ANO C
Lc 16,1-8
Comentário do Evangelho
A porta que dá acesso ao Reino de Deus é o próprio Jesus.
É preciso cuidado para interpretar bem o que a parábola diz, do contrário poderia induzir a erro, considerando que Jesus elogia a desonestidade do administrador. O que é louvado nesta parábola é a habilidade de uma pessoa de empregar os meios para alcançar determinado fim; ele utiliza sua inteligência para encontrar o meio de assegurar sua felicidade.
O que preocupa Jesus são os meios para entrar no Reino de Deus – é exatamente isto que a parábola enfatiza. Não quaisquer meios, pois é preciso entrar pela “porta estreita”. A porta que dá acesso ao Reino de Deus é o próprio Jesus. Jesus urge dos discípulos deixarem a passividade e empreenderem tal “sabedoria” para alcançar o seu objetivo, a saber, entrar no Reino de Deus. Não é, reiteramos, elogio à desonestidade, mas ao esforço de buscar os meios para ter a vida salva. Esta é a lição dada aos discípulos e ao leitor do evangelho: é preciso sair do comodismo; o Reino de Deus exige empenho, inteligência e discernimento.
Carlos Alberto Contieri, sj
Oração
Pai, torna-me esperto em relação às coisas do Reino, e sempre misericordioso no trato com o meu semelhante, pois é assim que alcançarei a comunhão contigo.
Vivendo a Palavra
Nós somos os administradores contratados pelo Pai. Sabemos que a vida é passageira e logo chegará a hora de prestar contas. Quais diretrizes adotamos em nosso trabalho – o toma-lá-dá-cá proposto pelo mundo, ou a Lei do Amor ensinada e vivida pelo Cristo Jesus? É oportuno um bom exame de consciência.
VIVENDO A PALAVRA
Nós somos os administradores contratados pelo Pai. Sabemos que a vida é passageira e logo chegará a hora de prestar contas. Qual diretriz adotamos em nosso trabalho: o toma-lá-dá-cá proposto pelo mundo, ou a Lei do Amor ensinada e vivida pelo Cristo Jesus? É sempre oportuno um honesto e profundo exame de consciência.
Reflexão
Neste trecho do Evangelho, Jesus nos mostra que os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz. Então podemos perguntar: Por que isso acontece? A resposta é muito simples: é porque os negócios em geral são regidos pelos valores do mundo, que são inaceitáveis para quem quer viver na radicalidade os valores do reino de Deus. Os valores que regem a economia são o lucro desenfreado, a exploração, o egoísmo, a dureza de coração, só se pensa em si próprio e nos seus interesses. Essa esperteza não interessa aos que querem viver como filhos e filhas de Deus.
Reflexão
Um administrador desonesto que age com esperteza. Sua desonestidade está no fato de esbanjar os bens do patrão (atitude de injustiça), e não propriamente na redução das dívidas. Tratava-se de uma comissão que lhe cabia por direito e que ele poderia usar como bem entendia. O que se elogia, em todo caso, não é a desonestidade, sempre abominável. O que se quer destacar é a sagacidade do administrador, em vista de não ficar na rua quando fosse despedido. Jesus adverte que os maus (filhos deste mundo) “são mais espertos no trato com sua gente do que os filhos da luz”. Uma parábola chocante, capaz de mexer com o brio de todo cristão. Dado que somos filhos da luz, precisamos administrar o tempo e os bens deste mundo na justa medida, conforme os valores do Reino.
(Dia a dia com o Evangelho 2019 - Pe. Luiz Miguel Duarte, ssp)
Recadinho
Será que não estou pensando que Jesus elogia a malandragem? - Não seria o momento de me colocar na posição justa? Jesus, com seu exemplo, quer nos ensinar a sermos espertos para conseguir os bens eternos usando de honesta esperteza. Pensemos nisto! - Será que às vezes não corro o risco de ser desonesto com os desonestos? - Nossa comunidade se preocupa e faz algo para combater as injustiças do mundo? - Vendo seu futuro em jogo, o homem mostra duas coisas: de rapidez na decisão e grande astúcia. Defendeu a própria pele, como se diz. Jesus quer que façamos o mesmo, mas para colocar a salvo nosso futuro eterno e não as coisas deste mundo!
Padre Geraldo Rodrigues, C.Ss.R
Meditando o evangelho
APRENDENDO DE UM ESCÂNDALO
Um autêntico caso de corrupção ofereceu a Jesus a chance de ensinar aos discípulos, mediante uma parábola, a importância de ser esperto em relação ao Reino de Deus.
