João Crisóstomo foi um grande orador do seu tempo. Todos os
escritos dizem que multidões se juntavam ao redor do púlpito onde estivesse
discursando. Tinha o dom da oratória e muita cultura, uma soma muito valiosa
para a pregação do cristianismo.
João nasceu no ano 309, em Antioquia, na Síria,
Ásia Menor, procedente de família muito rica considerada pela sociedade e pelo
Estado. Seu pai era comandante de tropas imperiais no Oriente, um cargo que
cedo causou sua morte. Mas a sua mãe, Antusa, piedosa e caridosa, agora santa,
providenciou para o filho ser educado pelos maiores mestres do seu tempo, tanto
científicos quanto religiosos, não prejudicando sua formação.
O menino, desde pequeno, já demonstrava a vocação
religiosa, grande inteligência e dons especias. Só não se tornou eremita no
deserto por insistência da mãe. Mas, depois que ela morreu, já conhecido pela
sabedoria, prudência e pela oratória eloqüente, foi viver na companhia de um
monge no deserto durante quatro anos. Passou mais dois retirado numa gruta
sozinho, estudando as Sagradas Escrituras e, então, considerou-se pronto.
Voltou para Antioquia e ordenou-se sacerdote.
Sua cidade vivia a efervescência de uma revolta
contra o imperador Teodósio I. O povo quebrava estátuas do imperador e de
membros de sua família. Teodósio, em troca, agia ferozmente contra tudo e
contra todos. Membros do senado estavam presos, famílias inteiras tinham fugido
e o povo só encontrava consolo nos discursos e pregações de João, chamado por
eles de Crisóstomo, isto é,: "boca de ouro". Tanto que foi o
incumbido de dar à população a notícia do perdão imperial.
Alguns anos se passaram, a fama do santo só
crescia e, quando morreu o bispo de Constantinopla, João foi eleito para
sucedê-lo. Constantinopla era a grande capital do Império Romano, que havia
transferido o centro da economia e cultura do mundo de então para a Ásia Menor.
Entretanto para João era apenas um local onde o clero estava mais preocupado
com os poderes e luxos terrenos do que os espirituais. Lá reinavam a ambição, a
avareza, a política e a corrupção moral. Como bispo, abandonou, então, os
discursos e dispôs-se a enfrentar a luta e, como conseqüência, a perseguição.
Arrumou inimigos tanto entre o clero quanto na
Corte. Todos, liderados pela imperatriz Eudóxia, conseguiram tirar João Crisóstomo
do cargo, que foi condenado ao exílio. Mas essa expulsão da cidade provocou
revolta tão intensa na população que o bispo foi trazido de volta para
reassumir seu cargo. Entretanto, dois meses depois, foi exilado pela segunda
vez. Agora, já com a saúde muito debilitada, ele não resistiu e morreu. Era 14
de setembro de 407.
Sua honra só foi limpa quando morreu a família
imperial e voltou a paz entre o clero na Igreja. O papa ordenou o
restabelecimento de sua memória. O corpo de João Crisóstomo foi trazido de
volta a Constantinopla em 438, num longo cortejo em procissão solene. Mais
tarde, suas relíquias foram trasladadas para Roma, onde repousam no Vaticano.
Dos seus numerosos escritos destacasse o pequeno livro "Sobre o
sacerdócio", um clássico da espiritualidade monástica. São João Crisóstomo
é venerado um dia antes da data de sua morte, em 13 de setembro, com o título
de doutor da Igreja, sendo considerado um modelo para os oradores clérigos.
Fonte: Paulinas em 2014
São João Crisóstomo
São João Crisóstomo é, certamente, o mais
conhecido dentre os padres da Igreja grega. Nasceu em Antioquia por volta do
ano 349. Pertencia a uma família distinta. Após a morte de Antusa, sua mãe,
retirou-se para o deserto, onde viveu por seis anos, monasticamente. Os dois
últimos anos passou-os numa caverna, na mais completa solidão.
Em 386, foi
ordenado sacerdote pelo bispo Flaviano. A esta altura compôs o excelente
tratado sobre o sacerdócio, por causa da consagração episcopal do seu amigo e
companheiro de estudos, D. Basílio Magno. Logo alcançou fama de grande
pregador, cuja eloquência lhe valeu o título de "Crisóstomo", o que
significa: "boca de ouro". Mais tarde tornou-se patriarca de
Constantinopla.
