ANO A
Mt 2,13-18
Comentário do Evangelho
O novo Israel
O novo é dito com as palavras antigas e evoca o passado de Israel. Jesus é apresentado como o novo Israel e o Novo Moisés. Herodes lembra o Faraó do Egito que mandou matar todos os meninos nascidos dos Hebreus, pois eles representavam uma ameaça (Ex 1,15-22). Como Moisés escapou misteriosamente da morte (Ex 2,1-10) e fugiu para outro país para escapar do Faraó (Ex 2,11-15), do mesmo modo Jesus escapa da crueldade de Herodes (vv. 13-15) e, depois, vai para Nazaré (v. 23). Já desde muito cedo, pouco depois de seu nascimento, a perseguição de Herodes e o massacre das crianças de Belém prefiguram a rejeição de Jesus por parte de Israel.
Carlos Alberto Contieri, sj
Oração
Pai, sê o guia de minha caminhada, livrando-me de todas as ciladas do mal, e conservando-me incólume para o teu santo serviço.
Vivendo a Palavra
Os retratos da vida se repetem pelos tempos afora. Também hoje os santos inocentes estão morrendo, vítimas da injustiça dos homens, da insensibilidade dos sistemas econômicos, do silêncio dos que se dizem religiosos... Prestemos ao mundo o serviço do testemunho de vida sóbria e modesta, de relações solidárias e misericordiosas com os irmãos.
Reflexão
Os Santos Inocentes não chegaram sequer a tomar consciência de si mesmos. Suas vidas não puderam desabrochar. Seus lábios foram impedidos de louvar a Deus. Porém, seu sangue inocente banhou a terra e ficou à espera de outro sangue inocente, o de Jesus, derramado em resgate da humanidade pecadora. Santos Inocentes Mártires: primeiro elo de uma interminável cadeia de outros inocentes, cujas vidas são interrompidas, às vezes por motivos levianos: abortos, guerras e acidentes de várias espécies. A matança dos inocentes deixa na história uma marca repugnante e nos faz repudiar com veemência a insana e cruel atitude de qualquer pessoa que se apodera da vida alheia ou própria, para destruí-la. Senhor da vida é somente Deus. Os Santos Inocentes Mártires são celebrados desde o século VI.
Herodes teme perder seu trono. Confuso, despistado pelos magos, apela para a ignorância: manda matar as crianças com menos de dois anos. Hoje não é diferente! O que dizer... do aborto, por exemplo? - São só poderosos que querem dominar seu semelhante ou há também pessoas simples que se transformam em dominadoras? O que leva tanta gente a praticar tanta maldade? - Que tipo de ajuda poderiam nos dar os magos que visitaram o Menino Jesus? - Faça uma prece pensando em Maria e José, pais de Jesus.
Padre Geraldo Rodrigues, C.Ss.R
Meditando o evangelho
O MARTÍRIO DOS INOCENTES
A presença de Jesus na história humana despertou a fúria de quem estava firmemente alicerçado num esquema de pecado, posto em xeque pela salvação oferecida à humanidade. A pregação de Jesus desmascarava a injustiça, punha a nu a perversidade dos opressores, revelava a fragilidade de sistemas fundados na opressão e na violência.
A matança dos inocentes de Belém foi uma espécie de antecipação do futuro de Jesus e de seus discípulos. Um frágil recém-nascido foi suficiente para abalar a segurança do prepotente e violento Herodes. Sua decisão de eliminar as crianças da região onde nascera o Messias Jesus visava eliminar no seu nascedouro, tudo o que pudesse pôr em risco a segurança de seu reino. No coração do rei sangüinário não havia lugar para o amor.
Herodes, em última análise, ousou desafiar o próprio Deus, de quem Jesus era Filho e recebera uma missão. Levantar-se contra o Messias correspondia a rebelar-se contra quem o enviou. Mas Deus não se deixou vencer por Herodes: salvou seu Filho pela ação previdente de José, que se pôs em fuga para o Egito, com o menino e sua mãe.
