domingo, 9 de março de 2014

HOMÍLIA DIÁRIA, COMENTÁRIO E REFLEXÃO DO EVANGELHO DO DIA 09/03/2014

ANO A


Mt 4,1-11

Comentário do Evangelho

Jesus não permite que a voz do mal ressoe nele.

Os domingos do tempo da Quaresma são como que etapas que nos preparam para a celebração do mistério pascal de Jesus Cristo. O tempo da Quaresma deve ser marcado por uma dupla característica: deve ser a ocasião para recordarmos o nosso Batismo e a vocação a que somos chamados pela graça desse mesmo Batismo, e tempo para a penitência, isto é, o desejo e o consequente esforço de verdadeira e profunda conversão para que possamos tirar do mistério pascal de Jesus Cristo toda a sua riqueza.
O autor do segundo relato da criação do livro do Gênesis tem a preocupação de responder à seguinte pergunta: se tudo o que Deus criou é bom, por que existe o mal? Por que, muitas vezes, o mal domina sobre o ser humano? Em primeiro lugar, o autor afirma a bondade de Deus. Deus chama o ser humano à existência; Ele pôs o seu próprio “sopro” no ser humano (2,7b). O homem, tirado do pó, é obra do coração de Deus, do seu amor. No jardim que Deus plantou havia tudo o que o ser humano precisava para realizar-se como plenamente humano. No entanto, enigmaticamente, aparece a serpente, símbolo do mal do homem; ela aparece como uma força de sedução que distorce o mandamento de Deus e leva o ser humano a negar a sua própria condição de criatura e, portanto, a negar sua referência a Deus. É o mal que, segundo o nosso autor, coloca no coração do ser humano a suspeita com relação a Deus. O mal desumaniza na medida em que leva a negar-se a qualidade de criatura e sua referência ao Criador. O ser humano é colocado diante da alternativa pela qual deve decidir: confiar em Deus ou se deixar levar pela sedução do mal. Infelizmente, o primeiro homem se deixou envolver pelasedução do mal.
O relato das tentações de Jesus segundo Mateus é um sumário das tentações que acompanharam Jesus ao longo de toda a sua vida. Ao contrário do primeiro ser humano, Jesus não permite que a voz do mal ressoe nele. Pela apropriação da Palavra de Deus, por sua comunhão com o Pai, ele vence o mal; ele vence o mal pela confiança inabalável em Deus. As tentações de Jesus dizem respeito à sua filiação divina e à sua missão. É na sua condição de Filho de Deus e em relação ao seu messianismo que Jesus é tentado. Jesus não se prosterna diante do mal, pois sua vida está profundamente enraizada em Deus; somente a Deus ele adora. Foi por nós que Jesus venceu as tentações.
Carlos Alberto Contieri, sj
Oração
Pai, como Jesus, quero ser fiel a ti, sem jamais exigir manifestações extraordinárias de teu amor por mim. Basta-me estar ciente de ser teu filho.

Vivendo a Palavra

‘Quarenta’ mais do que um número, é termo bíblico que significa ‘o tempo necessário para que aconteça o que deve acontecer’. Nas tentações de Jesus, significa toda sua vida. E Ele as venceu sempre, vivendo as Verdades que o Evangelista coloca em seus lábios. Também nós seremos tentados até a última hora. Estejamos protegidos pela Palavra do Senhor!

Recadinho


Você se prepara bem para as missões que tem a desempenhar? - Quem é Jesus para você? - A tentação de uma vida cômoda e fácil perturba sua caminhada? - Você procura se alimentar sempre da palavra de Deus? - Sua vida é um serviço constante ao próximo? Dê algum exemplo.
Padre Geraldo Rodrigues, C.Ss.R

Comentário do Evangelho

A PROVAÇÃO DO FILHO DO HOMEM

A cena das tentações, inserida no início da vida pública de Jesus, é um claro indício de que o exercício de seu ministério seria pontilhado de provas e dificuldades. Na aritmética teológica da época, que consistia em atribuir valor simbólico-teológico aos números, o número três designava a constituição do ser humano (espírito - alma - corpo). A tríplice tentação significava que Jesus, enquanto ser humano, seria submetido a contínuas provações, pelas quais teria chance de dar provas de sua absoluta fidelidade a Deus. De fato, até os instantes finais de sua caminhada terrena, Jesus viu-se tentado.
O tentador insistia sempre no mesmo ponto: "Se você, de fato, é Filho de Deus", passando a fazer-lhe propostas extravagantes. Com isto, pretendia levar Jesus a exigir do Pai uma manifestação desnecessária de sua providência, bem como levá-lo a oferecer espetáculos formidáveis com os quais atrairia a atenção sobre si, granjeando a admiração das multidões, mas também o risco de ser vítima do orgulho e da vaidade.
As tentações foram capciosas. Com uma interpretação superficial, podiam parecer inocentes, sem maiores conseqüências. Só uma leitura arguta, como a de Jesus, foi capaz de desmascará-las e revelar as verdadeiras intenções do tentador.
O fato de vencer as tentações já foi um primeiro sinal da fidelidade de Jesus ao Pai. Por ser Filho de Deus, recusava-se a exigir do Pai manifestações insensatas de amor.
Oração
Pai, como Jesus, quero ser fiel a ti, sem jamais exigir manifestações extraordinárias de teu amor por mim. Basta-me estar ciente de ser teu filho.
(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês)
Oração
Concedei-nos, ó Deus onipotente, que, ao longo desta Quaresma, possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder a seu amor por uma vida santa. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

REFLEXÕES DE HOJE

09 DE  MARÇO – DOMINGO
VEJA AQUI MAIS HOMILIAS PARA O PRÓXIMO DOMINGO
ATENÇÃO: NESTE SITE, MISSA COM CRIANÇAS.
9 de março – 1º DOMINGO DA QUARESMA
Por Celso Loraschi

I. INTRODUÇÃO GERAL

Iniciamos o período da Quaresma com a disposição renovada de mergulhar em Deus, deixando-nos iluminar por suas palavras, questionando-nos sobre nossas atitudes e comprometendo-nos com uma nova vida. Somos fruto da iniciativa amorosa de Deus. Ele nos modelou a partir do barro e deu-nos a vida, insuflando em nós o seu sopro divino. Presenteou o ser humano com uma habitação especial, um jardim que produz toda espécie de frutos. Para conservar o estado de bem-estar e alegria, ordenou-lhe que não tocasse na “árvore da ciência do bem e do mal”. Porém a rebeldia dos homens e das mulheres, representados por Adão e Eva, originou toda espécie de males (I leitura). Deus, no entanto, não abandona as suas criaturas. Ele é criador e também libertador. Por isso, como máxima expressão do seu amor, enviou o seu Filho, Jesus Cristo, para nos libertar de todos os males, com suas consequências. Se pelo pecado de Adão entrou a morte no mundo, pela graça de Jesus Cristo nos é dada a redenção (II leitura). Para isso, Jesus assumiu plenamente a condição humana, sofreu toda espécie de tentações durante toda a sua vida. Não caiu, porém, nelas. Permaneceu fiel à vontade do Pai, alimentando-se permanentemente de sua palavra e cultivando a sua intimidade pelo silêncio e pela oração (evangelho). Portanto, a palavra e o exemplo de nosso irmão maior, Jesus Cristo, devem tornar-se o pão nosso de cada dia, que nos sustenta na caminhada desta vida e nos mantém na fidelidade ao projeto de Deus.