Desenvolveu, então,
uma pastoral sistematizada, com evangelização rural, criação de hospitais,
sermões "de fogo" com que incriminava e advertia os fiéis,
chamando-os à conversão. São Pio X proclamou-o patrono especial da eloquência
sagrada. A sua produção literária (600 entre discursos e sermões) ultrapassa
todos os escritores orientais e no Ocidente apenas se lhe pode comparar Santo
Agostinho. O seu estilo junta a espiritualidade cristã com a elegância e forma
helênicas.
As intrigas
políticas levaram-no várias vezes ao exílio, onde morreu. Era o dia 14 de
Setembro de 407. Somente em 438 os seus restos mortais foram transferidos de
Comana do Ponto para Constantinopla. São João da "Boca de Ouro"
deixou-nos vários escritos expondo a fé cristã e encorajando à vivência daquilo
que Jesus ensinou.
"Porque se
alguém procurasse considerar o que é um homem ainda envolto na carne e no
sangue, ter o poder de se aproximar daquela feliz e imortal natureza, veria
então quão grande é a honra que a graça do Espírito Santo concedeu aos
sacerdotes. Pois por meio desses se exercem essas coisas e outras também nada
inferiores, que dizem respeito à nossa dignidade e a nossa salvação.
A eles que habitam
nessa terra e fazem nela sua morada, foi dado o encargo de administrar as coisas
celestiais e receberam um poder que Deus não concedeu nem mesmo aos anjos e
arcanjos, pois não foram a esses que foi dito: "Tudo o que ligardes sobre
a terra, será ligado no Céu e tudo o que desligardes sobre a terra será também
desligado no Céu" (Mt18,18). Os que dominam nesse mundo possuem também o
poder de atar, porém somente os corpos; mas a atadura de que falamos, diz
respeito à própria alma e penetra os Céus; e as coisas que aqui na terra, o
fazem os sacerdotes, Deus as ratifica lá nos Céus confirmando a sentença de
seus servos.
Afinal o que mais
lhes foi dado, senão todo o poder celestial? "Aqueles a quem perdoardes os
pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão
retidos" (Jo. 20,23). Que poder maior do que esse alguém poderia receber?
O Pai entregou ao Filho todo o poder, porém vejo que todo esse poder o Filho
colocou nas mãos dos sacerdotes. É como se já tivessem sido trasladados aos
Céus e erguendo-se sobre a natureza humana, livres de nossas paixões, tivessem
sido elevados a tão grande poder.
Imagine se um rei
proporcionasse tal honra a um de seus súditos, o qual por sua vontade
encarcerasse, ou pelo contrário, livrasse das prisões a quem bem entendesse,
será que esse não seria visto como um fortunado e respeitado por todos? E
aquele que recebeu de Deus um poder infinitamente maior, mais precioso ao Céu
do que à terra, mais precioso à alma do que ao corpo, será que para alguns tal
honra possa parecer algo tão insignificante que não mereça consideração ou que
se possa depreciar o benefício? Longe de nós tal loucura!
De fato, seria sem
dúvida uma grande loucura depreciar uma dignidade tão grande, sem a qual não
podemos obter nem a salvação, nem os bens que nos foram propostos, porque
ninguém pode entrar no Reino dos Céus se não for regenerado pela água e pelo
espírito (Jo. 3,5). E aquele que não come a carne do Senhor e não bebe seu
sangue, está excluído da vida eterna. Nenhuma dessas coisas se faz pelas mãos
de qualquer outro,senão por aquelas santas mãos do sacerdote. Como poderá pois
alguém, sem o auxílio desses, escapar do fogo do Inferno ou chegar à conquista
das coroas que lhes estão reservadas?
Esses pois são a
quem foram confiados os partos espirituais e encomendados os filhos que nascem
pelo Batismo. Através desses, nos revestimos de Cristo e nos unimos ao Filho de
Deus tornando-nos membros daquela bem-aventurada Cabeça, de forma que para nós,
com justiça eles devem ser respeitados não apenas mais do que os poderosos e
reis, mas até mesmo mais do que nossos próprios pais, porque esses nos geraram
pelo sangue e pela vontade da carne, enquanto os sacerdotes são os autores do
nosso nascimento para Deus, para aquela ditosa geração da verdadeira liberdade
e da adoção de filhos segundo a graça."
