Redação Portal
A12
Com cerca de 2000 representantes de diversos
setores da sociedade civil, líderes políticos, intelectuais, diplomatas e
artistas no Teatro Municipal na manhã deste sábado (27) o Papa ressaltou a
importância da valorização das diversas culturas, de uma responsabilidade
solidária e do diálogo com o povo na construção de um país justo.
Dom Orani Tempesta, Arcebispo do Rio, dirigindo-se ao
Pontífice lembrou que nas últimas semanas o Brasil vivenciou grandes
manifestações que apresentaram o desejo de um “país mais justo e menos
desigual, à procura de uma vida mais fraterna e digna”. Destacou que em sua
maioria foram os jovens os protagonistas das ruas, o que permitiu ao país
vislumbrar um “novo momento histórico” quando o país e também o mundo passam
por uma “mudança de época”.
“Esse protagonismo juvenil gerou esperança em todos de que a
vivência democrática e cidadã, sem nunca recorrer à violência, é o caminho para
superar as dificuldades vividas em nosso amado Brasil”, declarou.
O arcebispo disse ainda, que aguarda que este momento de
transformação de mentalidade possa “criar maiores espaços de participação
política”.
Diante de uma plateia de mais de dois mil convidados, o Papa
ouviu um discurso emocionado de Walmyr Gonçalves da Silva Junior, professor de
história, que nasceu na favela Marcílio Dias no Complexo da Maré.
“Foi o desejo de descobrir o sentido da minha vida que me
levou a traçar novos rumos na minha história”, disse o jovem professor.
Walmyr Junior recordou ao Santo Padre o extermínio dos jovens e crianças
na igreja da Candelária ocorrido há 20 anos atrás e os que continuam sendo
excluídos pela sociedade, especialmente, os que vivem uma vida de dependência
da droga e do álcool. No final de sua palavra o jovem pediu uma bênção para ele
e para os jovens. O Papa levantou-se da cadeira onde estava e abraçou
carinhosamente o jovem professor.
Aos 2000 representantes da classe dirigente do país, o Pontífice
considerou três aspectos importante em sua fala.
“Queria considerar três aspectos deste olhar calmo, sereno e sábio:
primeiro, a originalidade de uma tradição cultural; segundo, a responsabilidade
solidária para construir o futuro; e terceiro, o diálogo construtivo para
encarar o presente”.
Sobre o primeiro aspecto o Papa disse que é importante valorizar a
“originalidade dinâmica” que possui a cultura brasileira e o “sentir comum de
um povo”, e ressaltou que essa visão do homem e da vida, essa “seiva do
Evangelho, os brasileiros receberam da Igreja Católica, da fé em Jesus Cristo e
no amor a Deus e ao próximo. “Mas a riqueza desta seiva deve ser
plenamente valorizada! Ela pode fecundar um processo cultural fiel à identidade
brasileira e construtor de um futuro melhor para todos”, completou Francisco
lembrando o discurso do Papa emérito Bento XVI na Conferência de Aparecida.
“Fazer que a humanização integral e a cultura do encontro e do
relacionamento cresçam é o modo cristão de promover o bem comum, a felicidade
de viver”, disse ao enfatizar que nessa busca pelo bem da pessoa humana
converge também “a fé e a razão, a dimensão religiosa com os diversos aspectos
da cultura humana: arte, ciência, trabalho, literatura. O cristianismo une
transcendência e encarnação; sempre revitaliza o pensamento e a vida, frente a
desilusão e o de encanto que invadem os corações e saltam para a rua”.
No segundo aspecto de seu discurso, Francisco falou sobre a
responsabilidade social dizendo que o futuro exige uma “visão humanista da
economia” e uma política que “realize cada vez mais e melhor a participação das
pessoas, evitando elitismos e erradicando a pobreza”.
“Que ninguém fique privado do necessário, e que a todos sejam asseguradas
dignidade, fraternidade e solidariedade: esta é a via a seguir”, exortou o Papa
aos presentes que possuem um papel de responsabilidade diante da Nação
brasileira.
Uma liderança que saiba escolher a forma mais justa entre as diversas
opções disponíveis, que considere o todo da realidade para não delimitar a
visão e contribuir na tomada de decisões e, ainda, que considerea “própria ação
aos direitos dos outros e ao juízo de Deus”, são atitudes que o Santo Padre
apontou como importantes para aqueles que desejam atuar com responsabilidade
solidária.
Finalizando a sua mensagem, apresentou o terceiro aspecto, abordando o
diálogo construtivo que deve haver para o enfrentamento dos problemas atuais.
“Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre
possível: o diálogo. O diálogo entre as gerações, o diálogo com o povo, a
capacidade de dar e receber, permanecendo abertos à verdade. Um país cresce,
quando dialogam de modo construtivo as suas diversas riquezas culturais:
cultura popular, cultura universitária, cultura juvenil, cultura artística e
tecnológica, cultura econômica e cultura familiar e cultura da mídia”,
afirmou.
“É impossível
imaginar um futuro para a sociedade, sem uma vigorosa contribuição das energias
morais numa democracia que evite o risco de ficar fechada na pura lógica da
representação dos interesses constituídos”, Papa Francisco
Por fim, o Papa disse que é importante considerar e valorizar nesse
diálogo as “grandes tradições religiosas” sem conflitos.
“Favorável à pacífica convivência entre religiões diversas é a laicidade
do Estado que, sem assumir como própria qualquer posição confessional, respeita
e valoriza a presença do fator religioso na sociedade, favorecendo as suas
expressões concretas”.
“Hoje, ou se aposta
na cultura do encontro, ou todos perdem, todos perdem. Por aqui, o caminho é
fecundo”. Papa Francisco
Papa Francisco agradeceu a presença de todos e pela atenção à sua
mensagem de Pastor da Igreja e que é expressão do amor que nutre pelo povo
brasileiro e confiou todos à bênção e proteção de Nossa Senhora Aparecida.
“Confio-lhes ao pai do céu, pedindo-lhe, por intercessão de Nossa Senhora
Aparecida, que cumule de seus dons a cada um dos presentes, suas respectivas
famílias e comunidades humanas de trabalho e, de coração, a todos concedo a
minha bênção”.
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