II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

1. I leitura (Gn 2,7-9; 3,1-7): Da argila da terra Deus criou o ser humano
A figura de Deus apresentada nesse relato da criação é a de um oleiro com incrível capacidade artística. Percebe-se a intenção dos autores de ressaltar a origem do ser humano, que tem íntima ligação com Deus e com a terra que ele criou. O próprio nome Adão vem de adamah, termo hebraico que designa a terra. É a palavra que deu origem ao homem, entendido aqui como nome genérico da raça humana. Homens e mulheres são seres originados do húmus da terra. A terra, portanto, Deus a fez e a usou como “mãe” da humanidade. Ela é fonte de vida, é fértil e produz todas as espécies de frutos.
Deus é pai, amigo e conselheiro dos seus filhos e filhas. Dá-lhes as instruções necessárias para que possam viver sobre a terra em íntima comunhão com ele e, como decorrência, em solidariedade com todas as coisas. Por isso, Deus pede que não comam do fruto da “árvore da ciência do bem e do mal”. Em outras palavras: os seres humanos devem respeitar a soberania de Deus sobre todas as coisas e submeter-se ao seu desígnio. Tudo o que ele faz é muito bom.
A narrativa busca explicar o motivo do sofrimento pessoal e dos males sociais. A origem de todas as coisas está fundamentada na bondade divina. Foram feitas para o bem dos seres humanos. Por que, então, o sofrimento? Os autores do texto expressam profunda consciência crítica sobre a opressão. Esta se constitui a causa de todos os males. Ao tomarem a figura da serpente como a provocadora da violação da ordem divina, apontam para a sagacidade do poder em “dar o bote” para morder e alienar a consciência humana.
Certamente, o grupo que está por trás do texto conhece muito bem as consequências da monarquia israelita. Analisam a realidade social, denunciando a ambição de grandeza e de sabedoria do regime monárquico, que pretende ser “igual a Deus”, usurpando o poder divino e revelando o domínio sobre os bens e as pessoas. Mas, como diz o adágio popular, “o rei está nu”. A nudez revela que a fraqueza e a condição de mortalidade fazem parte da pessoa. De que lhe adiantam as pretensões de poder e de possessão? Confrontado honestamente com o desígnio divino, o ser humano, pretensamente poderoso, sente-se envergonhado. É claro, pois a conquista e a manutenção do poder envolvem mentiras, enganação, usurpação de bens… Deus, porém, é justo e verdadeiro. Diante dele, nenhuma “folha de figueira” cobre essa nudez, a transparência de sua verdade, por mais que a pessoa busque justificativas.

2. II leitura (Rm 5,12-19): O novo ser humano em Jesus Cristo
Um dos temas dominantes na carta aos Romanos é a justificação pela graça. Para são Paulo, o pecado entrou no mundo trazendo a morte. Esta deve ser entendida não apenas em seu aspecto físico, mas também como realidade pessoal e social, proveniente do egoísmo humano. É herança da transgressão de Adão, representante dos seres humanos. Essa condição de pecadores nos torna incapacitados de nos redimir. Nenhum mérito humano possibilita a salvação. Ela nos é dada por pura graça de Deus, que se revela plenamente em Cristo Jesus.
Com a Lei, ficou explícito em que consiste o pecado. Com Jesus, a Lei foi superada e, sem ela, o pecado já não é levado em conta. Isso acontece porque a graça de Deus foi derramada sobre todos nós, pecadores, redimindo-nos do pecado. Se o pecado de Adão trouxe a morte, a fidelidade de Jesus Cristo trouxe a vida definitiva. Se a rebeldia do ser humano diante do Criador trouxe a condenação para todos, o dom gratuito de Jesus Cristo para todos trouxe a justificação. Se a transgressão do ser humano é fonte de morte, a graça de Deus, por meio de Jesus, é fonte de vida plena. A graça nos reconcilia com Deus e resgata a nossa integridade. Pela graça, é-nos dada a vida eterna.
São Paulo nos convence de que o pecado foi instrumento que possibilitou a manifestação da misericórdia divina. A transgressão do “primeiro Adão” não conseguiu impedir o fluxo da graça. Pelo contrário, fê-la fluir ainda mais abundantemente. Essa certeza nos torna abertos para acolher o perdão gratuito de Deus e nos incentiva a mergulhar sempre mais em sua graça. Deus nos criou por amor e também por amor nos liberta do mal e da morte. O ato de expiação de Jesus, o novo Adão, anulou definitivamente o poder do pecado.

