ANO C
Jo 6,52-59
Comentário do Evangelho
“Quem se alimenta com a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e eu nele”
Comer a carne de Jesus e beber o seu sangue tem uma forte
conotação eucarística, em que, aliás, a manducação é um elemento importante.
Toda a vida de Jesus, simbolizada pela carne e pelo sangue, é verdadeiro
sustento. Ademais, “comer a carne” significa receber na fé a existência humana
de Jesus; “beber o sangue” é o dom da vida do Enviado de Deus. Sem adesão livre
e sem receber como dom “Aquele que desceu do céu” para fazer a vontade do Pai,
não é possível viver plenamente, ou é permanecer como morto. Pela fé o
discípulo participa da mesma vida do Filho único de Deus. O v. 54 representa
uma ampliação do discurso: “Quem se alimenta com a minha carne e bebe o meu
sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” (v. 54). Quem
aceita esse verdadeiro alimento vive em comunhão com aquele que se dá como
alimento: “Quem se alimenta com a minha carne e bebe o meu sangue permanece em
mim, e eu nele” (v. 56).
Carlos Alberto Contieri,sj
Oração
Pai, que o corpo e o sangue de teu Filho Jesus sejam alimento
para a minha caminhada em busca de ti, de maneira que eu não venha a
desfalecer pelo caminho.
Vivendo a Palavra
Apesar dos sinais que Jesus mostrava, a revelação de ser Ele
o Pão da Vida era muito forte para ser entendida pelo povo que O ouvia. Mesmo
iluminados pela luz da ressurreição, o grande Mistério da Encarnação do Filho
Unigênito de Deus não poucas vezes desafia a nossa fé.
VIVENDO A PALAVRA
Apesar dos sinais que Jesus realizava no meio
do seu povo, a revelação de ser Ele o Pão da Vida era muito forte para ser
entendida pelos que O ouviam. Mesmo para nós – Igreja do Cristo – que
testemunhamos iluminados pela luz da ressurreição, o Mistério da Encarnação do
Filho Unigênito de Deus não poucas vezes desafia a nossa fé.
Reflexão
Como pode ele dar a sua carne a comer? Como entender que para
ter a vida eterna e ressuscitar no último dia é preciso comer a verdadeira
comida e beber a verdadeira bebida que são a carne e o sangue de Jesus? Essas
verdades se constituem numa realidade absurda para os judeus. Por que? Porque
eles não conheceram verdadeiramente quem é Jesus. No mundo de hoje, encontramos
muitas pessoas que, como os judeus, não conhecem Jesus e vêem a eucaristia como
uma realidade absurda. Precisamos agir como missionários para que essas pessoas
conheçam Jesus, se alimentem da verdadeira comida e da verdadeira bebida e
vivam para sempre.
Reflexão
Os judeus consideram estranha a linguagem de Jesus
e reagem: “Como pode ele dar-nos a sua carne para comer?”. Faltava-lhes,
naturalmente, uma compreensão melhor sobre as palavras de Jesus. Carne entregue
e sangue derramado referem-se à própria vida de Jesus doada mediante sua morte
na cruz. Comer a carne de Jesus e beber seu sangue significam estabelecer com
ele uma comunhão íntima, chegar ao ponto de se identificar com ele. O apóstolo
Paulo alcançou tão profundo grau de comunhão com Jesus, que escrevia aos
Gálatas: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Para
favorecer nossa íntima comunhão com Jesus, ele nos deixou o sacramento da
Eucaristia, através da qual tudo fazemos por Cristo, com Cristo e em Cristo,
com a certeza de nossa ressurreição e vida eterna.
(Dia a dia com o Evangelho 2019 – Pe. Luiz Miguel
Duarte, ssp)
Meditando o evangelho
A RESSURREIÇÃO QUESTIONADA
O evento pascal de Jesus não foi aceito com tranqüilidade como se fosse
algo evidente e inquestionável. Foram muitas a interrogações, as dúvidas e as
suspeitas levantadas em torno do Ressuscitado. Tudo isto era a seqüência dos
contínuos questionamentos aos quais Jesus fora submetido, no decorrer de sua
missão. Suas palavras foram mal-entendidas e, muitas vezes, destorcidas por
discípulos e adversários. Não é novidade que também a Ressurreição passasse por
isto.