Naquele tempo, os gerentes de propriedades alheias agiam com muita liberdade, sem um controle imediato. O patrão confiava na responsabilidade do empregado. Este era recompensado pelo que produzia: quanto mais os bens se multiplicavam, tanto maior era o seu salário.
O Evangelho fala de um administrador que, agindo com irresponsabilidade e imprudência, estava desperdiçando os bens que lhe tinham sido confiados. Quando o patrão começa a cobrá-lo por isso, esse administrador arquiteta um plano para garantir seu futuro e sua segurança. Com uma ação fraudulenta, busca granjear a benevolência dos devedores, prejudicando o patrão. Uma vez despedido, teria quem se sentisse na obrigação de recebê-lo, como sinal de gratidão.
Comparando com o Reino, os discípulos são instruídos a serem tão hábeis e espertos como o administrador desonesto. Este, no trato com as coisas humanas, obstinou-se em buscar caminhos para alcançar os seus objetivos. Do mesmo modo, o discípulo do Reino, com relação às realidades celestes, deve ter claro o fim a ser atingido e a maneira mais conveniente de fazê-lo. Neste caso, basta ser obstinado na prática da misericórdia.
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total).
Oração
Espírito que leva a ser esperto nas coisas de Deus, faze-me sempre mais hábil na prática da misericórdia, único meio de se obter a salvação.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. O Bom Administrador
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)
Este administrador desonesto teve duas atitudes que mereceram elogios de Jesus, pensou no futuro e foi capaz de abrir mão da sua comissão sobre a venda de produtos, se projetarmos a reflexão na esperança escatológica, podemos afirmar que o caminho para essa plenitude passa pelas perdas e de fato, o próprio Jesus vai dizer "Quem perder a sua vida por causa de mim, vai ganhá-la".
O Administrador sabia que tinha perdido o emprego e agora precisava se garantir. A forma que encontrou foi conquistar amigos, baixando drasticamente o valor da dívida, é bom informar os leitores que na verdade ele não reduziu preço algum, apenas abriu mão da sua comissão, uma perda momentânea que iria representar um ganho futuro, até mais valioso, quem sabe, um deles poderia lhe dar um novo emprego, ou um abrigo em sua casa por gratidão.
O evangelho não incentiva a sua desonestidade, mas a sua astúcia em tomar decisão certa no momento certo, coisa que os Filhos da Luz nem sempre o fazem. Muitos cristãos se entregam e confiam plenamente em Jesus Cristo, entretanto, não abrem mão de seus caprichos e de um egoísmo terrível que chega a sufocar, atuam na comunidade onde aparentemente nada ganham, porém, esperam sempre algo em troca, prestígio, sucesso, poder de decisão e outras coisas mais que contrariam o evangelho.
Os bens materiais e tudo mais que possuímos, incluindo-se os carismas, habilidades e talentos devem sempre ser colocados a disposição do outro na comunidade, de maneira prazerosa, generosa, de modos que cause alegria interior. Quando o mau uso do nosso carisma resulta em mágoas e revoltas, intrigas e ressentimentos é sinal de que embarcamos no trem do Imediatismo que a pós-modernidade nos apresenta, e nós queremos ganhar agora e já, nem nos damos conta de que o Futuro poderá ser bem amargo, se persistirmos nesse caminho...
2. Os filhos do mundo e os filhos da luz - Lc 16,1-8
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por Côn. Celso Pedro da Silva, ‘A Bíblia dia a dia 2017’, Paulinas e disponibilizado no Portal Paulinas - http://comeceodiafeliz.com.br/evangelho)
Um administrador desonesto foi despedido por má administração e foi elogiado por ser esperto. Sua esperteza consistiu em fazer amigos que o recebessem quando estivesse na rua. Fez amigos renunciando ao que era seu. Ele tinha direito a uma parte das dívidas a serem pagas a seu patrão. Quem tivesse que pagar cem sacos de trigo, oitenta eram do patrão e vinte do administrador. Ele renunciou aos vinte e mandou que o devedor pagasse oitenta. Assim foi fazendo amigos. A mesma coisa devemos fazer nós. Fazer amigos com os bens deste mundo para que eles nos recebam na eternidade. O necessitado que você hoje socorre será o seu porteiro no céu. Não deixará você na rua.
Liturgia comentada
Presta contas! (Lc 16,1-8)
Esta parábola do administrador desonesto costuma escandalizar muita gente. De fato, uma leitura superficial do Evangelho parece dar a entender que o Mestre faz elogios um safado. Claro que não! A falta de ética do corrupto – para usar termos bem atuais – era (e é) execrável. Mentira e falsidade jamais receberiam elogios do Mestre da Verdade!
