Lc 4,14-22a
Comentário do Evangelho
Quem é Jesus?
O nosso texto é conhecido como “discurso programático de Jesus”. Aqui começa, propriamente, o evangelho segundo Lucas (cf. At 10,37ss). Trata-se da primeira parte do relato evangélico (4,14–9,50), dominada pelo tema da identidade de Jesus e, mais propriamente, da afirmação de que ele é um verdadeiro profeta (cf. Lc 7,16.39). Esse discurso, atribuindo a Jesus a realização da profecia de Isaías (cf. Lc 4,21), oferece os critérios para, ao longo de todo o relato, reconhecer Jesus como verdadeiro profeta. Jesus é apresentado como um judeu piedoso que frequenta e ensina na sinagoga. O que importa, aqui, não é a leitura do trecho do livro do profeta Isaías, mas a interpretação que Jesus faz dela. Sua missão é apresentada em continuidade com a tradição profética. A unção messiânica de Jesus é conhecida do leitor pelo relato do Batismo (cf. Lc 3,21-22). Em Jesus, o Espírito é uma realidade tangível na medida em que, vencendo todo mal e suas manifestações, ele transforma a vida das pessoas e as faz sentir próximas do Deus da vida. Nesse tempo do relato, a expectativa dos que estavam na sinagoga pela explicação do trecho é seguida da observação de que as pessoas se maravilhavam pelo que ouviam, pois suas palavras transmitiam a sabedoria de Deus, um sopro que enchia a todos de graça.
Carlos Alberto Contieri, sj
Oração
Pai, que o programa de ação missionária de Jesus inspire o meu desejo de estar a serviço dos mais pobres, sendo para eles portador de alegria e esperança.
Vivendo a Palavra
Se a nossa existência – o jeito de nos relacionarmos com nós mesmos, com o outro, com a natureza e com o Criador – estiver conforme ao modelo de Jesus – e isto é o que tanto desejamos! – nós poderemos dizer com Ele: «O Espírito do Senhor está sobre mim.» E seremos, para os irmãos, fontes de Paz e de Esperança.
VIVENDO A PALAVRA
Se a nossa existência, isto é: o nosso jeito de relacionar com nós mesmos, com o outro, com a natureza e com o Criador, estiver conformada ao modelo de Jesus – e isto é o que tanto desejamos! – nós podemos dizer como Ele disse: «O Espírito do Senhor está sobre mim.» E seremos, para os irmãos, fontes de Paz, de Luz, de Amor e de Esperança.
VIVENDO A PALAVRA
«Hoje se cumpriu essa passagem da Escritura.» Até que ponto nós, discípulos missionários de Jesus, poderemos reproduzir em plenitude de consciência esta afirmação feita por Ele? Até que ponto nós nos deixamos impregnar pelo Espírito do Senhor que está sobre nós e nos unge para anunciar a Boa Notícia do Reino de Deus?
Reflexão
Jesus é enviado por Deus, ungido e consagrado pelo Espírito Santo para a missão evangelizadora, que implica não somente na salvação da alma, mas na libertação integral da pessoa humana. Isso significa para nós que a missão da Igreja, que é continuadora da missão do próprio Cristo, não pode ser reduzida à dimensão espiritual da pessoa humana, mas deve levar em conta a pessoa humana como um todo, considerando todas as dimensões da existência humana. Sendo assim, todos os problemas relacionados à existência humana são de competência da Igreja e objetos da ação evangelizadora.
Reflexão
A narrativa apresenta Jesus em situação favorável: “sua fama se espalhou por toda a região… era elogiado por todos”. Embora respeitado, Jesus não era ainda reconhecido por todos. Como parte da liturgia na sinagoga de Nazaré, Jesus assume para si as palavras do profeta Isaías: “O Espírito do Senhor está sobre mim…”. Declara-se ungido diretamente pelo Espírito Santo e faz publicamente sua opção pelos pobres. É o Messias. Traz esperança às pessoas exploradas e oprimidas, socorrendo-as com ações libertadoras. O “ano da graça do Senhor” faz referência ao ano jubilar que se celebrava a cada cinquenta anos. Nessa ocasião, os que tinham perdido sua propriedade e estavam mergulhados em dívidas podiam recuperar os direitos perdidos e recomeçar vida nova.
