quinta-feira, 8 de agosto de 2024

O Primado de Pedro


O Primado de Pedro

Ao instituir a Igreja, a partir do Colégio dos Doze Apóstolos, Jesus o quis como um grupo estável e escolheu Pedro para chefiá-lo.

É fácil compreender essa iniciativa do Senhor. Todo grupo humano precisa ter uma Cabeça visível para manter a sua ordem e integridade. Nenhuma instituição humana sobrevive sem observar esta lei.

O Código de Direito Canônico da Igreja, diz que:

“O Bispo da Igreja de Roma, no qual perdura o múnus concedido pelo Senhor singularmente a Pedro, primeiro dos Apóstolos, para ser transmitido a seus sucessores, é a Cabeça do Colégio dos Bispos, Vigário de Cristo e aqui na terra Pastor da Igreja universal; ele, pois, em virtude de seu múnus, tem na terra o poder ordinário supremo, pleno, imediato e universal, que pode sempre exercer livremente” (CDC, Cân. 331).

A Igreja, que é semelhante ao próprio Jesus, isto é, ao mesmo tempo, humana e divina, precisa também ter um Chefe visível. Ela tem a sua Cabeça divina, invisível, o próprio Cristo; e tem a sua Cabeça humana, o seu chefe visível, o Papa. Cristo assim o quis. Diz o Catecismo que: “Somente a Simão, a quem deu o nome de Pedro, o Senhor constituiu como a pedra da sua Igreja. Entregou-lhe as suas chaves, instituiu-o pastor de todo o rebanho” (nº 881).

“E eu te declaro: Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,18-19).

Estas palavras de Jesus são claríssimas, e só não as entende quem não quer. Não há como distorcê-las e manuseá-las.

Pedro é a pedra sobre a qual Ele quis edificar a Sua Igreja. É preciso notar que o Senhor diz “a Minha Igreja”. Usou um pronome possessivo “Minha”; ela é propriedade Sua, é o Seu próprio Corpo, e Ele a quis construída sobre o Papa. Não existe outra.

Para não deixar dúvidas a respeito disto, no primeiro encontro que Jesus teve com Simão, trocou-lhe o nome para “Kefas”, que quer dizer Pedro, o mesmo que pedra em aramaico.

Quem nos relata isso é o evangelista São João. Pedro não se deu conta da grandiosidade daquele acontecimento, no momento, mas, certamente, se lembrou dele mais tarde. Ouçamos o evangelista contar logo no início do seu Evangelho: “André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que tinham ouvido João [Batista] e que o tinham seguido. Foi ele então logo à procura de seu irmão e disse-lhe:

“Achamos o Messias (que quer dizer o Cristo). Levou-o a Jesus e Jesus, fixando nele o olhar, disse Tu és Simão, filho de João; serás chamado Kefas (que quer dizer pedra)” (Jo 1,40ss)”.

É importante observar que “no primeiro encontro” com Simão, Jesus “fixa nele o olhar” e muda o seu nome para Pedro. Isto não foi sem razão.

Na Bíblia, quando Deus muda o nome de alguém, é porque está dando a essa pessoa uma missão. Para o judeu o nome da pessoa tinha algo a ver com a sua identidade e missão. Assim, por exemplo o Anjo disse a José:

“Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus [Deus salva], porque ele salvará o seu povo de seus pecados” (Mt 1,21).

Veja que o nome dado ao Messias de Deus é Jesus, designando a sua identidade divina e a sua missão salvífica (Deus salva – Jesus).

Um exemplo marcante de mudança de nome foi o que ocorreu com Abraão. Ele se chamava Abrão, que quer dizer “pai elevado” e Deus muda seu nome para Abraão, que significa “pai de uma multidão”, porque Deus o escolhera para a grandiosa tarefa de pai do seu Povo. Diz o Gênesis: “Abrão [note o nome antigo!] tinha noventa e nove anos. O Senhor apareceu-lhe e disse: “Eu sou o Deus todo-poderoso. Anda em minha presença e sê íntegro, quero fazer aliança contigo e multiplicarei ao infinito a tua descendência”. Abrão prostrou-se com o rosto por terra. Deus disse-lhe: “Este é o pacto que faço contigo: serás o pai de uma multidão de povos. De agora em diante não te chamarás mais Abrão, e sim Abraão, porque farei de ti uma multidão de povos…” (Gn17,18).

