ANO C
Mc 7,31-37
Comentário do Evangelho
Jesus vem para libertar das amarras da exclusão
Depois da narrativa em que Jesus liberta a filha da mulher siro-fenícia de um espírito impuro (cf. 9 fev.), Marcos apresenta a cura de um surdo que falava com dificuldade. A narrativa, bem característica deste evangelista, prima pelos detalhes dos gestos de Jesus. Marcos menciona o uso da saliva nesta passagem e em outra na qual é aplicada aos olhos de um cego (cf. 15 fev.). O sentido da narrativa está expresso na proclamação final. Jesus vem para libertar as pessoas das amarras da exclusão. Vem para que todos ouçam e falem, que tenham consciência e reivindiquem e lutem por seus direitos. O evangelista Marcos faz questão de mostrar a aceitação de Jesus pelos moradores dos territórios gentílicos. Em Jesus, toda a humanidade é assumida na condição divina. É o universalismo da salvação, a comunhão de amor com Deus oferecida a todos, não se restringindo a grupos que se consideram "eleitos".
José Raimundo Oliva
Comentário do Evangelho
Jesus vem para libertar das amarras da exclusão
Jesus atravessa as aldeias do mesmo modo como passa pela vida de cada um de nós: fazendo o bem, revelando o rosto misericordioso de Deus e suscitando a fé na vida. O território é pagão, modo de o texto afirmar o chamado dos gentios à salvação. O texto não nos diz quem são os que conduzem a Jesus o surdo que tinha muita dificuldade em falar. No entanto, há de supor que se trata de pessoas que creem no poder de Jesus, pois o que eles pedem é que o Senhor lhe imponha as mãos. Os dedos transmitem o poder (cf. Ex 8,15) que abre os ouvidos (cf. Sl 40,7). A propriedade terapêutica da saliva, sobretudo cicatrizante, já era conhecida na antiguidade. É do céu que vem a ajuda, por isso o “gemido” é expressão da súplica a Deus (cf. Rm 8,26). Os gestos são acompanhados da palavra que liberta: “Abre-te!”. A palavra dá o significado dos gestos. A cura remete o leitor ao advento messiânico em que a realidade é transformada (cf. Is 35,5-6). O enorme espanto que se apossa da multidão a faz dizer algo que evoca o relato da criação (Gn 1,10.12.18.21.31). Em Jesus Cristo se dá, efetivamente, uma nova criação; ele devolve à criatura a possibilidade de reconhecer que Deus fez tudo bem.
Carlos Alberto Contieri, sj
Oração
Pai, livra-me do isolamento a que o pecado quer me reduzir. Só assim irei recuperar a plena capacidade de estar em comunicação profunda contigo e com o meu próximo.
Vivendo a Palavra
Cumprindo a sua missão libertadora, Jesus constrói o modelo que deixou para os seus seguidores. E ainda hoje, na nossa sociedade egoísta e excludente, existem muitos irmãos esperando que alguém lhes diga «Efatá!» para que, também eles se libertem e proclamem a glória de Deus.
VIVENDO A PALAVRA
Jesus se afastou com o homem para longe da multidão. O Bom Pastor cuida não apenas daquele surdo, mas de cada um de nós como irmão muito amado, filho do Pai Misericordioso que está nos Céus. Também assim deve ser a Igreja de Jesus: acolhendo cada pessoa na sua singularidade, lembrando que o Espírito Santo faz nela a sua morada e a santifica.
VIVENDO A PALAVRA
Como seguidores do Cristo, é importante que nos conscientizemos que a sua missão de libertar os irmãos das amarras que impedem a Vida em plenitude, também é a nossa missão. Ser cristão não é cumprir normas, mas seguir uma Pessoa: Jesus de Nazaré, fazendo o Bem a todos os irmãos.