Oração
Ó Jesus Messias, com a força do Espírito, voltas a Nazaré e, na sinagoga, a partir do Livro Sagrado, te manifestas como aquele que vem realizar o que fora predito pelo profeta Isaías. És o libertador enviado por Deus para evangelizar e acudir toda classe de oprimidos e marginalizados. Amém.
(Dia a dia com o Evangelho 2020 - Pe. Luiz Miguel Duarte, ssp (dias de semana) Pe. Nilo Luza, ssp (domingos e solenidades))
Reflexão
Durante esta semana da Epifania, a Igreja nos propõe Evangelhos que procuram revelar a missão de Jesus. No texto de hoje, Jesus, guiado pelo Espírito, se dirige à sinagoga de Nazaré e inicia sua missão profética e libertadora, assumindo uma citação do profeta Isaías. Jesus veio para todos, mas de modo especial para os mais desprezados da sociedade: pobres, presos, cegos e oprimidos. São as categorias frágeis da sociedade. O anúncio messiânico da salvação que Jesus propõe não é apenas uma “salvação da alma”, mas uma salvação de todas as formas de escravidão, exploração e degradação. O Mestre veio para promover a libertação e a recuperação da dignidade de todo ser humano. Sempre que nos empenhamos nesse projeto de Jesus, revelamos o próprio Deus, pois é isso que ele quer para todos os seus filhos e filhas.
Oração
Ó Jesus Messias, com a força do Espírito, voltas a Nazaré e, na sinagoga, a partir do Livro Sagrado, te manifestas como aquele que vem realizar o que fora predito pelo profeta Isaías. És o libertador enviado por Deus para evangelizar e acudir toda classe de oprimidos e marginalizados. Amém.
(Dia a dia com o Evangelho 2021 - Pe. Luiz Miguel Duarte, ssp e Pe. Nilo Luza, ssp)
Reflexão
Jesus inaugura seu ministério público pela força do Espírito Santo. Embora Jesus comece a pregar na sua cidade natal, Nazaré, ele receberá uma resposta negativa, que o leva a dizer: “Nenhum profeta é aceito em sua pátria” (Lc 4,24). Deus, porém, pode transformar essa rejeição em bênção, abrindo o caminho da Boa-nova aos pagãos. Eis o movimento do Espírito Santo. O seu poder e dinamismo não podem ser acorrentados. Ele prepara o coração humano para receber a Palavra do Senhor. A pregação eficaz da Palavra de Deus requer a compreensão do papel e do poder do Espírito Santo. Somente ele pode mudar o coração e transformar a vida de uma pessoa. No Evangelho de Lucas, o Espírito Santo se manifesta na origem das ações de Jesus, como no episódio aqui narrado. Na sinagoga, casa de oração e catequese, Jesus faz a leitura do profeta Isaías. O texto desenha os traços do Messias, o Libertador, aquele que fará reviver todos os marginalizados da sociedade. Após a leitura, em atitude de quem ensina (senta-se), Jesus proclama solenemente: “Hoje se cumpriu essa passagem da Escritura”. Em outras palavras: “Eu sou o Messias anunciado pelo profeta”.
(Dia a dia com o Evangelho 2022)
Recadinho
Será que muitos podem ficar admirados com as palavras que saem de minha boca? - Mas isso não é o mais importante. Como é meu exemplo, meu modo de agir? - Peço sempre as luzes do Espírito Santo sobre mim? - Os cativos, os prisioneiros, têm que se libertar de que? - A missão que Deus lhe deu é difícil de ser cumprida? - Os pobres de hoje, mais que nunca, precisam do alimento espiritual. Mas... tais pobres muitas vezes são nossos ricos!
Padre Geraldo Rodrigues, C.Ss.R
Meditando o evangelho
UM PROGRAMA DE AÇÃO
Um culto na sinagoga da cidade onde fora educado ofereceu a Jesus a oportunidade de apresentar uma espécie de programa pelo qual pautaria sua ação missionária.