Foi um momento muito solene em que Deus escolheu o “Pai” do seu Povo, de onde nasceria o Salvador.

É interessante notar que Deus muda também o nome de Sara, de Sarai (estéril) para Sara (fértil).

“Disse Deus a Abraão: “Não chamarás mais a tua mulher Sarai e sim Sara. Eu a abençoarei, e dela te darei um filho. Eu a abençoarei, e ela será mãe de nações e dela sairão reis” (Gen 17, 15-16).

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A mesma mudança de nome ocorreu com Jacó, o Patriarca do povo Judeu, que Deus passa a chamar de Israel: “Deus apareceu ainda a Jacó… e o abençoou. Deus lhe disse: “Tens o nome de Jacó, mas não te chamarás mais Jacó: teu nome será Israel”. Deus disse: “Eu sou El Shaddai. Sê fecundo e multiplica-te. Uma nação, uma assembléia de nações nascerá de ti e reis sairão de teus rins. Eu te dou a terra que dei a Abraão e a Isaac…” (Gen 35,10-13).

Nessas passagens vemos outro momento solene na história do povo de Deus, onde Ele muda o nome de Jacó para designar-lhe o patriarca. A expressão “El” significa “Deus de Israel” (Gen 33,20).

Essa “mudança de nome” Jesus fez também com Simão, “no primeiro encontro”, em vista da missão solene que lhe haveria de dar mais tarde:

“Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja” (Mt 16,18).

Não resta dúvida, portanto, que Pedro, e seus sucessores, são a Pedra angular, visível, que Cristo, Pedra angular invisível, quis na Igreja. Jesus quis essa pedra visível para que ela mantivesse a unidade da Igreja e a integridade da sua doutrina na verdade que liberta e salva.

Após a Ressurreição Jesus confirma Pedro como o pastor de todo o rebanho.

“Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: “Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? “Respondeu ele: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”. Disse-lhe Jesus. “Apascenta os meus cordeiros” (Jo 21, 15-17)”. Por três vezes o Senhor repetiu esta pergunta a Pedro, e por três vezes lhe disse: “Apascenta as minha ovelhas”. A nenhum outro apóstolo isto foi dito.

Alguns Padres da Igreja viram nesta tríplice confirmação de Pedro como “Pastor do rebanho”, como que uma maneira de apagar aquelas três vezes que Pedro negou tristemente o Senhor dizendo: “Não conheço este homem” (Jo 18,17.2-27, Mt 26,70-75). Na verdade essa repetição tríplice era a forma solene que o hebreu usava na confirmação de uma missão.

É importantíssimo notar que, mesmo após Pedro ter negado Jesus tristemente, por três vezes, ainda assim o Senhor não tirou dele a chefia do rebanho. Como então – podemos perguntar – os homens querem tirar de Pedro e do Papa o Primado da Igreja, se nem mesmo Jesus, após ter sido negado e renegado por Pedro, tirou-lhe o mandato? Se Cristo manteve Pedro como o Chefe da Sua Igreja, mesmo após a negação triste, seremos nós homens, que teremos a ousadia de negar-lhe o primado? Não sejamos insensatos, “com Deus não se brinca”, nos ensina São Paulo.

Isto mostra que atentam gravemente contra a vontade expressa do Senhor aqueles que não querem aceitar a jurisdição do Papa sobre toda a Igreja universal.

Desde os primeiros séculos da Igreja, o Bispo de Roma, o Papa, exerceu o primado na Igreja. Vejamos, por exemplo, o que diz São Cipriano, bispo de Cartago, o grande defensor da unidade da Igreja, já no terceiro século: “O Senhor diz a Pedro: “Eu te digo que és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão sobre ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos céus… O Senhor edifica a sua Igreja sobre um só, embora conceda igual poder a todos os apóstolos depois de sua ressurreição, dizendo: “Assim como o Pai me enviou, eu os envio. Recebei o Espírito Santo, se perdoardes os pecados de alguém, ser-lhes-ão perdoados, se os retiverdes, ser-lhes-ão retidos. No entanto, para manifestar a unidade, dispõe por sua autoridade a origem desta mesma unidade partindo de um só. Sem dúvida, os demais apóstolos eram, como Pedro, dotados de igual participação na honra e no poder; mas o princípio parte da unidade para que se demonstre ser única a Igreja de Cristo… Julga conservar a fé quem não conserva esta unidade da Igreja? Confia estar na Igreja quem se opõe e resiste à Igreja? Confia estar na Igreja, quem abandona a cátedra de Pedro sobre a qual está fundada a Igreja?” (Sobre a Unidade da Igreja).