O que Jesus quer ensinar é bem outra coisa: se os fiéis dedicassem por sua salvação (e pela salvação dos outros!) o mesmo empenho e inteligência que os homens do mundo dedicam a seus negócios escusos e duvidosos, pouca gente se perderia.
Mas não é bem sobre isto que eu quero refletir hoje. Claro que devemos prestar contas de nossa vida ao seu término, diante do divino Juiz. Mas não devemos cair na ilusão de que seremos capazes de acumular tantos méritos, a ponto de podermos apresentar a Deus uma fatura e dele cobrar nosso direito ao céu. A salvação é sempre graça, grátis, dom. Antes, será com trajes de mendigo que nos apresentaremos ao Senhor.É disso que falo – um tema tipicamente teresiano - em meu soneto “Balanço”:
Quando chegar ao fim a minha vida,
Toda cheia de curvas e de dobras,
Ah! não contes, Senhor, as minhas obras
A ver se a recompensa é merecida!
Minha justiça é logo corrompida...
Minhas boas ações, apenas sobras...
Eu fui um fariseu: minhas manobras
São ruínas em pó, massa falida...
Quando chegar ao fim destes meus dias,
ei que terei as minhas mãos vazias
E a túnica bem rota de um mendigo!
E, por saber que tudo logo passa,
Eu me abandono inteiro à tua graça,
Pois só o Amor eu levarei comigo...
Orai sem cessar: “Deus tenha piedade de nós e nos abençoe!” (Sl 67,1)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
santini@novaalianca.com.br
HOMILIA DIÁRIA
Seja esperto para fazer o Reino de Deus acontecer
Não sabemos usar da sabedoria evangélica, da esperteza – no bom sentido da palavra – para fazer o Reino de Deus acontecer.
“Com efeito, os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da Luz” (Lucas 16,8).
O Evangelho de hoje parece de difícil compreensão, pois causa um nó em nossa cabeça, uma certa confusão. Jesus está dando o exemplo de um administrador que, além de infiel, foi desonesto na maneira como tratou seus negócios.
O administrador não fez aquilo que lhe foi confiado. Antes ainda de sair do seu trabalho, ajustou-se com os devedores para depois não ficar “mal na conta”. Acertou com um e mudou o valor que este devia ao patrão, fez o mesmo com os outros, de modo que formou muitos amigos, porque agiu com esperteza.
Olhando para essa parábola, perguntamos: “Por que o Senhor nos conta essa parábola? Justamente para entendermos que os filhos deste mundo, aqueles que agilizam as coisas, fazem com que elas aconteçam, agem com esperteza e levam a desonestidade até às últimas consequências. “O importante é levar vantagem, é ter lucro”, assim pensam os filhos deste mundo. Digo mais: eles não desanimam. Não deu certo aqui, tentam de outra maneira. Mas nós, que temos as armas da luz, as armas do Reino dos Céus, as graças do Evangelho, não temos agilidade e desanimamos com qualquer coisa. Mais ainda: estamos combatendo uns aos outros.
Não sabemos usar da sabedoria evangélica, da esperteza – no bom sentido da palavra – para fazer o Reino de Deus acontecer. Veja que as coisas do mundo vêm envoltas em pacotes, ainda que o produto não seja bom. O pacote deles é bom demais, pois demonstra alegria, satisfação naquilo que apresentam.
Nós, que apresentamos o Reino de Deus, o levamos com tristeza no coração, com desânimo, com ar de fracasso, por isso não temos habilidade, agilidade e eficácia em mostrá-lo às pessoas; assim, as trevas crescem. Nós que somos chamados filhos da Luz não sabemos usar da esperteza e da sabedoria evangélica para fazer o Reino acontecer.
Que o Senhor nos conceda agilidade, habilidade e verdadeira sabedoria para aplicarmos na multiplicação da Sua Palavra.
Deus abençoe você!
Padre Roger Araújo
Sacerdote da Comunidade Canção Nova, jornalista e colaborador do Portal Canção Nova.
Oração Final
Pai Santo, a sociedade consumista oferece com facilidade o seu aplauso ao nosso egoísmo, ao nosso desejo de levar vantagens ilusórias e efêmeras. Dá-nos, Pai amado, discernimento e coragem para seguir os caminhos do Cristo Jesus, teu Filho e nosso Irmão, que contigo reina na unidade do Espírito Santo.
ORAÇÃO FINAL
Pai Santo, a sociedade consumista em que vivemos oferece com facilidade o seu aplauso ao nosso egoísmo e ao nosso desejo de levar vantagens em tudo – lucros que são sempre ilusórios e efêmeros. Dá-nos, amado Pai, discernimento e coragem para seguir os caminhos do Cristo Jesus, teu Filho que se fez nosso Irmão e contigo reina na unidade do Espírito Santo.