ANO C
Mc 9,2-13
Comentário do Evangelho
O sofrimento e a morte são passageiros
A visão da Transfiguração acontece quando Jesus e seus discípulos se dirigem a Jerusalém. Jesus já lhes falara sobre as provações por que passaria naquele centro religioso e político do judaísmo. Ele procurava esclarecer os discípulos que nutriam a falsa esperança, herdada da tradição messiânica do judaísmo, de que Jesus poderia ser um líder restaurador da glória e do poder de Israel. A Transfiguração revela a dimensão gloriosa da humanidade de Jesus, assumida pelo Pai. O sofrimento e a morte são passageiros. Os discípulos não o entendem logo. Após a crucifixão é que perceberão o sentido da permanência de Jesus entre eles.
José Raimundo Oliva
Oração
Senhor Jesus, revela-me, sempre mais, tua verdade profunda, para que eu possa compreender a grandeza do amor que manifestaste na cruz.
Vivendo a Palavra
Propondo permanecer na montanha e ali construir três tendas, Pedro revela que ainda não compreendera que o Reino do Pai não permite privilégios. Ser discípulo é participar da glória de Jesus, mas é também carregar a sua cruz, defendendo a vida. Não é possível acomodar-se no alto da montanha.
VIVENDO A PALAVRA
Moisés e Elias dialogam com Jesus, mostrando que o Mestre Galileu tem o poder de interpretar a Lei e os Profetas – que são a síntese do Primeiro Testamento. Mais do que interpretar, Jesus viveu plenamente conforme a Vontade do Pai, deixando para nós o exemplo de relações fraternas, que vai muito além da letra da Lei: atinge o seu âmago e cumpre o seu espírito.
Reflexão
A transfiguração nos mostra que Jesus, verdadeiro homem, vive todas as dimensões da existência humana, ou seja, da glória até o sofrimento e a morte. No alto do Monte Tabor, a sua glória torna-se manifesta, porém Jesus está diante de Moisés e Elias, ou seja, diante de todas as profecias que foram feitas em relação a ele, principalmente as que se referem à sua morte e ressurreição. E Jesus nos mostra que a verdadeira realização humana encontra-se em fazer a vontade de Deus, ou seja, amar até o fim. A morte de cruz foi colocada pelos homens como condição para que Jesus amasse até o fim, e Jesus não fugiu do seu compromisso, nos mostrando que é perfeitamente possível cumprir a vontade do Pai até o fim.
Reflexão
O primeiro anúncio da paixão e morte de Jesus parece ter posto em crise seus discípulos. Por isso, Jesus quer mostrar-lhes que a vida dele não será um fracasso, mas terá um fim vitorioso. A alta montanha simboliza o lugar da manifestação divina. Jesus para lá se dirige com os três mais representativos entre os apóstolos e se transfigura diante deles. Dois representantes de todo o Antigo Testamento (Moisés, a Lei; Elias, os profetas) conversam, não com os apóstolos, mas com Jesus: o Antigo Testamento não tem mensagem direta aos cristãos; ela deve passar pelo filtro (interpretação) de Jesus. A nuvem é símbolo da presença de Deus. De fato, da nuvem é que vem a voz: “Este é o meu Filho amado: escutai-o”. Moisés e Elias desaparecem, os apóstolos ficam apenas com Jesus, o único a quem devem ouvir e seguir.
(Dia a dia com o Evangelho 2019 – Pe. Luiz Miguel Duarte, ssp)
Reflexão
Jesus decide tomar três discípulos e subir a montanha. Lá acontece algo extraordinário: transfigura-se diante deles. Com essa cena, Jesus manifesta-se na plenitude da sua condição humano-divina. Em Jesus, Deus revela sua glória e seu poder salvador. Pedro gostou do que estava acontecendo e pede para perpetuar a permanência em cima da montanha: “é bom estarmos aqui!” Nessa cena, os discípulos descobrem a importância da contemplação, a qual deveria levar a uma vivência mais fraterna e solidária. Símbolo da presença divina, a nuvem anuncia: este é meu filho amado, escutem-no. A transfiguração é uma exortação para que escutemos Jesus e sigamos seus ensinamentos, que estão sempre no sentido de defesa da vida. Como seria diferente a realidade se nos deixássemos conduzir pelas suas palavras, as quais apontam para as realidades do Reino de Deus.