São João
Crisóstomo, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja (+ Ponto, Ásia Menor, 407)
Passou alguns anos como eremita solitário no deserto e depois foi sacerdote em
Antioquia. Nomeado bispo e patriarca de Constantinopla, esforçou-se para
moralizar o Clero, no qual havia desvios e escândalos, e chegou a depor bispos
indignos. Denunciou também, corajosamente, abusos de autoridades civis.
Despertou, por tudo
isso, antipatias em pessoas poderosas, tanto na ordem espiritual quanto na
temporal. Foi, em conseqüência, duas vezes desterrado e morreu no exílio. Era
amigo íntimo e tinha sido colega de estudos de Basílio Magno. Sua eloqüência
extraordinária lhe valeu o título de Crisóstomo, que em grego significa
"Boca de Ouro" e a designação, pelo Papa Pio X, como o patrono da
eloqüência sagrada.
É considerado um
dos quatro grandes Doutores da Igreja Oriental e deixou uma produção
intelectual abundante e variada, composta de aproximadamente 600 sermões e
discursos.
São João
Crisóstomo, rogai por nós.
Fonte: catolicanet em 2013
São João Crisóstomo, Arcebispo de Constantinopla
Este incomparável mestre recebeu depois
de sua morte o nome do Crisóstomo ou Boca de Ouro, em lembrança de seus
maravilhosos dons de oratória. Mas sua piedade e seu indomável valor são títulos
ainda mais gloriosos que fazem dele um dos maiores pastores da Igreja. São João
nasceu em Antioquia da Síria, perto do ano 347.
Em 386, o Bispo Flaviano lhe conferiu o
sacerdócio e lhe nomeou seu pregador. O santo considerava como sua primeira
obrigação o cuidado e a instrução dos pobres, e jamais deixou de falar deles em
seus sermões e de incitar ao povo à esmola.
São João foi consagrado Arcebispo de
Constantinopla no ano 398 e empreendeu a reforma do clero. A eloqüência e o
zelo do santo moveram à penitência muitos pecadores e converteram
muito idólatras e hereges.
Outra das atividades às quais o
arcebispo consagrou suas energias foi a fundação de comunidades de mulheres
piedosas, sendo a mais ilustre a nobre Santa Olímpia. O santo Bispo se
distinguiu também por seu extraordinário espírito de oração, virtude esta que
pregou incansavelmente, e exortou os fiéis à comunhão freqüente.
Foi banido duas vezes por conspiração
da rainha Eudóxia e do Bispo da Alexandria, Téofilo; no último desterro perante
as penosas condições da viagem e a crueldade dos soldados imperiais, São
Crisóstomo faleceu em 14 de setembro do 407. Em 1909, São Pio X declarou o
santo "Patrono dos Pregadores".
São João Crisóstomo
Bispo e Doutor da Igreja
Comemoração Litúrgica: 13 de setembro.
Também nesta data - São Maurílio e São Ligório
Crisóstomo, descendente de família distinta, nasceu em 348 em Antioquia, na Síria. O pai Segundo, que era comandante das tropas imperiais no Oriente, morreu cedo, deixando a educação do filhinho aos cuidados da excelente esposa, Antusa. Mestres de fama mundial, como Libânio e Antragácio, introduziram o menino talentoso nos arcanos da ciência, e Diodoro de Tarso foi seu instrutor em matéria de religião. O Bispo Melécio batizou-o em 368 conferindo-lhe na mesma ocasião as ordens menores. Já neste tempo Crisóstomo manifestou grande inclinação para a vida de asceta, e se não fosse a resistência enérgica da mãe, teria se associado aos eremitas do deserto.
Quando em 373, sendo-lhe já bastante conhecidos o talento e a santidade, e o povo, exigindo sua elevação à dignidade episcopal, João fugiu para junto dum monge, em cuja companhia viveu quatro anos, e depois para uma gruta, onde ficou dois anos, dedicando-se exclusivamente às práticas da vida religiosa, com suas austeridades, e aos estudos dos Sagrados Livros.
