Continua do dia 11/11/2014
No Magnificat, Maria deixa emergir a sua própria
identidade espiritual.
É mulher de alegria, alegria plena de gratidão e
encantamento. A primeira palavra de Gabriel havia sido: Alegra-te. Maria não
vai ignorar tal saudação e convite. Ela se deixa esclarecer por essa mensagem
de alegria. O menino que se forma nela é a sua maior fonte de alegria. Maria
não é tocada pelos perigos possíveis: ser despedida, perder o bom nome, em
sociedade e perante os pais, ser lapidada. Ela está estabelecida na alegria e a
sua força vem do céu: “Nada é impossível a Deus”. É desta mulher ditosa que
dizemos: Causa da nossa alegria, porque o filho que ela traz no seio é toda a
nossa ALEGRIA.
Maria é mulher inteligente. Ela compreende e
proclama o que Deus fez nela: “O Senhor fez em mim maravilhas”. A sua
característica será sempre refletir, procurar compreender, deixar as coisas
amadurecerem no coração, santuário da oração. Ela tem, ademais, a sua justa
intuição: a maravilha que Deus fez nela é de tal grandeza que “doravante todas
as gerações a proclamarão bem-aventurada”.
Não é orgulho, porque Maria se havia proclamado
“humilde serva”, o nada contemplado pelo amor, pequena como todos os anawim de
Israel.
É a mulher cujo coração já está modelado pelo
Espírito, pautado pelo coração do Filho. Como ele, ela escolhe os humildes, os
famintos. Ela toma distância dos soberbos, dos tiranos, dos ricos. Ela faz
escolhas corajosas.
É mulher profundamente enraizada na história do
seu povo. O seu Magnificat não é o canto de uma solitária, mas de uma mulher solidária.
Partindo da sua realidade, ela percorre, em linha reversa, todas as gerações do
seu povo, até Abraão, o homem primordial dessa aventura com Deus. No coração de
Maria, vivem a história e a esperança de Israel. Bate nela o coração do seu
povo.
É mulher de fé profunda. Somente a fé permite ler
a história, descobrindo a presença e a ação de Deus. Somente a fé permite ler o
seu caso pessoal como obra de Deus: o menino que ela leva em si não é um
acidente, mas o dom do amor sem limites de Deus que vem salvar. O retrato de
Deus que emerge do seu canto é por inteiro o fruto da sua fé.
É sobretudo a mulher que sabe agradecer. Entre os
judeus, a gratidão exprimia-se sempre em louvores e na bênção; a palavra
obrigado não existia no idioma hebraico. Mas cantar os louvores de alguém não
seria uma opção para substituir o obrigado inexistente? Ser reconhecido, amado,
abençoado, venturoso para sempre não seria o equivalente ao obrigado? Em Maria,
a gratidão irrompe espontânea, abundante e jubilosa.
Lemos, rezamos ou cantamos, muitas vezes, o
Magnificat. Fazemos nossa a fé, a alegria e o louvor mediante os quais Maria
glorifica a Deus. Sempre que repetimos: “Todas as gerações me chamarão
bem-aventurada”, nós bem intuímos que no grande louvor de Deus esta pequena frase
e esta profecia constituem o louvor reservado à Mãe. Reiteramos esta profecia
com júbilo, dando-lhe uma espécie de cumprimento. Hoje somos a geração que diz
com alegria e reconhecimento: Todas as gerações me chamarão bem-aventurada!
Sim, Mãe de Jesus, declaramos-te bem-aventurada;
tu és a causa da nossa própria alegria.
Lutero, no seu comentário do Magnificat, escreveu:
“Este santo cântico da bem-aventurada e doce Mãe de Deus deveria ser aprendido
e decorado por todos. Neste canto Maria nos ensina como devemos amar e louvar a
Deus, com o coração desapegado, sem buscar o nosso interesse”.
Do livro Maria dos Evangelhos, de Paulinas Editora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário