Não junteis tesouros aqui na terra
Há dois mil anos, o Evangelho de Mateus foi escrito, mas ainda hoje enfrentamos desafios semelhantes. A traça e a ferrugem continuam corroendo, e os ladrões ainda roubam e assaltam. Nesse tempo todo, será que aprendemos a guardar nosso tesouro em um lugar seguro? Mas afinal, qual é o nosso verdadeiro tesouro?
Olhemos para onde está nosso coração, e teremos a resposta. Na língua hebraica, “pôr o coração” significa estar atento, prestar atenção. Para onde está voltada nossa atenção? Para onde se volta nosso olhar? O olhar é direcionado pelo desejo, e esse desejo busca o que tem valor. Cada um busca um tesouro, algo que pode ser valioso para uns e sem importância para outros. No entanto, ninguém busca para si o que não é bom, embora possamos nos equivocar na busca.
Verdadeiramente sábio é somente Deus, mas o homem pode procurar amorosamente a sabedoria e alcançar a verdade. O filósofo alemão Josef Pieper afirmava que podemos olhar o mundo com uma única intenção: a da verdade. Contemplação significa um olhar amoroso, observar algo que amamos. Por isso, o Evangelho nos lembra: “Onde está teu tesouro, aí está teu coração”. E é também por isso que “a lâmpada do corpo é o teu olho”. Como diziam os antigos: “Onde está o amor, aí está o olhar”.
Reflexão
Acumular bens materiais é falta de bom senso. É trabalhar por algo perecível. O tempo, a ferrugem, as traças e os ladrões consomem as coisas que a pessoa ajuntou, não raro com desgaste da saúde ou preocupações excessivas. Não vale a pena. Melhor investir a vida, que, aliás, passa veloz, em valores como a fé, a justiça e a fraternidade. Olho bom, ou sadio, aplica-se à pessoa que, de bom grado, partilha seus bens com os necessitados. Essa é a proposta do Reino de Jesus. A pessoa generosa é cheia de luz. Olho ruim, ou doente, refere-se à pessoa mesquinha e invejosa, apegada a seus pertences. Essa pessoa é aliada da sociedade injusta e exploradora. Seu interior é escuridão. Todo cristão precisa deixar-se iluminar pela Palavra de Deus, que lhe aponta o equilíbrio na administração dos bens.
(Dia a dia com o Evangelho 2024)
Reflexão
«Ajuntai para vós tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não destroem, nem os ladrões assaltam e roubam»
Rev. D. Lluís RAVENTÓS i Artés
(Tarragona, Espanha)
Hoje, o Senhor nos diz que «A lâmpada do corpo é o olho» (Mt 6,22). Santo Tomás entende que com isso —ao falar do olho— Jesus se refere à intenção do homem. Quando a intenção é correta, lúcida, encaminhada a Deus, todas nossas ações são brilhantes, resplandecentes; mas quando a intenção não é correta, que grande é a escuridão! (cf. Mt 6, 23).
Nossa intenção pode ser pouco correta por malicia, por maldade, mas muito frequentemente o é por falta de sensatez. Vivemos como se tivéssemos vindo ao mundo para amontoar riquezas e não temos na cabeça nenhum outro pensamento. Ganhar dinheiro, comprar, dispor, ter. Queremos despertar a admiração dos outros ou talvez a inveja. Enganamo-nos, sofremos nos sobrecarregamos de preocupações e de desgostos e não encontramos a felicidade que desejamos. Jesus nos faz outra proposta: «Ao contrário, ajuntai para vós tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não destroem, nem os ladrões assaltam e roubam» (Mt 6,20). O céu é o silo das boas ações, isto sim que é um tesouro para sempre.