O ponto de partida foi um texto do Antigo Testamento. Desta forma, deixaria claro que sua ação se respaldava nas promessas feitas por Deus ao povo de Israel. Sua intenção era a de se manter fiel à tradição religiosa do povo, embora dando-lhe uma nova roupagem.
Tendo se servido de um oráculo profético, Jesus se incluía na lista dos grandes profetas do passado. Como aqueles, não cederia aos caprichos e às pressões dos adversários. Realizaria a sua missão, mesmo correndo o risco de perder a própria vida.
A referência à unção do Espírito do Senhor tornava evidente de onde iria haurir a força necessária para não esmorecer. Sob a proteção do Espírito, estaria em condições para realizar a tarefa que lhe cabia. Daí sua atitude humilde diante da sabedoria de suas palavras e do poder extraordinário manifestado por seus gestos poderosos.
Enfim, o texto profético serviu para indicar a linha de ação de Jesus. Tratava-se de colocar-se a serviço dos pobres e oprimidos, para restituir-lhes a vida e a alegria de viver, apresentando-se como sinal da misericórdia divina que consola os corações abatidos. Portanto, tudo quanto iria fazer teria como objetivo restaurar a humanidade, segundo o projeto original de Deus. Com a chegada de Jesus, “o ano da graça do Senhor” cumpria-se na história humana.
(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês)
Oração
Pai, que o programa de ação missionária de Jesus inspire o meu desejo de estar a serviço dos mais pobres, sendo para eles portador de alegria e esperança.
Meditando o evangelho
UNGIDO DO SENHOR
A profecia de Isaías, lida na sinagoga de Nazaré, pode ser tomada como o discurso programático das atividades de Jesus e como expressão da consciência que ele tinha da sua vocação e missão.
A evocação do Ungido do Senhor aponta para a origem de Jesus e de sua missão. Seu messianismo tinha origem no Pai, de quem provinha uma tarefa precisa, a ser realizada em favor da humanidade. Foi ele Pai quem o constituiu Messias e lhe conferiu poderes para fazer o Reino acontecer na história humana.
O elenco de atividades do Messias anunciado pelo profeta corresponde ao conjunto das ações de Jesus. Tudo quando fez, consistiu em reavivar a esperança no coração dos pobres. Estes eram as principais vítimas do anti-Reino, por seu sistema de exclusão e de opressão. Por isso, o senhorio de Deus, experimentado por Jesus em sua própria vida, deveria ser estendido, em primeiro lugar, aos pobres. Pela ação de Jesus, os feridos pela injustiça seriam curados; os prisioneiros do pecado e do egoísmo recuperariam a liberdade, convertendo-se ao amor. A cegueira, que impede as pessoas de descobrirem os caminhos de Deus, seria superada. Aos massacrados pela opressão, seria proclamada a libertação. Enfim, para todos, seria oferecida a possibilidade de restaurar sua amizade com Deus. A atividade de Jesus, portanto, foi a realização das antigas profecias.
(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês)
Oração
Senhor Jesus, que eu seja beneficiado por sua ação messiânica, e que o senhorio de Deus seja restaurado no meu coração.
COMENTÁRIO DO EVANGELHO
1. Os olhos de todos, na sinagoga, estavam fixos nele - Lc 4,14-22a
Tudo o que estamos vendo de Jesus no Evangelho de cada dia desta semana, entre a Epifania e o Batismo, está se realizando hoje. Tudo o que aconteceu ontem, como manifestação do mistério da salvação, torna-se presente hoje pela força atuante do Espírito Santo de Deus. “Hoje”, disse Jesus na sinagoga de Nazaré, “se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”. Ouviram de Isaías: “O Espírito do Senhor está sobre mim”, a fim de nos levar aos pobres, aos presos, aos cegos, aos oprimidos, a todos que estão precisando ouvir a proclamação do ano da Graça do Senhor. O Espírito do Senhor está sobre todos nós, graças à obra redentora de Cristo, para darmos uma boa notícia a quem precisa. Não seria bom dar e receber sempre uma boa notícia, que alegre o coração entristecido?
