ANO A
7º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Ano A - Verde
“Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito!”
Mt 5,38-48
Ambientação
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Somos chamados a viver a santidade em nossas vidas, porque nascemos para ser santos e santas. Isto se dá num processo de conversão de vida para Deus e para a realização de seu Reino aqui na terra. É uma caminhada que se firmando no dia-a- -dia e, ao mesmo tempo, vai exigindo mais de quem assume esse propósito.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, aqui estamos para o nosso encontro dominical com o Ressuscitado. Dele, ouviremos a Palavra que salva e liberta; por Ele, seremos nutridos ao recebermos seu Corpo e Sangue. E é porque cremos nele, o Todo Santo e Perfeito, que estamos aqui. Queremos viver abertos à sua graça, deixando- -nos guiar por sua Palavra para assim transformar nossa existência, a vida de nossa comunidade e de todo Universo. Unamos nossa voz aos irmãos e irmãs que estão ao nosso lado e entoemos um canto de louvor ao Senhor.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: O mandamento de amor ao próximo não era desconhecido antes de Jesus. De fato, no Antigo Testamento nunca se havia pensado em amar a Deus sem se interessar pelo próximo. Nos Provérbios encontra-se até uma passagem que ressoa quase com as mesmas palavras do mandamento de Cristo: "Se teu inimigo tem fome, dá-lhe de comer; se tem sede, dá-lhe de beber..." (Pr 25,21). Em sua formulação, em seu conteúdo e em sua forte exigência, o mandamento de Jesus é novo e revolucionário, pois nos propõe amar por amor de Deus, pelas mesmas finalidades de Deus; exclusivamente desinteressado; com amor puríssimo; sem sombra de compensação. Ensina a amar-nos como irmãos, com um amor que procura o bem daquele a quem amamos, não o nosso bem. Amar como Deus, que não busca o bem na pessoa a quem ama, mas cria nela o bem, amando-a.
Comentário do Evangelho
A novidade de Jesus
À luz da santidade de Deus, o trecho deste domingo do livro do Levítico interpela o povo de Deus a tirar as consequências para a vida de sua vocação à santidade. É em relação ao próximo que essa vocação se realiza. “Próximo”, aqui, é o membro do povo de Deus (cf. Lv 19,18). O reconhecimento da santidade de Deus implica da parte do povo de Deus atitudes em relação ao próximo: não permitir que o ódio e o desejo de vingança tomem conta do coração e sejam a motivação de uma ação em relação ao próximo; ao contrário, a atitude que deve caracterizar a relação entre os membros do povo de Deus é o amor.
O texto do evangelho deste domingo parte do longo “sermão da montanha” (Mt 5–7), apresenta duas antíteses, entre outras presentes no capítulo 5 do primeiro evangelho (vv. 21-26; 27-32; 33-37; 38-42; 43-48), que dão conteúdo ao que significa a justiça dos discípulos, a qual deve superar a dos escribas e fariseus (cf. Mt 5,20). Na primeira antítese de nosso trecho, trata-se de superar a lei do talião (talis = tal). Em resumo, a lei do talião era a reparação exigida do criminoso e devia ser proporcional ao mal causado por ele a alguém. Para os discípulos de Jesus, essa superação da lei do talião exige a capacidade de perdoar, assim como do alto da cruz, no mais absoluto abandono, Jesus o fez: “Pai, perdoai-lhes…” (Lc 23,33). “Não resistir ao malvado” significa não se deixar levar pela sede de vingança, não pagar o mal com o mal. A antítese seguinte (vv. 43-48) amplia em muito a exigência do amor. A “nova justiça” exige o amor aos inimigos. É a atitude própria de quem é misericordioso (cf. Mt 5,7) e promove a paz (cf. Mt 5,9). A conclusão do conjunto das antíteses (v. 48) pode servir à conclusão de todas as demais: a perfeição de Deus está na universalidade de seu amor. O amor de Deus não tem nenhum tipo de fronteira. Sendo assim, o povo de Deus deve, na sua vida, imitar o modo como ele é amado por Deus. É no amor, do qual o perdão é um imperativo, que se realiza a justiça superior exigida dos discípulos.
Carlos Alberto Contieri, sj
Oração
Pai, cria em mim um coração dócil ao Espírito, modelando-o segundo o teu modo de ser, e coloca-me no caminho da verdadeira perfeição.
Vivendo a Palavra
No Levítico, o mandado do Senhor: “Sejam santos, porque eu, Javé, sou Santo.” No Evangelho, Mateus, em outras palavras, repete o mesmo, ensinando a relação proposta por Jesus no ‘Sermão da Montanha’: o amor indiscriminado, que inclui até os inimigos, e a oração pelos que nos perseguem. Sigamos esta trilha de santidade.
VIVENDO A PALAVRA
No Levítico, ouvimos o mandado do Senhor: “Sejam santos, porque eu, o Senhor, sou Santo.” No Evangelho, Mateus, em outras palavras, repete o mesmo, ensinando a relação proposta por Jesus no ‘Sermão da Montanha’: o amor indiscriminado, que inclui todos, até os inimigos, e a oração pelos que nos perseguem. Sigamos esta trilha de santidade.
Reflexão
I. INTRODUÇÃO GERAL
A primeira leitura destaca o mandamento “amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,17-18). Para Israel, somente é possível amar a Deus se há amor ao próximo. Mas, ao longo da história, houve a tendência de interpretar esse mandamento em sentido restrito, reservando a prática do amor apenas para o compatriota. O evangelho afirma que Jesus interpretou o preceito do amor ao próximo em dimensões universais. Por motivo algum é lícito odiar o outro, filho do mesmo Pai celeste e alvo do mesmo amor paterno (Mt 5,45). O mundo julga ser loucura retribuir o ódio com o amor, o mal com o bem, as ofensas com o perdão. Mas, na segunda leitura, Paulo ensina que os cristãos não devem se preocupar quando o mundo os julga loucos, afinal “a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus” (1Cor 3,19).
