É muito interessante essa devoção à Virgem das Três Mãos, cujo
culto nasceu de um ícone milagroso da Mãe de Deus, que teria intercedido em um
milagre alcançado por São João Damasceno, no século VIII.
Considerado o último dos Santos Padres Orientais,
mais tarde declarado Doutor da Igreja, passou sua vida inteira sob o governo de
um Califa muçulmano. João nasceu numa família cristã, em 675, em Damasco,
Síria. Nessa época as duas religiões ainda conviviam em relativa paz. Tanto,
que seu pai, um cristão fervoroso, era um alto funcionário do Califa, o qual
aprendeu a respeitar a sabedoria do pequeno João e acabou lhe dedicando uma
sincera amizade. Devido a sua cidade natal, na juventude João era chamado de
"o Damasceno" e se tornou um influente sacerdote da Igreja cristã da
Síria. Foi um dos maiores e fortes defensores do culto das imagens sagradas no
difícil período dos hereges iconoclastas. Mesmo atacando abertamente o governo
muçulmano, sempre foi protegido das vinganças, pelo próprio Califa.
Diz a tradição, que insuflado por uma mentira que
tornava João Damasceno um conspirador do governo, o Califa se sentiu traído
pelo velho amigo. Por isso, ordenou que lhe cortasse a mão direita, conforme a
lei muçulmana. João Damasceno, porém, profundo devoto de Maria, rezou com toda
fé diante do seu ícone. No dia seguinte, a mão estava recolocada no lugar. Como
prova de sua gratidão, ele pendurou uma mão de prata no ícone e mandou pintar
um novo com esta mão votiva, diante do qual passou a fazer suas orações. Assim
surgiu o ícone da "Virgem das Três Mãos" e sua devoção. Ao logo dos
tempos o seu culto se difundiu e muitas cópias surgiram nos mosteiros e igrejas
cristãs do Oriente.
No século XIII, São Sabas, filho de Estêvão I,
fundador da dinastia e do Estado independente da Sérvia, antes de se retirar
para o mosteiro do Monte Athos, esteve em Jerusalém e levou para seu país um
ícone de Nossa Senhora das Três Mãos, para ser venerado na Catedral da capital
Sófia. Mais tarde, seu pai abdicou o trono e se recolheu à vida religiosa.
Então, juntos decidiram fundaram um mosteiro para os sérvios em Kilandar,
chamado "Mosteiro da Santíssima Mãe de Deus" ou "Casa da
Santíssima Mãe de Deus de Kilandar", um reconhecido centro religioso e
cultural.
Em 1459, a Sérvia ficou completamente sob o
domínio dos turcos muçulmanos. O ícone venerado em Sófia foi transferido para o
Mosteiro de Kilandar, local que deu origem à outra tradição cristã. No início
do século XVII, certo dia, os monges desse Mosteiro não conseguiam entrar em
acordo para eleger o novo guia espiritual. Por isso, a Senhora das Três Mãos
teria descido do altar para assumir essa função e comunicado os monges através
de uma visão à um dos mais velhos. Daquela época em diante os religiosos de
Kilandar rendem à Virgem das Três Mãos todas as honras devidas, especialmente
no dia 28 de junho sua festa anual.
Com base nessas e outras tradições, a terceira mão
que aparece no ícone foi interpretada como: mão auxiliadora da Mãe de Deus que
sempre intercede pelos fiéis junto ao Senhor.
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