Quando Jesus falou que daria sua carne como pão para a vida do mundo,
muitos se perguntavam como seria possível tal coisa. As palavras do Mestre
foram tomadas no seu sentido literal. Por isso, chegou-se a interpretações
absurdas e inaceitáveis. Para entendê-las corretamente, era preciso situá-las
no horizonte de Jesus e do Pai.
A Ressurreição de Jesus, dado seu caráter de novidade e de superação dos
esquemas humanos já conhecidos, exigiu um esforço grande, por parte dos
discípulos, para ser entendida sem deturpações.
Como Jesus pôde ressuscitar? O Ressuscitado é o mesmo Jesus de Nazaré?
Por que processo teria passado o corpo material de Jesus? Como se explica que
Jesus continue junto da comunidade, em comunhão com ela?
Estas questões teriam ficado sem resposta suficiente, se não tivessem
sido respondidas a partir do horizonte de Jesus e do Pai.
(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor
em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a
cada mês)
Oração
Senhor Jesus, que eu chegue à compreensão do evento de sua morte e
Ressurreição, guiado por ti e pelo Pai.
COMENTÁRIO DO EVANGELHO
1. EXPLICANDO UM MAL-ENTENDIDO
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica,
Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês).
Os adversários relutavam em entender as palavras de Jesus. Em
geral, tomavam-nas num sentido oposto à intenção do Mestre. Quando ele falou em
dar sua carne em alimento para a vida do mundo, seus adversários sentiram um
certo mal-estar, imaginando a cena macabra da devoração de um ser humano.
Entretanto, Jesus não falava de antropofagia, e sim, da Eucaristia. Referia-se
à relação a ser estabelecida entre ele e a comunidade dos discípulos, por meio
do pão e do vinho eucarísticos.
Pão e vinho seriam constituídos como sacramento da presença
do Senhor. Ao redor de uma mesa é que a comunidade de fé faria a experiência de
comunhão profunda com o Ressuscitado. Ao comer o pão e beber o vinho,
indicariam um tipo novo de relação estabelecida entre o Senhor e a comunidade.
Os discípulos assimilariam plenamente o corpo de Jesus, e se deixariam
transformar por ele. Seria a maneira de permanecerem nele, e permitir que o
Mestre permanecesse em cada um deles. Resultado: toda a vida do discípulo seria
um viver por Cristo, com Cristo, em Cristo, de modo a garantir a vida eterna,
que só ele pode oferecer, pois lhe fora concedida pelo Pai.
A má-fé dos inimigos impediu-lhes de compreender o sentido
profundo desse ensinamento de Jesus. Com isto, indicavam não estar
em comunhão com ele, nem interessar-se em partilhar a vida que Jesus lhes
oferecia.
Oração
Espírito de boa-fé arranca do meu coração toda dúvida a
respeito das palavras de Jesus, e faze-me compreender o seu significado
profundo.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. Comer
a carne e beber o sangue do Senhor...
(O comentário do
Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP)
Para a nossa cultura esse ato parece tão estranho... soa como
canibalismo,por isso os primeiros cristãos foram acusados, de comer carne de
criancinhas.
Entre os indígenas sempre existiram os Guerreiros valentes que tinham
fama de heróis, mas na batalha em que estes morriam, seu corpo era levado até a
tribo e os mais jovens comiam a sua carne para se apossarem do seu espírito de
herói.
A Eucaristia nos torna imortais, porque recebemos a carne e o sangue
daquele que é Eterno e este sinal Sacramental nos eterniza. É um ritual para
que a nossa razão compreenda o que a Fé realiza em nós, pois somos
transformados em Cristo, suas palavras e seus ensinamentos, suas obras a favor
da Vida têm continuidade há dois milênios de historia, e isso sem sombra de
dúvida se deve a Eucaristia.
