No
início de cada ano as pessoas geralmente se imputam alguns objetivos para serem
cumpridos ao longo do ano. Assim, para a vida espiritual, propomos também uma
meta e, para isso, nada melhor que tomar como modelo três conselhos de três
grandes santas da Igreja: Santa Teresa de Jesus, Santa Catarina de Sena e Santa
Teresa de Lisieux, seguindo as indicações extraídas da obra “Doctoras de la
Iglesia”, do Padre Antonio Royo Marín.
O primeiro conselho vem
de Santa Teresa d'Ávila, que conseguiu progredir espiritualmente de uma forma
extraordinária mesmo não tendo diretores espirituais satisfatórios. Na época
dela, havia a convicção de que quando a pessoa crescia espiritualmente deveria
deixar de lado a reflexão sobre a humanidade de Cristo, sua Paixão, o quanto
Ele nos amou, enfim, a meditação concreta sobre o Evangelho. Para eles, quanto
mais alto o nível de vida mística, maior deveria ser a contemplação da
Trindade.
Santa Teresa de Jesus,
como grande doutora, notou o erro desse tipo de pensamento. Para ela, em todas
as etapas da caminhada espiritual é imprescindível a meditação sobre a
humanidade de Cristo. Ele é o caminho. Em sua obra “Caminho de Perfeição”,
ensina às monjas que utilizem de imagens de Cristo crucificado, chagado e, a
partir da imagem, meditem sobre o grande amor que Deus tem pela humanidade.
O primeiro ponto,
portanto, é olhar para a Paixão de Cristo, olhar para o Amor encarnado,
concreto, real, histórico com que Deus amou os homens e sobre ele fundamentar o
próprio edifício espiritual, afinal, como ensina São João: “O amor consiste
nisso: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Deus quem nos amou enviando seu
filho para a expiação dos nossos pecados” (4,10). Logo, a morte de Cristo na
Cruz é a realidade concreta do amor de Deus.
O edifício espiritual
de muitas pessoas vem abaixo por conta do esquecimento desse primeiro ponto:
Deus amou a humanidade e cada um por primeiro. E esse amor não é uma teoria,
mas uma realidade que se fez carne na humanidade de Cristo. Assim, o primeiro
passo para o ano de 2014 é fazer o firme propósito de ter a cruz de Cristo
diante dos olhos em todos os momentos. “Jesus, amor encarnado, chagado por
mim”, apropriando-se dessa certeza: “Eu fui amado com amor infinito, sem
defeito, não sou mais uma vítima, não preciso mendigar o amor dos outros.”
O segundo ponto vem de
Santa Teresinha do Menino Jesus e se trata de como responder ao amor de Deus.
Diante dos grandes santos algumas pessoas reagem com desânimo, pois estas
grandes almas tornam inalcançável o ideal de santidade; outras, fazem desses
santos modelos e procuram imitá-los, desejando igual santidade.
A Pequena teve sua
intuição básica ao perceber que existem almas, grandes santos, grandes homens e
mulheres escolhidos por Deus, uma elite espiritual, que a imensa maioria da
humanidade, não conseguirá nunca imitar. No entanto, segundo ela, existe também
uma outra família: a das Pequenas Almas, na qual ela se via incluída, embora
fosse uma grande alma.
Em sua doutrina ela diz
que as pequenas almas podem também amar a Deus, não com a forma heroica dos
grandes santos, mas de forma ordinária, comum. Todos são chamados a transformar
cada um dos pequenos atos da vida em amor a Deus. Oferecer TUDO a Jesus, seja
bem ou mal, alegria ou tristeza, contentamento ou frustração, tudo por amor a
Jesus. Santa Terezinha transformou todos os pequenos atos ordinários de sua
vida em amor, por isso ela foi extraordinária na ordinariedade com que viveu o
amor a Jesus.
Este foi o segundo
ponto: amar de volta aquele que amou por primeiro. Tal ensinamento tem a grande
vantagem de trazer a religião para a vida cotidiana, de tal forma que ninguém
precise mais esperar a data do martírio para fazer qualquer ato heroico de amor
a Deus. Todos podem amá-Lo desde já, desde agora.
É por isso que Santa
Terezinha, embora tenha sofrido muito com a doença de seu pai e com a sua
própria doença, demonstrou ser uma mulher de grande maturidade espiritual mesmo
aos 24 anos de idade. Impressionante foi o seu caminho espiritual, de menina
mimada, imatura e vitimista, que foi transformada por Deus numa grande santa.
Amar de volta Aquele que nos amou por primeiro.
O terceiro ponto vem de
Santa Catarina de Sena, leiga terciária que nunca viveu num convento;
celibatária, mas não freira no sentido técnico da palavra. Mesmo analfabeta,
escreveu cartas e mais cartas para o Papa, que estava escondido em Avignon,
convencendo-o a reassumir seu lugar na Igreja, portanto, num certo sentido,
Santa Catarina de Sena mudou o destino da Igreja.
Com seus gestos ela
ensina uma coisa muito importante: a conversão dos pecadores deve ser buscada
por todos para que Deus seja agradado, o que torna todos apóstolos. Nela se
compreende o que Santo Tomás de Aquino ensina que o amor pode ter vários
objetos. O objeto material do amor pode ser Deus, a própria pessoa ou até mesmo
os bilhões de pessoas da Terra, os santos, os anjos, etc. todos podem ser
amados. Contudo, a caridade, o amor só tem um objeto formal: Deus. Amar a Deus
por Deus, amar ao próximo por amor a Deus, amar a si mesmo por amor a Deus. Ele
é a modalidade pela qual se deve amar. Portanto, a vida de apostolado, o
sacrifício, a pregação, o pedido de conversão pelos pecadores deve ter como
foco principal o amor para com Deus. Só assim haverá sentido.
Assim, ter sempre
diante dos olhos o amor de Deus encarnado e a cruz de Cristo, lembrando-se de
que Ele nos amou por primeiro, é o primeiro objetivo. O segundo é responder a
esse amor nos pequenos gestos e atos ordinários no dia a dia e o terceiro, ser
missionário, levando outros a Deus, motivados a dar maior glória a Deus,
fazendo como um ato de amor a Ele, levando seus filhos de volta para casa.
Estes são os passos extraídos das lições das três grandes doutores que nos
oferecem um projeto espiritual para 2014. Quem aceita o desafio?
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