Reflexão
A comunicação é fundamental para que a pessoa possa viver em sociedade, e quem tem dificuldades para se comunicar pode facilmente ser excluído da comunidade à qual pertence. Quando vemos Jesus curar o surdo-mudo, ele não está simplesmente resolvendo o problema de saúde de alguém, mas está criando condições para que essa pessoa possa ser integrada na comunidade em que vive, possa também discutir os seus valores e deixar de ser uma pessoa com dependência, mas ser protagonista da sua história e da sua própria vida, portanto os benefícios que Jesus propicia ao surdo mudo vai muito além da simples cura.
Reflexão
Jesus cura um surdo que não fala normalmente. Na tradição profética, a surdez e a cegueira são figuras da resistência à mensagem de Deus. Com ritual carregado de simbologia, Jesus prepara o enfermo para a cura: toca-lhe os ouvidos com os dedos e a língua com a saliva, ergue os olhos para o céu, suspira profundamente e ordena ao doente que se abra à cura. Pode-se interpretar o episódio em chave batismal: o pagão torna-se, no batismo, uma nova criatura, mediante a intervenção de Jesus que lhe abre os ouvidos e lhe solta a língua para que escute, viva e faça ressoar para os outros a Palavra de Deus. Pela Palavra criadora (referência a Gênesis 1), Jesus faz resplandecer a glória de Deus: os que testemunharam o fato “estavam muito maravilhados, e diziam: ‘ele fez bem todas as coisas’”.
(Dia a dia com o Evangelho 2019 – Pe. Luiz Miguel Duarte, ssp)
Reflexão
Na linguagem dos profetas, surdez e cegueira simbolizam incompreensão e resistência à mensagem de Deus. Neste episódio, a surdez pode significar o obstáculo que impede os discípulos de compreender os ensinamentos de Jesus. O falar com dificuldade (tartamudear) é impedimento ou limitação para anunciar a Palavra de Deus. Os discípulos de Jesus, na verdade, continuam mantendo a mentalidade de que os judeus eram superiores aos demais povos. Não aceitam que todos são iguais no Reino de Deus. Além disso, a cena vem carregada de simbolismo batismal. Com efeito, a pessoa batizada se torna nova criatura: Jesus lhe abre os ouvidos e solta-lhe a língua, para que ela escute, pratique e faça os outros conhecer a Palavra de Deus. Que importância atribuímos ao conhecimento e leitura da Bíblia Sagrada?
Oração
Ó Jesus Messias, que fazes bem todas as coisas, com solicitude e gestos adequados, abres os ouvidos e soltas a língua do homem surdo que falava com dificuldade. Abre também nossos ouvidos para ouvirmos atentamente teus ensinamentos e, com nossa voz, difundi-los por toda parte. Amém.
(Dia a dia com o Evangelho 2020 - Pe. Luiz Miguel Duarte, ssp (dias de semana) Pe. Nilo Luza, ssp (domingos e solenidades))
Reflexão
Jesus continua circulando em território estrangeiro, realizando curas. No texto de hoje, temos o caso de um homem surdo e gago. O Mestre, sem medo de se contaminar, leva o homem para fora da multidão e o toca no ouvido e na língua. A surdez impede a pessoa de ouvir e acolher os ensinamentos do Mestre; ao passo que a gaguez dificulta o anúncio da Palavra. Sua deficiência o mantinha fechado em si mesmo e o impedia de se comunicar. Tudo isso pode simbolizar os discípulos incapazes de ouvir o Mestre e de serem fiéis anunciadores de sua Palavra. Podemos ver, nesse relato, também os oprimidos da sociedade: os que não contam, os ensurdecidos e calados pela opressão. A Igreja libertadora é convidada a ser voz dos que não têm voz. Com a cura, Jesus realiza as mesmas obras de Deus, descritas no livro do Gênesis: fez bem todas as coisas.
(Dia a dia com o Evangelho 2022)
Recadinho
De Jesus disseram que fazia bem todas as coisas. Podem dizer o mesmo de mim? - Faço bom uso da voz para louvar a Deus? - Há muitos que correm o risco de agir simplesmente buscando uma glória pessoal. Será que eu poderia citar um exemplo concreto sem envolver nomes de pessoas? - Rezo pela conversão dos pecadores? - São muitos os que se deixam levar pelo desânimo?