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. A PALAVRA ENCARNADA
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)
Ao visitar Nazaré, cidade onde havia se criado, Jesus foi participar de uma celebração na sua comunidade, onde sempre fazia uma leitura e depois ajudava o povo a refletir, como fazem hoje nossos ministros leigos, que celebram a Palavra.
Podemos até imaginar a alegria do chefe da sinagoga quando viu Jesus chegar, ele era muito querido na comunidade, não só por ser uma pessoa simples, mas porque falava muito bem e demonstrava uma sabedoria superior aos sacerdotes, escribas e fariseus, sua catequese era bem prática e logo cativava. Por isso, ao vê-lo entrar na comunidade, o chefe da sinagoga foi logo pedindo para que ele fizesse uma leitura, porque parece que, como acontece em nossas comunidades, naquele dia o leitor escalado não apareceu.
Jesus escolheu o livro do profeta Isaias que era o seu preferido, porque já o havia lido várias vezes e tinha a nítida impressão de que o texto falava dele.
Conforme Lucas que escreveu este evangelho de maneira ordenada e após muito estudo, por este tempo Jesus estava iniciando o seu ministério, já havia sido batizado e enfrentara com muita coragem o diabo, que no deserto tentou desviá-lo da sua missão.
A verdade é que Jesus tinha uma grande vontade de sair pelo mundo, ajudando as pessoas e falando de uma coisa que sentia em seu coração, foi com certeza por isso que naquele dia voltou à comunidade, e quando já no ambão, começou a ler o profeta Isaías, na passagem onde diz “O Espírito do senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para levar a Boa notícia aos pobres, anunciar a libertação aos cativos e aos cegos e anunciar um ano de graças do Senhor”, seu coração começou a bater mais forte, percebeu que Deus não apenas falava para ele, mas falava dele, da sua vida, da sua história e da sua missão. Ele já havia sentido muito forte a presença desse Espírito de Deus no dia do seu batismo, e no confronto com o diabo no deserto, sentiu toda a força que o espírito lhe dava.
Nessa celebração as coisas ficaram muitas claras para ele: a libertação com que tanto sonhava junto com seu povo, ia muito além de uma libertação política, a palavra tinha a força de libertar o homem também e principalmente do mal que havia no coração, e que impedia de amar a Deus e aos irmãos. A opressão e a escravidão do seu povo era consequência de todo esse mal que havia dentro de cada homem, não só dos opressores. Precisava dizer isso aos pobres, aos cegos e oprimidos, que um tempo novo estava começando, com essa verdade que o Pai revelara através do profeta.
Todos olhavam fixamente para ele à espera da homilia, o mesmo espírito que o havia ungido acabara de transformá-lo na palavra Viva de Deus e por isso, sentando-se como faziam os grandes Mestres, disse: “Hoje se cumpriu essa passagem que acabastes de ouvir”
Também nós cristãos frequentamos a celebração da palavra em nossas comunidades onde as leituras, mais do que falar para nós falam de nós, pois a história de Jesus é a nossa história, também nós recebemos a graça de Deus em nosso batismo, também nós recebemos a unção do Espírito Santo, não para termos ataques de histeria e entrarmos em transe, mas para termos a mesma coragem de Jesus para cumprir a nossa missão, anunciar a boa notícia aos pobres, oferecer a palavra libertadora a quem está cego e cativo, e falar de um tempo novo onde Deus manifesta todo o seu amor ao homem que o busca.
Para que haja essa interação entre nós e a palavra, é necessário que nossas celebrações sejam bem participadas e preparadas, de maneira bem organizada pensando em todos os detalhes e aí podemos apreender com o escriba Esdras que na primeira leitura nos oferece um ótimo roteiro para celebração da palavra de Deus, onde a assembleia, tocada pela palavra, corresponde com gestos que manifestam o que está no coração, diferente da liturgia do “oba-oba”, muito usada para se atrair multidões, e que ás vezes, com tantos gestos e movimentos, acaba ficando vazia justamente por não ser uma manifestação espontânea do que se tem no coração tocado pela palavra de Deus.
2. Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir - Lc 4,14-22a
Lucas nos conta que na sinagoga de Nazaré Jesus fez a leitura de Isaías e, quando terminou, todos os olhos estavam fixos nele. Ouviram com os ouvidos, mas queriam ver com os olhos. A resposta não se deixou esperar: “Hoje se realiza o que vocês acabaram de ouvir”. O Cristo vem decidido a tornar realidade a profecia de Isaías. Toda a Escritura se realiza nele, e ele realiza toda a Escritura. Hoje, a Boa Notícia é dada a quem precisa ouvi-la; caso contrário, nem será notícia nem será boa! A Boa Notícia alegra o coração. Nesta semana, os quatro Evangelistas nos ajudam a ver o Menino que os Magos visitaram e a perceber quem ele é. Começamos com Mateus, depois lemos Marcos, hoje estamos com Lucas e vamos terminar a semana com João. Uma seleção de textos para a Epifania do amor de Deus.
Liturgia comentada
... aos pobres me enviou! (Lc 4, 14-22a)
Sim, somos todos os pobres. Acompanhei várias pessoas ricas que viviam em lamentável miséria humana. Nenhum de nós se basta. Ninguém pode dispensar o amor e os cuidados de Deus.
Mas existem aqueles pobres bem concretos que a sociedade do capital e do lucro, da eficiência e da produtividade resolveu simplesmente descartar. Existem em nosso tempo e já existiam no tempo de Jesus: “Pobres, sempre os tereis”. (Mt 26,11)
Uma Igreja fiel seguirá as pegadas do Mestre, que repete seu bordão: “O Senhor me enviou aos pobres!” (Lc 4,18.) Em sua recente Exortação apostólica, o Papa Francisco dedicou toda uma seção a este tema, com o subtítulo “O lugar privilegiado dos pobres no povo de Deus”. Ali, o Papa escreve:
“No coração de Deus, ocupam lugar preferencial os pobres, tanto que até Ele mesmo ‘Se fez pobre’ (2Cor 8,9). Todo o caminho da nossa redenção está assinalado pelos pobres. Esta salvação veio a nós, através do ‘sim’ duma jovem humilde, duma pequena povoação perdida na periferia dum grande império. O Salvador nasceu num presépio, entre animais, como sucedia com os filhos dos mais pobres.” (EG, 197)
A Igreja não pode ignorar esta realidade. Francisco prossegue: “Para a Igreja, a opção pelos pobres é mais uma categoria teológica que cultural, sociológica, política ou filosófica. Deus ‘manifesta a sua misericórdia antes de mais’ a eles. Esta preferência divina tem consequências na vida de fé de todos os cristãos, chamados a possuírem ‘os mesmos sentimentos que estão em Cristo Jesus’ (Fl 2,5). Inspirada por tal preferência, a Igreja fez uma opção pelos pobres, entendida como uma ‘forma especial de primado na prática da caridade cristã, testemunhada por toda a Tradição da Igreja’. Como ensinava Bento XVI, esta opção ‘está implícita na fé cristológica naquele Deus que Se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com sua pobreza’. Por isso, desejo uma Igreja pobre para os pobres. Estes têm muito para nos ensinar.” (EG, 198)
Continuaremos surdos?