(Dia a dia com o Evangelho 2022)
Meditando o evangelho
O FILHO GLORIOSO
O prenúncio da paixão, feito por Jesus, deixou confuso o coração dos discípulos. Não conseguiam ligar a perspectiva de sofrimento e morte ao ideal de Messias exaltado que aguardavam. Sem dúvida, uma ponta de suspeita deve ter tomado conta deles: “será que Jesus é mesmo o Messias esperado?”.
A transfiguração mostra a outra face da moeda: o aspecto glorioso de Jesus. Portanto, apresenta-se aos discípulos o desafio de combinar na pessoa do Mestre as duas dimensões. Sua existência era feita de sofrimento e glória, paixão e exaltação. Não dava para fixar-se num só aspecto.
A glória de Jesus manifestava-se por meio dos diversos elementos da cena da transfiguração: a luminosidade resplandecente, as vestes incomparavelmente brancas, a nuvem que envolveu a todos, a presença de Moisés e Elias. Sobretudo, a voz celeste não deixava dúvidas sobre a identidade de Jesus: ele era o Filho amado de Deus, seu maior título de glória.
Apesar de ser filho glorioso de Deus Pai, Jesus não estaria isento de passar pela provação da cruz. A dificuldade de fazer os discípulos entenderem esta realidade em nada alterou o projeto do Mestre. Só depois da Ressurreição é que conseguiriam compreender o fato de brilhar a glória na vida de um Crucificado por fidelidade a Deus.
(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês)
Oração
Pai, faze-me contemplar o brilho de tua glória em cada discípulo de teu Filho que se entrega ao serviço do Reino, com total generosidade, mesmo devendo enfrentar a morte.
Meditando o evangelho
CONTEMPLANDO O RESSUSCITADO
A transfiguração de Jesus, no topo de um monte, prefigura a Ressurreição. Os discípulos escolhidos têm a possibilidade de contemplá-lo na condição de Ressuscitado. Todos os elementos da cena apontam para isto. As vestes resplandecentes, absolutamente brancas, lembram o mundo divino, ao qual Jesus pertence, e evocam alegria e vitória. A presença de Elias e Moisés indica ser Jesus o enviado definitivo do Pai, e também, o esperado na consumação dos tempos.
A reação de Pedro é característica de quem faz uma experiência do sobrenatural: querer perpetuar um momento privilegiado de contato com a divindade.
A intervenção do Pai, cuja voz faz-se ouvir do meio de uma nuvem, não dá margem para dúvidas. Efetivamente, os discípulos têm diante de si um ser celestial, Filho amado de Deus, a quem devem dar toda atenção. Exatamente, como poderão constatar após a Ressurreição.
Por conseguinte, o Jesus, que caminhará para a cruz, não será vítima de uma fatalidade histórica, nem um fracassado que não conseguiu impor o seu projeto. A transfiguração revela sua identidade de Filho amado do Pai, ao qual é absolutamente fiel. A ressurreição deixará patente esse amor. Após a morte ignominiosa de Jesus, na cruz, o Pai exaltará o Filho, ressuscitando-o para a gloriosa imortalidade. Aí a transfiguração não terá fim. E Jesus será glorioso para sempre!
(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês)
Prece
Espírito de glória, que eu saiba reconhecer, no Jesus transfigurado, o Filho ressuscitado pelo Pai, cheio de glória e majestade.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "Jesus, a realização plena do Ser Humano"
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)
A frase de Pedro "Mestre, é bom estarmos aqui" é a expressão de quem se encontrou na vida, de quem descobriu o sentido de ser homem e realizar-se em toda a sua plenitude conforme os desígnios do Criador. É como se Pedro dissesse aos demais e as nossas comunidades "Olhem, é isso que nós somos, homens e mulheres transfigurados, luzentes, mergulhados no mistério de Deus, representado pela nuvem que os envolveu.