Padre Geraldo Rodrigues, C.Ss.R
Meditando o evangelho
ABRE-TE!
A cura do surdo-mudo teve um valor emblemático no ministério de Jesus. Sua dupla deficiência o mantinha fechado em seu mundo e o impossibilitava de se comunicar e deixar transbordar a vida trazida dentro de si. Além disso, era vítima do preconceito que via na sua limitação física um castigo por causa de eventuais pecados do passado. A marginalização social, portanto, agravava ainda mais sua situação.
A ordem peremptória dada por Jesus - Abre-te - assumiu uma ampla dimensão. Ela possibilitou ao deficiente poder expressar-se e comunicar-se normalmente. Uma barreira era posta abaixo e sua riqueza interior podia agora ser partilhada. Porém, não foi menos importante terem caído as barreiras sociais e serem eliminados os preconceitos que padecia. Doravante, sua condição de ser humano podia se expressar de maneira plena.
Este milagre de Jesus evocou antigas profecias, segundo as quais o Messias esperado faria os mudos falarem e os surdos ouvirem. Ele os reintegraria na convivência humana, tirando-os da exclusão social. Temendo conclusões apressadas, Jesus ordenou não tornarem público o sucedido. Sua ordem foi inútil. Quanto mais proibia, tanto mais proclamavam seu feito extraordinário. Jesus, porém, não se deixava levar pela vaidade humana. E não tinha dúvidas quanto à sorte que o esperava.
O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês)
Oração
Senhor Jesus, abre meu coração e minha mente, para que eu possa realizar plenamente minha vocação de discípulo do Reino.
Meditando o evangelho
ELE FEZ TUDO BEM
Jesus "fazia bem todas as coisas". Isto revela o empenho que colocava no exercício de sua missão. Ele não fazia as coisas pela metade, não concedia benefícios parcelados e condicionados, nem se contentava com ações malfeitas. Pelo contrário, seus gestos poderosos traziam a marca da plenitude.
No caso do surdo-mudo, a plenitude do gesto de Jesus deve ser entendida para além da cura física. O fato de abrir-lhe os ouvidos, possibilitando-lhe ouvir perfeitamente, e da libertação da mudez, de modo a poder falar sem dificuldade, já é, por si, formidável. Contudo, isto ainda seria insuficiente para que a ação de Jesus fosse declarada bem-feita. Era necessário possibilitar ao surdo-mudo um "abrir-se" ainda mais radical: desfazer-lhe as outras prisões, e num nível tal de profundidade, de forma a colocá-lo em plena sintonia com Deus e com os seus semelhantes.
Sem esta passagem da cura física à cura espiritual, a primeira não teria muita importância. Vale a pena alguém ser curado da surdez e da mudez para levar uma vida egoísta, sem solidarizar-se com os necessitados? Tem sentido ser privilegiado com um gesto de misericórdia de Jesus, e recusar-se a ser misericordioso com o próximo?
Só uma cura radical possibilitaria àquele homem ser misericordioso com os demais. E era isto que interessava a Jesus.
Prece
Espírito de plenitude, que eu siga o exemplo de Jesus e faça bem todas as coisas, não me contentando com a mediocridade e a displicência no agir.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. O surdo mudo ouviu e falou...
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)
Essa surdez e mudez que hoje refletimos neste evangelho, têm um significado bem mais profundo do que a cura física. Não se trata simplesmente do ouvir com os ouvidos e falar com a boca, a surdez e a mudez abordada pelo evangelista Marcos, localiza-se no coração do ser humano.
Há pessoas muito faladeiras que contam mil e uma vantagens, ou então que perdem um tempo precioso falando mal da vida do próximo, ou conversas fúteis, das quais nada se aproveita; assim como o saber ouvir é uma arte. Aqui a questão do ouvir não se trata apenas de escutar vozes das pessoas falando, ou ruídos. A deficiência auditiva desse homem da comunidade de Marcos vai, além disso... Seu coração está fechado para Deus e as pessoas e por isso tem o coração assim tão vazio de Deus, não tendo, portanto, nada a anunciar, sua vida fechada e isolada em si mesmo é uma fonte de amargura e azedume.