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. Evangelho (Mt 5,38-48): Amai os vossos inimigos
“Olho por olho, dente por dente” (Mt 5,38; Ex 21,24) é uma antiga lei, anterior à existência do povo de Israel. Era uma lei de natureza social e não individual. Tinha por objetivo limitar os excessos de vingança de uma tribo contra outra. Israel também aderiu a esse preceito, mas o abrandou bastante com a exigência do perdão (Lv 19,17-18).
No evangelho, Jesus pede a seus seguidores que não resistam a ninguém que lhes cause algum prejuízo. Ou seja, Jesus proíbe aos cristãos resistir ao mal com a vingança. O papel dos cristãos é o combate do mal no mundo mediante a não violência, como fez Jesus na cruz.
Jesus enfrenta e condena essa postura de seus contemporâneos. Os cristãos devem amar amigos e inimigos sem exceção, pois uns e outros são filhos de Deus, todos são irmãos, todos são próximos.
A aceitação ou a recusa dessa ordem de Jesus são o critério para uma pessoa ser ou não reconhecida por Deus como filha (Mt 5,44-45). Pois, da mesma forma que o filho reflete a fisionomia dos pais, os cristãos devem, nas relações com seus semelhantes, refletir o amor de Deus para com todos os seres humanos.
2. I leitura (Lv 19,1-2.17-18): Amarás o teu próximo como a ti mesmo
A santidade é o principal atributo do Deus de Israel. Em primeiro lugar, porque ele é separado, ou seja, não se confunde com a criatura. Nas civilizações vizinhas de Israel, as religiões politeístas confundiam a divindade com vários seres da natureza ou com imagens. Em Israel, ao contrário, um só era reconhecido como Deus criador, os demais eram apenas criaturas. É nesse sentido que Deus é separado (Santo): o Criador não pode ser confundido com a criatura.
A santidade de Deus era comunicada a todos os que se aproximavam dele ou a tudo que lhe era consagrado: pessoas, animais, objetos. Tudo o que pertencia a Deus era separado dos demais para simbolizar a unicidade do Criador.
Nesse sentido é que o povo de Israel deveria ser separado ou diferente dos demais povos. Por isso, Israel não deve odiar, mas praticar a exortação comunitária para o crescimento pessoal; não se vingará nem terá rancor, mas amará o próximo. Agindo assim, Israel participava da santidade de Deus e se tornava diferente dos povos vizinhos, que praticavam ações contrárias a esse preceito. Isso significa a existência de uma ética inerente ao monoteísmo que não era encontrada em religiões politeístas, em cujos mitos as divindades praticavam e ensinavam o ódio e o egoísmo.
3. II leitura (1Cor 3,16-23): Vós sois de Cristo
Paulo ensina aos cristãos de Corinto que o único fundamento de sua fé é o Cristo, e não os sábios deste mundo, sejam eles cristãos ou não, pois o que é sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus.
Os cristãos são de Cristo, como Cristo é de Deus. Eles não pertencem ao mundo e, por isso, não devem reger a vida segundo os valores do mundo. Pertencendo a Cristo, os cristãos são templos do Espírito de Deus, como Cristo é o Templo de Deus por excelência, lugar do encontro definitivo entre a humanidade e o Criador. Os cristãos, por meio de sua inserção em Cristo pelo batismo, com uma vida dedicada a Deus e ao amor ao próximo, testemunham a presença de Deus no meio dos povos. Ser templo de Deus, pertencer a Cristo, significa ser mediação do amor e do perdão, ser lugar do encontro com Deus. E isso é loucura para o mundo, mas sabedoria de Deus.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
O amor a Deus se reflete no amor ao próximo. Nisso consiste a vida cristã configurada a Cristo. Uma vez que o Pai ama a cada ser humano indistintamente, a vocação cristã consiste em amar o próximo não como a si mesmo, mas como Cristo o amou. Somente pelo amor as divisões são superadas, a violência extinta, a fraternidade instaurada. E, com isso, a santidade de Deus será comunicada a todos os povos.
Aíla Luzia Pinheiro Andrade
Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje - BH), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica e lecionou por alguns anos. Atualmente, leciona na Faculdade Católica de Fortaleza. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas).
Reflexão
O AMOR NOS IDENTIFICA
O texto do evangelho, que integra o sermão da montanha de Mateus, põe-nos diante de duas propostas revolucionárias de Cristo: a resistência não violenta e o amor sem limites.
A “lei do talião” descrita no Primeiro Testamento representou um avanço ou um freio contra a violência sem limites, mas Jesus quer superar isto que pode ser chamado de “círculo violento”. O “porém” de Jesus não sinaliza submissão aos tiranos ou aos que nos violentam. O ódio, a violência, a vingança provocam uma espiral que só pode ser vencida por atitudes não violentas. Sabemos que resposta violenta à violência só faz aumentá-la. Combater o mal com violência é se colocar do lado do mal. A proposta de Jesus não conduz ao dilema entre resistir ou não, mas consiste em como resistir ao mal. Seu ensinamento é “resistência não violenta”: resistência sim, violência não.