Descobrir quem somos, de onde viemos e para onde vamos, que a nossa origem é Deus, que o nosso presente é Deus e que para Deus estamos voltando na caminhada desta vida, é algo ao mesmo tempo reconfortante, mas também que inspira medo.
E temos medo exatamente porque, diante da grandiosidade do ser humano, manifestada na Transfiguração do Senhor, nos deparamos com a nossa fragilidade humana e surgem então os questionamentos: Será que vamos conseguir? Será que vamos sempre tomar a decisão certa e não no desviaremos para outro caminho? Será que a nossa vida não termina mesmo com a morte? O simples fato daquilo que somos estar oculto na pós-morte, já nos assusta...
JESUS o Filho de Deus tem essa consciência de quem ele é, é sobre isso que gira a conversa com Moisés e Elias, Homens de Deus que também esperam em Cristo a grande e final transformação de suas vidas, cujo sentido está mergulhado no mistério de CRISTO. Já vi interpretação equivocada dessa passagem, onde Moisés e Elias parecem dizer a Jesus “Olha, tenha coragem, nós conseguimos e você também conseguirá". Que piada! Jesus é quem vai abrir as portas da copiosa redenção para toda humanidade, inclusive para os Santos e Santas do Antigo Testamento, e não o contrário.
A Transfiguração de Jesus mostra onde iremos chegar e qual o caminho a ser percorrido. A voz do Pai é determinante para isso "Este é o meu Filho muito amado, ouvi-o". Quem ouve a Jesus e segue seus ensinamentos, torna-se também Filho amado e querido do PAI, fazendo na comunidade, o mesmo caminho da ascese que os discípulos fizeram com Jesus, estamos subindo e lá em cima vamos encontrar a nossa Glória que está em Cristo e que é Cristo, a diferença é que, tendo enfim cumprido a nossa missão, não precisaremos descer de volta e nem precisaremos mais guardar segredo de quem somos e de quem é Jesus, podemos armar nossas tendas e por lá permanecer para sempre, mergulhados na Luz da sua Glória.
O alpinista, antes de subir uma alta montanha, faz treinamento em uma de menor porte, nossos exercícios dessa ascese nós fazemos sempre no sétimo dia da semana que é o Domingo, Dia do Senhor, quando em nossas comunidades vamos ao acostumando a contemplar a Glória do Cristo presente, que um dia será definitiva. Amém.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. O AMOR QUE TRANSFIGURA...
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)
Tivemos um jovem em nosso grupo, que acabou se tornando médico, recordo-me que após a formatura, a sua turma, vinda de famílias abastadas, como recompensa e merecido descanso, decidiu participar de um cruzeiro internacional, em um navio luxuosíssimo, com hospedagens em hotéis 5 estrelas, mas esse jovem, já formado, retomou contato com a humilde comunidade onde tivera a sua experiência pastoral e ao saber que a mesma fazia atendimento a uma área paupérrima do bairro, se dispôs a conhecer esse trabalho.
Observando uma carência total na área da saúde, ele não teve dúvidas, juntou-se a Pastoral da Saúde e elaborou um cuidadoso plano de ação, e quando seus amigos vieram procurá-lo, para surpresa geral o jovem Doutor abriu mão da fantástica aventura, para dedicar-se nas férias, à comunidade pobre que fazia parte da sua antiga paróquia.
Parece história da “Carochinha”, mas se prestarmos atenção ao nosso redor, vamos encontrar pessoas como esse jovem, que nem sempre saem nos jornais, e que a gente se pergunta, como é que podem existir pessoas assim, que no anonimato abrem mão daquilo que têm, em favor de quem precisa, fazendo um sacrifício, palavra estranha e sem sentido para o homem deste milênio, rodeado de conforto, facilidades, tecnologia, comodidade e bem estar.
Não há nenhuma razão lógica para alguém sacrificar-se assim por um ser humano, aquele jovem poderia primeiro curtir a sua merecida viagem com os amigos e depois, quem sabe, dar um pouco do seu tempo à comunidade pobre, mas aí é que está a diferença, o amor quando é autêntico, nunca se satisfaz em dar apenas um “pouco”.