Como a saúde se lhes abalasse, com a rudeza da vida no deserto, voltou para Antioquia, onde se ordenou em 386. Em Antioquia desenvolveu logo uma atividade muito grande, como escritor e orador sacro, de onde lhe foi dado o apelido de Crisóstomo (boca de ouro) pelos bizantinos.
Esta sua estada em Antioquia coincidiu com uma grave revolta que houve contra o imperador, por causa de impostos. O povo despedaçou estátuas do imperador, do irmão, de dois filhos e da falecida imperatriz Flavila e deixou-se arrastar a outros atos de vandalismo. Era para temer uma terrível represália da parte do imperador Teodósio I, cujo gênio irascível era bastante conhecido. O bispo Flaviano dirigiu-se para Constantinopla, para aplacar a ira do monarca. Em Antioquia reinava o pavor. Muitas famílias tinham fugido; os membros do senado estavam na prisão e o povo tremia, na expectativa de medidas ainda mais rigorosas. Foi a época em que a arte retórica de Crisóstomo celebrou os mais belos triunfos. Dia por dia via-se as multidões do povo desesperado ao redor do púlpito, ávidos de ouvir-lhes as práticas e ensinamentos que as consolavam. A palavra de João Crisóstomo sugestionava, continha as massas e levava-as por onde quisesse. O entusiasmo dos ouvintes chegou ao auge, quando lhes transmitiu a notícia do perdão e anistia, que o imperador tinha concedido à cidade, em atenção ao pedido do Bispo e à petição que o mesmo tinha apresentado, em nome de Crisóstomo e da população arrependida.
A fama da grande eloqüência de Crisóstomo tinha-se espalhado em todo o Oriente e quando, em 397, morreu o patriarca de Constantinopla, Nectário, o imperador Arcádio, filho de Teodósio, chamou Crisóstomo para ocupar-lhe o lugar. Foi preciso toda a habilidade e prudência da parte do imperador, para conseguir o consentimento do seu candidato. A nomeação de João Crisóstomo para Constantinopla causou grande descontentamento em Alexandria, cujo patriarca, Teófilo, levantou enérgico protesto contra a decisão imperial. Não obstante, impôs as mãos ao novo Patriarca.
Da vida simples e pacata de Antioquia, viu-se João Crisóstomo transportado para a cidade da riqueza, do luxo, para a grande metrópole, a sede da alta política, com suas intrigas e paixões, para Constantinopla, a rainha do Oriente que, com seus palácios magníficos e Igrejas majestosas, dominava dois continentes. O novo Patriarca teve um acolhimento simpático da parte do clero, da aristocracia e da população inteira. Antes de tomar efetivamente as rédeas do governo da diocese, Crisóstomo procurou conhecer bem o terreno em que pisava. Em condições tão diferentes das de Antioquia, diferente se lhe afigurou o novo campo de atividade. O clero de Constantinopla, em sua maioria, estava pouco compenetrado da sublimidade de sua missão. Ambicioso, avarento e político, pouco tinha do espírito de Cristo, que é o espírito da humildade, de caridade e de sacrifício. Em rente de tais circunstâncias, Crisóstomo compreendeu, que sua atividade não mais se imitaria à pregação da palavra de Deus, mas haveria de encetar a obra da reforma em base larga e inevitável: seria a luta e talvez a perseguição.
Fiel ao seu costume, pregava as homilias dominicais e explicava a Sagrada Escritura. A majestosa “Hagia Sophia”, aquele grandioso monumento da fé católica em Constantinopla, enchia-se de fiéis de todas as classes, para ouvir a palavra arrebatadora e apostólica do novo Antístite.
Mais importante, mais penosa e desagradável impunha-se-lhe a obra da reforma. Esta começou em casa. O antecessor, Nectário, de espírito pouco evangélico, tinha feito do palácio episcopal um reduto do luxo, com todas as futilidades e comodidades. João Crisóstomo estabeleceu nele a vida evangélica, com toda simplicidade e decência. O segundo passo na reforma interessou a vida do clero e das religiosas, as quais em grande parte conviviam com os sacerdotes, o que mereceu a crítica do povo, e a censura e proibição do Patriarca. O zeloso pastor verberou outrossim os excessos da moda, principalmente o luto “chic” das viúvas, e procurou implantar no povo a simplicidade dos costumes e o espírito de fé. As obras da caridade, a administração dos bens eclesiásticos, a elevação do clero na roça, a contra-propaganda contra os arianos residentes na cidade enfileirados no exército, eram coisas mui importantes, a que o Patriarca dedicou todas as energias. Todas estas reformas criaram-lhe muita inimizade. Mormente entre o clero. Era inevitável o choque.
