HORRORES DA VIOLÊNCIA
12/11/2012
12/11/2012
A sociedade está convocada a refletir sobre um grave problema: o
aumento dos índices de violência. Não basta apenas proteger-se, com medo dos
riscos e prejuízos que a criminalidade provoca. Reforçar sistemas de segurança
e evitar situações perigosas são medidas importantes. Porém, é fundamental
perceber como a solidariedade pode ajudar na diminuição da violência. Também é
indispensável reconhecer como é ilusório e perigoso o enfrentamento dos crimes
armando-se. É preciso seguir o caminho da solidariedade, uma defesa que precisa
ser exercitada e está longe dessa busca pelas armas.
Fala-se de um grupo
civil armado crescente em nossa sociedade. Dados do Sistema Nacional de Armas,
da Polícia Federal, mostram que houve aumento de 406% nas expedições de portes
em território mineiro, entre 2008 e 2011. É um equívoco convencer-se que a
vitória sobre a violência será conquistada com a compra de uma arma de fogo
para defesa pessoal. Justificar esta escolha com o argumento de que a polícia
não está preparada e não tem contingente suficiente para proteger o cidadão é
um risco. Se todos os cidadãos ou grande parte da população se armarem, não
significa garantia de paz. Ao contrário, estaremos, na verdade, em tempo de
guerra.
O impacto emocional na vida de quem já foi assaltado, ou com parentes, amigos, alguém próximo que tenha sido vítima de violência, não pode se converter em desenfreada busca pelo armamento. Ao contrário, é preciso apoiar o controle rígido do porte de armas. Isso inclui, obviamente, um trabalho árduo e sistemático para o desarmamento urgente de bandidos. Nesse caminho, é preciso incluir, prioritariamente, na agenda da sociedade e na preocupação primeira de cada cidadão, a solidariedade como força educativa, de combate e de mudança dessa triste realidade. Ao indicar a solidariedade como remédio para a violência, não se está falando de concessões, de conivências ou de uma postura passiva. É preciso reagir diante da realidade que se estabelece. A violência está se tornando uma cultura e isso é gravíssimo. Ela começa a ser exercida não apenas pelos criminosos, mas também pelos honestos que optam pelo combate à violência com a violência.
A indignação inevitável que emerge no coração de vítimas, de
parentes e dos cidadãos de boa vontade não pode obscurecer nossa coragem de
apostar numa cultura marcada pela dinâmica da solidariedade, que tem força para
mudanças profundas. Um exemplo concreto e palpável dessa força está nas muitas
comunidades de fé, que desenham na vida de muitas pessoas um horizonte de
espiritualidade à luz da Palavra de Deus. Assim, ajudam a superar quadros de
violência e fazem brotar um sentido novo de cidadania. Contribuem para fazer
crescer o gosto de conviver respeitando o outro. Por esse caminho é urgente
andar e investir. Alguém dirá ser um percurso demorado. Contudo, é o único com
dinâmicas de importância, para combater e impedir que a violência se torne uma
cultura.
Nas realidades em que a violência se institucionalizou,
presencia-se a dificuldade na organização social e o
crescimento da delinquência que dizima, em todas as camadas sociais, o sentido
de valor, a compreensão justa da vida e o gosto pelo respeito ao outro. No
lugar da revolta, embora a indignação seja justificável, é preciso aderir às
práticas solidárias, que têm força revolucionária. Este entendimento deve ser
alcançado, para se evitar prejuízos irreversíveis.
O mapa da violência estampa o retrato de uma grave epidemia que
atinge todos. A sociedade brasileira está numa posição sofrível e lamentável no
ranking internacional sobre taxas de homicídio. Esses números elevados, mais do
que mostrar uma triste realidade, indicam que os governantes, instituições e
cidadãos têm responsabilidades graves neste período da história. É o momento de
todos participarem, para mudar esta calamidade social que é a violência,
contramão de uma cultura da solidariedade. Dinâmica que encontra força na fé. É
indispensável conhecer e buscar mais o remédio da solidariedade. Assim, será
possível mudar esses quadros produzidos pelos horrores da violência.
Dom Walmor Oliveira de
Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte
Arcebispo de Belo Horizonte
FONTE: http://www.asj.org.br/educacao_artigos.asp?codigo=7155&cod_curso=143
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