Entre os jovens ainda é comum a palavra “FICAR”, que significa uma relação sem compromisso, um amorzinho bem vagabundo, desses de quinta categoria, mas quando dois jovens resolvem migrar do simplesmente Eros para o Ágape, daí vamos ter o amor em toda sua beleza e esplendor, amor de primeiríssima qualidade, indestrutível, inseparável, como nos ensina a segunda leitura desse domingo, sempre tolerante, compassivo, disposto a perdoar e a recomeçar, amor que sabe sonhar e construir juntos, na partilha e comunhão de vida, casamento na Igreja supõe tudo isso...
É assim que Deus se revela em Jesus Cristo, é assim que Cristo se revela em quem é capaz (e não precisa ser médico) de renunciar algo valioso, para doar-se aos irmãos, não existe outra forma de amar que não seja o serviço, feito com grande sacrifício, e isso parece algo tão simples e ao mesmo tempo tão complicado, difícil de ser compreendido pelo coração humano, que hoje é educado para buscar grandezas e ambições, prestígio, fama, sucesso e poder, em um egocentrismo exacerbado.
Como podemos entender o sacrifício de Abraão, que abre mão do Filho da Promessa, tão esperado e sonhado, e que veio em sua velhice, brotado como semente tardia, dom de Deus, da esterilidade de Sara, sua esposa? O Patriarca, ícone das três maiores religiões do planeta, sente em seu coração que o amor á Divindade em quem crê, só se concretiza ofertando algo valiosíssimo,e aqui retomamos o sentido do amor, que não é dar um pouquinho, mas o “tudo”, ou seja, aceitar perder algo, que não se vai mais recuperar...
Na religião da recompensa divina, sempre marcada pela mediocridade, ou nas relações mercantilizadas com as pessoas, se faz na verdade uma barganha, é muito complicado chegarmos a compreensão dessa gratuidade, pois pensamos que somos muito bons e nos doamos até um certo ponto, mas não se pode também exagerar e sair no prejuízo, é esse o grande problema, colocamos sempre um limite no nosso modo de amar, abrimos mão de ganhar alguma coisa, mas ter que perder, aí já é um pouco demais... Amar como Jesus amou, é sempre assumir o risco de uma perda.
Entretanto, quando desenvolvemos em nós essa virtude do evangelho, e aceitamos até perder tudo, estamos nos unindo Aquele que se deu por inteiro, e que para salvar a todos aceitou perder tudo, pois o Cristo na cruz é um homem derrotado e humilhado, diante doa amigos que acreditaram em sua proposta, é alguém que perdeu tudo, prestígio, família, amigos, dignidade, honra, considerado na visão profética um homem maldito diante de Deus, abandonado e esquecido, incompreendido e rejeitado, homem esmagado pelas dores, como nos lembra Hebreus, e se o Pai não o tivesse glorificado quem seria Jesus para o mundo de hoje?
Talvez ninguém, pois enquanto homem aceitou correr esse risco, não sabia bem no que ia dar tudo aquilo, e podia ser que nem a comunidade reconhecesse o seu gesto de amor.
Somos hoje convidados a contemplar exatamente essa glória, pois no Cristo transfigurado, está a humanidade, sonhada, planejada e criada por Deus, está aquele jovem, cuja história contei no início, está cada cristão, que tem essa disposição interior de doar-se por inteiro, e que ninguém tenha medo, Deus nunca exigirá de nós o mesmo sacrifício da cruz, mas que nossas pequenas ações possam pelo menos refletir um pouco, do Amor de Jesus de Nazaré, para isso é necessário buscá-lo e escutá-lo, pois somente ele e mais ninguém, nos ensina com tanta autoridade, como é que se ama de verdade...
2. Transfiguração de Jesus
Não é fácil seguir Jesus. Não foi animador para os seus amigos ouvir que ele ia ser preso e morrer em Jerusalém. Eles precisavam de um sinal forte antes de tudo acontecer para não desanimarem. Jesus subiu ao monte e se transfigurou diante de Pedro, Tiago e João. Eles puderam contemplar antecipadamente a glória do Mestre ladeado de Moisés e Elias. Foi a visão do céu. Pedro queria ficar lá para sempre.