Na vida de Jesus e de seus discípulos, a perseguição e a morte, por causa do Reino, seriam uma constante. Entretanto, como estão a serviço do Reino do Pai, podem contar com a vitória, uma vez que os prepotentes jamais prevalecerão.
(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês)
Oração
Senhor Jesus, apesar das perseguições e da morte que deverei defrontar, ponho-me em tuas mãos e me consagro totalmente ao serviço do teu Reino.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. Santos Inocentes
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)
A referência máxima para os judeus era Moisés, em suas práticas religiosas e observância das Lei, tudo isso só tinha a Moisés como única referência como Homem de Deus, de quem Deus se serviu para libertar o seu povo da Escravidão do Egito. Mateus, que escreve para Judeus não pode "atropelar" toda uma tradição, acabando com as referências religiosas para falar de Jesus, o novo Libertador do homem. E Mateus nem precisa forçar muito no seu modo de escrever e falar de Jesus, de fato Jesus Cristo é a unidade de toda Escritura pois no antigo testamento, as pessoas e os acontecimentos apontam para ele, com ele toda a escritura tem um único sentido.
O jeito que Mateus encontrou foi fazendo um paralelo de Jesus com Moisés, daí vem os acontecimentos narrados neste evangelho, Moisés, tanto quanto Jesus também sofreu perseguição desde o seu nascimento, o Faraó tinha dado a ordem às parteiras, todo menino dos Hebreus deveria ser morto e jogado as águas do rio Nilo.
Os Poderosos do Egito tinham medo dos Hebreus que estavam aumentando consideravelmente e poderia vir a ser uma ameaça á sua soberania. Também com Jesus vai ocorrer o mesmo, Herodes manda matar todas as crianças recém-nascidas, porque não quer que nasça o novo Rei e Libertador do Povo. E esse processo que começou com a saída do povo do Egito, se repete em Jesus, onde a Sagrada Família também é chamada do Egito e a Revelação é feita a José em sonhos, como outrora outro José Sonhador, levou o seu povo ao Egito em tempos de seca e de flagelo.
Oh benditos Santos Inocentes, que receberam o martírio como Dom Divino, e mesmo sendo crianças recém-nascidas, deram o seu testemunho corajoso dando a vida para preservar a Vida Verdadeira que viria para todo Homem. Uma leitura ingênua desse fato teria do leitor uma recriminação "Como pode Deus consentir uma desgraça dessa?" . Mas o entendimento da reflexão proposta por Mateus perpassa o fato em si, que provavelmente nem seja histórico, pois ele quer revelar aos Judeus que um novo e definitivo Moisés já chegou e está em meio aos homens: Jesus Cristo, Nosso Senhor, aquele que incomoda e abala as estruturas do poder dos homens, porque tem algo muito maior a oferecer: uma libertação plena do homem integral...
2. Ouviu-se um grito em Ramá - Mt 2,13-18
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por Côn. Celso Pedro da Silva, ‘A Bíblia dia a dia 2017’, Paulinas e disponibilizado no Portal Paulinas - http://comeceodiafeliz.com.br/evangelho)
A história dos Santos Inocentes é contada por São Mateus na passagem do Evangelho que acabamos de ler. Seria uma reflexão ampliada do que se lê em Jeremias: “Ouviu-se uma voz em Ramá, choro e grande lamentação: Raquel chora seus filhos e não quer consolação, porque eles já não existem”. Raquel, esposa de Jacó, morreu ao dar à luz Benjamin. Foi sepultada no caminho de Belém. Meditando o acontecimento da matança dos Santos Inocentes, São Quodvultdeus, no século quinto, escrevia: “Ao anunciarem os magos o nascimento de um Rei, Herodes se perturba e, para não perder o seu reino, quer matar o recém-nascido. Por que temes, Herodes?… Matas o corpo das crianças porque o medo matou teu coração… Essas crianças morrem pelo Cristo, sem saberem, enquanto seus pais choram os mártires que morrem”. Sem saber, crianças inocentes deram a vida por Jesus. Um rei cruel mandou matá-las. Que elas protejam nossas crianças!