Em vez de “amar o próximo e odiar o inimigo”, Jesus propõe amar a ambos. Ele nos ensina que não podemos dedicar nosso amor somente ao próximo, a quem nos agrada e com quem simpatizamos, mas cumpre-nos estendê-lo também ao inimigo. Em outras palavras, nosso amor não deve ter limites. O Mestre nos pede realmente algo muito difícil de assumir. Mas ele mesmo nos diz que, se agimos como os outros, não fazemos a diferença, e fazer a diferença é algo característico do verdadeiro cristão.
Entre os ensinamentos do sermão da montanha, essa talvez seja uma das propostas mais difíceis de viver e a que mais identifica o discípulo de Jesus. Ao longo da história da humanidade, muitas foram as personagens que procuraram encarná-la: Gandhi, Helder Câmara, Paulo Evaristo Arns, Zilda Arns… Mediante a não violência e o amor, vivendo nossa vocação ao “extraordinário”, demonstraremos que somos de fato cristãos. Esta nossa identidade nos impele a ser promotores da cultura da paz e da concórdia.
Pe. Nilo Luza, ssp
Reflexão
O MAIOR DOS MANDAMENTOS
No evangelho deste domingo, Jesus nos apresenta um mandamento que, em sua formulação, em seu conteúdo e em sua forte exigência, é novo e revolucionário. Trata-se do mandamento do amor ao próximo.
Jesus destruiu barreiras e deu ao preceito da caridade dimensões universais. “Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo, odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos… rezai por aqueles que vos perseguem” (Mt 5,43-44). Na realidade, em passagem alguma da Bíblia está prescrito o ódio aos inimigos. Era isso o resultado prático das deformações da lei, passadas a normas de vida. Jesus, corajosamente, enfrenta-as e as condena em cheio. Ele veio aperfeiçoar a lei e fez isso especialmente em relação à caridade, que o ser humano, com seu egoísmo, é tão inclinado a lesar e falsificar.
Cristo, nessa passagem do Evangelho de Mateus, é enfático. Não admite interpretações arbitrárias. É dever dos cristãos amar amigos e inimigos sem exceção. E único é o motivo: tanto amigos como inimigos são filhos de Deus.
Que maravilha! Pois nessa perspectiva já não têm razão de ser as distinções entre povos e raças. Já não têm razão de ser as distinções baseadas em amor e ódio, bem e mal, nos benefícios recebidos e nos prejuízos, ofensas e injúrias sofridas.
Por motivo algum é justo odiar o irmão, filho do mesmo Pai, objeto do mesmo amor paterno. Da aceitação ou recusa deste mandamento depende para cada ser humano o ser ou não reconhecido por Deus como filho seu. De fato, Jesus nos diz: “… assim vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, que faz nascer o sol sobre maus e bons e faz cair a chuva sobre justos e injustos” (Mt 5,45-46). Da mesma forma que o filho reflete a fisionomia dos pais, assim o cristão é convidado, nas relações com seus semelhantes, a refletir o amor de Deus para com todos os homens e mulheres.
O mundo pode julgar loucura pagar o ódio com amor, o mal com o bem, as ofensas com o perdão. Mas ensina-nos são Paulo que, para seguir a Cristo, devemos tornar-nos loucos aos olhos do mundo, “porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus”(1Cor 3,19). Não nos convém seguir a lógica do mundo, porque somos de “Cristo, e Cristo é de Deus” (v. 23). Como tais, somos convidados a amar e não odiar, a perdoar e não condenar.
Jorge Alves Luiz
REFLEXÃO
O Senhor nos criou para sermos santos e o sermos como Ele é. Todo filho que ser igual ao seu pai – se a referência é boa - e a menina tem em sua mãe um modelo a ser seguido.
Do mesmo modo, o Senhor se compraz que sejamos semelhantes a Ele, pois, de fato, fomos criados à sua imagem e semelhança.
A primeira leitura de hoje, tirada do Levítico nos diz: “Sêde santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo”.
E o que é ser santo? De acordo com a leitura é não ter ódio, é alertar o outro para que não peque, é não ser vingativo, é não guardar rancor e amar o próximo como a si mesmo.
Ser santo é agir de modo diferente das outras pessoas que não conhecem sua origem divina. Quem sabe de onde vem, qual é sua família e tem consciência disso, se porta de um modo nobre, porque sabe qual é o valor de seu sangue. Nós, não apenas fomos criados por Deus à sua imagem e semelhança, mas fomos lavados pelo sangue de Cristo e renascidos no batismo. Somos verdadeiramente filhos do Santo.
No Evangelho, Jesus confirma essa nossa filiação e nos propõe: “Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito! Isso ele fala depois de nos exortar a uma vida de amor e de perdão em relação ao nosso próximo. Não retribuir ofensas e agressões, não odiar o inimigo e amá-lo, enfim agir como o Pai.
Por fim, a segunda leitura, a primeira carta de São Paulo aos Coríntios, nos alerta dizendo que somos templo do Espírito Santo. São Paulo acrescenta que a sabedoria deste mundo é insensatez diante de Deus. Com isso Paulo deseja nos falar que nosso modelo de vida, nosso parâmetro deverá ser Deus, nosso Pai e Jesus Cristo, o Verbo Encarnado. Não nos iludamos: os valores mundanos não nos darão a felicidade desejada, só Deus a dará. Somente Jesus tem palavras de vida eterna!
Cesar Augusto dos Santos
Reflexão
“... SEDE SANTOS, PORQUE EU, O SENHOR VOSSO DEUS, SOU SANTO.”
“PORTANTO, SEDE PERFEITOS COMO VOSSO PAI CELESTE É PERFEITO!”
