Vaticano, 14 Nov. 12 / 11:33
am (ACI).- Em sua alocução depois da oração do
ângelus desta quarta-feira, 14 de novembro, Bento XVI enfatizou
que mesmo em um mundo secularizado como o atual ainda há vias que podem ajudar
o homem a elevar-se ao conhecimento de Deus. O Papa destacou três destas vias:
a criação, o próprio homem e a vida de fé.
“Todavia há algumas vias que podem abrir o coração
do homem ao conhecimento de Deus, há sinais que conduzem para Deus”, afirmou o
Papa na sua catequese de hoje realizada na Sala Paulo VI.
“Certo, muitas vezes corremos o risco de sermos
ofuscados pelo brilho do mundanismo, que nos tornam menos capazes de percorrer
tais caminhos ou de ler tais sinais. Deus, porém, não se cansa de procurar-nos,
porque nos ama”, destacou o Papa diante dos 9 mil fiéis e peregrinos reunidos
em Roma para o encontro com o Sucessor de Pedro.
“Esta é uma verdade que deve acompanhar-nos cada
dia, também se certas mentalidades propagadas tornam mais difícil à Igreja e
ao cristão comunicar a alegria do Evangelho a cada criatura e conduzir todos ao
encontro com Jesus, único Salvador do mundo. Esta, porém, é a nossa missão, é a
missão da Igreja e cada crente deve vivê-la alegremente, sentindo-a como
própria, através de uma existência animada verdadeiramente pela fé, marcada
pela caridade, pelo serviço a Deus e aos outros, e capaz de irradiar esperança.
Esta missão brilha, sobretudo, na santidade à qual todos somos chamados”,
enfatizou Bento XVI.
“Hoje, o sabemos, não faltam dificuldades e
provações para a fé, muitas vezes mal compreendida, contestada, rejeitada. São
Pedro dizia aos seus cristãos: “Estejam sempre prontos a responder, mas com
doçura e respeito, a quem lhe pede a esperança que está em vossos corações”. No
passado, no Ocidente, em uma sociedade considerada cristã, a fé era o ambiente
em que tudo acontecia; a referência e a adesão a Deus eram, para a maioria das
pessoas, parte da vida cotidiana. Pelo contrário, aquele que não acreditava
precisava justificar a própria descrença. No nosso mundo, a situação mudou e
sempre mais aquele que crê precisa ser capaz de dar razão da sua fé”.
Continuando seu discurso o Papa Bento recordou que
“o século passado conheceu um forte processo de secularismo, em nome da
autonomia absoluta do homem, considerado como medidor e artífice da realidade,
mas empobrecido do seu ser criatura, “à imagem e semelhança de Deus"”.
“Nos nossos tempos, verificou-se um fenômeno
particularmente perigoso para a fé: existe, de fato, uma forma de ateísmo que
definimos, precisamente, “prático”, no qual não se negam a verdade da fé ou os
ritos religiosos, mas simplesmente são considerados irrelevantes para a
existência cotidiana, destacados da vida, inúteis. Muitas vezes, então,
acredita-se em Deus de modo superficial e se vive “como se Deus não existisse”
(etsi Deus non daretur). No final, porém, este modo de viver resulta ainda mais
destrutivo, porque leva à indiferença para com a fé e a questão de Deus”.
“Na realidade, o homem, separado de Deus, é
reduzido a uma única dimensão, aquela horizontal, e este reducionismo é uma das
causas fundamentais dos totalitarismos que tiveram consequências trágicas no
século passado, bem como a crise de valores que vemos na realidade atual”,
categorizou o Sumo Pontífice.
“Diante deste quadro, a Igreja, fiel ao mandato de
Cristo, não cessa nunca de afirmar a verdade sobre o homem e sobre o seu
destino. O Concílio Vaticano II afirma sinteticamente: “A maior razão da
dignidade do homem consiste em sua vocação à comunhão com Deus. Desde o
nascimento, o homem é convidado ao diálogo com Deus: não existiria, na verdade,
se não fosse criado pelo amor de Deus, por Ele sempre é conservado por amor,
nem vive plenamente segundo a verdade se não O reconhece livremente e não se confia
ao seu criador””.