HOMÍLIA DIÁRIA
O sinal da vitória de Cristo
Postado por: homilia
fevereiro 18th, 2012
A transfiguração de Jesus se encontra também em Mateus (17,1-8) e Lucas (9,28-36), mas cada um deles trabalhou, a seu modo, a narrativa dentro de seus objetivos específicos. Marcos a inseriu no início da segunda parte de seu Evangelho. A partir de 8,31 temos um novo início; daí para frente, Jesus vai dedicar a maior parte do Seu tempo ensinando aos discípulos o sentido profundo de Seu messianismo. Responde-se, assim, a pergunta fundamental de Marcos: “Quem é Jesus?”. Nesta interrogação também se responde a uma outra pergunta, não menos importante que a primeira: “Quem é o discípulo de Jesus?”. Todavia, o retrato dos discípulos é lamentável aqui.
Na primeira parte do Evangelho de Marcos, Jesus é incompreendido pelos “de fora”, acusado de blasfemar, de ser um possesso, louco e impuro. Mas os discípulos, o que pensam d’Ele? Pedro, representando todos os que pretendem se unir ao Mestre, afirma que Jesus é o Messias. Mas o Senhor proíbe, severamente, os discípulos de falar alguma coisa a respeito d’Ele. Marcos insere aqui o primeiro anúncio da Paixão. Pedro, representando mais uma vez os discípulos, torna-se “satanás”, porque pretende que o messianismo de Jesus se baseie nos moldes tradicionais.
E agora? A proposta messiânica de Jesus irá vencer? A Transfiguração responde afirmativamente que o Senhor irá vencer. Contudo, vale a pena recordar que a Transfiguração olha mais para nós do que para Jesus. Em outras palavras, nós precisamos dela mais do que Ele. Ela nos garante que, em Jesus, o projeto de Deus será vitorioso, porque é garantido pelo Pai. A Transfiguração é, portanto, o sinal da vitória de Jesus e de Seu projeto.
Jesus Cristo sobe uma alta montanha com Pedro, Tiago e João, três dos quatro primeiros escolhidos. A cena recorda Êxodo 24, quando Moisés é convidado a subir a montanha de Deus em companhia de Aarão, Nadab, Abiú e setenta anciãos. Somente Moisés se aproximou de Deus e, ao descer do monte, contou ao povo tudo o que o Senhor lhe havia dito. A resposta do povo é uma só: “Faremos tudo o que Deus disse” (cf. Ex 24,1-3).
Marcos afirma que “as roupas de Jesus ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar”. Essa transformação aponta para a realidade da ressurreição de Jesus. Ninguém, nem mesmo a morte, poderá deter o projeto do Reino, pois o Mestre vai ressuscitar depois de três dias.
Moisés e Elias conversam com Jesus. Eles representam, respectivamente, a lei e os profetas, isto é, todo o Antigo Testamento. Moisés é o líder da libertação do Egito. O comparecimento deles vem dar testemunho de Jesus, o Libertador definitivo, prometido e prefigurado nos líderes do passado. Elias é o restaurador do Javismo no Reino do Norte, no tempo do rei Acab; ele é o profeta que libertou o povo da idolatria que gera opressão. O Antigo Testamento testemunha que Jesus veio para nos libertar mediante a entrega total de Sua vida.
Nuvem, esplendor, personagens e, sobretudo, a voz que sai da nuvem são modos de indicar a presença de Deus no acontecimento. O próprio Pai garante que Jesus é Seu Filho amado, a quem é preciso dar adesão. Nesse versículo, temos um dos pontos altos do Evangelho de Marcos. Desde o início, afirma-se que Jesus é Filho de Deus (1,1) e, ao ser batizado, o Pai diz: “Tu és o meu Filho amado, em ti encontro o meu agrado” (1,11). O termo “filho” recorda o Salmo 2,7, no qual um rei é declarado filho de Deus. Jesus é esse Rei, mas Seu messianismo passa pela entrega da vida.