Vemos, portanto, que desde os primeiros séculos, os cristãos já tinham a noção exata de que sobre a cátedra de Pedro foi fundada a Igreja.

São João Crisóstomo, bispo de Constantinopla, doutor da Igreja, dizia que: “No interesse da paz e da fé não podemos discutir sobre questões relativas à fé sem o consentimento do Bispo de Roma”.

“Pedro, na verdade, ficou para nós como a pedra sólida sobre a qual se apoia a fé e sobre a qual está edificada a Igreja. Tendo confessado ser Cristo o Filho de Deus vivo, foi-lhe dado ouvir: “Sobre esta pedra – a da sólida fé – edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18).

“Tornou-se enfim Pedro o alicerce firmíssimo e fundamento da Casa de Deus, quando, após negar a Cristo e cair em si, foi buscado pelo Senhor e por ele honrado com as palavras: “apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21, 15s). Dizendo isto, o Senhor nos estimulou à conversão, e também a que de novo se edificasse solidamente sobre Pedro aquela fé, a de que ninguém perde a vida e a salvação, neste mundo, quando faz penitência sincera e se corrige de seus pecados” (Haer. 59,c,8).

Segundo o testemunho de Santo Ireneu, desde o primeiro século, a Igreja de Roma tinha a primazia do ensino. Antes de dar a lista dos doze primeiros papas, ele afirma: “Porque é com essa Igreja (de Roma), em razão de sua mais poderosa autoridade de fundação, que deve necessariamente concordar toda igreja, isto é, que devem concordar os fiéis procedentes de qualquer parte, ela, na qual sempre, em benefício dos que procedem de toda parte, se conservou a tradição que vem dos apóstolos” (Contra as Heresias).

Santo Agostinho, após a condenação do Pelagianismo, a heresia que desprezava a graça de Deus, no sínodo do ano 416, com a concordância do Papa Inocêncio I, pronunciou a frase que ficou célebre na Igreja: “Roma locuta, causa finita!” (Roma falou, encerrada a questão!)

Na Encíclica “Mystici Corporis Christio” Papa Pio XII mostrou muito bem que aqueles que não se ligam à Cabeça visível da Igreja, também não se ligam a Cristo, Cabeça da Igreja: “Há os que se enganam perigosamente, crendo poder se ligar a Cristo, cabeça da igreja, sem aderir fielmente a seu Vigário na terra. Porque suprimindo esse Chefe visível, quebrando os laços luminosos da unidade, eles obscurecem e deformam o Corpo místico do Redentor a ponto de ele não poder ser reconhecido e achado dentro dos homens, procurando o porto da salvação eterna”.

Qualquer um de nós no lugar de Jesus, após ter sido negado por Pedro, por três vezes, naquela hora terrível, teria dispensado Pedro da chefia da Igreja. Mas Jesus é diferente de todos nós… manteve Pedro no timão da sua Barca.

Parece-me que Jesus quis fazer o seu eleito, sentir fortemente a sua miséria, para nunca confiar em si mesmo, especialmente no governo da Igreja nascente. Pedro foi orgulhoso; ele havia dito a Jesus, momentos antes de Jesus ser preso: “Senhor, estou pronto a ir contigo até a prisão e a morte” (Lc 22,33). Ao que Jesus lhe respondeu:

“Digo-te Pedro, que não cantará hoje o galo, até que três vezes hajas negado que me conheces” (v. 34).

É importante notar que tudo isso aconteceu na mesma noite em que Jesus foi preso. Há uma verdade que os santos nos ensinam: é pela humilhação que nos tornamos humildes. Jesus deixou Pedro passar pela humilhação de negá-lo três vezes, talvez para que se tornasse humilde e apto para a chefia da Igreja.

Mas é importante notar também que nessa mesma noite, Jesus disse a Pedro: “Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como o trigo, mas eu roguei por ti, para que a tua confiança não desfaleça; e tu, por tua vez, confirma os teus irmãos” (Lc 22, 31).

