ANO A
Mc 8,22-26
Comentário do
Evangelho
A
insistência de Jesus
Depois do diálogo com os discípulos marcado, como dissemos, por certa aspereza e indignação, o evangelista pôs este relato da cura do cego de Betsaida. No episódio precedente (8,14-21) é observada com clareza a incredulidade dos discípulos; uma forma de afirmar a cegueira espiritual deles (cf. 8,18). Nesse sentido, o texto de hoje tem um forte valor simbólico, a saber, ele exprime o desejo de Jesus de abrir os olhos dos seus discípulos. A intenção de ir a Betsaida já havia sido anunciada em 6,45, depois do relato da primeira multiplicação dos pães. O cego é levado por outros, o que se compreende em relação à sua deficiência. Jesus também o toma pela mão para conduzi-lo para fora do vilarejo. Esse gesto de Jesus pode ser entendido também em relação à limitação daquele anônimo, conhecido somente por sua cegueira. No entanto, há, aqui, um plus: a condução do cego por Jesus já é o início da cura. O gesto repetido da imposição das mãos, até o cego ver claramente, é símbolo da dificuldade e do processo necessário até que os discípulos vejam com clareza. A clareza da visão e a compreensão do mistério de Cristo não se darão de uma só vez; será preciso um longo itinerário. O termo desse caminho é a ressurreição do Senhor.
Carlos Alberto Contieri, sj
Oração
Pai, abre meus olhos para que, pela fé, eu reconheça teu filho Jesus, e possa beneficiar-me da força libertadora que dele provém.
Reflexão
Jesus retira o homem do povoado, não o cura totalmente na primeira vez que lhe impõe as mãos, o deixa totalmente curado na segunda vez que lhe impõe as mãos e diz para ele não entrar no povoado. Esses elementos nos ajudam numa reflexão sobre o Evangelho de hoje. As pessoas vivem em sociedade e, geralmente, assumem integralmente os seus valores. Esses valores muitas vezes se tornam um obstáculo para a atuação da graça e para a verdadeira libertação dessas pessoas. Depois que a libertação acontece, essas pessoas não podem assumir novamente todos os valores da sociedade, pois voltarão a viver na escuridão do erro e do pecado.
Vivendo a Palavra
Em meio à multidão, Jesus toma o cego pela mão e
o separa do grupo para cuidar dele. Estabelece para nós o caminho a ser
seguido: o anúncio do Reino do Pai não visa a converter
multidões anônimas, mas se dirige pessoalmente a cada um dos nossos irmãos –
com carinho e cuidado.
Recadinho
Procuramos enxergar e ser grato por tantos milagres que Deus realiza em nossa vida? - Tomamos cuidado para que o pessimismo não tome conta de nós? - Fazemos o que está a nosso alcance, deixando por fim nas mãos de Deus? - Será que muitas vezes não nos deixamos levar pelo egoísmo? - Enxergamos o mundo à nossa volta que necessita de fraternidade, generosidade e perdão.
Padre Geraldo Rodrigues, C.Ss.R
Comentário do Evangelho
A VISÃO
RECOBRADA
A cura do cego teve uma função simbólica na
formação dos discípulos. Jesus estava para lhes revelar coisas
importantíssimas, que exigiam grande lucidez para serem compreendidas e
assimiladas. A cegueira espiritual poderia levá-los a não compreender as palavras
do Mestre, ou então a deturpá-las. A experiência do cego correspondia à
experiência que os discípulos deveriam também fazer.
Jesus
acolheu a súplica dos que conduziam o cego, pedindo-lhe para tocá-lo. O cego
foi conduzido para um lugar afastado. E, ao cabo de um verdadeiro ritual, Jesus
lhe restituiu a visão, passando o homem a ver todas as coisas, mesmo de longe,
bem e claramente.
Aos
discípulos faltava esta visão perfeita, sendo ainda incapazes de captar a exata
impostação do convite de Jesus para segui-lo. Sua compreensão de messianismo
não se adequava àquela de Jesus. Eles esperavam que Jesus se manifestasse como
messias rei, cheio de glória e poder. E, nem de longe, podiam imaginar o quanto
o projeto de Jesus se distanciava deste modelo messiânico.
Os
olhos dos discípulos deveriam ser abertos por Jesus assim como o foram os olhos
do cego. Continuar a caminhar como cegos seria uma imprudência. Suas vidas
corriam o risco de terminar numa frustrante decepção.
Oração
Senhor Jesus, restitua em
mim a visão para que eu possa ver claramente o caminho para onde tu me
conduzes.
(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta,
Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste
Portal a cada mês)
Oração
Ó Deus, que prometestes
permanecer nos corações sinceros e retos, dai-nos, por vossa graça, viver de
tal modo, que possais habitar em nós. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso
Filho, na unidade do Espírito Santo.