Orai sem cessar: “Este pobre pediu socorro e o Senhor o ouviu.” (Sl 34,6)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
santini@novaalianca.com.br
HOMILIA
AÇÃO MISSIONÁRIA DE JESUS
O Evangelho de hoje nos fala do início da vida pública de Jesus, quando Ele começou a pregar nas sinagogas da região da Galiléia, e particularmente em Nazaré, cidade onde Ele foi criado. Observe que o Evangelho já começa dizendo que “Jesus voltou para a Galiléia”. O que significa dizer que Ele estava em outro lugar. Particularmente, eu não duvido que Jesus tenha viajado bastante, e conhecido vários lugares, culturas e pessoas diferentes. Acredito que em sua vida terrena, nos anos não-narrados pelos evangelistas, Ele tenha aprendido muito mais do que ensinou. Afinal, para falar tão bem como Ele falava, era necessário conhecer tudo sobre o Reino dos Céus, sobre o Deus Pai, e sobre o ser humano em si, seus sentimentos, suas limitações, suas imperfeições. Outro ponto que torna Jesus tão especial como pregador é que Ele foi o primeiro profeta a trazer a imagem do Deus Pai, e não daquele Deus vingativo, que pune o pecador e a sua descendência com doenças e desventuras. Você já assistiu alguma pregação em que a pessoa só falava nos pecados, castigos, no inferno, no inimigo e de coisas ruins? Certamente deve ter saído desta palestra bem “pesado”… Com medo de fazer qualquer coisa que Deus desaprovasse…
Nestas primeiras pregações de Jesus, quando Ele ainda nem tinha discípulos, Ele deve ter falado muito sobre a verdadeira felicidade, que consiste em fazer a vontade do Pai, mas não por ser obrigado a fazê-la, e sim por se sentir bem em fazê-la. Por que as pessoas gostavam tanto de ouvi-lo falar? Provavelmente porque Ele ensinava as pessoas a serem felizes! Não ficava impondo vários “nãos”, mas falava de Amor, e quem ama, tudo pode. Jesus identifica-se com esta missão. Tudo poder para que o homem viva e viva para sempre. Outro pormenor de Lucas é sua sensibilidade ao escândalo da divisão da sociedade em ricos e pobres. Ele realça como Jesus vem ao encontro dos pobres para resgatar-lhes a vida e a dignidade. A Boa-Nova é a chegada do Reino de Justiça, com a libertação dos pobres oprimidos.
Pai, que o programa de ação missionária de Jesus inspire o meu desejo de estar a serviço dos mais pobres, sendo para eles portador de alegria e esperança.
Padre Bantu Mendonça Katchipwi Sayla
REFLEXÕES DE HOJE
QUINTA
HOMÍLIA DIÁRIA
O amor é um dom que vem de Deus!
O amor de Deus é concreto em nós quando nos amamos uns aos outros!
”Se alguém disser: ‘Amo a Deus’, mas entretanto odeia o seu irmão, é um mentiroso; pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê” (1 Jo 4, 20).
Hoje queria que nós refletíssemos com muita propriedade, com muita seriedade, sobre aquilo que a Primeira Carta de João, a primeira leitura da Missa de hoje, nos diz. João é o apóstolo do amor, o discípulo do amor, o evangelista do amor. Ele nos aponta o amor como o sentido pleno do nosso encontro com Deus, é ele quem traz a definição mais plena de quem é Deus.
Deus é amor! E quem ama permanece em Deus e Deus permanece nele. Veja que não existe nenhum segredo ou nenhuma fórmula mágica para as pessoas estarem na presença de Deus Pai. Nós vivemos plenamente no Senhor quando sabemos viver o amor entre nós. E nós corremos um sério perigo, um sério risco em nossa vida, porque talvez seja mais fácil amar a Deus, porque Ele é Alguém a quem não vemos, e parece que Ele é uma pessoa que está a serviço de nós, das nossas carências, das nossas fraquezas, dos nossos gostos e assim por diante. Muitas vezes, nós queremos transformar Deus em alguém guiado por nós em vez de sermos guiados por Ele. Nós queremos que Deus faça a “nossa” vontade, satisfaça os nossos gostos e conduza a vida conforme o nosso bel-prazer e conforme as nossas necessidades.
Deus é muito bom, Ele nos ama, nos espera “abaixar a bola”, tomar consciência de quem somos, de que Ele é Deus e de que nós somos criaturas, para que a Sua Palavra, o Seu amor e o Seu Espírito Santo possam nos conduzir. A primeira coisa a refletir: não existe esta história de amar a Deus, rezar o dia inteiro, passar momentos ou noites diante do sacrário, se nós não nos comprometermos a nos amar uns aos outros!
É muito fácil amar a Deus a quem ninguém vê, sabemos que Ele existe, O amamos; mas ninguém jamais viu a Deus a não ser Jesus, que no-lo revelou. O amor do Altíssimo é concreto em nós quando nos amamos uns aos outros!
