Em uma cerimônia sem precedentes na história
da Igreja, o Papa Francisco declarou
santos a São João Paulo II e São João XXIII durante uma missa concelebrada por mais de mil pastores
entre cardeais, bispos e sacerdotes, incluindo o Pontífice
Emérito Bento XVI.
Papa Francisco na Santa Missa de Canonização de
São João XXIII e São João Paulo II
Esta é a íntegra da
homilia que pronunciou o Papa Francisco:
No centro deste domingo, que
encerra a Oitava de Páscoa e que João Paulo II quis dedicar à Divina
Misericórdia, encontramos as chagas gloriosas de Jesus ressuscitado.
Já as mostrara quando apareceu pela primeira vez aos Apóstolos, ao anoitecer do dia depois do sábado, o dia da Ressurreição. Mas, naquela noite, Tomé não estava; e quando os outros lhe disseram que tinham visto o Senhor, respondeu que, se não visse e tocasse aquelas feridas, não acreditaria. Oito dias depois, Jesus apareceu de novo no meio dos discípulos, no Cenáculo, encontrando-se presente também Tomé; dirigindo-Se a ele, convidou-o a tocar as suas chagas. E então aquele homem sincero, aquele homem habituado a verificar tudo pessoalmente, ajoelhou-se diante de Jesus e disse: «Meu Senhor e meu Deus!» (Jo 20, 28).
Já as mostrara quando apareceu pela primeira vez aos Apóstolos, ao anoitecer do dia depois do sábado, o dia da Ressurreição. Mas, naquela noite, Tomé não estava; e quando os outros lhe disseram que tinham visto o Senhor, respondeu que, se não visse e tocasse aquelas feridas, não acreditaria. Oito dias depois, Jesus apareceu de novo no meio dos discípulos, no Cenáculo, encontrando-se presente também Tomé; dirigindo-Se a ele, convidou-o a tocar as suas chagas. E então aquele homem sincero, aquele homem habituado a verificar tudo pessoalmente, ajoelhou-se diante de Jesus e disse: «Meu Senhor e meu Deus!» (Jo 20, 28).
Se as chagas de Jesus podem ser de
escândalo para a fé, são também a verificação da fé. Por isso, no corpo de
Cristo ressuscitado, as chagas não desaparecem, continuam, porque aquelas
chagas são o sinal permanente do amor de Deus por nós, sendo indispensáveis
para crer em Deus: não para crer que Deus existe, mas sim que Deus é amor,
misericórdia, fidelidade. Citando Isaías, São Pedro escreve aos cristãos:
‘pelas suas chagas, fostes curados’ (1 Ped 2, 24; cf. Is 53, 5).
São João XXIII e São João Paulo II
tiveram a coragem de contemplar as feridas de Jesus, tocar as suas mãos
chagadas e o seu lado transpassado. Não tiveram vergonha da carne de Cristo,
não se escandalizaram d’Ele, da sua cruz; não tiveram vergonha da carne do
irmão (cf. Is 58, 7), porque em cada pessoa atribulada viam Jesus. Foram dois
homens corajosos, cheios da parresia do Espírito Santo, e deram testemunho da
bondade de Deus, da sua misericórdia, à Igreja e ao mundo.
Foram sacerdotes, bispos e papas
do século XX. Conheceram as suas tragédias, mas não foram vencidos por elas.
Mais forte, neles, era Deus; mais forte era a fé em Jesus Cristo, Redentor do
homem e Senhor da história; mais forte, neles, era a misericórdia de Deus que
se manifesta nestas cinco chagas; mais forte era a proximidade materna de
Maria.
Nestes dois homens contemplativos
das chagas de Cristo e testemunhas da sua misericórdia, habitava «uma esperança
viva», juntamente com «uma alegria indescritível e irradiante» (1 Ped 1, 3.8).
A esperança e a alegria que Cristo ressuscitado dá aos seus discípulos, e de
que nada e ninguém os pode privar. A esperança e a alegria pascais, passadas
pelo crisol do despojamento, do aniquilamento, da proximidade aos pecadores
levada até ao extremo, até à náusea pela amargura daquele cálice. Estas são a
esperança e a alegria que os dois santos Papas receberam como dom do Senhor
ressuscitado, tendo-as, por sua vez, doado em abundância ao Povo de Deus,
recebendo sua eterna gratidão.
Esta esperança e esta alegria
respiravam-se na primeira comunidade dos crentes, em Jerusalém, de que nos
falam os Atos dos Apóstolos (cf. 2, 42-47). É uma comunidade onde se vive o
essencial do Evangelho, isto é, o amor, a misericórdia, com simplicidade e
fraternidade.
E esta é a imagem de Igreja que o
Concílio Vaticano II teve diante de si. João XXIII e João Paulo II colaboraram
com o Espírito Santo para restabelecer e atualizar a Igreja segundo a sua fisionomia
originária, a fisionomia que lhe deram os santos ao longo dos séculos. Não
esqueçamos que são precisamente os santos que levam avante e fazem crescer a
Igreja. Na convocação do Concílio, João XXIII demonstrou uma delicada
docilidade ao Espírito Santo, deixou-se conduzir e foi para a Igreja um pastor,
um guia-guiado. Este foi o seu grande serviço à Igreja; foi o Papa da
docilidade ao Espírito.
Neste serviço ao Povo de Deus,
João Paulo II foi o Papa da família. Ele mesmo disse uma vez que assim gostaria
de ser lembrado: como o Papa da família. Apraz-me sublinhá-lo no momento em que
estamos a viver um caminho sinodal sobre a família e com as famílias, um
caminho que ele seguramente acompanha e sustenta do Céu.
Que estes dois novos santos
Pastores do Povo de Deus intercedam pela Igreja para que, durante estes dois
anos de caminho sinodal, seja dócil ao Espírito Santo no serviço pastoral à
família. Que ambos nos ensinem a não nos escandalizarmos das chagas de Cristo,
a penetrarmos no mistério da misericórdia divina que sempre espera, sempre
perdoa, porque sempre ama”.
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