O primeiro veio-lhe da parte de Eutrópio, eunuco e grande protegido do imperador Arcádio. Eutrópio, na sua sede insaciável de ouro e para poder apoderar-se das suas vítimas, tinha obrogado o direito de asilo. Crisóstomo protestou contra esta arbitrariedade, tendo pouco tempo depois a grande satisfação de ver o mesmo Eutrópio invocar em seu favor o direito do asilo, quando numa revolta militar viu sua vida em perigo.
Terrível inimiga, com que Crisóstomo teve de terçar armas, surgiu-lhe na própria pessoa da imperatriz Eudóxia, que depois do afastamento de Eutrópio, governava o imperador. Dum despotismo sem par, era Eudóxia ainda muito avarenta, e esta paixão que inteiramente a dominava, fê-la cometer clamorosas injustiças. Todos conheciam o modo de pensar de João Crisóstomo. Como não faltassem elementos vis, cujo maior interesse era semear cizânia e incitar os espíritos um contra o outro, puseram no ouvido do imperador muitas coisas, que o inimizaram com o Patriarca. Disseram-lhe que, numa prática contra as modas escandalosas, João Crisóstomo se tinha referido ao mau exemplo de Eudóxia; em oura ocasião a tinha apelidado de Jezabel, para apostrofar-lhe a crueldade e a ambição. As relações portanto entre a família imperial, em particular entre Eudóxia e o Patriarca, não eram menos que cordiais. O rompimento, porém, se realizou quando João Crisóstomo deu agasalho (aliás com a necessária cautela) a monges que o Patriarca Teófilo de Alexandria tinha expulso de sua diocese, por suspeitar de sua ortodoxia. Eudóxia alcançou de Arcádio que convocasse um concílio em Constantinopla, perante o qual Teófilo havia de justificar as medidas tomadas contra os monges em questão. Clandestinamente, porém, mandou convidar a Teófilo para que viesse com a maior brevidade, e declarasse vaga a sede patriarcal de Constantinopla. Teófilo chegou a Constantinopla, em companhia de vários bispos, desafetos de João Crisóstomo, não, porém, como acusado, mas como acusador e juiz. O concílio realizou-se em Chalcedon, estando presentes 36 bispos. João Crisóstomo, sendo citado perante aquele tribunal, exigiu por sua vez a exclusão de 4 bispos, notadamente seus inimigos. O concílio reconheceu nesta exigência um ato de insubordinação da parte do acusado, e declarou-o deposto da dignidade de Patriarca. Característico em todo este processo foi, que nem de leve se tocou na questão dos monges, expulsos de Alexandria e aceitos em Constantinopla; mas tanto mais se tratou de supostas ofensas, que João Crisóstomo teria dirigido ao imperador e à imperatriz. O Santo não se opôs à injustiça que lhe fizeram, e entregou-se ao agente executivo, que o devia levar ao exílio. No caminho do Bósforo o povo lhe fez delirantes manifestações, tomando assim a sua saída da capital o caráter dum triunfo nunca visto. Na noite que seguiu a partida, a população de Constantinopla foi atemorizada por um forte terremoto. A própria imperatriz, profundamente impressionada com este fenômeno, pediu ao imperador revogação do edito contra João Crisóstomo. A atitude do povo contra o imperador tornou-se tão ameaçadora, que João Crisóstomo pode voltar, sem esperar nova determinação dos bispos.
De pouca duração, porém, foi a paz. No mesmo ano se inaugurou perto da Igreja um monumento, que apresentava uma estátua de Eudóxia. Por esta ocasião a aglomeração do povo foi tamanha, que chegou a perturbar a celebração dos atos litúrgicos no templo. O Patriarca pediu providências ao prefeito, reclamando contra os abusos que se praticavam. A reclamação foi interpretada maliciosamente, como se o Patriarca tivesse protestado contra a existência do monumento. Mal Eudóxia teve conhecimento do fato, logo se dirigiu de novo a Teófilo, pedindo-lhe a intervenção. Este, dispensando triunfos pessoais em Constantinopla, limitou-se a citar as determinações ainda em vigor do concílio de Chalcedon. Embora este concílio nenhum valor tivesse, o imperador proibiu ao Patriarca o uso de ordens e mandou fechar o palácio episcopal.