Como são importantes estas palavras! Satanás, quis derrubar Pedro, se possível fazer com ele o que tinha feito com Judas Iscariotes, mas o Senhor orou por ele… “mas eu roguei por ti”.

Se Pedro não desfaleceu após a tríplice negação de Jesus, se não caiu no mesmo remorso desesperador de Judas, certamente foi porque o Senhor intercedeu por ele junto do Pai. Pedro chorou amargamente o seu pecado:

“Voltando-se o Senhor, olhou para Pedro. Então Pedro se lembrou da palavra do Senhor: “hoje, antes que o galo cante, negar-me-às três vezes. Saiu dali e chorou amargamente” (Lc 22, 61-62).

Que lágrimas benditas! Lágrimas de arrependimento e de dor, mas também de confiança que vence o desespero.

Com tudo isso Jesus tinha feito uma grande obra no coração do seu escolhido. Aquele olhar de Jesus para Pedro destruiu toda a presunção e orgulho do primeiro Papa.

“Voltando-se o Senhor, olhou para Pedro. Então Pedro lembrou-se da palavra do Senhor…” (Lc 22,61).

E depois de tudo isso, Jesus manteve-o no Primado da Igreja…

“Confirma os teus irmãos!” (Lc 22.31).

“Apascenta as minhas ovelhas!” (Jo 21,17).

Esse é o ministério petrino que o Papa cumpre em todos os tempos, e que o nosso querido João Paulo II exerce viajando pelo mundo todo para confirmar na fé os seus irmãos. Já foram cerca de 80 viagens pelo mundo todo.

A Igreja já teve cerca de 264 Papas, chegou mesmo a ter muitos anti-Papas, que foram Papas ilegítimos, mas sempre teve o sucessor legítimo de Pedro. A permanência contínua desse ministério, contra todos os obstáculos enfrentados nesses 2000 anos, mostra-nos de maneira clara e inequívoca de que foi instituído por Deus.

É interessante notar que nenhum deles assumiu o nome de Pedro. Nunca houve o Pedro II, Pedro III; isto porque na verdade todos eles são o mesmo Pedro. Nós o chamamos de João Paulo II, mas Jesus continua a chamá-lo de Pedro.

“Tu és Pedro!” (Mt 16,18).

Certa vez São João Bosco teve um sonho profético. Viu o mar agitado pelos ventos e uma batalha acontecendo. No meio da tormenta ele viu uma grande nau dirigida pelo Papa, atravessando o oceano agitado. Duas correntes saiam de cada lado da barca e a prendiam em duas fortes colunas de alturas diferentes. Sobre a mais alta ele viu a Sagrada Hóstia num ostensório, estando escrito na sua base as palavras “Salus credentium” (Salvação do que crêem). Sobre a outra coluna ele viu a imagem de Nossa Senhora Auxiliadora e na base as palavras: “Auxilium Christianorum” (Auxiliadora dos Cristãos).

Deus mostrou a D. Bosco, e a nós, que essas são as três salvaguardas principais da Igreja, que não permitirão jamais as portas do inferno a vencerem: a Eucaristia, Maria e o Papa.

Devemos observar que Pedro sempre foi o lider do Colégio dos Apóstolos e seu porta-voz. Muitas são as passagens onde ele aparece como o líder, antes e depois da morte e ressurreição de Jesus, evidenciando o primado de Pedro no Colégio dos Doze.

Vejamos alguns exemplos.

O nome de Pedro é mencionado 171 vezes no Novo Testamento. João apenas 46 vezes, é o segundo mais citado.

No catálogo dos Apóstolos, Pedro é sempre citado em primeiro lugar:

“Escolheu estes doze: Simão, a quem pôs o nome de Pedro; Tiago, filho de Zebedeu, e João seu irmão…” (Mc 3,16).

“Eis os nomes dos doze apóstolos: “o primeiro, Simão, chamado Pedro; depois André, seu irmão…” (Mt 10,1-4).

“Ao amanhecer, chamou os seus discípulos e escolheu doze dentre eles que chamou de apóstolos: Simão, a quem deu o nome de Pedro; André seu irmão…” (Lc 6,12-16).