REFLEXÕES DE HOJE
19 de
FEVEREIRO - QUARTA
HOMILIA
JESUS E O CEGO DE
BETSAIDA
Temos neste texto uma narrativa bem
característica do evangelista Marcos, rica em detalhes, destacando os toques,
particularmente no uso da saliva. Marcos a introduz como prefácio da caminhada
de Jesus com os discípulos de Cesaréia de Filipe até Jerusalém.
Depois de curas que causaram grande
repercussão no território pagão da Palestina, Jesus e seus discípulos
continuaram o itinerário até a região da Judéia, onde realiza a segunda
multiplicação dos pães. Segue adiante o caminho exortando-os a não pensarem como
pensam os fariseus e repreendendo-os para que se guardassem do fermento de
Herodes. Atravessam a Judéia e retornam à Galiléia “e chegaram a Betsaida”.
Esta cidade, vizinha de Cafarnaum, situava-se a noroeste do mar da Galiléia e
foi berço de Pedro, André e Filipe. Aí nasceram, brincaram, cresceram,
aprenderam os primeiros rudimentos da pesca e depois...
Pedro e André eram irmãos. André – de
índole mais religiosa e mais contemplativa – era discípulo de João Batista. Um
dia, estando em conversa com dois de seus discípulos, João viu Jesus que
passava ao longe e exclamou: “Eis o Cordeiro de Deus”. Eles o deixaram e
seguiram Jesus, passando com ele aquele dia. Um deles era André. No dia
seguinte foi ao encontro de Simão para lhe transmitir a notícia maravilhosa;
“Encontramos o Messias (que quer dizer o Cristo); e ele o conduziu até a
presença de Jesus.
Marcos continua o seu relato dizendo
que “trouxeram-lhe então um cego, rogando que ele o tocasse”. No capítulo seis
do Evangelho narrado por Mateus (referindo-se ao tesouro), Jesus faz uma
associação nos versículos 22 e 23 com a visão, dizendo: “O olho é a luz do
corpo. Se teu olho é são, todo o teu corpo será iluminado. Se teu olho estiver
em mau estado, todo o teu corpo estará nas trevas. Se a luz que está em ti são
trevas, quão espessas serão as próprias trevas!”
A visão é um tesouro precioso que
Deus nos deu. Os nossos olhos sadios podem contemplar a beleza do nascer e do
por do sol; podem ver o desabrochar de um botão em flor; podem se extasiar
diante do milagre da vida que resplandece a cada instante; como podem refletir
a dor de uma perda, através de lágrimas que escorrem num rosto vazio de
esperança; ou refletir o que transborda do nosso coração, porque – como dizia o
poeta – “os olhos são o espelho da alma”.
Esse homem era cego. A ansiedade que
tomava conta de sua alma era indecifrável. Naquele instante ele sentia que
estava frente a frente com Jesus – aquele que dissera certa vez: “Eu sou a luz
do mundo” (Jo 8,12). Os seus olhos eram trevas, mas o seu coração começara a
irradiar um tênue raio de luz.
“Tomando o cego pela mão, Jesus
levou-o para fora do povoado e cuspindo-lhe nos olhos e impondo-lhe as mãos,
perguntou-lhe: - Percebes alguma coisa?” E eu fico aqui imaginando o que se
passava na mente daquele homem! A dúvida, a insegurança, o medo, a frustração,
a decepção, os questionamentos interiores da fé: _E se eu abrir os olhos e não
enxergar nada? Se a escuridão continuar, o que será de mim? O que dirão os que
me trouxeram até
ele?
O cego de Betsaida era um homem de
carne e osso semelhante a nós, sujeito a todas essas dúvidas, embora nutrisse
seu coração com minúsculas gotas de fé e de esperança. “Percebes alguma coisa?
E ele começando a ver, disse: “Vejo as pessoas como se fossem árvores andando”.
Que emoção! Que contentamento! São pobres palavras para expressar o sentimento
de felicidade que perpassava pelo espírito radiante daquele homem. Ainda não
estava vendo com nitidez, mas já sentira a luz atravessar todo o seu globo
ocular e deixar aquela imagem, embora distorcida, gravada na sua
retina. “Em seguida ele colocou novamente as mãos
sobre os olhos do cego que viu distintamente e ficou restabelecido e podia ver
tudo nitidamente e de longe”. São palavras e gestos que curam o corpo, a alma e
o coração.
Tanto a cura da cegueira física
quanto a cura da cegueira que envolve o espírito, se inserem dentro de um
processo lento e gradativo. A conversão não acontece num passe de mágica ou num
estalar de dedos. É um exercício constante, doloroso, é um exercício de poda.
