Flávia Cristina de Oliveira - 2009/06/03
Padre Hans
regressava recolhido, levando o Santíssimo ao peito, quando um jovem lenhador
veio correndo a seu encontro gritando: "Um padre! Um padre!".
Flávia Cristina de Oliveira
Era uma manhã ensolarada. As
montanhas do Tirol mostravam-se especialmente bonitas naquele dia de primavera.
A neve já estava quase toda derretida, mas os cumes ainda brancos
cintilavam sob os raios do Sol.
Padre Hans havia terminado de
celebrar sua Missa matutina e se preparava para a catequese das crianças.
Selecionava a matéria, consultava livros e escolhia alguns santinhos para
premiar as crianças mais aplicadas, parte que mais agradava a todas elas na classe.
Encontrou uma linda gravura de Nossa
Senhora do Perpétuo Socorro e a separou para quem soubesse responder à pergunta
mais difícil.
Nesse momento entrou o sacristão,
dizendo aflito:
- Padre Hans... Acaba de chegar a
filha da Sra. Binzer, com a notícia de que sua mãe está muito mal, quiçá em
seus últimos momentos, e pede que o senhor lhe leve o Viático. Mas não posso
acompanhá-lo, pois hoje é o dia de folga do secretário paroquial, e alguém
precisa cuidar da igreja.
- Não se preocupe, Rolf, já estive
várias vezes na casa da Sra. Binzer e conheço bem todos os atalhos. Saindo
imediatamente, conseguirei regressar a tempo ao meio-dia, se Deus quiser.
Sem demora, o bom pároco tomou os
Santos Óleos e a teca com o Santíssimo, montou a cavalo e partiu, muito
recolhido. Ia adorando Jesus Sacramentado, que levava pendente em seu pescoço,
envolto numa bolsa de seda bordada com as iniciais JHS: Jesus Hóstia Santa.
O caminho estava belíssimo! As flores
já haviam desabrochado, o regato corria suave, fazendo cantar suas águas
cristalinas, e as árvores, outra vez recobertas de folhas, davam ao ar da
primavera um frescor muito agradável. Os passarinhos cantavam e as borboletas
pareciam bailar diante do cavalo, convidando o sacerdote a um passeio através
dos pinheirais perfumados.
Padre Hans observou um pouco a beleza
da paisagem, glorificando a Deus por tais dons concedidos ao homem, mas
concentrava toda a sua atenção no Criador dessas maravilhas, o qual ele levava
apertado ao peito. Assim recolhido, continuava o seu caminho, em atitude de
adoração. Apenas pensou:
- Faz tempo que não desfruto um pouco
do ar fresco desse bosque. Na volta vou aproveitar um pouquinho, e creio que
não atrasarei o retorno...
Chegando à casa da Sra. Binzer,
encontrou-a mesmo muito mal. Era uma camponesa piedosa, que sempre participara
das atividades paroquiais, mas a idade e a enfermidade lhe haviam consumido
todas as forças, e agora ela preparava sua alma para apresentar-se diante de
Deus. Toda a família estava reunida ao redor de sua cama. Alguns choravam, e
uma das filhas puxava os Mistérios Dolorosos do Rosário.
Padre Hans ministrou-lhe a Unção dos
Enfermos, que ela recebeu com toda consciência e piedade. Mas ao dar-lhe a
Comunhão, notou que, por um equívoco, havia levado duas partículas. Não era
costume na época consumir duas hóstias ao mesmo tempo, e, ademais, a pobre
senhora já quase não conseguia engolir. Isso contrariou um pouco o sacerdote,
porque precisaria levar de volta à igreja o Santíssimo Sacramento; portanto,
deveria regressar recolhido, em oração, sem poder desfrutar da primavera no bosque.
Depois de dizer à família umas breves
palavras de reconforto e esperança, montou sua cavalgadura e retornava rezando.
Quando se aproximava do bosque, veio
correndo a seu encontro um jovem lenhador, gritando ainda de longe:
- Um padre! Um padre!
Chegando ao lado do cavalo, o moço
disse:
- Senhor Vigário, meu companheiro de
trabalho acaba de sofrer um acidente. Uma árvore caiu sobre ele. Está morrendo
e o único que consegue fazer é pedir um padre. Venha logo, senhor Vigário!
Na manhã seguinte, Padre Hans contou o
belo fato às crianças de catecismo, e
premiou,
com um santinho aquele que soube
recitar de memória um trecho do
Lembrai-vos. Edith Petitcler
Padre Hans compreendeu, então, o
motivo de haver pegado duas partículas, sem dar-se conta. Não fora um equívoco!
Era a Divina Providência que queria vir em auxílio daquela alma na hora
suprema. O pobre rapaz confessou-se, com muito custo, e recebeu sua última
Comunhão.
O sacerdote
perguntou-lhe, bondosamente, se fizera algo especial para merecer uma graça tão
grande. O lenhador respondeu, com a voz entrecortada:
- Ah, padre... cada
vez que via passar um sacerdote levando o Viático a alguém, eu rezava uma Ave
Maria, rogando à Santíssima Virgem a graça de não morrer sem confessar-me e
receber a Sagrada Eucaristia pela última vez. E Ela, como Mãe que nunca deixa
de atender pedido algum de seus filhos, me concedeu tamanha graça. Que ao
senhor também Ela ajude, quando chegar sua hora.
Em seguida, deu um
profundo suspiro e entregou sua alma a Deus.
Na manhã seguinte,
Padre Hans contou o belo fato às crianças do catecismo, para ensinar-lhes qual
é o poder de uma Ave Maria. E premiou com o santinho de Nossa Senhora do
Perpétuo Socorro aquela que soube recitar de memória este belo trecho da oração
de São Bernardo: "Lembrai- Vos, ó piedosíssima Virgem Maria, que
nunca se ouvir dizer que algum daqueles que tenha recorrido à vossa proteção,
implorado a vossa assistência e reclamado o vosso socorro, fosse por Vós
desamparado"...
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