Não obstante – João Crisóstomo entrou pela Páscoa na Catedral, para administrar o batismo aos catecúmenos, que ele mesmo tinha preparado. Força armada penetrou no templo e dispersou a multidão dos fiéis. Chegou o dia de Pentecostes, e com ele o decreto imperial que condenava o Patriarca ao exílio. João Crisóstomo, despedindo-se dos fiéis e dedicados amigos, abandonou secretamente a capital, para evitar um segundo levantamento do povo. Sua saída de Constantinopla desta vez foi definitiva. Escoltado por soldados da força pública, João Crisóstomo foi para o exílio, sem saber para onde o levariam. Algum tempo ficou em Nicéia, onde desenvolveu uma atividade considerável na conversão de pagãos. Comunicaram-lhe que Cucusu era o lugar terminal do seu desterro, e para lá havia de ser deportado.
A viagem foi penosíssima e chegou a ser um verdadeiro martírio para o pobre exilado. Chegando a Cesaréia na Capadócia, os próprios bispos negaram-lhe agasalho, e monges fantasiados atacaram-lhe a casa. Não havia quem lhe quisesse dar hospedagem, de modo que é verdade o que João queixa numa carta , dizendo, que sofre mais que os criminosos nas minas e nas prisões. Finalmente, após uma viagem de 70 dias, cheia de peripécias, e perigos, chegou a Cucusu, na Armênia. Apesar de ser o “lugar mais ermo do mundo” (expressão de João Crisóstomo), a permanência lá não lhe foi tão desconfortada como se podia supor. Tendo sempre comunicação com os amigos de Constantinopla, estes o beneficiaram também no exílio. Até de Antioquia recebia cartas e visitas. Sofrimentos e grandes provações não lhe faltaram. A saúde ressentiu-se muito, com o clima áspero e irregular de Cucusu. Bandos isáuricos devastaram diversas vezes aquela região e obrigaram os habitantes a refugiar-se nas grutas e montanhas. Fugindo destes inimigos, João Crisóstomo procurou abrigo num castelo fortificado em Arabisso.
Os amigos do Santo em Constantinopla passaram por um grande vexame, e tornou-se-lhes bem crítica a situação. Logo depois da saída de João Crisóstomo, houve dois grandes incêndios, que destruíram a grande catedral, algumas casas contíguas e o palácio do Senado. Os inimigos do Patriarca inculparam os partidários de João Crisóstomo de terem sido eles os causadores destes desastres, e abriram forte campanha contra eles. Ambas as partes apelaram para o Papa Inocêncio I. A sentença do sumo Pontífice desagradou profundamente aos adversários de João Crisóstomo, pois Inocêncio I declarou-se em favor destes contra o concílio de Chalcedon, e fez a proposta, de apresentar a questão a outro concílio, o qual, porém, não se realizou, devido à má vontade de Arcádio.
Tendo conhecimento das comunicações que havia entre João Crisóstomo e Constantinopla e Antioquia, o imperador ordenou-lhe a transferência para Pitio na margem oriental do Mar Negro. O organismo do Santo, já bastante depauperado e combalido, não mais resistiu às fadigas desta forçada viagem de três meses. Quase sem forças chegou a Comana, onde pernoitou na igreja de São Basílio. Em sonho ouviu o Santo dizer-lhe as seguintes palavras: “tenha ânimo, irmão, o dia de amanhã nos unirá”. No dia seguinte, 14 de setembro de 407, entrou no eterno descanso. As últimas palavras que disse foram: “Louvado seja Deus por tudo. Amém”.
O cisma terminou só com a morte de Arcádio, Eudóxia e Teófilo. Teodósio II, filho e sucessor de Arcádio, cumpriu a ordem do Papa, de restabelecer a honra do Patriarca injustamente exilado. A transladação do corpo de São João Crisóstomo para Constantinopla em 27 de janeiro de 438 revestiu-se de uma pompa, como igual a cidade não tinha visto ainda. As relíquias de São João Crisóstomo acham-se hoje em Roma, na igreja do Vaticano.