No antigo testamento a principal queixa de Deus durante a travessia do povo pelo deserto, é de que: o povo tinha fechado o coração e não mais o ouvia, escutavam, mas não o ouviam. Na comunidade de Marcos e também nas nossas há pessoas assim...Essa surdez e mudez é causada pela arrogância e prepotência dos que não crêem em Deus e preferem dar ouvidos somente as vozes da razão.
Conviver e relacionar-se com alguém assim, é difícil e complicadíssimo, a comunidade não sabe mais o que fazer e rogam a Jesus para que imponha as mãos sobre aquele homem. A experiência que fazemos de Jesus é algo muito pessoal, por isso ele toma o homem surdo-mudo e o leva á um lugar á parte. O mundo da pós-modernidade está repleto de rituais e de vozes que só alienam e escravizam o homem. No dia do Senhor que é o domingo, a comunidade dos que crêem, se afastam do burburinho do quotidiano, e na comunidade se reúnem a outros que querem e precisam ficar a sós com o Senhor.
As palavras de Jesus e seus gestos no ritual da cura do surdo mudo lembram o rito batismal quando Deus abre o nosso coração para que a sua Graça possa entrar e fazer morada. Nas celebrações Eucarísticas ou mesmo da Santa Palavra, presidida por um Ministro Leigo ou um Diácono, esse ritual se repete, somos tocados pela Palavra, a força do Espírito Santo a leva para dentro de nós, no mais íntimo do nosso ser, transformando aos poucos a nossa vida, a cura da surdez e mudez não é imediata, mas ocorre em um processo que é dinâmico, vamos ouvindo, nos libertando e anunciando, sempre que experimentamos o Senhor.
Comunidade é, portanto, o lugar onde todos se preocupam para que cada um se abra cada vez mais á essa Palavra, as nossas orações e cantos nada mais são do que uma súplica para que o Senhor estenda sobre nós suas mãos, abrindo cada vez mais o nosso coração para a a sua graça que nos santifica, nos renova e nos liberta. Agora já dá para sabermos quem é esse surdo-mudo que saiu da celebração anunciando com alegria as maravilhas de Deus!
2. Jesus olhando para o céu, suspirou e disse: Efatá! - Mc 7,31-37
Jesus é sempre discreto e não expõe as pessoas. Tira o surdo gago do meio da multidão e o cura num lugar à parte. Pediu que não divulgassem o que tinha acontecido. Jesus faz o bem e faz benfeito, não para ser visto, mas para o bem de quem precisa. Curou a surdez do homem, que logo começou a falar corretamente. Não falava bem porque não podia ouvir. Há gente que ouve, mas não escuta, por isso não fala bem. Para que a fala seja útil e correta é preciso saber ouvir. Ouvir as razões do coração, que “tem razões que a razão desconhece”, e ouvir com atenção, evitando as más interpretações. Não se trata de dizer “sim” a tudo ou não dizer “não” a nada para construir uma harmonia que envelhece as relações. Falando o que não deve, vai ouvir o que não quer, mas ouça uma vez e acredite que o outro pode ter razão. No Batismo das crianças, dizemos a palavra de Jesus “éfata”, para que se abram os ouvidos da criança e ela possa ouvir a Palavra de Deus e o que dizem os outros.
HOMILIA
ABRE-TE
Efatá é uma palavra chave na liturgia deste domingo; palavra que o Senhor pronuncia hoje para todos e que tem, para cada um de nós, uma ressonância pessoal. É fundamental que cada um de nós veja e pense no conteúdo dela.