Sobre as vias que o homem moderno pode valer-se para chegar ao conhecimento de Deus, Bento XVI mencionou alguns caminhos, que derivam tanto da reflexão natural como da própria força da fé.
Sobre as vias que o homem moderno pode valer-se para chegar ao conhecimento de Deus, Bento XVI mencionou alguns caminhos, que derivam tanto da reflexão natural como da própria força da fé.
“Gostaria de resumir para vocês muito sinteticamente
em três palavras: o mundo, o homem, a fé”, disse.
“A primeira: o mundo. Santo Agostinho, que na sua
vida procurou longamente a Verdade e foi agarrado pela Verdade, tem uma
belíssima e célebre obra, na qual afirma: “Interrogue a beleza da terra, do
mar, do ar rarefeito e em toda parte expandida; interrogue a beleza do céu...,
interrogue todas estas realidades. Todos te responderão: olhe para nós também e
observe como somos belos. A beleza deles é como um hino de louvor. Ora, essas
criaturas tão belas, mas mudando, quem as fez se não um que é a beleza de modo
imutável?”. (...) “Uma primeira via, então, que conduz à descoberta de
Deus é o contemplar com olhos atentos a criação”, explicou Bento XVI.
“A segunda palavra: o homem. Sempre Santo Agostinho,
então, tem uma célebre frase na qual diz que Deus é mais íntimo a mim quanto o
seja eu a mim mesmo. Daqui ele formula o convite: “Não ande fora de si, entre
em si mesmo: no homem interior habita a verdade”. Este é um outro aspecto que
nós corremos o risco de perder no mundo barulhento e distraído em que vivemos:
a capacidade de parar e olhar em profundidade para nós mesmos e ler esta sede
de infinito que trazemos dentro, que nos impele a andar além e refere-se a
Alguém que possa preenchê-la”.
“O Catecismo da Igreja Católica afirma:
“Com a sua abertura à verdade e à beleza, com o seu senso de bem moral, com a
sua liberdade e a voz do conhecimento, com a sua aspiração ao infinito e à
felicidade, o homem se interroga sobre a existência de Deus”, explicitou.
Como última via, o Papa destacou a fé. “Sobretudo
na realidade do nosso tempo, não devemos esquecer que um caminho que conduz ao
conhecimento e ao encontro com Deus é o caminho da fé. Quem crê está unido a
Deus, está aberto à sua graça, à força da caridade. Assim a sua existência
torna-se testemunha não de si mesmo, mas do Ressuscitado, e a sua fé não tem
medo de mostrar-se na vida cotidiana, é aberta ao diálogo que exprime profunda
amizade para o caminho de cada uma, e sabe abrir luzes de esperança à
necessidade de redenção, de felicidade, de futuro”, disse.
“Na realidade, o fundamento de cada doutrina ou
valor tem o acontecimento do encontro entre o homem e Deus em Cristo Jesus. O
Cristianismo, antes que uma moral ou uma ética, é caso de amor, é o acolher a
pessoa de Jesus. Por isto, o cristão e a comunidade cristã devem antes de tudo
olhar e fazer olhar para Cristo, verdadeiro caminho que conduz a Deus”,
concluiu o Santo Padre.
No final do seu discurso Bento XVI saudou em
várias línguas os presentes, incluindo os peregrinos lusófonos: “Queridos
peregrinos vindos de diversas cidades do Brasil e todos os presentes de língua
portuguesa: sede bem-vindos! Neste Ano da Fé, procurai conhecer mais a Cristo,
único caminho verdadeiro que conduz a Deus, para poder depois transmitir aos
demais a alegria desse encontro transformador. Possa Ele iluminar e abençoar as
vossas vidas! Obrigado pela visita!”.
FONTE: http://www.acidigital.com/noticia.php?id=24463
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