quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Na íntegra - Catequese do Papa Francisco - 25/09/2019

quarta-feira, 25 de setembro de 2019, 10h52

CATEQUESE DO PAPA FRANCISCO
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal (Canção Nova)

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Através do Livro dos Atos dos Apóstolos, continuamos a seguir uma viagem: a viagem do Evangelho no mundo. São Lucas, com grande realismo, mostra seja a fecundidade desta viagem seja o nascimento de alguns problemas no seio da comunidade cristã. Desde o início houve problemas. Como harmonizar as diferenças que coabitam em seu interior sem que ocorram contrastes e divisões?
A comunidade não acolhia somente os judeus, mas também os gregos, isso é, pessoas provenientes da diáspora, não hebreus, com cultura e sensibilidade próprias e com uma outra religião. Nós, hoje, dizemos “pagãos”. E estes eram acolhidos. Esta co-presença determina equilíbrios frágeis e precários; e diante das dificuldades aparece o “joio”, e qual é o pior joio que destrói a comunidade? O joio da murmuração, o joio das fofocas: os gregos murmuram pela desatenção da comunidade em relação às suas viúvas.
Os apóstolos iniciam um processo de discernimento que consiste em considerar bem as dificuldades e procurar junto as soluções. Encontram um caminho de saída em subdividir as várias tarefas para um sereno crescimento de todo o corpo eclesial e para evitar deixar de lado seja a “corrida” do Evangelho seja o cuidado dos membros mais pobres.
Os Apóstolos estão sempre mais conscientes de que a sua vocação principal é a oração e a pregação da Palavra de Deus: rezar e anunciar o Evangelho; e resolvem a questão instituindo um núcleo de “sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria” (At 6,3), os quais, depois de ter recebido a imposição das mãos, se ocupam do serviço da mesa. Trata-se dos diáconos que são criados para isso, para o serviço. O diácono na Igreja não é um sacerdote de segunda, é outra coisa; não é para o altar, mas para o serviço. É o custódio do serviço na Igreja. Quando um diácono gosta muito de ir ao altar, erra. Este não é o seu caminho. Esta harmonia entre o serviço à Palavra e o serviço à caridade representa o fermento que faz crescer o corpo eclesial.
E os Apóstolos criam sete diáconos, e entre os sete “diáconos” se distinguem de modo particular Estevão e Filipe. Estevão evangeliza com força e parresia, mas a sua palavra encontra as resistências mais obstinadas. Não encontrando outro modo para fazê-lo desistir, o que fazem seus adversários? Escolhem a solução mais mesquinha para aniquilar um ser humano: isso é, a calúnia ou falso testemunho. E nós sabemos que a calúnia sempre mata. Este “câncer diabólico”, que nasce da vontade de destruir a reputação de uma pessoa, agride também o resto do corpo eclesial e o danifica gravemente quando, por interesses mesquinhos ou para encobrir as próprias inadimplências, se usa para sujar alguém.
Conduzido ao Sinédrio e acusado de falsos testemunhos – o mesmo haviam feito com Jesus e o mesmo farão com todos os mártires mediante falsos testemunhos e calúnias – Estevão proclama uma releitura da história sagrada centralizada em Cristo, para defender-se.
E a Páscoa de Jesus morto e ressuscitado é a chave de toda a história da aliança. Diante desta superabundância do dom divino, Estevão corajosamente denuncia a hipocrisia com que foram tratados os profetas e o próprio Cristo. E recorda a história deles dizendo: “A qual dos profetas não perseguiram os vossos pais? Mataram os que prediziam a vinda do Justo, do qual vós agora tendes sido traidores e homicidas” (At 7, 52). Não usa meias palavras, mas fala claro, diz a verdade.
Isso provoca a reação violenta dos ouvintes e Estevão é condenado à morte, condenado à lapidação. Ele porém manifesta a verdadeira “força” do discípulo de Cristo. Não procura saídas, não apela a personalidades que possam salvá-lo, mas coloca a sua vida nas mãos do Senhor e a oração de Estevão é belíssima, naquele momento: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito” (At 7, 59) – e morre como filho de Deus perdoando: “Senhor, não lhes leves em conta este pecado” (At 7, 60).
Estas palavras de Estevão nos ensinam que não são os belos discursos a revelar a nossa identidade de filhos de Deus, mas só o abandono das próprias vidas nas mãos do Pai e o perdão a quem nos ofende nos fazem ver a qualidade da nossa fé.
Hoje há mais mártires que no início da vida da Igreja e os mártires estão em todo lugar. A Igreja de hoje é rica de mártires, é irrigada por seu sangue que é “semente de novos cristãos” (Tertulliano, Apologetico, 50, 13) e assegura crescimento e fecundidade ao Povo de Deus. Os mártires não são “santinhos”, mas homens e mulheres em carne e osso que – como diz o Apocalipse – “lavaram suas vestes, e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (7, 14). Esses são os verdadeiros vencedores.
Peçamos também nós ao Senhor que, olhando para os mártires de ontem e de hoje, possamos aprender a viver uma vida plena, acolhendo o martírio da fidelidade cotidiana ao Evangelho e da conformação a Cristo.

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