Efatá, palavra dita pelo Senhor quando o mar se abriu para a passagem dos escravos rumo à liberdade. “Efatá!”, disse Deus, e se abriram os céus sobre o batismo de Jesus e sobre a humildade do seu batismo; e se abriu o paraíso sobre a cruz de Jesus, e o paraíso ficou à mercê dos ladrões; e se abriram os sepulcros, e os vencidos fugiram da morte. Dirigida agora para nós a fim de que enxerguemos o caminho que nos conduz à Salvação eterna. Por isso, não diga “Abrir-se-ão os olhos do cego e os ouvidos do surdo”. Mas que abrir-se-ão os meus olhos e os meus ouvidos que estávamos fechados por causa da dureza do meu coração, fruto do meu próprio pecado. Saiba que a palavra se cumpre hoje, a profecia está se realizando neste evangelho. A promessa se torna realidade hoje e agora, com Cristo e em Cristo na tua vida. Corra e vá atrás d’Ele. E se não tens como peça a ajuda. Deixe-se ajudar. Não seja cabeça dura. Escute e siga as orientações, os conselhos da tua esposa, do teu marido, dos teus pais e filhos. Deixe de viver na noite e no mundo do erro, do pecado, da falsidade e da morte.
Ah padre, mas eu não sou surdo nem mudo. Isso é ofensa. Eu digo que sim. Somos surdos, por exemplo, quando não ouvimos o grito de ajuda que se eleva para nós e preferimos pôr entre nós e o próximo o «duplo vidro» da indiferença. Os pais são surdos quando não entendem que certas atitudes estranhas ou desordenadas dos filhos escondem um pedido de atenção e de amor. Um marido é surdo quando não sabe ver no nervosismo de sua mulher o sinal do cansaço ou a necessidade de um esclarecimento. E o mesmo quanto à esposa. Estamos mudos quando nos fechamos, por orgulho, em um silêncio esquivo e ressentido, enquanto talvez com uma só palavra de desculpa e de perdão poderíamos devolver a paz e a serenidade ao nosso lar. Os religiosos e as religiosas têm, no dia, tempos de silêncio, e às vezes se acusam na Confissão, dizendo: «Quebrei o silêncio». Penso que às vezes deveríamos acusar-nos do contrário e dizer: «Não quebrei o silêncio».
O que, contudo, decide a qualidade de uma comunicação não é simplesmente falar ou não falar, mas falar ou não fazê-lo por amor. Santo Agostinho dizia às pessoas em um discurso: É impossível saber em toda circunstância o que é o justo que se deve fazer: se falar ou calar, se corrigir ou deixar passar algo. Eis aqui então que se dá uma regra que vale para todos os casos: «Ama e faz o que quiseres». Preocupa-te de que em teu coração haja amor; depois, se falas, será por amor, se calas, será por amor, e tudo estará bem porque do amor não brota mais que o bem.
As histórias de cura, envolvendo as multidões de excluídos, carentes e adoentados, são a expressão da atenção especial de Jesus para com estes pobres, em vista de restaurar-lhes a vida que é característica do Reino de Deus. A proclamação final, "faz os surdos ouvirem e os mudos falarem", indica o cumprimento da profecia atribuída a Isaías aos exilados da Babilônia; porém, agora, não restrita àquele povo que se julgava eleito, mas a todos os povos da terra sem discriminações. Jesus vem libertar as maiorias empobrecidas subjugadas pelas minorias que detêm o poder, resgatando a dignidade e a vida neste mundo.
Por isso, meu irmão, minha irmã o segredo está em entrar em comunhão com Cristo ressuscitado, tu que estavas morto, vês e escutas e entras com Ele pelas portas abertas de Deus.
Ó Senhor tenho plena consciência de que Vossa voz ressoou no deserto: “Efatá!”, para que do céu caísse como chuva o pão e da rocha jorrou água. “Efatá!”, dissestes, e abristes, como que com uma faca, as águas do Jordão, que se tornaram porta pela qual entraram vossos filhos à terra das vossas promessas. Dignai-vos olhar para mim, para os meus olhos e ouvidos. Impõe sobre mim as Tuas mãos e liberta-me, cura-me do egoísmo que impede a comunicação com o meu próximo.
