segunda-feira, 16 de abril de 2018

Feliz Aniversário Bento XVI - Os 91 Anos de Bento XVI, O Papa do Sábado Santo


Feliz Aniversário Bento XVI

Os 91 Anos de Bento XVI, O Papa do Sábado Santo
Por Rudy Assunção

O Papa Emérito Bento XVI completa 91 anos no dia de hoje, 16 de abril de 2018. Quem acompanha a sua vida de relativa reclusão no Monastero Mater Ecclesiae no Vaticano, como um peregrino em sua última etapa, sabe que a sua saúde, por um processo natural, se vê pouco a pouco debilitada, ainda que a sua grande lucidez seja testemunhada por todos que vivem com ele ou que o visitam. Para ele o brado, o voto do hino pontifício “Vivas tanto ou mais que Pedro” se efetivou.

No entanto, não é minha intenção tratar da longevidade do Papa alemão, mas refletir sobre um ponto de sua biografia que, por sinal, não estava sob o seu controle e que marcou toda a sua trajetória.

Bento XVI nasceu em 1927. E foi batizado no mesmo dia do seu nascimento. “O dia em que fui batizado […] – recordou Bento XVI – era Sábado Santo. Então, era costume antecipar a noite de Páscoa para a manhã, à qual teria seguido a noite de Sábado santo, sem o Aleluia” (Homilia, 16 de abril de 2012). Em sua autobiografia parcial, ele lembrava que esse fato, a coincidência do seu nascimento com seu renascimento, causou muitos comentários na família e foi considerado um bom presságio: como não havia Vigília Pascal, sobre ele foi derramada a nova água batismal, abençoada um pouco antes na “Noite Pascal”. Nascer sob o signo do mistério pascal e por sua celebração litúrgica, só podia ser para ele um “sinal de bênção” (Lembranças da minha vida, São Paulo, Paulinas, 2006, p. 6) e, ao mesmo tempo, uma marca para a sua própria existência e para a sua autocompreensão: “É verdade que não foi no Domingo de Páscoa, e sim no Sábado Santo. Mas quanto mais reflito sobre isso, mais me parece estar de acordo com a essência da nossa vida humana, que ainda está à espera da Páscoa, ainda não na plenitude da luz, mas indo ao seu encontro, cheios de confiança” (ibid., p. 7).

É interessante notar que – voltando à sua pregação de 2012 – nela Bento XVI aplicava a sua leitura ao nosso tempo. Para ele, vivemos particularmente hoje, sob a marca do Sábado Santo: “Parece-me que deste singular paradoxo, esta antecipação singular da luz num dia escuro, seja quase uma imagem da história dos nossos dias. Por um lado ainda há o silêncio de Deus e a sua ausência, mas a antecipação do ‘sim’ de Deus já está na ressurreição de Cristo, e nós vivemos desta antecipação e através do silêncio de Deus ouvimos os seus discursos, e por intermédio da obscuridade da sua ausência entrevemos a sua luz” (ibid.).

Recordar o natalício de Bento XVI nos ajuda a aprendermos a olhar para a nossa própria vida e para a história toda com uma perspectiva pascal. A vida do cristão é aquela transformada pelo batismo, por sua identificação com Cristo; é uma existência iluminada por Ele, mas que neste mundo ainda encontra trevas, obscuridade, mas tem a certeza, a fé e a esperança de que o amor mais forte do que a morte vencerá.

Mais um detalhe. Há um outro aspecto que Bento XVI acentua sobre o seu nascimento, que é a sua inserção na Igreja: “Sempre considerei um grande dom da Misericórdia Divina que o nascimento e o renascimento me tenham sido concedidos, por assim dizer, juntos, no mesmo dia, no sinal do início da Páscoa. Assim, no mesmo dia, nasci membro da minha própria família e da grande família de Deus” (Homilia, 15 de abril de 2007). Bento XVI olha agradecido para o passado ao falar de que fez parte de uma família feliz, simples, imersa na fé da Igreja; mas sua gratidão vinha inclusive do fato de ter entrado na grande família de Deus: “desde o primeiro dia, pude entrar e crescer na grande comunidade dos crentes, na qual se abre de par em par o confim entre vida e morte, entre céu e terra; agradeço por ter podido aprender tantas coisas beneficiando da sabedoria desta comunidade, na qual estão contidas não só as experiências humanas desde os tempos mais remotos: a sabedoria desta comunidade não é apenas sabedoria humana, mas nela alcança-se a própria sabedoria de Deus a Sabedoria eterna (ibid.).

A lição que se extrai do aniversário do Papa Emérito é simples e profunda ao mesmo tempo: nascer ganha o seu sentido mais profundo no renascer. E a Igreja é o lugar que dá à vida a direção decisiva: a Páscoa definitiva.

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