Então se queremos que o amor de Deus seja pleno em nós, amemos nossos irmãos, porque, se amo ao Senhor, mas nutro ódio por meu próximo, por qualquer pessoa, mostro a mim mesmo que meu amor é um falso amor, é um amor enganoso e mentiroso. Um amor pleno para Deus não tem lugar para ódio.
Nós não somos obrigados a gostar de todos e a nos relacionar bem com todos, porque existem pessoas que passam por nossas vidas e deixam marcas negativas. Nós podemos até não gostar deste ou daquele, mas não podemos odiar ninguém. Onde cresce o ódio desaparece o amor de Deus! Que nós sejamos curados de todas as marcas que o ódio possa ter deixado em nosso coração!
Que Deus abençoe você!
Padre Roger Araújo
Sacerdote da Comunidade Canção Nova, jornalista e colaborador d Portal Canção Nova.
HOMÍLIA DIÁRIA
Amemos os nossos irmãos
“Se alguém disser: ‘Amo a Deus’, mas entretanto odeia o seu irmão, é um mentiroso; pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê” (1Jo 4,20).
Eu sei que não é muito difícil amar a Deus, porque esse ser que nos criou à Sua imagem e semelhança é silencioso. Encontramos Deus na contemplação, e, por não buscarmos uma contemplação e uma meditação tão profunda, até nos esquivamos de Deus em muitas coisas, então, não vivemos uma experiência de Deus mística e profunda.
Deus é procurado para atender as nossas necessidades, o que queremos e precisamos quando, na verdade, precisamos procurá-Lo para sermos transformados n’Ele e na imagem d’Ele.
A primeira coisa que Deus faz é infundir o Seu amor em nós. O Seu amor em nós nos plenifica e nos torna semelhantes a Ele. Não é quando falamos d’Ele, quando nos dirigimos a Ele, mas é quando o amor d’Ele está em nós; é quando as pessoas veem saindo de nós um amor puro, verdadeiro e concreto, porque o que tem saído de nós até em demasia são os nossos rancores, ressentimentos, mágoas transformadas, muitas vezes, em ódio.
Que Deus nos ensine a amar, porque, amando os irmãos estaremos amando a Deus de verdade
Infelizmente o ódio está presente nas fileiras do cristianismo, nas fileiras dos seguidores de Jesus. Há muitas pessoas semeando ódio, discórdia, colando-se umas contra as outras em nome de Jesus.
Não sei a qual Jesus elas seguem, qual Deus elas pregam, nem perco tempo para julgar esse ou aquele, mas quando vejo alguém vir falar de Deus bonito e, em seguida, já falar mal de outra pessoa; quando vejo as nossas redes sociais onde proliferam tantos pensamentos e sentimentos, pessoas que estão lá para semear a discórdia, eu já ignoro.
Ninguém pode semear a Deus e semear a discórdia, ninguém pode semear a Deus e semear ódio. Ninguém pode semear a Palavra de Deus e se colocar contra os seus irmãos.
Podemos ter divergências, pensamentos diferentes, podemos até nos decepcionar e nos magoar. Paulo se desentendeu com Pedro, tantos durante o seguimento de Cristo se desentendem, mas nada justifica odiar.
Como vamos dizer que amamos um Deus a quem nem vemos? Porque não vemos a Deus, e quem diz que O vê está se enganando e querendo enganar os outros. Como vamos amar a Deus que não vemos, se não conseguimos amar o irmão que está à nossa frente? Às vezes, não amamos a pessoa dentro da nossa própria casa, na nossa própria convivência. Não conseguimos amar o nosso irmão de Igreja, irmão de fé.
Não vamos para a Igreja impor o que nós pensamos ou achamos. Só vamos para a Igreja para nos amarmos, mas quando não conseguimos amar porque achamos que os outros são um problema, resolvemos nos afastar. Isso acontece também com a família, quando não conseguimos amar dentro da família e resolvemos nos afastar. Vivemos sendo aquela pessoa que só se afasta, que vai criando dentro de si todos aqueles sentimentos que precisam ser purificados pelo amor de Deus, mas nos deixamos ser contaminados pelos sentimentos negativos mundanos e, sobretudo, sentimentos de ódio.