3. Evangelho (Mt 4,1-11): Jesus vence as tentações
Desde o início do seu ministério, Jesus enfrenta o embate com propostas diabólicas que buscam desviá-lo de sua missão de defender e promover a vida digna das vítimas do poder em sua tríplice dimensão. O “diabo”, a antiga serpente, inimigo do plano de Deus para a humanidade (cujas expressões se encontram tanto dentro de cada um de nós como nas próprias estruturas sociais), convida Jesus a seguir outro caminho, procurando fazê-lo abandonar a missão que iria realizar como Messias sofredor. Em toda a sua vida (este é o sentido dos “40 dias e 40 noites”), Jesus foi tentado a dar preferência a uma lógica criada segundo intentos egoístas. Teve a possibilidade de ou apresentar um falso messianismo, satisfazendo as expectativas dos seus contemporâneos, ou de optar pela realização da vontade do Pai, assumindo o serviço de libertação junto às pessoas excluídas.
A primeira tentação indica a dimensão econômica do poder. Jesus, como ser humano, sentiu-se certamente atraído pela proposta de orientar a sua vida para o acúmulo de bens e para o desfrute dos prazeres que eles podem oferecer. Podia até mesmo ancorar-se na “teologia da retribuição”, tão presente nos ensinamentos oficiais dos doutores da Lei, legitimando a riqueza e o bem-estar físico como bênçãos divinas. Porém Jesus vai por outro caminho. Ele empenha todo o seu tempo e sacrifica a própria vida no cumprimento da missão que o Pai lhe deu em favor do resgate da vida digna sem exclusão. Ao responder que a pessoa vive não só de pão, mas de toda palavra que sai da boca de Deus, aponta para a perspectiva essencial que deve conduzir todos os nossos passos. A palavra de Deus constitui a fonte e a autoridade das quais emana todo ensinamento capaz de realizar as aspirações mais profundas de cada um de nós; é alimento capaz de satisfazer a fome do coração humano, desejoso de inteireza e autenticidade.
A segunda tentação refere-se à dimensão religiosa do poder. O “pináculo”, para além da parte física mais alta do templo, representa os elevados cargos que um judeu poderia galgar na hierarquia religiosa. Esse caminho de poder, pela via religiosa, proporcionaria a Jesus prestígio e proteção muito especiais. A pessoa envolvida na “auréola” de uma espiritualidade legitimada pela ideologia do sistema religioso oficial, como era o caso do templo de Jerusalém, sente-se assegurada pela “blindagem” que seu status religioso proporciona. Jesus poderia apegar-se à sua condição divina e mostrar “sinais do céu”, como queriam os fariseus e saduceus. Poderia “forçar” a providência de Deus, solucionando magicamente os problemas humanos. A resposta de Jesus de não tentar o Senhor Deus informa-nos de que a lógica humana deve submeter-se à lógica divina e não o contrário. A vontade do Pai, de forma desconcertante, manifesta-se no caminho da obediência de seu Filho até a morte de cruz. Com isso, cai por terra toda a presunção de querer usar a Deus para a vanglória humana.
A terceira tentação indica a dimensão política do poder. Equivale à tentação da idolatria por excelência: adoração a Satanás. É posicionar-se como um ser divino, com o poder de agir, de forma absoluta, sobre pessoas e bens. É a tentação de querer alcançar a felicidade suprema pela auto afirmação e pelo domínio sobre os outros. Jesus, com certeza, confrontou-se com essa possibilidade de orientar toda a sua vida no sentido de galgar cargos políticos que lhe conferissem força e fama social. As multidões queriam fazê-lo rei… O posicionamento de Jesus, ao rejeitar essa tentação, transforma-se no caminho de superação de todo domínio e também de todo servilismo. Coloca a Deus como o único Ser digno de adoração. Jesus propõe nova ordem social como realização da vontade do Pai e orienta toda a sua missão para a organização dessa nova ordem. Revela, assim, a verdadeira origem do reino de justiça, fraternidade e paz: é dom de Deus e serviço abnegado dos seus filhos e filhas.

III. PISTAS PARA REFLEXÃO

Deus é criador e libertador. Em seu desígnio de amor, criou o ser humano em íntima união com a mãe terra. Em sua providência generosa, garante as condições de vida digna para todas as pessoas. Deu-nos a missão de cuidar de todas as coisas, sem cair na tentação de “comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal”, isto é, de entrar na ideologia do poder, que tende a dominar as pessoas e se apossar do que é de todos. É preciso respeitar e promover o princípio da soberania de Deus sobre todas as coisas e administrá-las com justiça, evitando toda espécie de exploração.
– Não cair em tentação. Durante toda a nossa vida, somos tentados a abdicar do compromisso com o projeto de Deus, deixando-nos levar por propostas diabólicas. Jesus nos ensinou o caminho de superação das tentações do poder em sua tríplice dimensão: econômica, política e religiosa. É claro que a economia, a política e a religião podem ser meios privilegiados para a construção do reino de justiça, paz e fraternidade no mundo, desde que sejam organizadas como serviço dedicado e honesto ao próximo, principalmente às pessoas mais necessitadas.
Ser portadores da graça divina. Com sua obediência radical à vontade do Pai, Jesus nos trouxe a graça da libertação de todos os males e a vida em plenitude. Seguindo seus passos, podemos ser portadores da graça divina, defendendo e promovendo o direito à vida digna sem exclusão. A Campanha da Fraternidade nos aponta sugestões práticas.

Celso Loraschi
Mestre em Teologia Dogmática com Concentração em Estudos Bíblicos, professor de evangelhos sinóticos e Atos dos Apóstolos no Instituto Teológico de Santa Catarina (Itesc).
E-mail: loraschi@itesc.org.br
 09 de março – 1° Domingo da Quaresma
A PEDAGOGIA DA QUARESMA
Todos somos convidados, neste tempo, a rever o modo de viver cristão e dar importância à celebração do mistério pascal. A Quaresma é o tempo litúrgico favorável à graça da conversão e da reconciliação.
“Vós (ó Deus) concedeis aos cristãos esperar com alegria, cada ano, a festa da Páscoa. De coração purificado, entregues à oração e à prática do amor fraterno, preparamo-nos para celebrar os mistérios pascais, que nos deram vida nova e nos tornaram filhas e filhos vossos”, reza o Prefácio da Quaresma I.
Trata-se, portanto, de uma pedagogia salutar. Ela nos propõe a revisão do nosso modo de viver, apresentando muitas questões à nossa consciência, por exemplo: o que mais desejo em minha vida? O que considero mais importante? O que mais influi sobre minhas opções e escolhas? Para onde se direciona o meu amor primário? Que direção assinala a bússola da minha viagem no tempo?
Parece a muitos que a renovação promovida pelo Vaticano II se refere somente à modalidade exterior da organização eclesial. É justamente o contrário. Ela diz respeito à nossa vida pessoal, às correções que devemos imprimir em nossa conduta, aos critérios norteadores do nosso senso moral, segundo as questões existenciais de nosso tempo.
“Convertei-vos e crede no evangelho” (Mc 1,15) é o grande apelo deste tempo litúrgico. É preciso dar a si mesmo um referencial, um significado e uma direção para a vida, a fim de que se torne verdadeiramente humana e cristã.
Oremos: “Ó Deus, fonte de toda misericórdia e de toda bondade, vós nos indicastes o jejum, a esmola e a oração como remédio contra o pecado. Acolhei a confissão da nossa fraqueza para que, humilhados pela consciência de nossas faltas, sejamos confortados pela vossa misericórdia. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!” (missa do 3º domingo da Quaresma).
D. Orani João Tempesta, O.Cist.
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro
9 de março: 1º Domingo da Quaresma
NOSSAS TENTAÇÕES COTIDIANAS
Todos enfrentamos tentações, grandes ou pequenas. Com Jesus não foi diferente. O evangelho apresenta como que a síntese do que possam ser as grandes tentações da humanidade de todos os tempos.
Transformar pedras em pão: resolveria o problema da fome. Mas esse pro­blema não se resolve num passe de mágica. Resolve-se com trabalho remunerado dignamente e com a partilha dos frutos do empenho de todos. A palavra de Deus mostra que o ser humano precisa de alimento, mas também de moradia, saúde, escola… Transformar pedras em pão pode significar sinal de abundância. Jesus não deseja abundância supérflua. Quer justiça e o necessário para uma vida digna para todos. O povo hebreu, no deserto, forjou o projeto de igualdade e fraternidade, e o diabo, no deserto, quer jogar tudo isso por terra.
Lançar-se do pináculo do templo: bom motivo para mostrar o poderio de Deus, usando seu Filho para um espetáculo gratuito. Jesus recusa o papel de messias do espetáculo e do prestígio, que pensa só em si. Deus e a religião não podem ser transformados em espetáculo. Deus e a religião são realidades fundamentais, não podem ser ridicularizados nem manipulados em vista de interesses pessoais.
Adorar a riqueza e o poder: eis os grandes ídolos que fascinam o ser humano e sempre foram para ele uma constante tentação, talvez a maior tentação de todos os tempos e a síntese de todas as outras. Jesus propõe o poder como serviço e a riqueza partilhada como dom de Deus em benefício de todos os cidadãos. Ele recusa-se a ser o messias do poder e da riqueza.
Como percebemos, o tentador vem na contramão da proposta de Jesus. O diabo propõe abundância fácil, Jesus propõe justiça; o diabo propõe um messias do espetáculo, Jesus propõe respeito ao nome de Deus; o diabo propõe adorar poder e riqueza, Jesus propõe serviço e partilha. No pai-nosso rezamos a Deus que não nos deixe cair em tentação, principalmente na grande tentação do abandono do projeto de Jesus.
Pe. Nilo Luza, ssp