Após a ressurreição de Jesus, continua Pedro sempre citado em primeiro lugar:

“Tendo entrado no Cenáculo, subiram ao quarto de cima, onde costumavam permanecer. Eram eles: “Pedro e João, Tiago, André…” (At 1,13).

Por outro lado, Pedro aparece sempre como o “porta-voz” do Grupo:

“Então perguntou-lhes Jesus: “E vós, quem dizeis que eu sou? Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!” (Mt 16,15-16).

É interessante notar que Pedro é também o escolhido pelo Pai para revelar aos outros a divindade de Jesus.

“Feliz és Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos ceus” (Mt 16,17).

Em outras ocasiões Pedro toma a frente:

“Pedro começou a dizer-lhe: “Eis que deixamos tudo e te seguimos” (Mc 10,28).

“Então Pedro se aproximou dele e disse: “Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?” (Mt 18,21).

“Disse-lhe Pedro: “Senhor, propões esta parábola só a nós ou também a todos?” (Lc 12,41).

No momento difícil, após o discurso sobre a Eucaristia, quando Jesus “checou” até o fundo a fé dos discípulos, é Pedro quem responde:

“Então Jesus, perguntou aos Doze: “Quereis vós também retirar-vos? Respondeu-lhe Simão Pedro: “Senhor, a quem iríamos nós? Tu tens as palavras da vida eterna. E nós cremos e sabemos que Tu és o Santo de Deus” (Jo 6,67/69).

Essas passagens mostram bem a “escolha” de Pedro. Em muitas outras encontramos essa expressão “Pedro e os seus”:

“Entretanto, Pedro e seus companheiros tinham deixado vencer-se pelo sono…” (Lc 9,32).

“Mas ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que ele vos precede na Galileia… (Mc 16,7).

É relevante notar que Jesus orou por Pedro… (Lc 22,31).

Tudo isto mostra a necessidade do Papa para a Igreja. A Pedro o Senhor quis confiar uma missão especial, simbolizado pela palavra “Kephas”, que quer dizer Rocha, Fundamento sólido sobre o qual se ergueria o edifício da Igreja, que haveria de perdurar até o fim do mundo. Por isso, o seu fundamento também há de ser duradouro; daí vemos claramente que as faculdades, os poderes dado a Pedro, hão de ser transmissíveis aos seus sucessores, como desde o princípio os Apóstolos e seus sucessores assim entenderam.

Desde o início os demais Apóstolos entenderam a missão especial de Pedro, conferida a ele por Jesus, e o respeitaram.

Um fato que mostra bem isso foi, por exemplo, o que aconteceu no dia de Pentecostes. É Pedro quem toma a palavra para falar ao povo:

“Pedro, de pé com os Onze, ergueu a voz e assim lhes falou: “Homens da Judéia, e habitantes todos de Jerusalém…” (At 2,14 s).

Em outra ocasião: “Então Pedro, cheio do Espírito Santo, respondeu-lhes: “Chefes do povo e anciãos, ouvi-me…” (At 4,8s).

É bom recordarmos que o único Apóstolo que ficou aos pés da cruz do Senhor crucificado foi João; mas, ainda assim Pedro permaneceu o lider, o porta-voz deles, o chefe da Igreja, como Jesus havia querido.

“À vista disso, Pedro dirigiu-se ao povo: Homens de Israel, por que vos admirais disto?” (At 3,12/25).

Outro fato importantíssimo do exercício dos poderes de Pedro, foi a admissão do primeiro pagão (Cornélio) na Igreja, em Jope, aceita por ele. Isto era algo inadmissível para os judeus. Mas Jesus mostrou a Pedro que veio salvar a todos; e, depois que Pedro viu o Espírito Santo “cair sobre os que ouviam a palavra” (At 10,44) na casa de Cornélio, não teve dúvidas de batizar a todos da sua casa: “Pode-se, porventura, recusar a água do batismo a esses que, como nós, receberam o Espírito Santo? E ordenou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo” (At 10,44/45).