Que Deus nos ensine a amar, porque, amando os irmãos estaremos amando a Deus de verdade.
Deus abençoe você!
Padre Roger Araújo
Sacerdote da Comunidade Canção Nova, jornalista e colaborador do Portal Canção Nova.
HOMÍLIA DIÁRIA
Tomemos posse da graça que paira sobre nós
“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor” (Lucas 4,18-19).
Jesus, entrando na sinagoga, abre o Livro do profeta Isaías e toma posse dessa Palavra. A Palavra de tantos anos atrás, proclamada sobre Isaías, torna-se, agora, o lema da vida de Jesus. É Jesus quem toma posse da Palavra, e esta está dizendo que o Espírito do Senhor está sobre Jesus, porque Ele foi consagrado com a unção para anunciar aos pobres a libertação e a salvação.
Contemplemos, hoje, a unção de Jesus, o enviado de Deus, aquele que veio para ser o Salvador, pois é sobre Ele que paira a unção da graça, é sobre Ele que paira o Espírito do Senhor. E Jesus age movido e direcionado pelo Espírito, e toma posse do Espírito na sua vida, de modo que o Paráclito conduz Jesus, age n’Ele, por Ele e através d’Ele para que a graça de Deus esteja atuando.
Veja a consequência daquilo que é o ministério de Jesus. Vemos que a Palavra de Deus chega aos corações, e a Palavra anunciada e proclamada com a unção de Deus produz os Seus frutos. A Palavra anunciada com a unção de Deus produz os frutos de cura, de libertação e de restauração.
Não basta proclamar o Reino de Deus, é preciso proclamá-lo com a unção de Deus, com a Sua graça e direção
A Palavra anunciada liberta o nosso coração do poder do mal. Não basta anunciar a Palavra, é preciso anunciá-la com a unção; não basta proclamar o Reino de Deus, é preciso proclamá-lo com a unção de Deus, com a Sua graça e direção. É preciso ser movido, guiado e conduzido pelo Espírito como Jesus se deixou ser conduzido por Ele.
Não negue a unção nem a graça, pelo contrário, tome posse da graça e da unção de Deus que paira sobre nós. É aquela unção que recebemos de peito aberto no dia do nosso batismo. Ali não foi um ritual mágico, foi um ritual da graça. E como faço questão de fazer esse rito cada vez com mais intensidade! No peito de cada criança que se abre, coloco o óleo da unção.
Você é um ungido de Deus, tome posse da unção, da graça e do espírito que está sobre você. Proclamemos, anunciemos e levemos o Reino de Deus aos corações.
Deus abençoe você!
Padre Roger Araújo
Sacerdote da Comunidade Canção Nova, jornalista e colaborador do Portal Canção Nova.
Oração Final
Pai Santo, nós almejamos seguir o exemplo de Jesus de Nazaré e, como Ele, vivermos mergulhados no teu Amor. Dá-nos, Pai querido, silêncio interior para ouvir Tua Palavra, abertura para compreendê-la e coragem para segui-la, junto ao mesmo Cristo Jesus, teu Filho e nosso Irmão, que contigo reina na unidade do Espírito Santo.
ORAÇÃO FINAL
Pai Santo, nós desejamos seguir o exemplo de Jesus de Nazaré e, como Ele, viver mergulhados no teu Amor. Dá-nos, querido Pai, silêncio interior para ouvir a tua Palavra, sabedoria para compreendê-La e coragem para segui-La, unidos ao mesmo Cristo Jesus, teu Filho e nosso Irmão, que contigo reina na unidade do Espírito Santo.
ORAÇÃO FINAL
Pai querido, que és a nossa Fonte de Paz e de Amor, inspira-nos para que também nós nos admiremos com ‘as palavras cheias de encanto que saíam da boca de Jesus’. E, mais do que isto, que O sigamos como Caminho, Verdade e Vida, testemunhando a Presença do teu Reino de Amor em nós e no nosso meio. Pelo mesmo Jesus, o Cristo teu Filho e nosso Irmão, na unidade do Espírito Santo.