Situando-nos brevemente
Como assembleia de irmãos, todos chamados a atingir a estatura da santidade de Deus, fazendo o bem até aos inimigos, celebramos o memorial da Páscoa de Jesus. Louvamos a imensa misericórdia do Pai, que olha compassivo nossa realidade, cheia de fraquezas e necessidade.
O salmo hoje nos propõe esta atitude que permeia toda a celebração: Bendize, ó minh’alma, pois ele é bondoso e compassivo... Não te esqueças de nenhum de seus favores... Te perdoa toda a culpa... Cura toda a sua enfermidade... Te cerca de carinho e compaixão.
Em Jesus, o Pai nos oferece sua compaixão, dando-nos seu perdão, a força da reconciliação que nos leva ao amor incondicional e guia-nos no caminho da concórdia e da justiça.
Na oração inicial, pedimos que, procurando conhecer sempre o que é reto, realizemos a vontade de Deus, em nossas palavras e ações.
Recordando a Palavra
Continuamos hoje o evangelho do domingo passado. Jesus, depois de proclamar as “bem-aventuranças”, as “felicidades”, expõe uma série de contraposições entre a lei mosaica e sua nova proposta, dizendo: “foi dito” no passado, “eu, porém vos digo” hoje, na nova lei.
Jesus lembra a lei do talião, princípio jurídico segundo o qual a pena devia ser proporcional à ofensa. Queria ser um avanço em relação à lei do mais forte, e tentava pôr um freio ao crescimento da violência. ““... Olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé “... (Ex 21,24; Lv 24,20; Dt 19,21) Jesus propõe que só se pode frear o mal como o bem, não com o revide: “ao receber uma bofetada, oferecer a outra face”, “se alguém quiser tomar-lhe a túnica (roupa de baixo), oferecer também o manto (agasalho)”, “se alguém te forçar a caminhar mil passos, caminha com ele dois mil”. São três exemplos de profunda generosidade que Jesus nos dá na ordem do sofrer, possuir e executar.
Nos versículos 43-48, Jesus fala sobre o ódio ao inimigo. Não se conhece nenhum texto do Primeiro Testamento sobre isto. Há uma longa distância do Salmo 139,22: “Eu odeio, Senhor, os que te odeiam”. Pr 29,27: “os justos detestam o ímpio”. O preceito de Jesus recolhe sugestões do Primeiro Testamento: Lv 19,17-18 diz: “Não guardes no coração ódio contra teu irmão. Repreende teu próximo para não te tornares culpado de pecado por causa dele. Não procures vingança nem guardes rancor aos teus compatriotas. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor” (Ex 23,4-5). Estas palavras ouvidas e lidas por Jesus tornam-se suas e culminam em extensão e profundidade. O motivo de amar os irmãos e os inimigos é a filiação divina, é ser “imagem e semelhança de deus” (cf. Gn 1,27). Deus é criador e Pai de todos os seres humanos, bons e maus. O ar, o sol e as chuvas são para todos. “Se ama somente os irmãos, o que faz de extraordinário? Os que não têm fé também fazem isto.”
Mt 5,48, Lv 19,2 e outros textos nos convidam a viver a santidade de Deus. Jesus fala de “perfeição” e a centraliza na prática do amor até as últimas conseqüências de entregar a vida.
“Deus é bondoso e compassivo”, cantamos no Salmo 103, em resposta à leitura do Levítico. Deus nos “perdoa, nos cura, salva nossa vida da sepultura, nos cerca de carinho e proteção, é indulgente, é favorável, é paciente, não nos trata conforme exigem nossas faltas, nem nos pune em proporção às nossas culpas...” “Como uma mãe, como um pai, deus se compadece de nós...”
Deus mora em nós, somos santuários desse Deus! É o que São Paulo fala aos Coríntios. Se Deus é santo, o santuário de Deus deve ser santo! Insensato é quem vive conforme a insensatez deste mundo. Ninguém se apóie em homem algum, porque tudo pertence ao Santo e eterno Deus: a humanidade, “o mundo, a vida, a morte, o presente, o futuro” tudo pode ser nosso, mas nós somos de Cristo, e Cristo é de Deus, Pai celeste perfeito!
Atualizando a Palavra
Hoje, a primeira leitura ajuda a iluminar o evangelho que ouvimos. O Levítico nos fala da necessidade de sermos santos, porque Deus é santo. A santidade que deus exige de nós, não se reduz a práticas externas da religião, mas ao amor sem limites. Pela Aliança, os israelitas são de Deus. Pelo batismo, os cristãos são de Deus. Aqueles que formam o “povo de deus’ não podem desonrar esse nome, mas assemelhar-se a ele que é amor e perdão, como nos diz o livro do Êxodo 34,6-7: “O Senhor, Deus misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel, que conserva a misericórdia por mil gerações e perdoa culpas, rebeldias e pecados...” Por isso, é necessário que sejamos irrepreensíveis.
Jesus, como filho amado do Pai, compreendendo e vivendo a pertença plena a Deus, explica a santidade de seus seguidores.
A caridade fraterna, o amor aos inimigos devem ser as características de quem segue Jesus, o Cristo. No seguimento do Senhor, não cabem ódio, vinganças, egoísmo, injustiças, violências, guerras, comércio de armas, competições, incompreensões, divisões. Entretanto, no mundo, vemos acontecer tudo isso entre nações, grupos, pessoas. Até entre igrejas e dentro de igrejas existem diversos tipos de inimizades, competições, exploração de pobres e pequenos.