Jesus poderia ter curado este cego de uma vez; mas o curou em duas etapas para
nos mostrar que devemos perseverar na fé e na esperança e acolher a sua vontade
em nossa vida.
A cura de nossa cegueira virá quando
enxergarmos Jesus que vem até nós trazendo a Água Viva para lavar os nossos
olhos contaminados pela concupiscência da carne e se fazendo Eucaristia para
tocar em cada um de nós, fazendo brilhar a sua luz.
Pai, abre meus olhos para que, pela
fé, eu reconheça teu filho Jesus, e possa beneficiar-me da força libertadora
que dele provém.
Padre Bantu Mendonça
Katchipwi Sayla
Que os nossos olhos se abram para
enxergarmos o próximo
Deixemos o Senhor tocar novamente em nossos olhos para que
possamos enxergar claramente uns aos outros como irmãos e irmãs.
Então
Jesus voltou a por as mãos sobre os olhos dele e ele passou a enxergar
claramente. Ficou curado, e enxergava todas as coisas com nitidez. (Mc 8, 25)
A Palavra de Deus hoje nos ajuda a compreender o processo da
ação de Deus na vida de cada um de nós, porque muitas pessoas absorvem a graça
de Deus num toque d’Ele, numa graça de Deus, que chega e transforma nossa vida.
No entanto, nós somos muito morosos; não é que Deus seja lento e moroso, mas a
lentidão é própria de nossa natureza, veja como somos vagarosos para nos
converter, para compreender e para entender a graça de Deus. Veja há quantos
anos Deus vem batendo à porta do nosso coração e a nossa dificuldade de nos
abrir a Ele.
O
cego do Evangelho de hoje é um exemplo muito claro, para nós, do que é a nossa
natureza humana, Jesus o pega pela mão, cuspe nos olhos dele e passa as mãos
sobre os seus olhos. O Senhor, então, disse a ele: ”E agora, você está
enxergando alguma coisa?” O homem afirmou: ”Sim, Senhor, eu estou enxergando e,
estou vendo os homens, eles parecem árvores que andam”.
Por vezes, andamos para lá e para cá, e não sabemos enxergar
as pessoas; nós só sabemos enxergar a nós mesmos: nossos problemas, nossas
dificuldades, a nossa vida. Nós nos isolamos em
nosso mundo e a única coisa que nos interessa somos nós! Aquelas famílias que
parecem um verdadeiro ”gueto”: é só pai, mãe, filho e acabou; e o mundo é que
se exploda!
Ao
passo que a pessoa que encontra Jesus na sua vida sai do isolamento e começa a
enxergar os outros outros, começa a enxergar que existe mais alguém no mundo
além dela.
Quantas
pessoas são indiferentes quando alguém morre, quando alguém sofre, com as
tragédias que há no mundo. Pensam: “É problema deles!” Não, pois eles são
filhos de Deus, são nossos irmãos, são nossas irmãs!
Contudo,
quando a Palavra de Deus nos toca, começamos a enxergar que existem outras
pessoas; mas, no primeiro toque, pode ser que aconteça conosco o que acontece
com este cego: ele vê a pessoa como árvore. Quantas vezes, enxergamos as
pessoas como coisas. Sim, como coisas! Pensamos: “Espera aí: essa pessoa vai me
dar retorno ou não vai? Ela é vantajosa ou não é vantajosa para mim? Ela me dá
retorno ou não me dá retorno!?”.
Nossos
olhos não estão tão cegos, mas também não estarão totalmente curados enquanto
não pararmos de olhar as pessoas, os relacionamentos e as nossas amizades com
interesse. “Eu sou só amigo de quem me interessa, de quem de alguma forma me
oferece vantagem!” Muitas vezes, nós usamos as pessoas enquanto elas são úteis
para nós e elas estão próximas de nós; depois que elas perdem a “utilidade” são
descartáveis.
Deixemos
Jesus fazer como o fez com o cego do Evangelho de hoje, deixemos o Senhor tocar
novamente em nossos olhos para que possamos enxergar claramente, com nitidez,
para que possamos enxergar uns aos outros como irmãos e irmãs. Que não
enxerguemos mais as pessoas como coisas, somente movidos pelas vantagens que
elas oferecem para nós. Que nossos olhos se abram e possamos enxergar com
clareza e nitidez, com aquela luz que vem do céu!
Deus
abençoe você!
Padre Roger Araújo
Sacerdote da Comunidade Canção Nova, jornalista e colaborador do Portal Canção Nova.
LEITURA ORANTE
Mc 8,22-26 - Que Jesus nos tome pela mão
Preparo-me para a Leitura Orante de
hoje,
fechando os olhos por uns instantes
e,
colocando-me na presença de Deus,
peço a Ele que toque em
mim,
que toque no coração de todos
que circulam pela rede virtual.