1º Domingo da Quaresma - 9 DE MARÇO DE 2014



DO JARDIM DO ÉDEN AO JARDIM DA RESSURREIÇÃO
Primeira Leitura: Gn 2,7-9.3,1-7;
Salmo 50(51);
Segunda Leitura: Rm 5,12-19;
Evangelho: Mt 4,1-11

Situando-nos brevemente

É fascinante e perturbador a experiência que perpassa nosso interior todos os dias.

Por um lado, nos surpreende o estupor diante da consciência de sermos amados e cuidados por Deus como seus filhos e filhas. O estupor se traduz em íntimo chamado a responder com a simplicidade e a confiança de uma criança.

Por outro lado, se infiltra uma sutil e atraente sugestão, insinuando o desejo de tomar somente em nossas mãos o próprio destino. Olhar a nós mesmos como o exclusivo ponto de referência, única garantia de nossa dignidade. Tornar-se auto-suficiente. Profunda laceração do coração: ficamos feridos, porém não conseguimos escapar.
“Impenetrável é o homem, seu coração é um abismo!” exclama o salmista (Sl 64,7). O apóstolo Paulo, olhando sua sofrida experiência pessoal, grita: “Não faço o bem que quero, mas faço o mal que não quero (...). Infeliz que eu sou! Quem me libertará deste corpo de morte? Graças sejam dadas a Deus, por Jesus Cristo, nosso Senhor!” (Rm 7,19. 24-25).
Este primeiro domingo da Quaresma nos coloca diante do mistério do bem e do mal que nos habita, até as raízes mais profundas da nossa pessoa, e nos deixa vislumbrar a saída desta contradição: queda de Adão/ Eva diante tentador, no Jardim do Éden (1ª leitura), e vitória de Cristo que derrota o diabo no deserto (evangelho) e antecipa sua vitória final na cruz e ressurreição. Cristo ressuscitado é o novo Adão que, no jardim da ressurreição, dá início a uma nova humanidade, à qual nós pertencemos por graça, pelo Batismo que nos faz participar de sua morte e ressurreição.
Cada Quaresma nos faz realizar, de maneira nova e mais profunda, esta passagem da sujeição ao pecado para a vida nova em Cristo, participando de suas lutas e de sua vitória.