Muitos de nós agimos como se fôssemos deuses diante de nosso próximo. Rezamos ingenuamente sem pensar nas conseqüências: “perdoa-nos os pecados, pois também perdoamos a todo aquele que nos deve”. (Lc 11,14)
O sinal de que somos seguidores de Cristo crucificado e ressuscitado é o amor sem medidas:
“Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.” (Jo 13,34-35).
A medida de nosso amor para com o próximo é, pois, o amor que Cristo tem por nós, a ponto de entregar sua vida. Mais ainda, a medida é o amor que o Pai tem por Cristo: “Como meu Pai me ama, assim também eu vos amo”. (Jo 15,9) O amor ao próximo está indissoluvelmente ligado ao preceito a Deus.
Realizamos nossa vocação de sermos semelhantes ao nosso Deus, quando amamos todas as pessoas com o amor gratuito de Deus, sem busca de retribuição. Por esta razão, nosso empenho maior é amar os pobres, os estranhos, os indiferentes e, o mais difícil, amar os inimigos.
Ligando a Palavra com a ação eucarística
Como santuário de Deus, habitação do espírito, rompendo com ressentimentos diferenças e preconceitos, a assembleia litúrgica torna-se sacramento do amor de deus entre nós.
Num mundo de discriminação, ódio e violência, a mesa da ceia eucarística sinaliza profeticamente a reconciliação e a comunhão universal. Nela recebemos o Espírito de santidade que, com cristo, nos faz perfeita oferenda ao Pai, vida doada incondicionalmente para a salvação do mundo, cujo penhor recebemos neste sacramento, rezamos na oração pós-comunhão.
O pão partido e partilhado, participado na igualdade de irmãos, nos mantém no caminho da santidade e cultiva, em nós, a atitude fundamental de discípulos daquele que, na cruz, chegou à radicalidade do amor sem limites.
Sugestões para a celebração
1. Garantir desde o início da celebração um clima de festa pela acolhida alegra e amorosa dos irmãos, reunidos na santidade e na bondade de nosso Deus.
2. A proclamação das leituras, o canto do salmo como as orações, e gestos sejam realizados com atitude espiritual, condizente ao diálogo e ao encontro de alianças que, com Cristo, no Espírito de santidade, fazemos com o Pai, santo e justo.
3. O abraço da paz seja motivado, após a oração do Pai-nosso, no espírito do evangelho, com abertura aos que consideramos inimigos ou que, de alguma maneira, nos fazem sofrer.
4. Para o canto de comunhão, como ligação com a mesa da Palavra o Hinário 3, na p. 248-9, sugere: “Se amam somente quem ama a vocês “ ou “Se eu não tiver amor,” Hinário 33, p. 370.
Fonte: Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento – Natal – Tempo Comum – Dezembro 2013 / Janeiro 2014 – CNBB 2013/14 Ano A
Reflexão
O texto de hoje continua com as reinterpretações da Lei do Antigo Testamento que Jesus propõe no Sermão da Montanha. São apresentadas mais duas antíteses, com a visão do Mestre a respeito das leis já existentes. A lei do talião – “olho por olho” – propunha a regulamentação da vingança e da retaliação. Se respondermos à violência com violência, nunca resolveremos o problema. Para conter a violência descontrolada em que vivemos, há a tentação de adotar novamente a lei do talião; mata-se por qualquer motivo, a vingança está solta. Jesus supera essa lei com a proposta da não violência e do perdão. Por fim, o Mestre alarga o conceito sobre o próximo que precisa ser amado: trata-se não somente do membro da família, do vizinho ou do conterrâneo, mas também do estrangeiro e do inimigo. Portanto, o amor não deve excluir ninguém. Tudo isso para sermos “perfeitos como o Pai celeste é perfeito”. O limite é a perfeição do Pai do céu, sabendo que esta é a meta de um processo contínuo, que dura por toda a vida.
Oração
Ó Jesus, Irmão universal, tu nos orientas a não resistir de modo violento aos malfeitores deste mundo. Ao contrário, nos recomendas assumir atitudes não violentas. Ajuda-nos, Senhor, a conquistar o autodomínio e a serenidade, a fim de melhorar nossos relacionamentos e criar ambiente de paz. Amém.
(Dia a dia com o Evangelho 2020 - Pe. Luiz Miguel Duarte, ssp (dias de semana) Pe. Nilo Luza, ssp (domingos e solenidades))
Recadinho
O Pai do céu faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons e faz chover sobre os justos e sobre os injustos! - Você reza pelos que lhe fazem mal? - Consegue retribuir o mal com o bem? - Tente encontrar algo de positivo em quem lhe prejudica. - Já teve vontade de retribuir o mal com outro mal?
Padre Geraldo Rodrigues, C.Ss.R
Meditando o evangelho
PERFEITOS COMO O PAI CELESTE
O modelo de perfeição apresentado por Jesus a seus discípulos visava preservá-los da mediocridade em que viviam tantas pessoas religiosas da época. Satisfeitas consigo mesmas, julgavam ter alcançado toda a perfeição possível a um ser humano. Em geral, tais pessoas estão sempre a um passo da soberba e, se auto-comparando com as demais, julgam-se superioras a todas.
Tendo Deus como modelo de perfeição, o discípulo não é exortado a ser tornar um outro deus e sim a ter sempre diante de si as virtudes próprias de Deus, deixando-se guiar por elas. Com isso, estará em condições de cultivar ideais mais elevados, sem correr o risco de se tornar mesquinho. Por outro lado, haverá de cultivar sempre a humildade, ao tomar consciência do quanto está longe da perfeição divina. Deixar-se dominar pelo desânimo seria uma atitude inconveniente ao discípulo, uma vez que desconfia de sua capacidade pessoal de seguir adiante. Isto não corresponde ao desejo de Jesus.
