quarta-feira, 29 de agosto de 2018

NA ÍNTEGRA - QUARTA-FEIRA, 29 DE AGOSTO DE 2018, Catequese do Papa Francisco sobre sua viagem à Irlanda

QUARTA-FEIRA, 29 DE AGOSTO DE 2018, 15H01

CATEQUESE
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Boletim da Santa
Tradução: Jéssica Marçal (Canção Nova)

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

No último fim de semana fiz uma viagem à Irlanda para participar do Encontro Mundial das Famílias: estou certo de que vocês viram pela televisão. A minha presença queria, sobretudo, confirmar as famílias cristãs em sua vocação e missão. Milhares de famílias – esposos, avós, filhos – reunidos em Dublin, com toda a variedade de suas línguas, culturas e experiências, foram sinal eloquente da beleza do sonho de Deus para toda a família humana. E nós sabemos disso: o sonho de Deus é a unidade, a harmonia e a paz, na família e no mundo, fruto da fidelidade, do perdão e da reconciliação que Ele nos doou em Cristo. Ele chama as famílias a participar deste sonho e a fazer do mundo uma casa onde ninguém seja sozinho, ninguém seja não querido, ninguém seja excluído. Pensem bem nisso: o que Deus quer é que ninguém seja sozinho, ninguém seja não querido, ninguém seja excluído. Por isso era muito apropriado o tema deste Encontro Mundial. Chamava-se assim: “O Evangelho da família, alegria para o mundo”.
Sou grato ao Presidente da Irlanda, ao Primeiro Ministro, às diversas autoridades do governo, civis e religiosas, e a tantas pessoas de cada nível que ajudaram a preparar e realizar os eventos do Encontro. E obrigado a tantos bispos, que trabalharam tanto. Dirigindo-me às autoridades, no Castelo de Dublin, reiterei que a Igreja é família de famílias e que, como um corpo, apoia essas suas células em seu indispensável papel para o desenvolvimento de uma sociedade fraterna e solidária.
Verdadeiros e próprios “pontos-luz” destes dias foram os testemunhos de amor conjugal dados por casais de todas as idades. Suas histórias nos recordaram que o amor do matrimônio é um especial dom de Deus, a cultivar todos os dias na ‘igreja doméstica’ que é a família. Quanta necessidade tem o mundo de uma revolução de amor, de uma revolução de ternura, que nos salve da atual cultura do provisório! E esta revolução começa no coração da família.
Na Pró-Catedral de Dublin encontrei casais empenhados na Igreja e tantos casais de jovens esposos e muitas crianças pequenas. Encontrei, depois, algumas famílias que enfrentam particulares desafios e dificuldades. Graças aos Frades Capuchinhos, que sempre estão próximo ao povo, e a mais ampla família eclesial, experimentam a solidariedade e o apoio que são fruto da caridade.
Momento culminante da minha visita foi a grande festa com as famílias, sábado à noite, no estádio de Dublin, seguido domingo pela Missa no Phoenix Park. Na vigília ouvimos testemunhos muito tocantes de famílias que sofreram pelas guerras, famílias renovadas pelo perdão, famílias que o amor salvou da espiral das dependências, famílias que aprenderam a usar bem os celulares e tablets e a dar prioridade ao tempo gasto juntos. E foram ressaltados o valor da comunicação entre gerações e o papel específico que diz respeito aos avós em consolidar as ligações familiares e transmitir o tesouro da fé. Hoje – é difícil dizer isso – mas parece que os avós incomodam. Nesta cultura do descarte, os avós são ‘descartados’. Mas os avós são a sabedoria, são a memória de um povo, a memória das famílias! E os avós devem transmitir essa memória aos netos. Os jovens e as crianças devem falar com os avós e levar adiante a história. Por favor: não descartem os avós. Que sejam próximos aos seus filhos, aos netos.
Na manhã de domingo, fiz uma peregrinação ao Santuário mariano de Knock, tão querido ao povo irlandês. Ali, na capela construída sobre o lugar da aparição da Virgem, confiei à sua proteção materna todas as famílias, em particular aquelas da Irlanda. E embora a minha viagem não compreendesse uma visita à Irlanda do Norte, dirigi uma saudação cordial ao seu povo e encorajei o processo de reconciliação, pacificação, amizade e cooperação ecumênica.
Esta minha visita à Irlanda, além da grande alegria, devia também assumir a dor e a amargura pelos sofrimentos causados naquele país por várias formas de abusos, também da parte de membros da Igreja, e pelo fato de que as autoridades eclesiásticas no passado nem sempre souberam enfrentar de maneira adequada destes crimes. Um sinal profundo deixou o encontro com alguns sobreviventes – eram oito – ; e várias vezes pedi perdão ao Senhor por estes pecados, pelo escândalos e pelo sentimento de traição provocado. Os bispos irlandeses empreenderam um sério percurso de purificação e reconciliação com aqueles que sofreram abusos, e com a ajuda das autoridades nacionais estabeleceram uma série de normas severas para garantir a segurança dos jovens. E depois, no meu encontro com os bispos, eu os encorajei no seu esforço para remediar as falhas do passado com honestidade e coragem, confiando nas promessas do Senhor e contanto com a profunda fé do povo irlandês, para inaugurar uma estação de renovação da Igreja na Irlanda. Na Irlanda há fé, há pessoas de fé: uma fé com grandes raízes. Mas sabem uma coisa? Há poucas vocações ao sacerdócio. Como esta fé não consegue? Por estes problemas, os escândalos, tantas coisas…Devemos rezar para que o Senhor envie santos sacerdotes na Irlanda, envie novas vocações. E faremos isso juntos, rezando uma “Ave Maria” a Nossa Senhora de Knock [Reza Ave Maria]. Senhor Jesus, envia-nos sacerdotes santos.
Queridos irmãos e irmãs, o Encontro Mundial das Famílias em Dublin foi uma experiência profética, confortante, de tantas famílias empenhadas no caminho evangélico do matrimônio e da vida familiar; famílias discípulas e missionárias, fermento de bondade, santidade, justiça e paz. Nós esquecemos tantas famílias – tantas! – que levam adiante a própria família, os filhos, com fidelidade, pedindo perdão quando há problemas. Esquecemos porque hoje é moda nas revistas, nos jornais, falar assim: “Este se divorciou desta…Aquela daquele….E a separação…”. Mas, por favor: essa é uma coisa ruim. É verdade: eu respeito cada um, devemos respeitar as pessoas, mas o ideal não é o divórcio, o ideal não é a separação, o ideal não é a destruição da família. O ideal é a família unida. Assim adiante: este é o ideal!
O próximo Encontro Mundial das Famílias será em Roma em 2021. Confiamos à proteção da Sagrada Família de Jesus, Maria e José, para que em suas casas, paróquias e comunidades possam ser verdadeiramente “alegria para o mundo”.

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