Recordando a Palavra
“Fizeste-nos para ti, e inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em ti” (S. Agostinho, Confissões, Livr. 1,1; LH do 9º domingo do Tempo Comum). Santo Agostinho interpreta a tensão vital que nos habita como um chamado constante a voltar a Deus, mesmo quando, pelas ilusões da falsa liberdade, nos afastamos do caminho certo. Atração para Deus, como a origem e fonte inesgotável de vida, e tentação a nos colocarmos em alternativa a Ele é a sorte que nos acompanha.
A narração da criação do ser humano proposta pela primeira leitura (Gn 2,7-9; 3,1-7), com sua linguagem simbólica e altamente poética, destaca o cuidado carinhoso com o qual Deus chama à existência o homem, o faz partícipe de sua mesma vida e dignidade e deu parceiro no cuidado da beleza e da fecundidade da criação inteira, que é “um jardim a ser cultivado”. No centro do jardim, como no centro da existência humana, o Senhor faz brotar a “árvore da vida” e a “árvore do conhecimento do bem e do mal” (Gn 2,9).
Vida em abundância e conhecimento na intimidade recíproca são os dons com que o Senhor enriquece a existência e a missão de Adão e Eva. A cena encantadora, que apresenta o Senhor “passeando a brisa da tarde no jardim”, à procura de Adão e Eva para deter-se em amável conversa com eles, como com seus íntimos amigos (Gn 3,8), irradia toda a beleza e o dinamismo da relação que o Senhor estabeleceu entre si mesmo e o ser humano, ao criá-lo à sua imagem e semelhança (Gn 1,26).
O diabo, o inimigo da vida, o atrapalhador que engana o homem com a ilusão da falsa promessa e da perspectiva de tornar-se fonte totalmente autônoma da vida e do conhecimento, insinua, com astúcia, a possibilidade de se tornar alternativo a Deus: “vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecedores do bem e do mal” (Gn 3,5).
De fato os olhos deles se abrirão, mas irão fazer uma triste descoberta, a descoberta da própria “nudez”, isto é, da radical incapacidade de realizar, de verdade, tanto a vocação à autêntica dignidade e liberdade como a missão de construir um mundo capaz de espelhar a beleza divina: “Então os olhos de ambos se abriram, e, como reparassem que estavam nus, teceram tangas para si com folhas de figueira” (Gn 3,7).
O Senhor, porém, não abandona quem trai, fica fugindo e se esconde. Ele não se dá paz. A narração do pecado tem um seguimento de promessa e de esperança. A voz do Senhor, à procura de seus amigos escondidos pela vergonha e o sentido de culpa, ao primeiro ressoar no jardim – “Onde estás?” (Gn 3,9), - parece vibrar uma ameaça. Na verdade, ela prepara a promessa de resgate da armadilha da serpente enganadora: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirá o calcanhar” (Gn 3,15).
A condição que Adão e Eva terão de enfrentar “fora do jardim”, longe das próprias e autênticas raízes, será amenizada pela luz desta promessa. A pergunta de Deus ao homem – “Onde estás” – revelará plenamente seu carinhoso cuidado na voz cheia de ternura com que Jesus ressuscitado falará a Maria Madalena no jardim da ressurreição: “Maria! (...) “Rabbuni!” (Jo 20,16).
O salmo responsorial (Sl 50) é o salmo penitencial por excelência. Resume em si os sentimentos mais profundos do pecado do arrependimento, da conversão, da alegria, do agradecimento pela vida renovada pela misericórdia e o perdão de Deus.
O caminho de pecado e de conversão do rei Davi se torna espelho do caminho de toda pessoa que procura a Deus, a partir de sua fragilidade.
O salmo exprime, com a máxima intensidade, a consciência da própria fragilidade inata e do próprio pecado e, ao mesmo tempo, a confiança extrema no Senhor que por sua misericórdia perdoa e tudo renova. “Ó Deus, tem piedade de mim (...) contra ti eu pequei!”. “Reconheço a minha iniqüidade e meu pecado está diante de mim”.
Tal humilde reconhecimento do pecado não desanima, mas abre à confiança quem põe no Senhor a razão de sua vida. O perdão inovado é certeza de uma radical transformação do coração, como graça de Deus: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, renova em mim um espírito resoluto (...). Devolve-me a alegria de ser salvo”.
O salmo alimenta o caminho da conversão, a passagem para a vida nova da Páscoa, através da purificação interior da Quaresma.
Na segunda leitura (Rm 5,12-19), Paulo desenvolve, em profundidade, a relação que Deus tem estabelecido entre a aventura negativa de Adão e a resposta de obediência e de amor, realizada por Cristo, “novo Adão”, início de uma humanidade nova.
O dom da salvação em Cristo é bem maior do que mal cumprido pelo homem. Deus não se deixa vencer em bondade e misericórdia. Pela felicidade no amor e na obediência filial de Cristo, o Pai derrama, gratuitamente e com abundância, a vida nova no Espírito. Dela nós vivemos.
A transgressão de um só levou a multidão humana À morte, mas foi de modo bem superior que a graça de Deus, ou seja, o dom gratuito concedido através de um homem, Jesus Cristo, se derramou em abundância sobre todos (cf. Rm 5,15).
Cristo assume sobre si nossa condição humana de pecado e com sua vida de dedicação filial, sobretudo com sua páscoa, revira a situação, abrindo caminho para voltar ao projeto original de Deus e realizá-lo em plenitude.
O evangelho (Mt 4,1-11) narra que Jesus se apresenta entre os pecadores para ser batizado por João e que, cheio do Espírito Santo, é conduzido por este mesmo Espírito a enfrentar o diabo no “deserto”, lugar da esterilidade e da provação, contraposto ao “jardim”, lugar da vida e da comunhão, no qual Deus tinha colocado o homem, para que cuidasse  gozasse de sua beleza e fecundidade.
O deserto, como o jardim do primeiro Éden, não é simplesmente um lugar geográfico, mas indica a sofrida situação existencial do homem “desertificada”, como repetia Bento XVI, ao descrever a condição do homem pós-moderno, fechado em si mesmo e interiormente corroído e pretensão de ser o centro do mundo, sem relação com deus e em competição com os outros (cf. Homilia na santa missa da abertura d Ano da Fé. 11-10-2012).
Jesus penetra dentro deste deserto, conduzido pelo Espírito, para partilhar a dura condição humana e vencer, com o amor e a obediência, o poder obscuro do maligno. “A Palavra se fez carne e veio morar entre nós” (Jo 1,14). Com as três tentações, o tentador procura afastar Jesus do projeto do Pai. Propõe-lhe o caminho do sucesso obtido com o milagre fácil (mudar as pedras em pão para satisfazer a fome), com gestos que produzem prestígio espetacular e fácil consenso (jogar-se do templo diante do povo), prometendo poder (adorando o poder).
Eis as tentações que, em formas variadas, cada um continua a enfrentar ao longo da vida. A Igreja não fica imune a isto, nem no nosso tempo, como, com vigor, destaca freqüentemente o Papa Francisco.
Jesus, no entanto, animado pelo Espírito Santo rejeita com a força da Palavra de Deus as seduções e manifesta sua verdadeira condição de Filho de Deus, assumindo até as extremas conseqüências a escolha da humildade e da dedicação ao Pai. Jesus, “novo Adão”, com a luta no deserto, restabelece a verdadeira relação de obediência no amor com o Pai, que o “primeiro Adão”, no Éden, não soube guardar e valorizar. Jesus, com sua luta de quarenta anos no deserto, não tinha conseguido superar, abandonando-se à murmuração contra Deus e à idolatria.

Atualizando a Palavra
O caminho dos discípulos, em todos os tempos, é o mesmo de Jesus.
Somente seguindo Jesus, se pode lutar, com êxito, contra o egocentrismo e a procura de falso sucesso, quer na vida pessoal, quer no exercício dos ministérios na Igreja, e chegar à intimidade do jardim da ressurreição. A Quaresma nos indica o caminho certo e suas etapas.
O batismo nos introduz no caminho do próprio Jesus, nos faz participar da mesma ação do Espírito que o conduziu e sustentou na luta com o diabo no deserto e na vitória sobre a morte na ressurreição. Animados pelo Espírito, temos a graça de viver com a liberdade dos filhos e filhas de Deus. Temos a graça, como diz Paulo, de viver como já “ressuscitados” (cf. CI 3,1-4), como partícipes da vida nova em Cristo, não mais permitindo que o pecado determine a nossa maneira de sentir, de pensar, de agir.
Com a fé e o Batismo, passamos por uma transformação radical, que no acompanha por toda a vida. A vida nova no Espírito Santo é semente que nos impele desde dentro, cujo crescimento nós devemos favorecer. A graça não é magia, nem o desenvolvimento das suas potencialidades é algo de automático. Cada dia o Senhor solicita nossa disponibilidade no amor e nosso compromisso de obediência filial.
A vida do discípulo irradia a luz e a fecundidade da Páscoa, ao mesmo em que continua a luta contra as contradições do pecado que sobem do coração, até que seja reconstituído, em sua integridade, como o da criança.
O “homem velho” e o “homem novo” ainda convivem dentro de nós, e às vezes, num conflito que nos dilacera. Nossa salvação, afirma Paulo, é ainda objeto de esperança e de luta (cf. Rm 8,24).
Temos ainda a necessidade de cultivar a dinâmica de conversão e penitência, enquanto vivemos da energia vital e da luminosidade da Páscoa.
Com sábia pedagogia, cada ano a Igreja nos oferece novamente a luz da Páscoa e a sóbria alegria da Quaresma, cm suas exigências de penitência e conversão.
O tempo da Quaresma se apresenta como o tempo mais propício para celebrar a purificação do coração fortalecer a caridade, mediante várias formas de ascese e de oração íntima, de maneira especial com a celebração do sacramento da Reconciliação, em forma individual ou comunitária.