A busca da perfeição, inspirada em Deus, acontece na obediência ao mandato de Jesus. Entretanto, ela será infrutífera se o discípulo pretender alcançá-la por própria iniciativa, excluindo qualquer ajuda.
A perfeição é uma ação de Deus no coração do discípulo. Quanto maior for sua docilidade, tanto mais o Espírito poderá conformá-lo como o modo de ser divino.
(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês)
Oração
Pai, cria em mim um coração dócil ao Espírito, modelando-o segundo o teu modo de ser, e coloca-me no caminho da verdadeira perfeição.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. Sedes Perfeitos como o Pai...
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)
A nossa equipe de Teólogos da comunidade, abriu o debate perguntando se esse pedido de Jesus, aos seus discípulos é possível de atender, e o Jucão, zelador da igreja, já foi logo dizendo que é impossível. A catequista Vera emendou “Se pensarmos na perfeição moral, é mesmo impossível”.
Dona Rosinha, que ornamenta a igreja, também deu a sua opinião, ela acha que Jesus não iria pedir algo que a gente não pudesse cumprir. Pronto! Com essas opiniões já podemos aprofundar a reflexão. A frase encontra-se ao final do evangelho, precedida do advérbio “portanto”, significando que ela fecha todos esses ensinamentos agrupados no evangelho, e que apresenta cada um deles, um amor mais aprimorado, que o homem ainda não conhecia e nem praticava.
O jeito de amar humano, que também tem seu valor, apresenta um pequeno problema: é limitado e finito, ama, mas impõe condições, ama, mas coloca medidas, ama, mas tem objeções, no fundo é um amor que sempre cobra e exige do outro....Não são assim certos amores, entre um homem e uma mulher? Não são assim certos amores de alguns namorados? Não são assim certos amores da vida em comunidade, na relação com as pessoas? Não são assim os amores do BBB, que manda para o “paredão” quem não merece ser amado? É muito doloroso admitir isto, mas mesmo na vida em comunidade, sempre esperamos que o irmão ou a irmã, nos dê motivos para que possamos amá-los.. Nosso amor, não só acaba, mas pode também virar ódio. Um bom e piedoso judeu, que cumpria toda a lei, amava desse jeito. Do mesmo modo, tem cristão dos nossos tempos, que acha que amar assim, já está bom demais, não vamos dizer que não é amor, mas é um amor “Meia Boca”, que não chega nem perto do que é o verdadeiro amor, que um dia brotou do coração de Deus e atingiu o coração do homem, através de Jesus. A experiência desse amor na vida do homem é sempre uma busca, um constante aprimoramento, sem dúvida que amamos, mas sempre de um jeito imperfeito, diante do Amor de Deus, experimentar o amor de Deus é colo chegar no horizonte, descobrimos que não chegamos e que o horizonte por nós vislumbrado, está mais longe...
Frases que marcam os limites do nosso amor ao próximo “Paciência tem limites”, “olha, desta vez perdôo, mas que isso nunca mais se repita”, “Sou cristão, mas não sou bobo”,“não levo desaforo para casa”, “Daqui para a frente, não respondo mais por mim”, Estão querendo me pegar para Cristo” “Sou muito bom, mas...não me contrarie”, “Você ainda não sabe do que sou capaz...” “ essa não dá prá engolir, vai ter troco”. Poderíamos citar uma centena de frases como esta, que dizemos no ambiente de trabalho, na escola, na política, na vida conjugal e familiar, e até na comunidade. São frases que falamos com raiva, exaltados, mas que mostram o quanto nosso amor é pequeno e limitado, perto do amor que Jesus nos propõe.
Um amor perfeito, que rompe com qualquer barreira, que ama quem nos magoa ou nos fere, um amor que dá, além do que o outro pede, um amor capaz de amar até quem nos odeia, de amar quem não merece o nosso amor e nem nunca vai merecê-lo. Talvez lá no fundo do nosso coração, relutemos em acatar esse ensinamento, que parece ser o mais difícil de Jesus, entretanto, não temos escolha, a nossa Identidade Cristã é esse jeito de amar, não há outro caminho, as pessoas buscam mil e uma justificativas para não ter que amar dessa maneira, porém, quando nos defrontamos com o Cristo na Cruz, nossos argumentos e justificativas para não amar, caem todos por terra, a vida toda de Jesus, seus gestos e palavras, as atitudes que tomou, até no derradeiro instante da sua morte na cruz, revela exatamente esse amor, que deve ser escrito com “A” maiúsculo.
Nossas liturgias pomposas, nossos louvores e atos de adoração a Deus, nossas orações e clamores, até mesmo em alta voz, em nada prova que somos cristãos, mas um pequenino gesto de amor, em nosso dia a dia, totalmente gratuito, incondicional, feito, quem sabe, a quem nem mereça, e nem vá ter como retribuí-lo, vale por mil pregações...
Dizia um irmãozinho de rua, visitado por alguns jovens que levavam refeição “Nunca acreditei em Jesus Cristo, agora acredito, não por que vocês me falaram dele, mas porque vocês conversaram comigo, e me deram atenção, valorizando-me como gente, saciando não só a minha fome de alimento material, mas a minha fome de afeto, atenção e amizade."
“Ah...então matamos a charada, a perfeição que Jesus nos exorta, para sermos iguais ao Pai do Céu, não é a perfeição moral, mas a perfeição do amor!” – exclamou eufórico Jucão, com o aval dos demais.
