quinta-feira, 14 de junho de 2018

NA ÍNTEGRA - QUARTA-FEIRA, 13 DE JUNHO DE 2018, Catequese do Papa: início do ciclo de catequeses sobre os Mandamentos

QUARTA-FEIRA, 13 DE JUNHO DE 2018, 14H28

CATEQUESE
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 13 de junho de 2018

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje é a festa de Santo Antônio de Pádua. Quem de vocês se chama Antônio? Um aplauso a todos os “Antônios”. Iniciamos hoje um novo itinerário de catequeses sobre o tema dos mandamentos. Os mandamentos da lei de Deus. Para introduzi-lo, inspiremo-nos o trecho há pouco ouvido: o encontro entre Jesus e um homem – é um jovem – que, de joelhos, pergunta-lhe como poder herdar a vida eterna (cfr Mc 10, 17-21). E naquela pergunta há o desafio de cada existência, também a nossa: o desejo de uma vida plena, infinita. Mas como fazer para chegar lá? Qual caminho seguir? Viver de verdade, viver uma existência nobre… Quantos jovens procuram “viver” e depois se destroem indo atrás de coisas efêmeras.
Alguns pensam que sejam melhor apagar este impulso – o impulso de viver – porque é perigoso. Gostaria de dizer, especialmente aos jovens: o nosso pior inimigo não são os problemas concretos, por mais sérios e dramáticos que sejam: o perigo maior na vida é um mau espírito de adaptação que não é mansidão ou humildade, mas mediocridade, pusilanimidade [1]. Um jovem medíocre é um jovem com futuro ou não? Não! Permanece ali, não cresce, não terá sucesso. A mediocridade ou a pusilanimidade. Aqueles jovens que têm medo de tudo: “Não, eu sou assim…”. Estes jovens não vão adiante. Mansidão, força e nada de pusilanimidade, nada de mediocridade. O beato Pier Giorgio Frassati – que era um jovem – dizia que era necessário viver, não sobreviver [2]. Os medíocres sobrevivem. Viver com a força da vida. É preciso pedir ao Pai celeste para os jovens de hoje o dom da sã inquietude. Mas, em casa, nas casas de vocês, em cada família, quando se vê um jovem que está sentado o dia todo, às vezes a mãe e o pai pensam: “Mas este está doente, tem algo”, e o levam ao médico. A vida do jovem é seguir adiante, ser inquieto, a capacidade de não se contentar com uma vida sem beleza, sem cor. Se os jovens não forem famintos de vida autêntica, me pergunto, para onde irá a humanidade? Para onde irá a humanidade com jovens quietos e não inquietos?
A pergunta daquele homem do Evangelho que ouvimos está dentro de cada um de nós: como se encontra a vida, a vida em abundância, a felicidade? Jesus responde: “Tu conheces os mandamentos” (v. 19), e cita uma parte do Decálogo. É um processo pedagógico, com o qual Jesus quer guiar a um lugar preciso; de fato já está claro, pela sua pergunta, que aquele homem não tem a vida plena, procura mais, está inquieto. O que deve portanto entender? Diz: “Mestre, todas essas coisas eu as observei desde a minha juventude” (v. 20).
Como se passa da juventude à maturidade? Quando se começa a aceitar os próprios limites. Torna-se adultos quando se relativiza e se toma consciência “daquilo que falta” (cfr v.21). Este homem é obrigado a reconhecer que tudo aquilo que pode “fazer” não supera um “limite”, não vai além de uma margem.
Como é belo ser homens e mulheres! Como é preciosa a nossa existência! No entanto há uma verdade que na história dos últimos séculos o homem frequentemente rejeitou, com trágicas consequências: a verdade dos seus limites.
Jesus, no Evangelho, diz algo que pode nos ajudar: “Não julgueis que vim abolir a Lei ou os Profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição” (Mt 5, 17). O Senhor Jesus nos doa o cumprimento, veio para isso. Aquele homem deveria chegar à porta de um salto, onde se abre a possibilidade de parar de viver de si mesmo, das próprias obras, dos próprios bens e – propriamente porque falta a vida plena – deixar tudo para seguir o Senhor [3]. No convite final de Jesus – imenso, maravilhoso – não há a proposta da pobreza, mas da riqueza, aquela verdadeira: “Uma só coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me”.(v. 21).
Quem, podendo escolher entre um original e uma cópia, escolheria a cópia? Eis o desafio: encontrar o original da vida, não a cópia. Jesus não oferece substitutivos, mas vida verdadeira, amor verdadeiro, riqueza verdadeira! Como poderão os jovens nos seguir na fé se não nos veem escolher o original, se nos veem acostumados com meias medidas? É feio encontrar cristãos de meia medida, cristãos – permito-me a palavra – “anões”; crescem até uma certa estatura e depois não; cristãos com o coração pequeno, fechado. É feio encontrar isso. É necessário o exemplo de alguém que me convida a um “além”, a um “a mais”, a crescer um pouco. Santo Inácio o chamava o “magis”, “o fogo, o fervor da ação, que sacode os que estão adormentados” [4].
O caminho daquilo que falta passa por aquilo que existe. Jesus não veio para abolir a Lei ou os Profetas, mas para dar cumprimento. Devemos partir da realidade para dar o salto “àquilo que falta”. Devemos buscar o ordinário para nos abrirmos ao extraordinário.
Nestas catequeses, tomaremos as duas tábuas de Moisés dos cristãos, pegando na mão Jesus, para passar das ilusões da juventude ao tesouro que está no céu, caminhando atrás Dele. Descobriremos, em cada uma daquelas leis, antigas e sábias, a porta aberta pelo Pai que está nos céus para o Senhor Jesus, que a atravessou, nos conduza na vida verdadeira. A sua vida. A vida dos filhos de Deus.
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[1] Os padres falam de pusilanimidade. S. Giovanni Damasceno a define como “o temor de realizar uma ação” (Exposição exata da fé ortodoxa, II, 15) e S. Giovanni Climaco acrescenta que “a pusilinamidade é uma disposição pueril, em uma alma que não é mais jovem” (La Scala, XX, 1, 2).

[2] Cfr Carta a Isidoro Bonini, 27 de fevereiro de 1925.

[3] “O olho foi criado par a luz, o ouvido para os sons, cada coisa para o seu fim, e o desejo da alma para lançar-se para o Cristo” (Nicola Cabasilas, A vida em Cristo, II, 90).

[4] Discurso à 36ª Congregação Geral da Companhia de Jesus, 24 de outubro de 2016: “Trata-se do “magis”, daquele plus que leva Inácio a iniciar processos, a acompanhá-los e a avaliar a sua real incidência na vida das pessoas, em matéria de fé, ou de justiça, ou misericórdia e caridade”.

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