
Redação
Portal A12
Durante a 51ª Assembleia Geral da CNBB, os
bispos divulgaram ontem (16) uma nota em solidariedade aos que sofrem com a
seca.
A nota intitulada “Sede de água e de justiça”
foi apresentada em entrevista coletiva e reivindica definição e a aceleração de
políticas que garantam segurança hídrica e alimentar; democratização do acesso
à água; ações estruturantes como a revitalização e preservação dos rios,
lagoas, ribeiras, riachos e da floresta nativa; construção de cisternas de
placas e de cisternas “calçadão”; perfuração e equipamentos de novos poços
tubulares; interligação de bacias hidrográficas e de recursos hídricos,
ampliação e universalização da aplicação dos recursos financeiros e técnicos a
partir do protagonismo das populações locais e de suas organizações, no campo e
na cidade e a conclusão urgente das numerosas obras cuja paralisação tem
causado graves prejuízos econômicos e sociais.
Confira a nota na íntegra:
Sede de água e de justiça
“Eu estava com fome, e me destes de
comer; estava com sede, e me destes de beber” (Mt 25,35)
Nós, bispos do Brasil, reunidos em
Aparecida–SP, na 51ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil-CNBB, de 10 a 19 de abril de 2013, expressamos nossa solidariedade aos
irmãos e irmãs castigados pela maior seca que atinge a região do semiárido nos
últimos 40 anos. Fazemos nossos seus sofrimentos e suas dores e nos unimos à
sua luta pela superação deste fenômeno, secular e cíclico, que ameaça a vida e
o desenvolvimento integral da população. Trata-se de mais de 10 milhões de
pessoas diretamente atingidas, em 1.326 municípios, segundo dados da Secretaria
da Defesa Civil, do Ministério da Integração Nacional (SEDEC/MI).
Os bispos do Nordeste, por várias vezes,
assinalaram as consequências de ordem social, econômica, moral e ética
provocadas pela seca tais como: a) Migração forçada com a consequente
desarticulação e desintegração da família, que fica exposta à máxima penúria;
b) tráfico humano, que conduz ao trabalho escravo; c) instrumentalização da
extrema vulnerabilidade das pessoas para fins eleitoreiros, em total
desrespeito aos valores éticos; d) agravamento da situação econômica relegando
milhares de famílias à miséria; e) dizimação da produção agrícola e
agropastoril com a morte de rebanhos inteiros, comprometendo o presente e o
futuro dos pequenos e médios produtores, além de seu endividamento; f) colapso
no abastecimento de água nas áreas urbanas; g) risco de se perderem conquistas
econômicas e produtivas fundamentais acumuladas nos últimos dez anos.
O clamor do povo do Nordeste, acolhido pela
Igreja, ecoa em documentos históricos como o de Campina Grande, em 1956, e o de
João Pessoa – “Eu ouvi o clamor do meu povo (Ex 3,7)” – em 1963. Além disso, a
Igreja tem realizado diversas campanhas de doações, promovido inúmeras ações
solidárias de apoio às famílias mais atingidas pelo flagelo da seca e
participado na luta pela execução de políticas públicas como a construção de
cisternas de consumo e de produção.
Apoiamos as “Diretrizes para a convivência
com o Semiárido”, lançadas em recente seminário realizado, em Recife-PE, pela
Igreja Católica e vários movimentos sociais e sindicais, exigindo que sociedade
e governos não pensem no Nordeste apenas em ocasião de seca.
A seca no semiárido é um fenômeno cíclico que
se repete sistematicamente. Entretanto, o ciclo de secas “não pode nos fazer
pensar que o semiárido brasileiro seja apenas um condicionamento climático e, a
longa estiagem, sua intempérie. O semiárido é, antes de tudo, um conjunto de
condições próprias de um bioma e, desse modo, exige-nos um novo olhar e a
construção de iniciativas diferenciadas” para a convivência nesta região onde
vivem 46% da população nordestina e 13% da população brasileira, representando
11% do território nacional. Os 25 milhões de pessoas que aí habitam, aguardam
medidas estruturais que facilitem a convivência com esse ecossistema.
Reconhecemos que os Governos têm desenvolvido
importantes ações neste momento crítico por que passam os atingidos pela seca.
São, no entanto, ações mitigadoras e emergenciais que não resolvem o problema,
presente em todo o polígono da seca.
Somente com decidida vontade política e
efetiva solidariedade, será possível estabelecer ações que tornem viável a
convivência com o semiárido, mesmo no período da seca. Como pastores solidários
aos nossos irmãos nordestinos, reivindicamos:
a) A definição
e a aceleração de políticas públicas e institucionais permanentes que garantam
segurança hídrica e alimentar, incentivando o uso de tecnologias adaptadas à
realidade climática da região para captação, armazenamento e distribuição das
águas das chuvas;
b) Democratização
do acesso à água com a construção de sistemas simplificados de abastecimento de
água;
c) Ações
estruturantes como a revitalização e preservação dos rios, lagoas, ribeiras,
riachos e da floresta nativa; construção de cisternas de placas e de cisternas
“calçadão”; perfuração e equipamentos de novos poços tubulares;
d) Interligação
de bacias hidrográficas e de recursos hídricos; construções de diversos tipos
de armazenamento de água, bem como de adutoras e canais, para o consumo humano,
animal e a produção de alimentos;
e) Ampliação e
universalização da aplicação dos recursos financeiros e técnicos a partir do
protagonismo das populações locais e de suas organizações, no campo e na
cidade;
f)
Conclusão urgente das numerosas obras cuja paralisação tem causado graves
prejuízos econômicos e sociais;
Que Nossa Senhora Aparecida, cuja casa nos
abriga durante a 51ª Assembleia da CNBB, alcance para todos os irmãos e irmãs
do Nordeste a força renovadora da esperança, que nasce do coração do Cristo
Ressuscitado, vencedor do mal e da morte.
Aparecida, 16 de abril de 2013.
Cardeal D. Raymundo Damasceno de Assis
Arcebispo de Aparecida
Presidente da CNBB
Arcebispo de Aparecida
Presidente da CNBB
Dom José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luís do Maranhão – MA
Vice-presidente da CNBB
Arcebispo de São Luís do Maranhão – MA
Vice-presidente da CNBB
Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB
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