Querido São José, desejo neste dia
dirigir-te a minha prece; na verdade esta prece deve iniciar-se com um pedido
de desculpas. Sim um pedido de desculpas, no dia de tua solenidade. É que desde
a minha infância tomei-te como um homem sério. Com efeito, as tuas imagens, as
tuas gravuras sempre te apresentaram a mim como um homem grisalho, barba
branca, idoso e sei também, querido São José, que esta visão distorcida vem de
longe. Se não me falha a memória, vem do Século III. Egesipo te descreveu assim
e acrescentou que tu eras um viúvo, já com filhos, disposto a casar pela
segunda vez com Maria. Um século mais tarde São Jerônimo divulgava, contra
Egesipo, que os famosos irmãos de Jesus na verdade não eram seus filhos. Em
resumo toda a Igreja Latina acostumou-se a ver-te velho, alquebrado, avançado
em anos e guardião da castidade da Maria.
Amado São José, certamente as coisas não se passaram dessa
maneira. Eras tão jovem quanto a esposa que estavas para assumir; tão cheio de
vida quanto ela. Havia em teu coração propósitos como os dela: casar, possuir
muitos filhos e assim obedecer ao primeiro mandamento do Deus Criador: “crescei
, multiplicai-vos, enchei e dominai a Terra”.
Compreendo, São Jose, tua grande crise, quando certo dia
percebestes que aquela que te estava prometida em casamento encontrava-se
grávida. Não sabías a origem daquela gravidez, que tua certamente não era. Que
tormenta, que tempestade assolou teu espírito naquela ocasião!
Querido São José, posso compreender-te porque eu também passei
por momentos de escuridão, de trevas e noite
densa em minha própria existência.
Diz-nos o Evangelista Mateus que um Anjo do Senhor, naquela
ocasião, veio ao teu encontro e te revelou o segredo daquela que deveria ser
tua esposa. Pediu-te aquele Anjo que não a despedisses, pelo contrário, a
recebesses em tua casa. E mais, pediu-te que ainda que desses `a Criança, dela
nascida, o nome de Jesus, porque Ele salvaria o teu povo dos seus pecados.
Caríssimo São José, juntamente com tua Esposa foste testemunha
dos primeiríssimos dias e dos primeiríssimos anos de Jesus. Com teu trabalho na
carpintaria de Nazaré sustentastes a Sagrada Família. Com o suor do teu rosto,
como ordena Deus no livro do Gênesis, mantiveste o teu lar. Ensinaste, como era
costume outrora, tua profissão a Jesus, teu Filho putativo, porque Ele mais
tarde haveria de ser chamado o Filho do Carpinteiro de Nazaré.
Amado São José, como foram os dias em que passaste junto a tua
querida esposa e teu Filho adotivo? O que conversavas tu com ele durante as
longas noites em que com Ele passavas junto? Quais eram os desejos prediletos
que conservavas em teu próprio coração? Sim, porque existem camadas profundas
de nós mesmos que não ousamos transmitir a ninguém. Deus, e apenas Deus, é
aquele que perscruta rins e corações.
Não te foi concedida, querido São José, a graça de contemplar
com teus olhos a vida pública de Jesus, graça esta concedida a tua esposa
Maria.
Meu caro São José, começaste uma bela obra, mas não pudeste
terminá-la. Semeaste São José, mas não pudeste colher. Realizaste simplesmente
a tua missão e depois te afastaste silenciosamente, na ponta dos pés.
São José, ao louvar hoje e bendizer a Deus por tua vida, por tua
missão nesta Terra, pelo teu trabalho, pela tua piedade e pelo teu amor, nós
gostaríamos de suplicar a tua interseção.
Intercede por nós, São José, para que saibamos realizar bem
nossa missão. Para que saibamos a hora de entrar em cena e também a hora de
sair de cena, sem aquela exigência irritante de querer ver a todo custo aquilo
que nossas mãos semearam com fadiga e cansaço.
Concede-nos a graça de abandonar tudo e tudo colocar nas mãos de
Deus, quando chegar para nós o seu filho. Concede-me ainda outra graça, querido
São José, no dia em que celebramos com a Igreja a tua solenidade. Não sabemos
como foi o teu fim; sabemos, no entanto, que Deus esconde das vistas curiosas
dos homens os que lhe são mais queridos. Que sabemos nós de tua vida? Mas que
sabemos nós também da vida de tua Esposa? Da vida de teu Filho Adotivo
conhecemos apenas um décimo.
Sim, querido São José, assim trata Deus seus melhores amigos;
reserva-os apenas para Si; não permite que outros olhares curiosos perscrutem
este sacrário.
Eu te peço, caríssimo São José, que me alcançes finalmente uma
ultima graça. Tenho a certeza de que tua morte, embora desconhecidas as circunstâncias,
terá sido a morte melhor e a mais invejável de todas
porque morreste nos braços de Jesus e de Maria.
Quando chegar o final dos meus dias; quando o Sol se puser sobre
a minha vida e tudo estiver para desaparecer definitivamente deste cenário
magnífico e cruel que é o mundo em que vivo, dize-me querido São José,
segurando-me pela mão: amigo, passemos agora para a outra margem.
Amém!
Pe. Fernando José Carneiro Cardoso
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