Padre Bantu Mendonça Katchipwi Sayla
HOMÍLIA DIÁRIA
Fomos curados por Jesus para sermos testemunhas do Seu amor
Postado por: homilia
fevereiro 10th, 2012
O primeiro catecismo da comunidade cristã é o Evangelho de Marcos, cujo objetivo é responder à pergunta “Quem é Jesus?”, a partir daquilo que Ele fez e ensinou. Assim sendo, na sua catequese, Marcos quer, ao mesmo tempo, mostrar o que significa tornar-se discípulo de Jesus. A resposta vai sendo dada aos poucos, à medida que as pessoas se comprometem com o projeto de Deus, atuando numa prática libertadora que traduza a presença e a ação de Deus na história. Só assim as pessoas acabarão descobrindo e confessando que “verdadeiramente este homem é Filho de Deus”.
No texto de hoje, novamente vemos Jesus percorrendo regiões pagãs: Tiro, Sidônia e a região da Decápole. Com essas informações, Marcos quer mostrar aos que iniciam sua caminhada de discípulos o interesse que Cristo teve para com os pagãos, fazendo deles membros da família de Deus. E neles estamos todos nós.
A expressão “Efatá” – que quer dizer “abre-te” – fazia parte da liturgia batismal da Igreja primitiva. Para o que iniciava sua caminhada de discípulo, para mim e para você no dia de hoje, Jesus quer fazer o mesmo que fez com aquele surdo do Evangelho.
Jesus é Aquele que abre os ouvidos e a boca das pessoas. Como vimos no texto de hoje, tratava-se de uma pessoa incapaz de ouvir, de dar o seu consentimento, de testemunhar. Jesus o leva para fora da multidão.
Poderíamos nos perguntar qual seria o sentido desse gesto. Será que o Senhor queria esconder Seu poder de cura? Pastoralmente falando, o fato tem o seguinte significado: Jesus cura o surdo-mudo longe da multidão para que este se sinta, depois, responsável pelo anúncio daquilo que o Senhor lhe fez tornando-se, por sua vez, evangelizador, ou seja, portador da Boa Nova de que “verdadeiramente este homem é Filho de Deus”. Assim, esta deve ser a nossa atitude. Jesus nos consagra para a Sua missão.
Jesus cura o surdo-mudo tocando-o. Coloca-lhe os dedos nos ouvidos e, com a saliva, lhe toca a língua. A saliva sempre teve, no mundo antigo, caráter terapêutico. Por outro lado, também o contato de Cristo com o surdo-mudo é importante. O Senhor, ao tocar o surdo-mudo, é o próprio Deus que se ocupa de quem não podia ouvir nem falar, ou seja, Ele está reintegrando em sua dignidade e identidade alguém que fora privado da vida.
Com isso, Marcos provoca os que iniciam a caminhada de fé para fazerem a seguinte constatação: Jesus é Aquele que, anunciado em Isaías, abre agora os ouvidos e a boca das pessoas, para que possam testemunhá-Lo. Interessante, ainda, é notar que o Senhor toca primeiro os ouvidos e depois a boca: a catequese é primeiramente escuta, assimilação; a seguir, como consequência, é anúncio.
Mas não são os gestos de Jesus que curam o surdo-mudo e, sim, Sua Palavra. Depois que Cristo Jesus ordenou: “Abre-te!” é que os ouvidos daquele homem se abriram e sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade. Com isso, Marcos esclarece a ação de Jesus. Ele não é um mágico. Só Sua Palavra liberta e reintegra. E as pessoas não precisam de rituais ou de magia para abrir os ouvidos e anunciar que Ele é o Messias.
Interessante, ainda, é perceber que antes de curar o surdo-mudo, Jesus “olha para o céu e suspira”. Quero que juntos vejamos no suspiro de Jesus um gesto de indignação diante da situação em que se encontram tantas pessoas marginalizadas, quer sejam nossos parentes ou não.
Após ter curado o surdo-mudo, Jesus ordena à multidão que não espalhe a notícia. Isso faz parte do plano de Marcos. Seu Evangelho é uma catequese progressiva e é impossível as pessoas darem pleno testemunho de “quem é Jesus” sem passar pela mesma prática, sem ir com Ele até o fim, na cruz e na Ressurreição. De fato, só ao pé da cruz é que se faz a verdadeira revelação de quem Ele é.