Pedro representa todos nós quando pretendemos viver a alegria da ressurreição sem passar pela entrega e pela morte. O julgamento que Marcos faz de Pedro e de todos os seguidores de Jesus é muito severo: “Ele não sabia o que dizer, pois estavam todos com muito medo”. No fim de tudo, os discípulos se perguntam o que queria dizer “ressuscitar dos mortos”. O tema da ignorância dos discípulos é muito forte no Evangelho de Marcos. É impossível saber quem é Jesus sem ir com Ele até a cruz, sem passar pela morte, sem voltar à Galileia para anunciar, por meio de uma prática libertadora, que o Mestre está vivo.
Pedro – e todos nós com ele – sofremos de ignorância crônica sobre quem é Jesus. Por isso“escutar o que Ele diz” significa ir com Ele até o fim. Mas não nos assustemos, pois é preciso que com Marcos confessemos que “Jesus é o Filho de Deus” e O sigamos. E, assim como os discípulos viram Moisés e Elias falando com Jesus, também nós O veremos cheio de esplendor e glória. Ele é a única autoridade credenciada pelo Pai e está conosco para sempre.
Padre Bantu Mendonça
HOMÍLIA DIÁRIA
Deus quer revelar Sua face para nós
É preciso nos retirarmos, para que Deus revele em nós a Sua face gloriosa
“Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, e os levou sozinhos a um lugar à parte sobre uma alta montanha.” (Mc 9,2)
Esse fenômeno que estamos lendo e meditando, no Evangelho de hoje, é a transfiguração de Jesus. Quando foi que Ele se transfigurou? Quando Ele pegou os três discípulos pelas mãos e os levou consigo, porque eles lhe eram muito próximos, íntimos, por isso Jesus queria mostrar-lhes algo muito íntimo.
Jesus os levou sozinhos, somente eles, e eles não levaram amigos e outras coisas, somente eles do jeito que estavam, foram para um lugar à parte, separado distantes de tudo e de todos, e dali foram para uma alta montanha. Montanha é um símbolo de lugar sagrado, do alto, do céu, do lugar do encontro com Deus. Não é a altura da montanha que nos coloca mais próximos de Deus, mas o símbolo do alto nos remete ao Deus altíssimo.
Quando subimos não é para nos elevarmos, mas para nos rebaixarmos, para irmos ao encontro d’Aquele que é mais alto e maior do que todos nós, o nosso Deus. Jesus nos quer próximos d’Ele, quer-nos mais íntimo d’Ele. Deus quer revelar Sua face para nós, quer nos mostrar Sua transfiguração, Sua face gloriosa. Primeiro, é necessário nos retirarmos, deixarmos as coisas, porque, muitas vezes, estamos apegados às pessoas, às coisas e situações, e não conseguimos nos desprender.
Achamos que, se nos apartarmos um pouco, tudo vai se perder, nada vai funcionar, tudo vai acabar. Isso não é verdade! Se queremos que Deus nos ajude a cuidar das coisas, precisamos deixar que Ele cuide de nós, e para Ele cuidar de nós precisamos nos retirar das coisas para estar com Ele, ir para um lugar reservado. Esse lugar, muitas vezes, é aquele onde não estamos acostumados a estar. Retirar-se na Igreja, na capela, no deserto, na montanha, tantos lugares que nos são propícios para irmos ao encontro do Senhor!
Se não pudermos fazer isso com frequência, pelo menos façamos a cada dia. Há um canto em nossa casa ou próximo de nós onde podemos e devemos nos encontrar com o Senhor, porque, no meio da agitação do mundo em que vivemos, da televisão e internet existem pessoas que não conseguem largar nem seu celular. Parece que, na hora em que larga o celular, o mundo acaba. “Como vai ser? Não vou receber mensagens!” Não estamos recebendo mais mensagem do céu, porque estamos muito presos às coisas humanas.
Se quisermos que Deus fale conosco, temos de nos retirar para estar com Ele, para que Sua face se transfigura diante de nós e Ele transforme nossa própria face e semblante.
É difícil retirar-se! Os discípulos sentiram isso, mas quando foram nem quiseram mais descer da montanha sagrada. “É bom estarmos aqui, Senhor”.
Eu lhe digo: será muito bom para você, porque é bom para mim, para todos nós deixarmos as coisas que fazemos para estarmos a sós, inteiros na presença do Senhor.
Deus abençoe você!