Esta foi a primeira vez que os pagãos (os não judeus) foram admitidos na Igreja; isto é, batizados; e por decisão de Pedro. Leia todo o texto de At 10, 1/48. Somente Pedro tinha esta autoridade. Se esta decisão “história” fosse tomada por outro, certamente seria muito difícil de ter sido aceita em Jerusalém. Mas, quando Pedro voltou para lá, e expôs cuidadosamente os fatos, todos aceitaram:

“Os apóstolos e os irmãos da Judeia ouviram dizer que também os pagãos haviam recebido a palavra de Deus. E quando Pedro subiu a Jerusalém, os fiéis que eram da circuncisão repreenderam-no: “Por que entraste em casa de incircuncisos e comeste com eles?” Mas Pedro fez-lhes uma exposição de tudo o que acontecera…”.

“Depois de terem ouvido essas palavras, eles se calaram e deram glória a Deus dizendo: “Portanto também aos pagãos concedeu Deus o arrependimento que conduz à vida” (At 11,1/18).

É muito relevante o fato do Senhor ter introduzido os pagãos na Igreja, pelo do Batismo, exatamente através de Pedro. Mais uma vez Pedro…

Outro fato marcante na vida da Igreja primitiva, e que mostra claro os poderes de Pedro, foi na realização do Primeiro Concílio universal; o de Jerusalém, no ano 49.

Toda a polêmica girou em torno da necessidade da circuncisão antes do pagão ser batizado. São Paulo e S. Barnabé ensinavam, na forte comunidade de Antioquia, que não era necessário a circuncisão; mas alguns cristãos, vindos de Jerusalém à Antioquia ensinavam o contrário. Houve conflito.

“Alguns homens, descendo da Judéia [à Antioquia], puseram-se a a ensinar aos irmãos o seguinte: “Se não vos circuncidais, segundo o rito de Moisés, não podeis ser salvos”. Originou-se então grande discussão de Paulo e Barnabé com eles, e resolveu-se que estes dois, com alguns outros irmãos, fossem tratar desta questão com os Apóstolos e os anciãos em Jerusalém” (At 15,1-3). Por isso aconteceu o primeiro Concílio da Igreja. Ouçamos a narração de S. Lucas: “Ao fim de uma grande discussão, Pedro levantou-se e lhes disse: “Irmãos, vós sabeis que já há muito tempo Deus me escolheu dentre vós, para que da minha boca os pagãos ouvissem a palavra do Evangelho e cressem… Por que, pois, provocais agora a Deus, impondo aos discípulos um jugo [circuncisão] que nem nossos pais nem nós pudemos suportar? Nós cremos que pela graça de Nosso Senhor Jesus Cristo seremos salvos, exatamente como eles.

Toda a assembléia o ouviu silenciosamente” (At 15,1/12).

Só “depois de terminarem” (v.13) é que Tiago toma a palavra para corroborar e completar o que Pedro decidiu. Não sei sob que fundamentos alguns livros protestantes querem afirmar que foi Tiago, e não Pedro, quem presidiu o Concílio de Jerusalém. Basta ler Atos15, para se tirar facilmente a conclusão.

É interessante notar também o que Pedro lembra a todos: “há muito tempo Deus me escolheu dentre vós…”

É relevante notar ainda que Paulo e Barnabé, bem como a importante comunidade cristã de Antioquia, a mais antiga depois da de Jerusalém, não resolveu a questão da circuncisão por ela mesma, mas foram levar a decisão para Pedro e os Apóstolos em Jerusalém. Isto mostra que no Cristianismo nunca ouve comunidades “independentes” ou igrejas que viviam independentes dos Apóstolos. A Igreja primitiva sempre esteve sob a jurisdição dos Apóstolos e de Pedro, como podemos ver em vários fatos.

“Nem havia entre eles nenhum necessitado, porque todos os que possuiam terras ou casas vendiam-nas, e traziam o preço do que tinham vendido e depositavam-no aos pés dos apóstolos” (At 4,35).

No episódio triste de Ananias e Safira, é pelas mãos de Pedro que eles recebem a punição de Deus pelo seu pecado: “Pedro, porém disse: “Ananias, por que tomou conta Satanás do teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo…”. Ao ouvir essas palavras Ananias caiu morto” (At 5,3-6). É belo notar que: “…traziam os doentes para as ruas e punham-nos em leitos e macas, a fim de que, quando Pedro passasse, ao menos a sua sombra cobrisse alguns deles” (At 5,15).