Sejamos sinceros com nós mesmos, em que empregamos nossos esforços, quais são nossos interesses? Certamente, é próprio do bom cristão estudar e trabalhar honradamente para abrir-se passo no mundo, para ajudar a família, garantir o futuro dos seus e a tranquilidade da velhice, trabalhar também pelo desejo de ajudar aos outros... Sim, tudo isto é próprio de um bom cristão. Mas se aquilo que você procura é ter mais e mais, pondo o coração nestas riquezas, esquecendo-se das boas ações, esquecendo que neste mundo estamos de passo, que nossa vida é uma sombra que passa, não é verdade então que — temos o olho escurecido? E se o sentido comum se escurece. «Mas se teu olho for ruim, ficarás todo em trevas. Se, pois, a luz em ti é trevas, quão grandes serão as trevas!» (Mt 6,23).
Pensamentos para o Evangelho de hoje
- «Quando começas a detestar o que tiveres feito, então as tuas boas obras começam, porque reconheces as tuas obras más» (Santo Agostinho)
- «Jesus convida a usar as coisas sem egoísmo, sem sede de posse ou dominação, mas segundo a lógica de Deus, a lógica do cuidado com os outros, a lógica do amor» (Bento XVI)
- «A confissão (a acusação) dos pecados, mesmo de um ponto de vista simplesmente humano, liberta-nos e facilita a nossa reconciliação com os outros. Pela confissão, o homem encara de frente os pecados de que se tornou culpado; assume a sua responsabilidade e, desse modo, abre-se de novo a Deus e à comunhão da Igreja, para tornar possível um futuro diferente» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1.455)
Reflexão
A lei moral: o caminho interior de nosso coração
Rev. D. Antoni ORIOL i Tataret
(Vic, Barcelona, Espanha)
Hoje nos convidam a olhar as coisas com os olhos de Deus, isto é, com critério cristão. Nisto consiste a Lei. "Lei moral": um convite para que seja nosso próprio coração quem incorpore a olhada penetrante de Deus.
A vantagem de fazer assim é dupla. Em primeiro lugar, a consecução da verdade, que nos faz sábios e livres: sábios, porque captamos profundamente o "porquê"; livres, porque as afastamos de toda imposição enganosa. Segundo, porque contribuímos eficazmente à realização da vontade de Deus, quer dizer, nos fazemos atores conscientes de seu plano de salvação universal. Em resumo: obrar cristãmente é conseguir a grande meta de ser inteligentes e bons, ou, dito de outra maneira, ser sábios y santos.
—Senhor, obrigado porque nos apremias a fazer tudo o que podemos e nos pedes o que não podemos! Com nossas únicas forças não podemos fazer; esta é a razão pela qual os cristãos rezam.
Comentário sobre o Evangelho
O Sermão do Monte: «Pois onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração»
Hoje Jesus nos dá um conselho muito prático: não tomar as coisas desta vida como um tesouro. Tendemos a acumular muitas coisas que ao final não sabemos onde pô-las. É verdade que necessitamos coisas para viver, mas o que nos faz falta acima de tudo é amor. Algum dia Deus nos chamará ao céu: que tesouros encontrarei lá?
—Preste atenção!: Jesus ficou na terra, escondido na Eucaristia. Está presente em muitas igrejas. Está em todas partes! Poderia fazer isso se tivesse muitas coisas?
Meditação
Não basta viver! É preciso ter objetivos válidos na vida, objetivos que possam satisfazer nossos anseios. Só Deus e as coisas de Deus podem satisfazer plenamente nossa sede de felicidade. Podemos procurar bens secundários, mas sem fazê-los meta última de nossa vida, pois assim nos trariam apenas desilusão. Precisamos de olhos sadios, da sabedoria, que nos façam saber saborear a vida.
Oração
Ó Deus, fonte dos dons celestes, reunistes em São Luís Gonzaga a prática da penitência e uma admirável pureza de vida, concedei-nos, por seus méritos e preces, que, se não soubemos imitá-lo em sua vida inocente, sigamos fielmente seus exemplos na penitência. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.
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