Cardeal brasileiro visto como principal
articulador da vitória de Bergoglio não desmente sua atuação como 'cabo
eleitoral'
VATICANO - Prefeito
emérito da Congregação para o Clero e arcebispo emérito de São Paulo, d.
Cláudio Hummes não confirma nem desmente a história de que o convite para estar
ao lado de Francisco no balcão da Basílica de São Pedro teria sido porque
coordenou a escolha de Bergoglio. "Não me lembro mais do que aconteceu no
conclave".
Em
entrevista ao Estado, o cardeal brasileiro defendeu o papa das acusações de ter
apoiado a ditadura na Argentina, disse que ele trará um tempo novo para a
Igreja e elogiou a dedicação que tem com os pobres.
Por
que o senhor estava ao lado do papa Francisco quando ele se apresentou ao povo?
Ele
me convidou. Foi uma coisa muito espontânea. Somos conhecidos há muito tempo.
Trabalhamos dias juntos na 5.ª Conferência de Aparecida (maio de 2007). A gente
participou também no outro conclave (2005).
Tem-se dito que Francisco o convidou porque o senhor foi um articulador da eleição dele...
Do que aconteceu dentro do conclave eu não me lembro mais. Não posso comentar. Não posso dizer nada sobre isso.
Os
críticos também dizem que Bergoglio apoiou a ditadura militar argentina...
Tenho
certeza de que é uma acusação falsa. Não existe nenhuma prova consistente. Ele
sempre foi um homem do povo.
O
nome Francisco teve alguma influência do franciscano Cláudio Hummes?
Teve
a influência de São Francisco. Esse Francisco nasceu nas periferias de Buenos
Aires. É ali que esse papa se dedica a esses pobres, defende-os, dá a sua vida
por eles. Temos agora um jesuíta que é Francisco. É realmente um programa de
vida. A escolha do nome fala mais que muitos documentos. O bonito é que a
opinião pública entendeu a mensagem.
O
papa fala português?
Sim,
como falamos portunhol.
O
papa confirmou sua ida à Jornada Mundial da Juventude?
Disseram-me
que sim, mas deve ser confirmado formalmente.
O
senhor vai voltar para Roma?
Não
tenho nenhuma perspectiva. Já sou emérito. A idade diz tudo. Vou voltar ao
Brasil no dia 22 e continuar meu trabalho na Amazônia e em São Paulo. Sou
presidente da Comissão de Bispos para a Amazônia, que mostra a solidariedade
das outras dioceses do Brasil, sobretudo enviando missionários.
Mas
o papa pode chamá-lo para assumir uma função em Roma.
Estou
à disposição. Qualquer bispo, de qualquer idade, deve estar. Mas, o normal, é
continuarmos eméritos e pronto.
O
senhor foi ou vai visitar Bento XVI em Castelgandolfo?
Não
tive a oportunidade. Mas todos os cardeais gostaríamos de encontrá-lo. Deverá
surgir uma oportunidade para isso.
Foi
uma surpresa a vitória do cardeal Bergoglio?
Foi
uma grande surpresa, que abre portas novas. Acredito que teremos um novo tempo
para a Igreja. São tempos difíceis, mas ele tem a força. Deus lhe dá essa força
e iluminação. Deus dá o carisma para quem foi eleito.
Em
sua opinião, o que tem de ser feito?
A
reforma da Cúria, que vai levar tempo e exigir esforço. Mas o papa é um homem
muito misericordioso, além de ser um homem determinado e independente, que não
se deixa levar por pressões internas.
Na
Conferência de Aparecida, o senhor afirmou que era preciso reconquistar os
batizados que abandonaram a Igreja...
Isso
está muito claro também para o papa Francisco. É a questão da nova
evangelização. O então cardeal Bergoglio foi um dos que ajudaram muito na
formulação do texto, que Bento XVI apoiou.
A
Igreja também quer reconquistar aqueles que se mudaram para comunidades
evangélicas?
Pensamos
primeiro nos católicos, mas também em todos os outros. Não só naqueles que
saíram para outras igrejas, mas em todos. Jesus Cristo nos enviou a todos e a
vontade Dele é que todos façam parte de seu povo.
Quando
se diz que este papa é um pastor, significa que vá mudar pontos hoje em
discussão, como o aborto e a segunda união de casais divorciados?
A
fé será sempre a mesma. Quanto a essas questões, o papa vai enfrentar e nos
orientar. Ele dará a palavra final. Esse papa quer ouvir muito, é uma grande
esperança de que se possa abrir novas formas de viver a diversidade dentro da
Igreja.
Parecia
haver grupos fortes no conclave, como os que apoiavam Angelo Scola (de Milão)
ou Odilo Scherer (de São Paulo). O fato de Bergoglio ter sido o eleito foi uma
intervenção do Espírito Santo?
Há
um auxílio, mas temos de estar abertos. Porque podemos não querer escutá-lo ou
ter outros interesses, já que somos humanos e pecadores. Nossos limites podem
nos atrapalhar no discernimento. Entramos no conclave em busca do
discernimento, de saber quem seria o homem ideal para guiar a Igreja nessa
hora. Faz-se uma eleição livre, pois Deus não manda bilhetinho. Nós elegemos o
papa e Deus o unge com sua graça, com sua iluminação.
No
conclave, um cardeal pode falar em quem está votando, embora o voto seja
secreto?
Conversamos.
E temos de conversar. Dizer em quem vai votar é importante, porque temos de nos
iluminar uns aos outros. Essa conversa, que a gente faz já nas congregações,
continua dentro do conclave. São importantes para se fazer um discernimento em
conjunto que depois se expressa no voto.
http://estadao.br.msn.com/ultimas-noticias/d-cl%C3%A1udio-hummes-n%C3%A3o-lembro-o-que-aconteceu-no-conclave
Nenhum comentário:
Postar um comentário