Reflexões:
São João Crisóstomo repreendia e castigava os defeitos, faltas e vícios, que reinavam entre os cristãos, embora esse rigor lhe importasse inimizades e perseguições. Era a caridade para com o próximo que o levava a profligar o pecado e implantar bons costumes no seio da família cristã. Quem é superior, deve empenhar sua autoridade, para que sejam eliminados pecados, abusos e vícios. O superior que finge não ver os súditos pecarem, quando facilmente os poderia corrigir, faz-se cúmplice do pecado dos mesmos. O amor ao próximo amor próprio, a responsabilidade perante Deus impõem ao superior o dever de fazer com que os súditos não se entreguem ao pecado e ao vício.
“Eu temo só o pecado”, dizia São João Crisóstomo. Na verdade, outro mal maior que o pecado não há e não pode haver. São João Crisóstomo preferia ser perseguido, caluniado e maltratado a cometer um pecado. Sá tinha medo, horror do pecado, que é uma ofensa a Deus. Como é diferente a opinião do mundo! O pecado para ele não é nada, quando muito apenas, uma fraqueza. Qual é a qualificação que dás ao pecado? “O pecado, sem dúvida, é o causador de todos os males. Do pecado vem as guerras, as epidemias, perseguições e todos os sofrimentos”, dizia São João Crisóstomo. Como ele, devemos também nós ter medo, só de uma coisa – do pecado.
São João Crisóstomo
Nascimento | Por volta do ano 349 |
Local nascimento | Antióquia |
Ordem | Bispo, Confessor e Doutor da Igreja |
Local vida | Ásia |
Espiritualidade | São João Crisóstomo passou alguns anos como um solitário e contemplativo eremita no deserto antes de ser sacerdote - em Antioquia, morando por longo período em uma caverna - mas também exercendo uma espiritualidade ativa na construção de hospitais e como pregador. Passou a bispo e patriarca de Constantinopla, esforçando-se para moralizar o Clero, fustigando duramente e com grande brilho, as contradições da Igreja, a indolência de monges, o apego de sacerdotes e prelados aos bens deste mundo, aos desvios e escândalos. Chegou a depor bispos indignos e a denunciar corajosamente, abusos de autoridades civis. Despertou, por todos seus feitos, antipatias em pessoas poderosas, tanto na ordem espiritual quanto temporal. Por essa razão foi duas vezes desterrado e morreu no exílio. Era amigo íntimo e tinha sido colega de estudos de Basílio Magno. Sua eloqüência extraordinária lhe valeu o título de Crisóstomo, que em grego significa "Boca de Ouro" e "patrono da eloqüência sagrada" pelo Papa Pio X. É considerado um dos quatro grandes Doutores da Igreja Oriental e deixou uma produção intelectual de aproximadamente 600 sermões e discursos. A todos nós, cristãos ou não, São João Crisóstomo inspira: "Nada cresce sem a crítica constante." |
Local morte | Ponto, Ásia Menor |
Morte | 407, com aproximadamente 62 anos de idade. |
Fonte informação | Santo Nosso de cada dia, rogai por nós |
Oração | Deus, nosso Pai, que as palavras de São Crisóstomo sirvam-nos de orientação para o dia de hoje: A água estagnada se corrompe, mas a que corre e se derrama por mil regatos conserva sua própria virtude. O ferro ocioso é corroído pela ferrugem e se torna fraco e inútil, mas, se usado no trabalho, é muito mais útil e bonito, e perde, em brilho, apenas para a prata. O terreno baldio não produz nada de bom, apenas ervas daninhas, cardos, espinhos e árvores não-frutíferas, mas o terreno cultivado se cobre de frutos saborosos. Numa palavra: todo ser se corrompe pela ociosidade e se aperfeiçoa, se for usado adequadamente. Agora que todos sabemos quão perniciosa é a ociosidade e quão proveitoso o trabalho, fujamos daquela e entreguemo-nos a este. |
Devoção | À exortação |
Padroeiro | Dos que sofrem perseguições por causa do Reino |
Outros Santos do dia | Outros santos do dia:João Crisóstomo (bispo e dr); Filipe, Maróbio, Julião, Ligório, (Márts); Maurílio, Eulógico, Amado; Amadeu (pb. E ab.) Venério (er.). Fonte: ASJ em 2014 |