HOMILIA
O MARTÍRIO DAS CRIANÇAS
Hoje é o dia dedicado aos Santos Inocentes, que são
aquelas crianças que foram assassinadas a mando de Herodes, quando José fugiu
com Maria e Jesus para o Egito. Esses pequenos e inocentes mártires foram os
primeiros a morrer para que se cumprisse o projeto de Deus com Jesus. E Jesus
devia saber disso. A presença de Jesus na história humana despertou a fúria de
quem estava firmemente alicerçada num esquema de pecado, posto em xeque pela
salvação oferecida à humanidade. A pregação de Jesus desmascarava a injustiça,
tornava pública a perversidade dos opressores, revelava a fragilidade de
sistemas fundados na opressão e na violência.
A matança dos inocentes de Belém foi uma espécie de
antecipação do futuro de Jesus e de seus discípulos. Um frágil recém-nascido
foi suficiente para abalar a segurança do prepotente e violento Herodes. Sua
decisão de eliminar as crianças da região onde nascera o Messias Jesus visava
eliminar no seu nascedouro, tudo o que pudesse pôr em risco a segurança de seu
reino. O que leva uma pessoa a matar crianças com menos de 2 anos de idade?
Parece algo distante da nossa realidade, mas está mais perto do que pensamos. E
aqui eu vou dar dois exemplos de como isso acontece bem perto de nós.
Primeiro pensemos no aborto, que é algo aparentemente
sem maiores conseqüências, mas que transforma as pessoas que o praticam em
assassinos semelhantes a Herodes. Por que Herodes mandou matar aquelas
crianças? Para não perder seu lugar no trono. Por que as pessoas abortam? Para
não perderem seu lugar no trono. Uma criança não-planejada representa uma
mudança nos planos dos pais, que para não perderem o controle de suas vidas,
tornam-se assassinos de um inocente. E isso acontece em todas as classes sociais,
da mesma forma que o segundo exemplo...
Algumas crianças vão sendo mortas aos poucos pela
ausência ou pela super-proteção dos pais. A ausência física, ou a ausência do
exemplo a seguir. As crianças se espelham muito nos seus pais, e todas as
atitudes dos pais penetram no inconsciente e refletem no comportamento dos
filhos. Crianças não sabem distinguir entre o certo e o errado vão aprendendo à
medida que vão vendo e escutando seus pais... E a super proteção priva a
criança de desenvolver suas potencialidades... Esse tipo de morte lenta começa
na infância, por culpa dos pais.
Cuidar de crianças não é uma tarefa fácil, mas de
todas as tarefas, é a mais gratificante. Ser o herói e o exemplo de vida para
um filho deveria ser o desejo de todos os pais, pois aquele filho e aquela
filha são a continuação da sua vida nesse mundo. Uma árvore boa só pode dar
frutos bons, que tem sementes boas, que formarão outras árvores boas.
Pai, sê o guia de minha caminhada, livrando-me de
todas as ciladas do mal, e conservando-me incólume para o teu
santo serviço.
Padre Bantu Mendonça Katchipwi Sayla
HOMÍLIA DIÁRIA
Não podemos mais permitir que nenhuma vida seja maltratada!
Não podemos mais permitir que nenhuma vida seja maltratada, nenhuma vida seja eliminada, a começar pela vida de nossas crianças.
”Quando Herodes percebeu que os magos o haviam enganado, ficou muito furioso. Mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o território vizinho, de dois anos para baixo, exatamente conforme o tempo indicado pelos magos” (Mt 2, 16).