Ligando a Palavra com a ação eucarística
A celebração da Eucaristia nos oferece a graça de celebrar a vida como um caminho partilhado em comunidade. Ela nos tira da solidão de nossos vários desertos, pelos quais ficamos prisioneiros de nós mesmos, por presunção ou por medo.
A ilusão de se tornar protagonista absoluto do próprio destino, na qual caiu o primeiro homem, deixa na Eucaristia lugar para o reconhecimento que a vida recebe sua energia e sua fecundidade da relação com cristo, obediente e livre até o dom da própria vida, e da relação de amor para com os irmãos.
O original diálogo de amizade e de festa entre o Senhor e o homem no Éden acabou com o homem tornando-se surdo e mudo se escondendo de Deus e de si próprio. A Eucaristia, pela união com Cristo, nos dá a ousadia de nos apresentarmos na casa do Pai, com humildade e confiança.
Pedimos perdão, repetidas vezes, desde o início da celebração até ao momento de nos aproximarmos à mesa do corpo e do sangue de Cristo. O sentido penitencial se desdobra do ato penitencial ao início até a proclamação de fé: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo”.
A presunção de nos auto-orientarmos na vida, sem relação com o Senhor, cede lugar à humilde invocação para que a Quaresma nos ajude a “progredir no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder a seu amor por uma vida santa” (oração do dia).
A participação na dupla mesa da Palavra de Deus e do pão eucarístico os sustenta na longa caminhada do deserto da vida, com suas lutas e suas experiências de fome e de fraqueza. Estamos expostos à tentação de suprir por nós mesmos nossas supostas necessidades – como o diabo sugere a Jesus – quando a espera do tempo de Deus nos aparece insustentável. (oração depois da comunhão).

Sugestões para a celebração
Ø As leituras do Ano A destacam a dimensão batismal da Quaresma. É importante valorizar, neste ano, de maneira particular, tal dimensão, como sugere a Constituição Sacrosanctum Concilium: “Utilizem-se com mais abundância os elementos batismais próprios da liturgia quaresmal” (SC 109).
Se estiver prevista a celebração de Batismo de crianças e, sobretudo de adultos, na noite de Páscoa, é conveniente apresentá-los à comunidade durante a missa deste primeiro domingo.
No ato penitencial, podem ser repetidas ou cantadas algumas invocações do salmo 50 em forma responsorial, as acompanhando com a aspersão da água batismal.
- “Piedade, ó Senhor, tende piedade, pois pecamos contra vós!”.
- “Eu reconheço toda a minha iniqüidade, o meu pecado está sempre à minha frente”.
- “Criai em mim um coração que seja puro...”
- “Daí-me de novo a alegria de ser salvo”.
Ø Sugerir alguma forma de “jejum” na comida, bem como no uso dos meios de comunicação. Sugerir cuidado com o silêncio e o recolhimento, para dedicar maior atenção e devoção interior à leitura meditativa e rezada da Palavra de Deus e aprender, por experiência, que “não se vive somente de pão, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”. (Mt 4,4).
Ø Seguindo o espírito da campanha da fraternidade, sugerir a realização de alguma iniciativa que possa ajudar uma pessoa a sair da solidão, da marginalização ou de qualquer outra situação que a amarra e a entristece.
Ø Como previsto nas normas litúrgicas, se pode abençoar e impor as cinzas durante a missa do domingo, para ir ao encontro dos fiéis que não tiveram a oportunidade de participar da celebração da Quarta-feira de Cinzas. Em tal caso se omite o ato penitencial e se procede como na Quarta-feira de Cinzas.
Ø Na despedida da assembleia, é conveniente enviar o povo o abençoando com a bênção própria do tempo da Quaresma. (Missal Romano p. 521).
Ø Os cantos para as celebrações quaresmais podem ser encontrados no CD da Campanha da Fraternidade 2014: Hino da CF 2014 e cantos para a Quaresma Ano A.

Fonte: Roteiros Homiléticos da Quaresma, Março e Abril– CNBB 2014 - Ano A
DOMINGO, 9 DE MARÇO DE 2014
Homilia do 1º Domingo da Quaresma,
por Pe. Paulo Ricardo


Vamos, com grande alegria, com grande liberdade, confiantes em Deus, dar os nossos passos. Se você ainda não deu o passo para a primeira conversão, faça-o agora e entre na vida da graça. Se você já deu este primeiro passo, então, continue lutando, para voar mais alto e tudo fazer por amor a Deus. Lute o bom combate. Eis o tempo da conversão!