Padre Roger Araújo
Sacerdote da Comunidade Canção Nova, jornalista e colaborador do Portal Canção Nova.
HOMÍLIA DIÁRIA
Nos preenchamos com a presença de Jesus que está no meio de nós
Precisamos sair do meio das agitações e ocupações que nos encontramos, para nos colocarmos a sós na presença de Jesus
“Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, e os levou sozinhos a um lugar à parte sobre uma alta montanha. E transfigurou-se diante deles” (Marcos 9,2).
Que beleza é contemplar o que o Evangelho de hoje nos apresenta! Jesus pega os apóstolos que são mais próximos d’Ele, e os leva para algum lugar a parte. Porque era preciso sair de onde estavam para estarem na presença de Jesus. E assim, também, é conosco, pois precisamos sair do meio das agitações e ocupações que nos encontramos, para nos colocarmos a sós na presença de Jesus.
O lugar alto representa o lugar da presença de Deus. Aqui não é importante o lugar geográfico: montanha, planície, planalto; o importante é nos retirarmos e nos dirigirmos para Aquele que está no alto: Deus, nosso Pai.
O convite de Jesus, hoje, é para sempre nos retirarmos sozinhos para o encontro com Deus. É Ele, Jesus, quem nos leva à presença do Pai, quem nos apresenta ao Pai. E, quando nós nos deixamos ser levados pelo Senhor, para estarmos a sós em Sua presença, o próprio Pai transfigura a nossa vida.
Jesus se transfigurou diante deles, para mostrar qual é a condição do homem glorificado, do homem que participa plenamente da glória divina. Ele, pleno homem, recebe nesta condição, a antecipação da Sua glória por meio da transfiguração.
Nós caminhamos no meio do vale de lágrimas, carregando a cruz nossa de cada dia; experimentando na pele e na carne a nossa fragilidade humana. Enfrentando todas as realidades, precisamos nos permitirmos ser transfigurados por Deus.
Nada mais nos transfigura e nos transforma do que a graça de nos colocarmos na presença de Deus. Colocar-se na presença de Deus é nos transfigurarmos; é sermos transformados e renovados. É reconfigurar os nossos pensamentos, sentimentos, a nossa própria forma de pensar a vida.
Estava tão bom estar lá, que Pedro até quis fazer uma tenda para ali permanecer, na presença do Senhor. Envolto entre a surpresa, a graça e o medo, o coração dele estava sendo tocado pela graça. Ele pôde tocar, ver, contemplar e ouvir, com os seus próprios sentidos, as realidades celestes. Deus quer transfigurar os nossos sentidos, a nossa forma de ouvir, falar, pensar e a nossa forma de ver o mundo e as realidades. Mas, nós, não seremos transformados, transfigurados e, de fato, convertidos, se não nos colocarmos na presença do Senhor.
É o Senhor quem nos transforma, converte e muda. É o Senhor quem realiza a obra nova, o homem novo e a mulher nova, a criatura nova que todos nós precisamos ser.
Nos retiremos! Retiremos as ocupações; nos retiremos daquilo que nos preenche a vida diária para nos preenchermos da presença de Deus que está no meio de nós.
Deus abençoe você!
Padre Roger Araújo
Sacerdote da Comunidade Canção Nova, jornalista e colaborador do Portal Canção Nova.
Oração Final
Pai Santo, dá-nos sempre a visão encantada de tua glória, mas que esta visão não nos impeça de seguir os passos de teu Filho Unigênito, cuidando atenta e carinhosamente dos companheiros que puseste ao nosso lado na estrada desta vida. Pelo mesmo Cristo Jesus, que se fez nosso Irmão, na unidade do Espírito Santo.
ORAÇÃO FINAL
Pai Santo, dá-nos discernimento para que penetremos no Primeiro Testamento da Sagrada Escritura através dos olhos de Jesus. Faze-nos sábios e fortes, amado Pai, para seguir teu Filho pelas estradas deste mundo fazendo o bem aos que caminham perto de nós, sentindo-nos próximos de todos e assim sinalizando a chegada em nós do Teu Reino de Amor. Por Ele, o Cristo Jesus, que contigo vive e reina na unidade do Espírito Santo.