. Não é porque eu não fiz nada que eu não
desrespeitei. Jesus não quer apenas ato, ele exige de nós uma postura
evangélica de quem é capaz de ver o outro e a outra como seres criados à imagem
e semelhança de Deus, mas também como renascidos em Cristo para uma vida nova,
membros do Corpo Místico de Cristo, unidos a Cristo como o ramo está unido à
videira, Templos vivos do Espírito Santo e como consagrados pela graça do
Batismo, ou seja, pertencentes ao Pai, amados e amadas por ele e que devem ser
respeitados e valorizados.
Reflexão
Conforme
a lei antiga do Primeiro Testamento, pelo matrimônio a mulher começava a fazer
parte dos bens do homem. Ora, isso dava margem para a desigualdade entre homem
e mulher e consequentemente levava o homem a oprimir a mulher. Jesus quer
corrigir essa prática que é contrária ao projeto de Deus. Ou seja, Deus quer a
igualdade da mulher e do homem. Por isso, ele exige a transformação do coração
humano. O olhar impuro do desejo abre caminho à traição. Se a intenção é má,
deve ser arrancada antes que se torne ato. Não se trata de constatar as ações
externas (entre elas, o adultério), para puni-las com leis, mas sanar as
intenções mais secretas da pessoa. Quanto ao divórcio, abolida a tolerância da
lei de Moisés, o matrimônio torna-se livre escolha de amor fiel, com que o
casal se compromete para sempre.
(Dia a dia com o Evangelho 2019 - Pe. Luiz Miguel
Duarte, ssp)
Meditando o evangelho
O RESPEITO PELA MULHER
Numa sociedade onde a mulher era inferiorizada, Jesus reinterpretou o
mandamento de não cometer adultério buscando inculcar no discípulo do Reino um
profundo respeito por ela. E o fez condenando a atitude interior, que
transforma a mulher em objeto de cobiça e maus desejos, mesmo antes de
transformar o pensamento em ato. Embora o ato não seja concretizado, a
transgressão do mandamento se consuma se o indivíduo dá livre curso a seus
pensamentos depravados.
Diante desta eventualidade, o discípulo do Reino deve ser rigoroso
consigo mesmo e cortar o mal pela raiz. As duas imagens usadas por Jesus para
ilustrar esta disposição são fortíssimas. Ele falou de arrancar o olho direito
e cortar a mão direita e jogá-los fora caso se transformem em ocasião de
pecado. Jesus falava numa perspectiva de juízo final. O discípulo do Reino, ao
violar o mandamento de Deus, deveria ter em vista sua sorte eterna. Conservar
algo que se transformou em ocasião de pecado e pode levar à condenação é
insensatez. É melhor privar-se dele e ser salvo, do que conservá-lo e ser
lançado na ruína eterna.
Essa releitura do sexto mandamento esta relacionada com a bem-aventurança
da pureza de coração. Só o coração não pervertido pela maldade pode olhar para
uma mulher de maneira respeitosa, sem convertê-la em objeto de pensamentos
maliciosos.
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe.
Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da
FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total).
Oração
Senhor Jesus, dá-me pureza de coração para que eu possa me aproximar, de
maneira respeitosa, de quem quer que seja.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. Exigência
Radical
(O
comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)
Neste evangelho aparece por três vezes a palavra Adultério, que parece
ter-se tornado pesada para empregar na vida conjugal dos cristãos. O adultério
só existe quando o casal recebeu o Sacramento do Matrimônio, e aí tem suas
consequências que as pessoas envolvidas, bem como seus familiares, nunca veem
com bons olhos. Lógico que a traição de uma das partes, mesmo na união natural,
é um adultério, entretanto, a palavra ficou mesmo restrita no âmbito religioso
do Cristianismo, na nossa Igreja Católica que, por tornar sagrada a união do
homem e mulher, unidos pelo Vínculo de um Sacramento, tem suas leis para
protegê-la da banalidade.
Adultério vem da palavra adulterada, o que significa, descaracterizar
aquilo que é original. Quando aquele Fariseu perguntou a Jesus se era lícito o
homem deixar a sua mulher por qualquer motivo, Jesus o remeteu á origem, ao
começo do Projeto Divino “No princípio não era assim...”.
Isso significa dizer que, no projeto original Deus não pensou na
separação do casal, nem na união com outra pessoa, quem assim o procede, sendo
casado na Igreja, comete um adultério, isso é, falsificou uma união, em lugar
da união original, aquela que foi celebrada em uma Igreja, com toda pompa,
Padrinhos, cinegrafista, fotógrafo, vestido branco, terno da moda, músicas
especiais, marcha Nupcial etc. Mas o mais importante, recebeu de Deus a
bênção e a Graça Sacramental, com um alerta importante “ que Deus uniu, o
homem não separe”.