Em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo.
Espírito Santo
que procede do Pai e do Filho,
tu estás em mim, falas em mim,
rezas em mim, ages em mim.
Ensina-me a fazer espaço à tua palavra,
à tua oração,
à tua ação em mim
para que eu possa conhecer
o mistério da vontade do Pai.
Amém.
1.
Leitura (Verdade)
- O que a Palavra diz?
Leio, na
Bíblia, o texto do dia: Mc 8,22-26.
Depois Jesus e os
discípulos chegaram ao povoado de Betsaida. Algumas pessoas trouxeram um cego e
pediram a Jesus que tocasse nele. Ele pegou o cego pela mão e o levou para fora
do povoado. Então cuspiu, passou a saliva nos olhos do homem, pôs a mão sobre
ele e perguntou:
- Você está vendo
alguma coisa?
O homem olhou e
disse:
- Vejo pessoas;
elas parecem árvores, mas estão andando. Jesus pôs outra vez as mãos sobre os
olhos dele. Dessa vez o cego olhou firme e ficou curado; aí começou a ver tudo
muito bem. Em seguida, Jesus mandou o homem para casa e ordenou:
- Não volte para o
povoado!
Agora procuro compreender melhor o
texto do Evangelho. Algumas pessoas com visão levaram o cego a Jesus. O cego
assumiu sua cegueira. Deixou-se conduzir pela mão por Jesus; deixou que o
levasse para fora do povoado, e cuspisse nos seus olhos, impondo-lhe as mãos.
"Estou vendo as pessoas como se fossem árvores andando", disse o
homem. Ele via de forma confusa. Parece que lhe faltava mais luz, nitidez.
Então, Jesus impôs de novo as mãos sobre os olhos dele e ele começou a enxergar
perfeitamente. A conversão de qualquer pessoa passa também por um processo -
vai enxergando aos poucos. Só se converte quem se deixa conduzir por Jesus
Cristo, que se deixa tomar pelas mãos por Ele.
2.
Meditação (Caminho)
- O que a Palavra diz para mim?
Também eu, você, confundimos pessoas com árvores, ou seja: ideal com realidade,
pessoas com coisas. O homem via sem nitidez. Às vezes, no olhar da vida,
perdemos a nitidez, quando somos permissivos, damos um "jeitinho" e a
nossa fé vai ficando descolorida, sem brilho, sem expressão, sem luz, sem
clareza. O apóstolo Paulo, quando perseguia os cristãos, caiu por terra e nada
enxergava. Precisou da ajuda de Ananias, esteve três dias sem comer ou
beber e sem enxergar. Às vezes, não enxergamos bem dentro de nós. Temos uma
espécie espécie de embaçamento que pode ser causado pelo nosso egoísmo,
superstições, nossas fraquezas, falta de perdão, inseguranças, mistura de
crenças, inconstância, falta de solidariedade. São
como "escamas", como aconteceu com Paulo. Disseram os
bispos, em Aparecida: "Nossa maior ameaça é “a fé que vai se desgastando e
degenerando em mesquinhez” A todos nós toca “recomeçar a partir de Cristo.” (DAp 12)
É preciso
romper tudo isto que nos impede de ver e caminhar.
Deixemos que Jesus nos
tome pela mão.
3. Oração
(Vida)
- O que a Palavra me leva a dizer a
Deus?
Rezo com Paulo VI:
Oração para pedir a Fé
Senhor, eu creio, eu quero crer em
Ti.
Senhor, faze que a minha fé seja
total, sem reserva;
que ela penetre no meu pensamento e
na minha maneira de
julgar as coisas divinas e as coisas
humanas.
4.
Contemplação (Vida e Missão)
- Qual o meu novo olhar a partir da
Palavra?
Um novo olhar e nova disposição:
Quero olhar o mundo e as pessoas como
são, com o olhar
transparente, limpo, livre de distorções.
Bênção
- Deus nos abençoe e nos guarde.
Amém.
- Ele nos mostre a sua face e se compadeça de nós. Amém.
- Volte para nós o seu olhar e nos dê a sua paz. Amém.
- Em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo. Amém.
I. Patrícia Silva, fsp
Oração Final
Pai Santo, que nós não sejamos
movidos por resultados estatísticos, mas que nos ocupemos atenta e amorosamente
de cada irmão que tu colocas junto a nós nos caminhos desta vida. Ajuda-nos, Pai
querido, a testemunhar ao mundo o Amor do Cristo Jesus, teu Filho e nosso
Irmão, que contigo reina na unidade do Espírito Santo.

Nenhum comentário:
Postar um comentário