Exatamente, por isso o apóstolo Paulo escreveu em uma de suas cartas, que o amor é a plenitude de toda Lei, Concluída a reflexão, minha equipe se dispersou rapidamente. Jucão foi correndo pedir perdão á mulher que cuida da chave da igreja, porque andava furioso com ela, Dona Rosinha disse que ia visitar um neto que estava preso e que não via há 10 anos, porque não aprovava sua vida errada, Vera a Catequista, disse que iria juntar-se ao grupo que assiste os irmãozinhos de rua.
Quanto a mim, fiquei pensando nas motivações que tenho, para amar algumas pessoas, e desprezar outras, e no carro, indo para casa após a reflexão, balbuciei o canto do “Kirie”, clamando por misericórdia... chorando a dor do meu pecado.
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
2. Se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda - Mt 5,38-48
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por Côn. Celso Pedro da Silva, ‘A Bíblia dia a dia 2017’, Paulinas e disponibilizado no Portal Paulinas - http://comeceodiafeliz.com.br/evangelho)
A luz, que ao se manifestar ilumina todo o universo e faz sorrir os corações, é o amor. Para nós cristãos o amor é sempre, em primeiro lugar, o Espírito Santo de Deus. Depois, como expressão desse amor único, o amor é o que sentimos uns pelos outros. Deus é o amor com que amamos o nosso irmão, amor que foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Que este amor, que está em nós, se expanda sempre mais em conhecimento e em sensibilidade! Deus é amor, por isso o amor não se perde, apesar das aparências de fracasso que o acompanham. Aparências, porque, na realidade, o amor que começa em Deus termina em Deus e não se perde no meio do caminho. [...]
Fixemos nosso olhar em nosso Senhor Jesus Cristo. Somos dele e ele é de Deus. Não nos desviemos olhando para o que é fugidio, coisas e pessoas. Tudo é nosso, coisas e pessoas, vida e morte, presente e futuro, mas somos de Cristo e Cristo é de Deus. Centralizemos nossa atenção naquele que nos mantém em equilíbrio. É ele o absoluto de nossa vida. Ao absolutizar o que é relativo, perdemos o equilíbrio e caímos para um lado ou para outro. A perfeição do Pai não faz distinções. Paulo, Apolo e Cefas são de Cristo, e Cristo é de Deus.
Homilia, por Pe. Paulo Ricardo
HOMILIA
AMAR OS INIMIGOS
Jesus quer que vençamos o mal com o bem. Quer um amor traduzido em gestos concretos. É espontânea a pergunta: como é que Jesus deu um mandamento como este? A realidade é que Ele quer que a nossa conduta tenha como modelo a mesma de Deus, seu Pai, que “faz nascer o seu sol sobre maus e bons e faz cair a chuva sobre justos e injustos”. (Mt 5,45) É isto. Não estamos sozinhos no mundo: temos um Pai e devemos nos assemelhar a ele. Não só, mas Deus tem direito a esse nosso comportamento porque, enquanto nós éramos seus inimigos, estávamos ainda no mal, Ele foi o primeiro a nos amar (cf. 1Jo 4,19), mandando-nos o seu Filho, que morreu daquela maneira terrível por nós, cada um de nós.
Só pelo amor divino, podemos ser perfeitos como o Pai. Pois, é difícil viver este preceito: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem, para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus (…)” "Portanto,sede vós perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito.” Além de nos pedir para amar nossos inimigos, Jesus nos pede para que rezemos pelos que nos perseguem. Parece algo impossível, principalmente, quando observamos algumas famílias onde os pais, mães, filhos e irmãos se tratam violentamente, uma convivência difícil, acontecem muitos casos de assassinato dentro da família. Se isso acontece com as famílias, que naturalmente deveriam se amar, como fazer para amar o meu inimigo? Quem é meu inimigo? Aquela pessoa que se sente bem sente prazer ao me prejudicar. Aquela pessoa que é capaz de despertar em mim os sentimentos ruins como a mágoa, angústia, o desprezo, a ira...
“Amai os vossos inimigos”. Isto, sim, é revolucionário! Isto, sim, produz uma reviravolta no nosso modo de pensar e faz com que todos dêem uma guinada Porque, sejamos sinceros, algum inimigo… pequeno, ou mesmo grande, todos nós temos. Está ali do outro lado da porta do apartamento vizinho, naquela senhora tão antipática e intrigante, que procuro sempre evitar toda vez que está para entrar. Está naquele meu parente que trinta anos atrás agiu mal com meu pai. Senta-se atrás de você na escola e nunca, nunca mais você olhou para a sua cara desde que ele o acusou para o professor...
É aquela menina que você namorava e que depois o trocou por outro… É aquele comerciante que o enganou… São aqueles que, do ponto de vista político, não pensam como nós e por isso declaramos nossos inimigos. E hoje há quem vê o Estado como inimigo, e pratica violência contra pessoas que podem representá-lo. Assim como existem, e sempre existiram, pessoas que consideram inimigos os sacerdotes e odeiam a Igreja. Pois bem, todos esses e uma infinidade de outros, que chamamos inimigos, devem ser amados. Devem ser amados? Sim, devem ser amados! E não nos iludamos de que podemos resolver o problema simplesmente mudando o sentimento de ódio por outro mais benévolo. É preciso algo mais. Ouça o que diz Jesus: “Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam. Falai bem dos que falam mal de vós e orai por aqueles que vos caluniam”.
