Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal
HOMILIA
Santa Missa pela Jornada
dos Catequistas em ocasião do Ano da Fé
Praça São Pedro
Domingo, 29 de setembro
de 2013
1. Ai daqueles que vivem comodamente em Sião e
daqueles que vivem tranquilos, ... deitados em leitos de marfim (Am 6, 1.4),
comem, bebem, cantam, divertem-se e não se preocupam com os problemas dos
outros.
Palavras duras
estas do profeta Amós, mas que nos advertem para o perigo que todos corremos. O
que denuncia este mensageiro de Deus, o que coloca diante dos olhos de seus
contemporâneos e também diante dos nossos olhos hoje? O risco de acomodar-se,
da comodidade, da mundanidade na vida e no coração, de ter como centro o nosso
bem-estar. É a mesma experiência do rico do Evangelho, que vestia roupas de
luxo e todo dia dava banquetes abundantes; isto era importante para ele. E o
pobre que estava à sua porta e não tinha de que se alimentar? Não era tarefa
sua, não o olhava. Se as coisas, o dinheiro, a mundanidade transformam-se o
centro da vida, apoderam-nos, nos possuem e nós perdemos a nossa própria
identidade de homens: vejam bem, o rico do Evangelho não tem nome, é
simplesmente “um rico”. As coisas, aquilo que possui são a sua face, não há
outro.
Mas podemos nos
perguntar: como isto acontece? Como os homens, talvez também nós, caímos no
perigo de fechar-nos, de colocar a nossa segurança nas coisas, que no fim
roubam-nos a face, a nossa face humana? Isto acontece quando perdemos a memória
de Deus. “Ai daqueles que vivem comodamente em Sião”, dizia o profeta. Se falta
a memória de Deus, tudo se nivela, tudo se nivela ao “eu”, sobre o meu
bem-estar. A vida, o mundo, os outros, perdem a consistência, não contam mais
nada, tudo se reduz a uma só dimensão: o ter. Se perdemos a memória de Deus,
também nós perdemos a consistência, também nós nos esvaziamos, perdemos a nossa
face como o rico do Evangelho! Quem corre atrás do nada se torna ele mesmo
nulidade – diz um outro grande profeta, Jeremias (cfr Jer 2, 5). Nós somos
feitos à imagem e semelhança de Deus, não à imagem e semelhança das coisas, dos
ídolos!
2. Então,
olhando-vos, pergunto-me: quem é o catequista? É aquele que protege e alimenta
a memória de Deus; protege-a em si mesmo e a desperta nos outros. É bonito
isto: fazer memória de Deus, como a Virgem Maria que, diante da ação
maravilhosa de Deus em sua vida, não pensa na honra, no prestígio, nas
riquezas, não se fecha em si mesma. Pelo contrário, depois de ter acolhido o
anúncio do Anjo e ter concebido o Filho de Deus, o que faz? Parte, vai até a
anciã parente Isabel, também esta grávida, para ajudá-la; e no encontro com
ela seu primeiro ato é a memória do agir de Deus, da fidelidade de Deus
na sua vida, na história do seu povo, na nossa história: “A minha alma
glorifica o Senhor...porque olhou para a humildade da sua serva...de geração em
geração a sua misericórdia” (Lc 1, 46. 48. 50). Maria tem memória de Deus.
Neste cântico de
Maria há também a memória da sua história pessoal, a história de Deus com ela,
a sua própria experiência de fé. E é assim para cada um de nós, para cada
cristão: a fé contém propriamente a memória da história de Deus conosco, a
memória do encontro com Deus que se move primeiro, que cria e salva, que nos
transforma; a fé é memória da sua Palavra que aquece o coração, das suas ações
de salvação com a qual nos doa a vida, nos purifica, nos cura, nos alimenta. O
catequista é propriamente um cristão que coloca esta memória a serviço do
anúncio; não para fazer-se ver, não para falar de si, mas para falar de Deus,
do seu amor, da sua fidelidade. Falar e transmitir tudo aquilo que Deus
revelou, isso é a doutrina em sua totalidade, sem cortar ou acrescentar.
São Paulo recomenda
ao seu discípulo e colaborador Timóteo sobretudo uma coisa: Lembre-se,
lembre-se de Jesus Cristo, ressuscitado dos mortos, que eu anuncio e pelo qual
sofro (cfr 2 Tm 2, 8-9). Mas o Apóstolo pode dizer isto porque ele primeiro
lembrou-se de Cristo, que o chamou quando era perseguidor dos cristãos, tocou-o
e transformou-o com a sua graça.
O catequista então
é um cristão que leva em si a memória de Deus, deixa-se guiar pela memória de
Deus em toda a sua vida, e sabe despertá-la no coração dos outros. É um desafio
isto! Desafia toda a vida! O próprio Catecismo o que é senão a memória de Deus,
memória da sua ação na história, do ser fazer-se próximo a nós em Cristo,
presente na sua Palavra, nos Sacramentos, na sua Igreja, no seu amor? Queridos
catequistas, pergunto a vocês: somos nós a memória de Deus? Somos verdadeiramente
como sentinelas que despertam nos outros a memória de Deus, que aquece o
coração?
3. “Ai daqueles que
vivem comodamente em Sião”, diz o profeta. Qual caminho percorrer para não ser
pessoas “despreocupadas”, que colocam a sua segurança em si mesmo e nas coisas,
mas homens e mulheres da memória de Deus? Na Segunda Leitura, São Paulo,
escrevendo sempre a Timóteo, dá algumas indicações que podem sinalizar também o
caminho do catequista, o nosso caminho: tender à justiça, à piedade, à fé, à
caridade, à paciência, à brandura (cfr 1 Tm 6, 11).
O catequista é
homem da memória de Deus se tem uma constante, vital relação com Ele e com o
próximo; se é homem de fé, que confia verdadeiramente em Deus e coloca Nele a
sua segurança; se é homem de caridade, de amor, que vê todos como irmãos; se é
homem de "hypomoné", de paciência, de perseverança, que sabe enfrentar as
dificuldades, as provações, os insucessos, com serenidade e esperança no
Senhor; se é homem brando, capaz de compreensão e misericórdia.
Rezemos ao Senhor
para que sejamos todos homens e mulheres que protegem e alimentam a memória de
Deus na própria vida e sabem despertá-la no coração dos outros. Amém.
Tradução: Jéssica Marçal
Praça São Pedro
Domingo, 29 de setembro de 2013
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