Na Eucaristia Jesus se faz presença real e concreta em milhões e milhões
de homens e mulheres todos os dias. A pessoa que vamos construindo em nossa
vida, com nossos pensamentos e projetos, com nossas ações a favor do bem, com
nossos ideais de fraternidade, agregando tudo isso ao nosso Ser Existencial e
ganhando uma identidade cristã própria. Essa pessoa, alimentada pela Eucaristia
supera a matéria presente na corporeidade, quando passamos pela morte
Biológica, essa pessoa, que fez de Cristo a razão do seu Viver, passa incólume
pelo processo de morte e continua o seu viver, agora em Vida Plena e Eterna.
Não se trata apenas da nossa personalidade ou da nossa psiquê, mas desse
homem espiritual que somos, presente em todas as nossas dimensões e que acaba
se manifestando em nossas ações, feitas em nossa corporeidade, mas
desencadeadas por este Ser, unido intimamente a Jesus Cristo, e que norteia
toda a nossa caminhada.
A descoberta de quem realmente somos, só se dá na Fé em Jesus Cristo,
pois é ele o Revelador de Deus e Revelador do homem. Quem, portanto não se
alimentar dele, sua carne e seu sangue, transubstanciado no Pão e vinho na
Santa Eucaristia, sentirá esse homem espiritual se definhar junto com a
matéria, e isso ocorrerá por absoluta falta desse alimento especial, colocado á
nossa disposição, e que contém a Vida Eterna.
2. Como ele pode dar a sua carne a comer?
Jesus falava claramente de comer a sua carne e beber o seu sangue, tanto
que os judeus começaram a perguntar como isso é possível. Nós entendemos, na
celebração do sacramento da Eucaristia, que o pão e o vinho consagrados são o
Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de nosso Senhor Jesus Cristo. Jesus está
realmente presente nas espécies de pão e de vinho. Dizemos que ele está
sacramentalmente presente, porque sua presença não é física. Ela não ocupa
lugar. Foi uma maneira que ele encontrou de permanecer sempre conosco. Quem
recebe a comunhão, come e bebe o Sangue do Senhor e isto lhe é creditado para a
vida eterna. Não se trata, porém, de um ato mágico ou meramente ritual. É um
ato consciente e livre, que expressa em forma ritual o que cremos e o que
queremos. Os sinais visíveis dos sacramentos mostram a presença da vida de Deus
em nós e em nosso meio. Os sacramentos falam e dizem: “Deus está aqui”.
HOMILIA DIÁRIA
Postado por: homilia
abril 19th, 2013
Irmãos e irmãs, o Evangelho próprio da Liturgia da Palavra de
hoje, Jo 6,52-59, termina expressando: «Jesus falou estas coisas ensinando na
sinagoga em Cafarnaum» (v. 59). Quando alguém visita a atual Cafarnaum na Terra
Santa, encontra uma grande placa ao passar por uma das entradas daquela
localidade, onde se lê: “Cidade de Jesus”.
Assim é que Cafarnaum entrou para a história: como o lugar
utilizado como uma espécie de “quartel general” de Cristo, pois de lá muitas
vezes Jesus partia e retornava das missões e se hospedava na casa da família de
Pedro. Também se encontram ali, as ruínas da sinagoga frequentada por Jesus e
citada no Evangelho de hoje.
Neste contexto material e geográfico, Jesus revela
surpreendentemente um alimento que não podia faltar naquela cidade, nos lares e
na missão da Igreja: «Quem se alimenta com a minha carne e bebe o meu
sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia» (v. 54).
Um alimento espiritual, sacramental e escatológico que
chama-se, antes de tudo, Jesus Cristo! Jesus Eucarístico é o pão celestial!
Jesus estava em sua cidade e próximo de lugares que o acolhiam, mas Ele quis
mais… muito mais! Ele quis fazer morada em nós e permanecer para sempre numa
comunhão de vida e Vida Eterna, por fundamentar-se no Amor Eterno de Deus pela
humanidade. Um Amor que se traduz em entrega total e eucarística: “Quem se
alimenta com a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele… Quem
se alimenta com este pão viverá para sempre» (v. 56.58).