Quando o sumo Sacerdote e os doutores da lei quiseram obrigar os Apóstolos ao silêncio, “Pedro e os Apóstolos replicaram: “importa obedecer antes a Deus do que aos homens” (At 5,29). Sempre Pedro está na frente; e junto com os Apóstolos. Não há como negar o primado de Pedro à frente da Igreja primitiva.

A jurisdição dos Apóstolos sobre a Igreja sempre se fez valer, e jamais houve “igrejas independentes”, até a triste reforma protestante de 1517:

“Os Apóstolos que se achavam em Jerusalém, tendo ouvido que a Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram-lhe Pedro e João. Estes, assim que chegaram fizeram oração pelos novos fiéis, a fim de receberem o Espírito Santo… Então os dois Apóstolos lhes impuseram as mãos e receberam o Espírito Santo” (At 8,14/17).

A partir deste episódio a Igreja foi descobrindo o Sacramento da Crisma, ministrado pelo Bispo. Isto mostra que os Apóstolos governavam toda a Igreja primitiva.

Após a perseguição que se seguiu à morte de Estevão, muitos gentios se converteram em Antioquia, pela pregação dos dispersos que lá se refugiaram. A notícia dessas coisas chegou aos ouvidos da Igreja de Jerusalém. Enviaram então Barnabé à Antioquia (At 11,19-22). A Igreja de Jerusalém mantinha a vigilância. São Lucas registra que: “Em cada Igreja [os apóstolos] instituiam anciãos e, após orações com jejuns encomendavam-nos ao Senhor, em quem tinham confiado” (At 14,23).

Esses fatos mostram claro que as igrejas particulares nunca foram independentes dos Apóstolos, e de Pedro especialmente, como querem os irmãos separados da Igreja Católica. Toda a Tradição apostólica confirma isto.

São Pedro foi martirizado em Roma. As escavações realizadas sob a basílica do Vaticano nos últimos decênios, bem como os escritores antigos, confirmam isto. Os arqueólogos descobriam um túmulo cristão sob a basílica vaticana, em meio a túmulos pagãos. Esse túmulo cristão tinha acesso por uma via que devia ser muito frequentada. Foram encontradas junto a esse túmulo numerosas inscrições a carvão (graffiti), fazendo menção ao Apóstolo Pedro. Encontraram ossos de um indivíduo de 60 a 70 anos, que é muito provavelmente de S. Pedro. Quando Pedro morreu, no ano 67, os cristãos ainda não tinham cemitérios próprios, e por isso o enterraram em um cemitério pagão.

Foi o imperador romano Constantino, filho de Santa Helena, que convertido ao Cristianismo, construiu a basílica de S. Pedro, no século IV. É importante notar que ele podia ter escolhido, ao lado do local onde a Basílica foi construída, um terreno mais adequado, plano e grande: o chamado “Circo de Nero”. Ao contrário, mandou edificar a Basílica sobre um terreno fortemente inclinado e já ocupado por um cemitério, que era um local respeitado pelos romanos. Se Constantino preferiu o local acidentado e “desrespeitou” o cemitério, construindo sobre ele a Basílica, é porque deve ter tido uma razão forte, exatamente a presença do túmulo de São Pedro ali.

Por todas essas razões os Bispos de Roma são os sucessores de Pedro, com jurisdição sobre toda a Igreja. A Igreja Católica é chamada também de Romana por ter a sua sede, a Santa Sé, em Roma. Esta denominação, embora não seja uma exigência doutrinária, não é gratuita. Firmando a sede da Sua Igreja exatamente no coração do Império Romano, aquele que quis destruir a Igreja, que sacrificou milhares de mártires, com isto Cristo mostrou ao mundo que a Sua Igreja é invencível, e que jamais os poderes do inferno a vencerão. Sua promessa se cumpre. O império romano, talvez o maior império que a humanidade já conheceu, não conseguiu vencer aqueles Doze homens simples da Galiléia; ao contrário, foi “engolido” pelo cristianismo. No ano 313 o imperador Constantino, filho de Santa Helena, assinava o Edito de Milão, que acabava com a perseguição contra os cristãos em todo o império. Pouco tempo depois, o imperador Teodósio oficializava o cristianismo como a religião oficial do império…

Retirado do livro: “A Minha Igreja”. Prof. Felipe de Aquino. Ed. Cléofas.

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Sobre Prof. Felipe Aquino
O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.

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