Somos humanos, imperfeitos e pecadores. Para alcançarmos a perfeição que Jesus nos pede, o amor deve prevalecer. Sabemos Deus não concorda com nossos erros e pecados, mas ele nos ama, e está sempre pronto a nos perdoar. É essa perfeição que Jesus quer que alcancemos, devemos e podemos agir como o Pai, e ser perfeitos como ele. Alcançaremos a perfeição amando nosso inimigo, orando por aqueles não desejam nosso bem, que nos perseguem. Sendo gentis, pacientes, não ser grosseiro, indiferente, frio, não deixando que pessoas de nossa convivência influenciem no nosso modo de agir, às vezes exigindo uma reação contra a quem nos prejudicou. Não é assim que deve agir um cristão. Jesus disse:... “Ele faz nascer o sol sobre os maus e bons e faz cair a chuva sobre os justos e injustos (...) se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis?” Devemos então amar sem distinção, para nos tornamos filhos do Pai do céu (v. 45).
Na cruz, Jesus pede ao Pai para que perdoe os seus perseguidores, os seus carrascos. Jesus perdoou aqueles que tiraram sua vida. Seremos perfeitos quando conseguirmos perdoar aqueles que tiram vidas, aqueles comentem violências terríveis contra inocentes, indefesos... Podemos começar rezando por eles. Pedir ao Espírito Santo que se faça presente em nossos corações, para que sejamos capazes de amar com o amor divino. Que sejamos capazes de fazer o bem a quem nos fez mal, de amar quem nos odeia, e perdoar aqueles que praticam o mal. No evangelho de hoje, Jesus nos ensina que pelo amor, pelo perdão, pela misericórdia, podemos viver em comunhão e fraternidade, contribuindo assim para um mundo melhor. “A cruz é, para os cristãos, um sinal evidente de que, de fato, é possível amar os próprios inimigos”
Espírito de perfeição dispõe meu coração a imitar o exemplo de Jesus que, na cruz, nos deu a maior prova de amor aos inimigos. Senhor ensina-nos a não amar somente os que são nossos, a não amar somente os que amamos. Ensina-nos a pensar: nos outros e a amar, em primeiro lugar, aqueles a quem ninguém ama.
Padre Bantu Mendonça Katchipwi Sayla
REFLEXÕES DE HOJE
23 DE FEVEREIRO-DOMINGO
HOMILIA DIÁRIA
Viva a santidade de Deus em sua vida!
Não tenha vergonha, receio, medo, não tenha outra meta na sua vida a não ser buscar a santidade, com todas as forças da sua alma, do seu coração e da sua existência!
”Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo” (Lv 19,2).
Todo bom filho deseja se parecer com o pai naquilo que este tem de melhor, ou procura, pelo menos, imitá-lo naquilo que ele tem de mais imitável, agradável. Nosso Pai é maravilhoso, perfeito, eterno, santo; e uma vez que o Nosso Deus é santo, a nossa obrigação também é sermos santos, imitarmos e vivermos a santidade de Deus em nossa vida.
O Evangelho de hoje está dizendo: ”Não faça como os antigos que tratavam tudo no olho por olho e dente por dente” (Mt 5, 38). O Senhor nos aconselha a fazer diferente: se alguém lhe dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda (cf. Mt 5, 39 ). Para um bom entendedor fica claro que a vingança não é de Deus, nós não devemos nos vingar pelo mal que as pessoas nos fazem. Nós não somos de tratar mal a quem nos trata mal, nós respondemos com a resposta de Deus para o mal que as pessoas nos fazem. Se nos fazem o mal, nós fazemos o bem a eles; se não nos cumprimentam, nos os cumprimentamos; se olham para nós com uma cara fechada, nós respondemos a eles com um sorriso singelo, discreto, mas verdadeiro.
Além do mais, o discípulo de Jesus não odeia a quem não o quer bem; ele ama o seu próximo, mas ama também os seus inimigos e reza por quem o persegue, ele quer bem a todos! Por isso, aquele que se faz discípulo de Jesus Cristo não cultiva qualquer espécie de mágoa ou quaisquer sentimentos negativos que nos levam a fazer distinção de pessoas. A alguns nós queremos bem, a outros nós não queremos tão bem assim ou até queremos mal. Contudo, alguém vai dizer assim: ”Nossa! Mas eu não tenho sangue de barata! Eu não tenho capacidade para querer fazer bem a quem me faz mal”.
É por isso que recebemos em nós o Sangue de Cristo, o Corpo d’Ele, para nos revestirmos d’Ele e aprendermos as Suas obras de amor e bondade. Não vale a pena retribuir com a mesma moeda, só quem perdoa o seu próximo, só quem sabe amar o seu inimigo, só quem sabe querer bem a quem lhe quer mal é quem se propõe a viver santidade com seriedade!
Que Deus abençoe você!
Padre Roger Araújo
Sacerdote da Comunidade Canção Nova, jornalista e colaborador do Portal Canção Nova.
Oração Final
Pai Santo, ajuda a tua Igreja, santa e pecadora, a perseverar no Caminho da conversão. Nós te pedimos, Pai amado, discernimento, força e coragem para testemunhar nas nossas relações com os companheiros de peregrinação, que Tu já habitas o nosso coração. Por Jesus, o Cristo, teu Filho e nosso Irmão, na unidade do Espírito Santo.
ORAÇÃO FINAL
Pai Santo, ajuda a tua Igreja, que é santa e pecadora, a perseverar no Caminho da conversão. Nós Te pedimos, amado Pai, discernimento, força e coragem para testemunhar nas nossas relações com os companheiros de peregrinação, que Tu habitas no nosso coração. Por Jesus, o Cristo, teu Filho e nosso Irmão, na unidade do Espírito Santo.