O surdo-mudo curado anuncia à multidão o que Jesus Cristo significa para ele. E esta, por sua vez, espalha a notícia aos outros: “Quanto mais ele recomendava, mais eles divulgavam”. Isso faz pensar na progressão que nosso testemunho sofre à medida que nos comprometemos sempre mais com o projeto de Deus.
E você? O que tem feito para que o Evangelho de Cristo chegue a todos os homens e mulheres?
A multidão proclama que Jesus “tem feito bem todas as coisas: aos surdos fez ouvir e aos mudos falar”. Essa proclamação recorda duas coisas. Em primeiro lugar, relembra o projeto de Deus na criação. Depois de ter criado todas as coisas, o Altíssimo gostou do que fez e viu que estava tudo muito bem feito (cf. Gn 1,31). Em segundo lugar, evoca Isaías 35,4.
Tudo isso é atribuído a Jesus. Ele vem de Deus e traz a Salvação. Portanto, quem é Jesus? É Aquele que cria o mundo novo. É Aquele que, vindo de Deus, devolve vida e liberdade aos oprimidos e mutilados pela sociedade. Cabem, portanto, algumas perguntas: Quem é que “cria” surdos e mudos, ou seja, uma multidão impossibilitada de ouvir e de falar? Quem mantém o povo nessa situação? Os acontecimentos da vida social ajudam o povo a sair da situação de surdo-mudo em que se encontra?
Não se esqueça: o Evangelho de Marcos é um alerta para nós que nos dizemos cristãos. Saiba que, pela Palavra e pelo toque de Jesus, o próprio surdo-mudo, depois de curado, torna-se um evangelizador. Este é um grande desafio para nós que ouvimos a Sua Palavra e fomos tocamos por Ele e, por isso, cremos ser cristãos maduros e comprometidos.
Padre Bantu Mendonça
HOMÍLIA DIÁRIA
Abramos os ouvidos para ouvir a Palavra de Deus
Uma vez que os seus ouvidos se abrem, a sua língua também vai se soltar e o nome do Senhor você irá proclamar e as maravilhas do Senhor você irá anunciar!
”Imediatamente seus ouvidos se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade” (Mc 7, 35).
Na narração do Evangelho de hoje trouxeram a Jesus um homem surdo, que falava com certa dificuldade, com certeza não era um surdo-mudo de nascença, mas um homem que aos poucos ficou surdo e também quase que mudo, com muita dificuldade para falar. A ação de Jesus na vida deste homem, hoje, é a mesma ação que o Senhor deseja fazer na vida de cada um de nós, porque Ele tomou esse homem à parte, o tirou do meio da multidão e colocou os dedos nos ouvidos dele.
Deixe-me dizer a você: nós, muitas vezes, estamos no meio das pessoas, estamos ali juntos com as pessoas na igreja, nos encontros e, assim por diante, mas parece que nós não escutamos nada, parece que a Palavra de Deus não entra em nós. Até a ouvimos, mas a não entendemos, Deus até fala coisas bonitas, mas parece que elas não tocam no fundo do nosso coração. Talvez algo esteja fechando os nossos ouvidos, podemos ter passado por traumas, por ressentimentos e por dificuldades que nos impedem de escutar a Palavra de Deus; nos tornamos surdos para que Deus nos fale conosco.
Hoje a ação de Jesus é justamente esta: Ele quer tocar nos nossos ouvidos, Ele quer abri-los para que nós possamos escutar a Sua Palavra, para que possamos escutá-Lo falando ao nosso coração. E uma vez que Jesus toca nos nossos ouvidos, Ele também pega a nossa língua e cospe com a saliva e toca nela [cf. Mc 7, 33]; a saliva do Senhor é a coisa mais pura e mais íntima de Nosso Senhor Jesus Cristo. O Senhor Jesus toca na nossa língua para quê? Para que possamos falar em nome d’Ele, para que possamos profetizar no nome d’Ele, para que possamos anunciar o nome d’Ele. Ninguém pode falar em nome do Senhor se primeiro não escutá-Lo!