Ainda estamos celebrando as alegrias do nascimento de Jesus Cristo e a Igreja nos permite contemplar diversas faces da presença de Deus no meio de nós. O relato do Evangelho de hoje, a festa que nós celebramos hoje, é sobre os santos inocentes, crianças de dois anos para baixo que foram assassinadas brutalmente pela maldade de Herodes, que queria matar Jesus, que queria de alguma forma eliminá-Lo. Com medo do seu trono ser ameaçado, por isso, ele mandou perseguir toda e qualquer criança daquela região que tivesse menos de dois anos, na certeza de que, de uma forma ou de outra, mataria Jesus.
José e Maria, avisados pelo anjo, fogem para o Egito e lá vão viver muitos anos, até que Herodes morra e, assim, eles possam voltar a viver em Nazaré.
O que este infanticídio de hoje diz ao nosso coração? Infelizmente, meus irmãos e irmãs, no mundo em que vivemos nem tudo é alegria e festa; nem todas as crianças podem comemorar, celebrar o Natal, ganhar presentes, sorrir… Nem todas as crianças têm pão para comer, roupa para vestir, nem todas as crianças são respeitadas na sua dignidade.
O infanticídio cometido por Herodes continua a acontecer no meio de nós, hoje, de diversas formas. A mais trágica delas ainda é o aborto; um dos crimes mais brutais e desumanos que existem, no qual crianças são assassinadas ainda no ventre de sua mãe. Elas são, na verdade, mártires, como as crianças do Evangelho de hoje.
Algumas crianças não morrem no ventre de sua mãe, mas vão morrendo aos poucos no meio de nós. A desnutrição infantil e a falta de condições dignas levam muitas crianças a se tornarem doentes, vítimas da fome, vítimas da guerra, vítimas das tragédias humanas. Milhões de crianças no mundo inteiro são vítimas de abusos, que vão acabando com a dignidade delas e vão, aos poucos, tirando o sentido da vida de muitas delas.
Hoje, muitos adultos sofrem, porque, quando eram crianças, sofreram este ou aquele tipo de abuso. No dia de hoje, nós queremos levantar a nossa voz, queremos levantar o nosso coração para nos unirmos ao Coração de Jesus em defesa dos nossos pequenos. Não podemos mais permitir que nenhuma vida seja maltratada, que nenhuma vida seja eliminada, a começar pela vida de nossas crianças.
Não podemos mais permitir a prostituição infantil nem o abuso de crianças! Não podemos mais permitir a pedofilia ou qualquer outro crime que tire a dignidade dos nossos pequenos. O reino dos céus é de quem se parece com elas! Nós amamos o sorriso dos pequenos, mas não podemos ter a nossa mente e o coração fechados! E nos comportarmos com indiferença, porque ao nosso lado existem crianças sofrendo.
Não cuidemos só do nosso filho ou da nossa filha. Claro, cuidemos dos nossos em primeiro lugar, a obrigação de cada pai, cada mãe, é cuidar do seu filho e da sua filha. Mas, uma vez que somos filhos de Deus, precisamos cada vez mais unir forças para defender a vida de nossas crianças.
O Natal vai ser apenas uma euforia se resumirmos o sentido natalino a trocarmos presentes, a darmos roupas novas para nossos filhos e brinquedos e nos esquecermos de que milhões e milhões de crianças continuam sendo martirizadas, sofridas e penalizadas pela brutalidade humana.
Deus abençoe e proteja nossas crianças desde o ventre de suas mães!
Deus abençoe você!
Padre Roger Araújo
Sacerdote da Comunidade Canção Nova, jornalista e colaborador do Portal Canção Nova.
Oração Final
Pai Santo, dá-nos um olhar manso e puro, capaz de enxergar nossos irmãos. E nos dá também, Pai amado, desprendimento e coragem para partilhar os dons com que nos cumulaste, aliviando, assim, o sofrimento e a dor dos companheiros de caminhada. Pelo Cristo Jesus, teu Filho e nosso Irmão, na unidade do Espírito Santo.