quinta-feira, 14 de maio de 2020

AUDIÊNCIA GERAL - Papa na catequese: rezar é o mistério mais íntimo de nós mesmos

QUARTA-FEIRA, 13 DE MAIO DE 2020, 7H31

Santo Padre segue no ciclo de reflexões sobre a oração, iniciado na semana passada

Da Redação, com Vatican News

Papa Francisco realiza a catequese no Palácio Apostólico devido
à pandemia de coronvírus/ Foto: Vatican Media

Na catequese desta quarta-feira, 13, o Papa Francisco deu continuidade ao tema da oração, iniciado na semana passada. A audiência foi realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico, por causa da pandemia de coronavírus
“A oração pertence a todos: aos homens de todas as religiões e, provavelmente, também àqueles que não professam nenhuma”, disse Francisco, reiterando que “a oração nasce no segredo de nós mesmos, naquele lugar interior que, muitas vezes, os autores espirituais costumam chamar de “coração”.”

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Nesse sentido, Francisco explicou que rezar não é algo periférico no ser humano, não é algo secundário e marginal, mas o mistério mais íntimo, e é esse mistério que reza. “As emoções rezam, mas não se pode dizer que a oração seja apenas emoção. A inteligência reza, mas rezar não é apenas um ato intelectual. O corpo reza, mas pode-se falar com Deus até mesmo na mais grave invalidez. Portanto, é todo o ser humano que reza, o seu “coração” reza”.
Segundo o Papa, a oração é um impulso, é uma invocação que vai além de nós mesmos: algo que nasce no íntimo de pessoa e se estende, porque sente a saudade de um encontro. “A oração é a voz de um “eu” que tateia, que procede tateando, procurando um “Tu”. O encontro entre o “eu” e o “Tu” não pode ser feito com calculadoras. É um encontro humano e se procede tateando, muitas vezes, para encontrar o “Tu” que o meu “eu” procura”.”
Francisco explicou ainda que a oração do cristão nasce de uma revelação: “o “Tu” não ficou envolvido no mistério, mas entrou numa relação conosco. O cristianismo é a religião que celebra continuamente a “manifestação” de Deus, a sua epifania. As primeiras festas do ano litúrgico são a celebração deste Deus que não permanece escondido, mas que oferece sua amizade aos homens. Deus revela a sua glória na pobreza de Belém, na contemplação dos Reis Magos, no Batismo no Jordão, no prodígio das Bodas de Caná. O Evangelho de João conclui com uma afirmação sintética o grande hino do prólogo: «Ninguém jamais viu a Deus; quem nos revelou Deus foi o Filho único, que está junto ao Pai».”
A oração do cristão entra numa relação com o Deus do rosto terno, que não quer amedrontar os homens. Essa é a primeira característica da oração cristã. Se os homens eram acostumados a se aproximar de Deus um pouco tímidos, com um pouco de medo desse mistério fascinante e tremendo, se eram acostumados a venerá-lo com uma atitude servil, semelhante à de um súdito que não quer faltar de respeito ao seu senhor, os cristãos se voltam para Ele, ousando chamá-lo de maneira confidente com o nome de “Pai”.
“O cristianismo baniu da ligação com Deus toda relação “feudal”. No patrimônio de nossa fé, não há expressões como ‘submissão’, ‘escravidão’ ou ‘vassalagem’; mas palavras como ‘aliança’, ‘amizade’, ‘promessa’, ‘comunhão’, ‘proximidade’.”
Deus é o amigo, o aliado, o esposo. Na oração, explicou o Santo Padre, se estabelece uma relação de confidência com Ele, tanto é verdade que, no “Pai-Nosso”, Jesus ensinou a fazer uma série de pedidos a Deus. Podemos pedir a Deus tudo, explicar tudo, contar tudo. Não importa se na relação com Deus sentimos que somos falhos: não somos bons amigos, não somos filhos agradecidos, não somos esposos fiéis. Ele continua nos querendo bem.
“É o que Jesus demonstra definitivamente na Última Ceia, quando diz: “Este cálice é a nova aliança do meu sangue, que é derramado por vocês.” Nesse gesto, Jesus antecipa o mistério da cruz no cenáculo. Deus é um aliado fiel: se os homens deixam de amar, Ele continua a amá-lo, mesmo que o amor o leve ao Calvário. Deus está sempre perto da porta do nosso coração. Espera. Espera que abramos a porta a ele. E às vezes bate, no coração; mas não é um invasor: espera. A paciência de Deus conosco: é a paciência de um pai, de alguém que nos ama muito. Eu diria que é a paciência de um pai e uma mãe, todos juntos. Sempre perto do nosso coração, e quando ele bate, o faz com ternura e com muito amor”, frisou Francisco.
O Papa concluiu sua catequese, pedindo-nos para tentar rezar assim: “entrando no mistério da Aliança. A colocar-nos através da oração nos braços misericordiosos de Deus, sentir-nos envolvidos nesse mistério de felicidade que é a vida trinitária, a sentir-nos convidados que não mereciam tanta honra e a repetir a Deus, no estupor da oração: é possível que Tu apenas conheces o amor? Conhece somente o amor e não ódio? Esse é o Deus ao qual nos dirigimos. Este é o núcleo incandescente de toda oração cristã”.

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