Sabemos o que é entrar e sair de uma casa e cidade, mas
permanecer para sempre realmente é uma experiência que foge completamente às
capacidades puramente racionais, físicas e temporais. O impacto do espaço e do
tempo atualmente nos tomam, como um peixe tomado e mergulhado na água. Mas
fomos criados para águas mais puras, refrescantes, cristalinas e
incontamináveis, ou seja, no plano de Deus todo ser humano foi criado para Ele.
Por isso, Ele comunicou o Pão da Palavra e instituiu, na Quinta-feira Santa, o
Sacramento dos Sacramentos que leva-nos a exclamar: “Graças e louvores se deem
neste e em todo o momento… Ao Santíssimo Sacramento”. Assim, podemos como
que antecipar – como penhor – pelo Sacramento do Filho do Homem e Filho de
Deus, a participação na Vida Eterna.
Ainda que seja um desafio para a nossa fé e humilhação às
inteligências orgulhosas, o Sacramento da Eucaristia pode e precisa ser
acreditado, celebrado, comungado e adorado, para ficarmos então surpreendidos
positivamente pelas promessas e realizações do Senhor, diferentemente de muitos
que o acompanham e o seguiam com espírito cético e provocador: «Como é que ele
pode dar a sua carne a comer?» (v. 52). E o Pão da Vida não recuou e nem
contradisse as suas palavras por medo de perder “público ou ibope”, muito pelo
contrário: fez questão de reforçar este dom e necessidade de cada um: «Em
verdade, em verdade, voz digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e
não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós» (v. 53).
Mas eu não mereço tamanho dom ou tomar, comer e beber deste Cálice!
Realmente em cada Santa Missa, e mirando o Corpo de Deus nas mãos dos
sacerdotes, precisamos primeiramente reconhecer a nossa indignidade: “Senhor,
eu não sou digo de que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e
serei salvo”. Mas também não podemos deixar de ver nesta insistência de Cristo,
uma grande manifestação da gratuidade divina.
O Papa emérito Bento XVI, que hoje recorda o dia de sua
eleição para ocupar a Cátedra de Pedro, deixou claro esta graça que todos podem
receber, ainda que exijam condições básicas, como o objetivo estado de graça:
«Trata-se de um dom absolutamente gratuito, devido apenas às promessas de Deus
cumpridas para além de toda e qualquer medida. A Igreja acolhe, celebra e adora
este dom, com fiel obediência. O “mistério da fé” é mistério de amor
trinitário, no qual, por graça, somos chamados a participar» (BENTO XVI, Exort.
Apost. Sacramentum
Caritatis, nº 8).
Neste tempo pascal, a Igreja de Cristo convida-nos a dar –
pessoalmente e comunitariamente – nossa resposta perante o misterioso Dom da
Eucaristia, Pão da Vida que constrói moradas de Deus em meio e dentro dos
homens e mulheres. Pão da Cidade de Deus, capaz de dar sentido, alimentar e
transformar as cidades e lares dos homens. Pão que alimenta e santifica a Casa
de Deus no mundo, a Igreja, reanima a Igreja doméstica e encaminha para a nossa
Páscoa pessoal e eterna, ou seja, prepara-nos para morarmos para sempre na
verdadeira e permanente cidade de Jesus.
Padre Fernando Santamaria – Comunidade
Canção Nova
Oração Final
Pai Santo, que o teu Espírito esteja em nós e nos
faça crianças de teu Reino de Amor. Assim nós nos jogaremos inteiros no
Mistério do Cristo e, alimentados pelo Pão da Vida, seremos testemunhas neste
mundo do teu Amor de Pai que também é Mãe. Pelo mesmo Cristo Jesus, teu Filho e
nosso Irmão, na unidade do Espírito Santo.
ORAÇÃO FINAL
Pai Santo, que o teu
Espírito esteja em nós e nos mantenha como crianças do teu Reino de Amor. Assim
nós nos jogaremos inteiros e desarmados no Mistério do Cristo e, alimentados
pelo Pão da Vida, seremos testemunhas neste mundo do teu Amor de Pai que também
é Mãe. Pelo mesmo Cristo Jesus, teu Filho que se fez nosso Irmão e contigo
reina na unidade do Espírito Santo.