1º Domingo da Quaresma

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A Voz do Pastor

1º Domingo da Quaresma

Domingo 09/03/2014


Canal do Youtube: arqrio



REFLEXÃO
 Começamos a Quaresma com um texto que nos possibilita refletir sobre o projeto de Deus a respeito do ser humano. O livro do Gênesis nos apresenta o homem sendo criado como o ponto alto de toda a criação, como imagem e semelhança de Deus. Exatamente por isso ele deverá proceder como superior a tudo e não deixar-se influenciar por nenhuma qualidade de qualquer coisa criada, deverá permanecer sempre livre!
É nesse exato momento que entra a perversão do Mal ao provocar no homem o forte e imperioso desejo de experimentar a fruta proibida, ao ponto de apequenar-se cedendo às qualidades olfativas e visuais da fruta em detrimento da orientação do Criador.
Foi o primeiro ato em que o ser humano demonstrou que abria mão de sua liberdade para satisfazer seus instintos, sua curiosidade e, tragicamente, querer ser igual a Deus. Deixou de se reconhecer criatura, homem, vindo da terra, do humus e querendo, com seu próprio poder chegar a ser onipotente. O ser humano trocou a humildade pela soberba, eis o primeiro pecado.
No Evangelho, Jesus, o Homem Perfeito, a verdadeira imagem do Pai, vence o Mal ao manter-se submisso ao Pai e mostrar-se um homem livre. Não será a comida, a satisfação de suas necessidades biológicas que irá submetê-lo às propostas do Mal; nem a tentação do orgulho, da vaidade, do ser renomado, do ser famoso, do prestígio irá fazê-lo aceitar a imposição de Satanás e nem a sedução do poder o derrotará em sua fidelidade ao Pai.
Para nós, a ação de Jesus, sua postura, nos interpela quando em nossa vida somos tentados a satisfazer nossas necessidades naturais, nossos desejos de prestígio e nossa sede de poder. Olhemos para o Homem Perfeito, a Imagem Visível do Deus Invisível, e suas respostas serenas às perturbadoras tentações.
No trecho da Carta aos Romanos, São Paulo nos fala sobre os modos de vida de Adão e de Cristo. O primeiro, como vimos no início de nossa reflexão, mostrou-se fraco. Contudo, essa debilidade foi herdada por todos nós, seus descendentes. Somos conscientes de que titubeamos e fracassamos diante das tentações.
Em Cristo temos exatamente a realização da vocação da natureza humana, ser superior a tudo sendo imagem de Deus, sendo livre!
Mais ainda, não podemos comparar a graça de Deus ao pecado de Adão, nos fala o Apóstolo. Se “pela desobediência de um só homem a humanidade toda foi estabelecida em uma situação de pecado, assim também, pela desobediência de um só, toda a humanidade passará para uma situação de justiça”, que é ser plenamente livre e plenamente unida a Deus.
Fonte Cesar Augusto, SJ - Cidade do Vaticano (RV)
HOMILIA
OS TRÊS PPP DA VIDA DE JESUS
Estamos diante de um tripé de tentações que se resumem em: Poder, Prazer e Posse. Depois que Jesus foi batizado pelo Batista, foi levado ao deserto pelo Espírito para ser tentado pelo diabo. Que paradoxo! Mas Deus Pai confirma a identidade do Seu filho, já o inimigo se aproxima e logo em seguida desafia o Mestre colocando em dúvida sua divindade.
Como vimos neste texto, Jesus inicia seu ministério com jejum, penitência e oração. Exercícios extenuantes e de grande esgotamento o diabo aparece para tentá-lo. Podemos perceber aqui que esse momento não se refere apenas em aflições normais do ministério. Há algo mais complexo que creio eu que Jesus nos quer ensinar. Uma prova em particular. O dono da salvação contra o pai da perdição. Vida contra a morte.
Essa guerra não foi só exterior, como vemos relatado, mas também uma luta interior. Jesus não enfrentaria somente perdas materiais, desprezos, oposições de religiosos, mas, também confrontos espirituais.
A primeira tentação foi no deserto onde Satanás sugere a Cristo que as pedras se transformem em Pão. Cristo teria poder de fazer isto. Se Ele transformou água em vinho, andou sobre as águas, fez paralíticos andar, ressuscitou mortos e acalmou tempestades, não poderia transformar pedras em pães? Com certeza, sim! Mas isto incluiria obedecer a Satanás e em segundo lugar teria “o alimento, o pão sem Deus”. Hoje isto significa conseguir riquezas sem Deus, trabalho desonesto, jogos de azar, burlar impostos, etc.
A segunda tentação foi a do Pináculo do templo onde foi sugerido malignamente que saltasse dali e desse ordem aos anjos para que o guardasse e isso com base num princípio bíblico. Satanás é sagaz e usa a Bíblia também. Mas o grande erro seria usar as coisas divinas ao seu prazer. Adaptar a Bíblia ao nosso gosto. “A fama ou prestígio sem Deus”. Um atalho para ser aclamado. Um reconhecimento fora de ordem. Foi uma tentativa maligna de “provar” o que não é necessária nenhuma prova.
A terceira tentação foi a do monte onde a glória deste mundo foi mostrada e ofertada, mas não gratuita e sim negociada. Ele poderia ter a glória deste mundo se prostrasse e adorasse a Satanás. Seria “poder ou governo sem Deus”. Se Jesus aceitasse, seria a glória do mundo sem a cruz, ou seja, sem salvação. Hoje seria ter autoridade, reinar, subjugar, mas não sujeito a Deus e sim ao inimigo de Deus.
Mas Ele venceu as três tentações com três frases “está escrito”. Não foi o que o físico, as emoções e o lado espiritual queriam, mas sim o que o havia sido escrito. A primeira resposta foi nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus. As necessidades físicas não podem suplantar a obediência a Deus. A verdadeira vida está na dependência divina.
A segunda resposta foi de não tentar a soberania do Pai. “Não tentarás ao Senhor teu Deus”. Deus é bom demais para ser tentado por nós. É muita petulância da nossa parte, tentar ser “senhor” de Deus e não seu “servo”.
A terceira e última resposta nos coloca onde devemos sempre estar que é ser um exclusivo adorador de Deus. “Só o Senhor adorarás e só a Ele servirás”. Ele é único e exclusivo. Sua glória é irrepartível. Somente no reconhecimento de Deus e no esvaziamento nosso é que podemos encontrar a verdadeira vida espiritual.
Todo esse relato, se analisado nos mínimos detalhes podemos perceber inúmeros ensinamento para nós. Ao cumprir o “IDE” do Mestre com certeza seremos também provado. Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto. Isso mostra uma permissão da parte de Deus. O inimigo afronta Jesus com a própria Palavra. Ele também conhece as Escrituras.
Nossa vida espiritual deve ter também uma convalidação divina. Precisamos ter certeza de nossa missão no reino de Deus. A preparação, a consagração (jejum) deve fazer parte de nossa vida espiritual. Termos consciência de que seremos tentados pelo inimigo e que isso será permitido por Deus. Em algum momento daremos de frente com ele e a Palavra de Deus deverá estar presente em nós, bem forte para podermos vencer. Seremos também levados ao deserto. Ou melhor, quando se trata de espiritual, vivemos no deserto. Contra o príncipe das trevas, não ha diplomas, mestrados, doutorados, grandes currículos que poderá nos salvar. Embora, nós seres humanos, valorizamos muito isso, e não é errado, ao contrário se faz necessário. Mas somente a certeza do que cremos e a palavra de Deus poderá nos livrar e dar a vitória. Temos necessidades e fraquezas e é nas nossas fraquezas que o inimigo virá para nos contrapor. É necessário então intimidade com Deus e com sua Palavra.
A grande lição das tentações de Jesus é que o mal sempre nos oferece “atalhos”. E são contra estes atalhos que devemos ter cuidado. Prazer (alimento, bebidas, sexo e drogas), Posse (fama, prestígios, o ter bens materiais) e Poder (governo) são coisas interessantes que mexe com o nosso físico, a nossa alma e o nosso lado espiritual. No entanto, nada disso terá valor para nós se for sem Deus. Qualquer coisa, por melhor que seja que nos afaste do Senhor, deve ser abandonado. Somente com Deus, na Sua presença e para a Sua glória, devemos viver. Jesus embora sendo o Filho de Deus, levava uma vida constante de oração. Ele nos ensinou como devemos orar. É na oração que alcançamos intimidade com Deus. Quanto mais oramos mais teremos certeza da sua vontade.
Pai, como Jesus, quero ser fiel a ti, sem jamais exigir manifestações extraordinárias de teu amor por mim. Basta-me estar ciente de ser teu filho
Fonte Homilia Padre Bantu Mendonça Katchipwi Sayla

HOMILIA DIÁRIA

Somos conduzidos pelo Espírito Santo a resistir às tentações

É preciso ter um espírito humilde, orante, firme na Palavra de Deus para sermos firmes e resistentes à tentação! Nós somos hoje convidados por Jesus e conduzidos pelo Espírito Santo a resistir às tentações deste mundo!

”Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus.” (Mt 4,7)

Conduzido pelo Espírito Santo, Jesus foi ao deserto viver uma profunda união com o Pai, fortalecer o Seu espírito com o Pai para o início da Sua missão pública. Mas ao fim daqueles dias de jejum, Jesus foi tentado e provado pelo demônio. As tentações de Jesus, ou as provações de Nosso Salvador, refletem as tentações de cada um de nós que caminhamos neste deserto da nossa vida.
No fundo, dentro de nós, há algo nos impelindo a questionar, a duvidar e a colocar Deus à prova. A sabedoria divina que nós, hoje, recebemos de Jesus, primeiro é para nos ajudar a nos prevenirmos das tentações. Sim, a termos cautela com tudo aquilo que nós questionamos ou buscamos na vida; porque não há problema em ser tentado ou provado, o problema é sucumbir à tentação, é deixar que a tentação domine a nossa vida, que ela comande os nossos instintos, a nossa vontade e tudo aquilo que nós fazemos.
O demônio pediu que Jesus transformasse as pedras em pães, mas o Senhor afirma que “não só de pão vive o homem”, pois é preciso resistir à tentação de ceder aos prazeres: o prazer do comer, do beber, o prazer da sensualidade; a própria necessidade do instinto da sobrevivência humana. É preciso ter prudência na relação com as coisas que nós temos, porque senão seremos dominados por elas. Pois se por um lado há, na verdade, um contingente enorme, milhões de pessoas por este mundo que ainda passam fome porque não têm o que comer; por outro lado tambem há um outro contingente de pessoas que são dominadas pelo excesso de comida, o excesso de bebida, o excesso dos prazeres.
Nós somos hoje convidados por Jesus e conduzidos pelo Espírito Santo a resistir às tentações deste mundo. A resposta que podemos dar à tentação da gula, da bebedeira, entre outras, se chama sobriedade. Sobriedade naquilo que fazemos, naquilo que adquirimos; sobriedade para não sucumbirmos a essa tentação.
Conduzidos por Jesus, durante esses quarenta dias de Quaresma, nós sentiremos muitas tentações. É preciso ter um espírito humilde, orante e firme na Palavra de Deus para sermos firmes e resistentes à tentação!
Que Deus abençoe você!

Padre Roger Araújo

Sacerdote da Comunidade Canção Nova, jornalista e colaborador do Portal Canção Nova. Facebook Twitter
LEITURA ORANTE

Mt 4,1-11 - As três tentações de Jesus



Preparo-me para a Leitura orante, invocando a Santíssima Trindade:
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Creio, Senhor Jesus, que sou parte de seu Corpo.
Trindade Santíssima
- Pai, Filho, Espírito Santo -
presente e atuante na Igreja e na profundidade do meu ser.
Eu vos adoro, amo e agradeço.

1. Leitura (Verdade) 
- O que a Palavra diz?
Tomo contato com o texto de hoje, lendo-o, na Bíblia, em Mt 4,1-11.
Jesus foi conduzido ao deserto pelo Espírito, para ser posto à prova pelo diabo. Ele jejuou durante quarenta dias e quarenta noites. Depois, teve fome. O tentador aproximou-se e disse-lhe: "Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães!" Ele respondeu: "Está escrito: 'Não se vive somente de pão, mas de toda palavra que sai da boca de Deus'". Então, o diabo o levou à Cidade Santa, colocou-o no ponto mais alto do templo e disse-lhe: "Se és Filho de Deus, joga-te daqui abaixo! Pois está escrito: 'Ele dará ordens a seus anjos a teu respeito, e eles te carregarão nas mãos, para que não tropeces em alguma pedra'". Jesus lhe respondeu: "Também está escrito: 'Não porás à prova o Senhor teu Deus'!" O diabo o levou ainda para uma montanha muito alta. Mostrou-lhe todos os reinos do mundo e sua riqueza, e lhe disse: "Eu te darei tudo isso, se caíres de joelhos para me adorar". Jesus lhe disse: "Vai embora, Satanás, pois está escrito: 'Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a ele prestarás culto'". Por fim, o diabo o deixou, e os anjos se aproximaram para servi-lo.

O texto apresenta duas partes: as tentações de Jesus e o início de sua evangelização. Inicia dizendo que o Espírito conduziu Jesus fosse para o deserto. Todos os três evangelistas (Mateus, Lucas e Marcos) têm como principal autor desse retiro no deserto o Espírito.
Jesus vai para o deserto. Deserto significa lugar desabitado, solitário, desamparado, abandonado. No sentido bíblico, deserto era terra da aridez, símbolo da privação de chuva e de fertilidade. É o lugar da purificação e da pobreza.
No deserto Jesus ficou quarenta dias. Este número recorda os quarenta anos do Povo de Deus no deserto, rumo à libertação. Foram quarenta dias em que Moisés permaneceu no alto do Horeb diante de Deus. para receber as tábuas da lei (Dt 9,9).
Sendo tentado pelo diabo, diz o Evangelho. As tentações de Jesus eram para desviá-lo de sua missão messiânica.
E os anjos foram servi-lo. O evangelho apresenta prova segura da existência dos anjos, não como mensageiros, mas como seres que servem.

2. Meditação(Caminho)
- O que a Palavra diz para mim?
Conversão. Eis o ponto central da Boa-Nova de Jesus. Devo renovar minhas idéias sobre o Reino. O anúncio de Jesus me chama à conversão que é colocar Deus em primeiro lugar na minha vida. Tudo o mais me será dado por acréscimo: pão e o necessário para viver.
Agora, num instante de silêncio, verifico se Deus tem o primeiro lugar na minha vida ou se devo me converter, em vista desta prioridade.

3. Oração (Vida) 
- O que a Palavra me leva a dizer a D
eus?
Rezo com toda Igreja a
Oração da Campanha da Fraternidade de 2014
Ó Deus, sempre ouvis o clamor do vosso povo
e vos compadeceis dos oprimidos e escravizados.
Fazei que experimentem a libertação da cruz
e a ressurreição de Jesus.
Nós vos pedimos pelos que sofrem
o flagelo do tráfico humano.
Convertei-nos pela força do vosso Espírito,
e tornai-nos sensíveis às dores destes nossos irmãos.
Comprometidos na superação deste mal,
vivamos como vossos filhos e filhas,
na liberdade e na paz.
Por Cristo nosso Senhor.
Amém!

4. Contemplação (Vida)
- Qual o meu novo olhar a partir da Palavra?
Meu novo olhar será para priorizar Deus em minha vida.

Bênção
- Deus nos abençoe e nos guarde. Amém.
- Ele nos mostre a sua face e se compadeça de nós. Amém.

-Volte para nós o seu olhar e nos dê a sua paz. A
mém.
- Abençoe-nos Deus misericordioso, Pai e Filho e Espírito Santo. Amém.

Ir. Patrícia Silva, fsp

Oração Final
Pai Santo, faze de todo o tempo da nossa existência uma quaresma, isto é, um tempo de preparação para acolhermos em nós o teu Reino de Amor e partilhá-lo com os companheiros do caminho. Ele nos foi trazido pelo Cristo Jesus, teu Filho que se fez nosso Irmão e contigo reina na unidade do Espírito Santo.

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