No altar, diante do Ministro Ordinário, é feito um Juramento, mas o
Juramento é precedido pelo Amor dos Nubentes, Amor que em sua grandiosidade foi
elevado á condição de Sacramento, merecendo do Apóstolo Paulo esta afirmativa
solene “Essa união do homem e da mulher é comparável a união de Cristo com a
sua Igreja.”.
O que ocorre nesse caso é que, o Noivo se torna Cristo, e deverá nessa
relação, fazer as vezes dele, a noiva se torna a Igreja. O amor de Cristo pela
sua Igreja é um Amor Sacrifical. Amor que se sacrifica para que o outro seja
feliz. Bem diferente desses amores baratos e medíocres de hoje em dia. Esse
Amor Sagrado não pode nunca, em nenhuma hipótese ser violado, pois ele é
racional, mas está no coração dos Nubentes. Daí que, se no coração do homem há
um lampejo de desejo por outra mulher, o Amor Sagrado já foi corrompido.
Por isso o evangelho apresenta esta exigência radical pelo Reino, onde a
mutilação dos olhos e do membro superior (mão direita) é necessária, porque o olhar
e o gesto, revela o que está no coração.
2. Ouvistes,
não cometerás adultério
Ouvimos o que foi dito: não cometer adultério. Indo um pouco mais
adiante, percebemos que há mil maneiras de acabar com a vida dos outros.
Percebemos também que o relacionamento físico é precedido por um relacionamento
mental. Com que alimentamos a nossa mente? Adultério se comete também no
desejo. As atitudes externas têm sua raiz nos projetos alimentados no coração.
No coração e na mente estão os valores nos quais acreditamos e defendemos.
Estes precisam estar de acordo com os ensinamentos da Lei de Deus e, sobretudo,
com o mandamento de Jesus que exige de nós o amor fraterno. O mandamento pede
também especial atenção para a harmonia entre os esposos. Fica a questão: por
que as autoridades e os meios de comunicação não defendem valores que mantêm a
família unida e feliz? As novelas podem ser interessantes e, por isso, mais
perniciosas quando destroem totalmente qualquer boa ideia sobre a constituição
da família. Nem tudo constrói!
HOMILIA DIÁRIA
Não deixe crescer em seu coração os
desejos impuros
Todo pecado nasce do desejo.
O que precisamos fazer é combater os desejos pecaminosos, porque, muitas vezes,
alimentamos desejos que começam pelo olhar da cobiça, da malícia… Assim crescem
em nós os desejos impuros.
“Todo aquele que olhar para uma
mulher, com o desejo de possuí-la, já cometeu adultério com ela no seu coração.
Se o teu olho direito é para ti ocasião de pecado, arranca-o e joga-o para
longe de ti! De fato, é melhor perder um de teus membros, do que todo o teu
corpo ser jogado no inferno” (Mt
5,28-29).
Na verdade, Jesus está nos chamando a purificar
os nossos membros, não deixar que nenhum deles esteja a serviço da impureza e
da maldade: nossos olhos, mãos, ouvidos, coração, nossa língua… Enfim, tudo
aquilo que nós somos – corpo, alma e espírito –, é lugar da morada de Deus.
Não pense que, segundo o exemplo que o próprio
Evangelho nos deu, cometer adultério é, simplesmente, estar com uma outra
pessoa que não lhe pertence. Todo pecado nasce do desejo. O que precisamos
fazer é combater os desejos pecaminosos, porque, muitas vezes, alimentamos
desejos que começam pelo olhar da cobiça, da malícia… Assim crescem em nós os
desejos impuros.
O Evangelho nos chama, hoje, a viver a pureza de
coração. E a maneira de vivê-la é purificando nosso interior, nossos membros;
tirarmos, de dentro do nosso coração, todos aqueles desejos que não estão de
acordo com a vontade do Senhor.
Deus abençoe você!
Padre Roger Araújo –
Comunidade Canção Nova
Oração Final
Pai Santo, dá-nos a consciência de que os dons
preciosos que nos ofereces devem ser respeitados e partilhados. Que nós os
mantenhamos puros como foram recebidos e nos esforcemos para desenvolvê-los e
os colocar a serviço da Comunidade. Nós te pedimos, Pai amoroso, pelo Cristo
Jesus, teu Filho e nosso Irmão, na unidade do Espírito Santo.
ORAÇÃO FINAL
Pai Santo, dá-nos um coração generoso e nos
libertas dos apegos. De todos eles: desde o apego aos bens materiais, que Tu
nos emprestas para servirmos aos irmãos, até o apego aos nossos dons pessoais,
todos eles frutos da tua generosidade e destinados ao cuidado do nosso próximo.
Que sigamos o Caminho do Cristo Jesus, teu Filho que se fez nosso Irmão e
contigo reina na unidade do Espírito Santo.