Muitos de nós conseguimos contar histórias, piadas, narrar fatos, mas não conseguimos falar em nome do Senhor. Deixe que Jesus hoje toque em você, deixe-O pronunciar um ”Efatá” sobre seus ouvidos para que estes se abram e, assim, você escute a Palavra de Deus. E uma vez que os seus ouvidos se abrirem, a sua língua também vai se soltar e o nome do Senhor você irá proclamar e as maravilhas do Senhor você irá anunciar! Dessa forma, o Reino de Deus será anunciado onde quer que você esteja! Deixe que hoje Jesus toque nos seus ouvidos, deixe que Ele toque na sua língua.
Deus abençoe você!
Padre Roger Araújo
Sacerdote da Comunidade Canção Nova, jornalista e colaborador do Portal Canção Nova.
ORAÇÃO FINAL
Pai Santo, abre os nossos ouvidos para escutar amorosamente a Palavra Viva que nos enviaste – teu Filho Unigênito, o Cristo que, em Jesus de Nazaré, fez-se humano como nós. Ele viveu fazendo o bem a todos e lutando pela justiça. Dá-nos, amado Pai, discernimento e coragem para seguir Jesus pelos caminhos desta vida, que Ele mostrou já serem (embora ainda não em plenitude) caminhos do teu Reino de Amor.
ORAÇÃO FINAL
Pai Santo, a nossa resposta de vida requer força, coragem e perseverança. Envia-nos, amado Pai, o teu Espírito para que façamos a opção fundamental e irreversível pelo seguimento do Cristo Jesus, teu Filho que se fez nosso Irmão e contigo reina na unidade do Espírito Santo.
OU
Solenidade Nossa Senhora de Lourdes
Jo 2, 1-11
Comentário do Evangelho
A Aliança de Deus com o seu povo
Jesus está presente onde a vida acontece e se desenvolve. Ele aceita estar presente na festa da vida humana e, como esposo de nossa humanidade, dá vida e a alegria da salvação. O relato das bodas de Caná é próprio do evangelho segundo João, e é o primeiro de sete sinais que Jesus realiza. No centro do relato está a pessoa de Jesus, que, com sua existência terrestre, inaugura o cumprimento das promessas messiânicas. O relato tem uma forte conotação simbólica. As bodas evocam a Aliança de Deus com o seu povo, reiterada em diversos períodos da história de Israel (Noé, Abraão, Moisés), e a Aliança nova e definitiva selada com o sangue do sacrifício único e perfeito de Jesus (cf. Mc 14,22-25; Mt 26,26-29; Lc 22,19-20). O vinho, símbolo da alegria e da prosperidade, oferecido por Jesus é melhor que o primeiro, significa que, em Jesus Cristo, a Aliança de Deus com o seu povo atingiu a sua plenitude. A mãe de Jesus, presente na festa, designada como “mulher”, é, aqui, símbolo de Israel que espera, confia e vê realizada a salvação prometida por Deus a seu povo desde os tempos mais antigos.
Pe. Carlos Alberto Contieri
Oração
Maria, alcançai-me o dom da sabedoria celeste e a graça de ser discípulo autêntico de Jesus, fiel à sua Igreja, mensageira da Verdade.
Vivendo a Palavra
Jesus continua transformando água imprópria para o consumo em vinho de fina qualidade. Ele converte gente egoísta e mesquinha em almas generosas e cheias de cuidado com os companheiros de viagem. Os mestres-sala continuam nada sabendo, mas os servidores vivem os milagres. Procuremos, então, o lugar do serviço e sejamos testemunhas dos sinais de Vida do Cristo.
Oração Final
Pai Santo, ensina-nos a seguir o exemplo de Maria e a orientação que ela deu aos servidores daquela festa: ‘façam tudo o que Meu Filho lhes disser’. E nós seguiremos, cheios de esperança e alegria, junto com a Mãe que nos deste, o Cristo Jesus, teu Filho que se fez nosso irmão e contigo reina na unidade do Espírito Santo.