terça-feira, 26 de junho de 2012

São Cirilo de Alexandria - 27 de junho

São Cirilo de Alexandria
370-444


Cirilo nasceu no ano de 370, no Egito. Era sobrinho de Teófilo, bispo de Alexandria, e substituiu o tio na importante diocese do Oriente de 412 até 444, quando faleceu aos setenta e quatro anos de idade.
Foram trinta e dois anos de episcopado, durante os quais exerceu forte liderança na Igreja, devido à rara associação de um acurado e profundo conhecimento teológico e de uma humildade e simplicidade próprias do pastor de almas. Deixou muitos escritos e firmou a posição da Igreja no Oriente. Primeiro, resolveu o problema com os judeus que habitavam a cidade: ou deixavam de atacar a religião católica ou deviam mudar-se da cidade. Depois, foi fechando as igrejas onde não se professava o verdadeiro cristianismo.
Mas sua grande obra foi mesmo a defesa do dogma de Maria, como a Mãe de Deus. Ele se opôs e combateu Nestório, patriarca de Constantinopla, que professava ser Maria apenas a mãe do homem Jesus e não de Um que é Deus, da Santíssima Trindade, como está no Evangelho. Por esse erro de pregação, Cirilo escreveu ao papa Celestino, o qual organizou vários sínodos e concílios, onde o tema foi exaustivamente discutido. Em todos, esse papa se fez representar por Cirilo. 
O mais importante deles talvez tenha sido o Concilio de Éfeso, em 431, no qual se concluiu o assunto com a condenação dos erros de Nestório e a proclamação da maternidade divina de Nossa Senhora. Além, é claro, de considerar hereges os bispos que não aceitavam a santidade de Maria. 
Logo em seguida, todos eles, ainda liderados por Nestório, que continuaram pregando a tal heresia, foram excomungados. Contudo as idéias "nestorianas" ainda tiveram seguidores, até pouco tempo atrás, no Oriente. Somente nos tempos modernos elas deixaram de existir e todos acabaram voltando para o seio da Igreja Católica e para os braços de sua eterna rainha: Maria, a Santíssima Mãe de Deus. 
Cultuado na mesma data por toda a Igreja Católica, do Oriente e do Ocidente, são Cirilo de Alexandria, célebre Padre da Igreja, bispo e confessor, recebeu o título de doutor da Igreja treze séculos após sua morte, durante o pontificado do papa Leão XIII.



São Cirilo de Alexandria, Bispo e Doutor 

Comemoração Litúrgica:  27 de junho. 

Também nesta data - N. S. Perpétuo Socorro, S. Madalena e S. Ladislau 

                                             São Cirilo, Patriarca de Alexandria, sobrinho e sucessor do Patriarca Teófilo, governou a Igreja de Alexandria durante 23 anos. Fechou todas as igrejas novacianas, expulsou da cidade os judeus, o que lhe importou grave conflito com o governador Orestes. Opôs-se com toda a energia à heresia nestoriana.  Nestório, Patriarca de Constantinopla afirmava que em Jesus Cristo não havia não somente duas naturezas, mas também duas pessoas; donde concluía que Maria Santíssima era Mãe de Jesus como homem e não Mãe de Deus. Como visse a heresia se incrementar cada vez mais, Cirilo, conforme o antigo costume da Igreja, ao Papa se dirigiu. Celestino I convocou um sínodo em Roma, e foi condenada a heresia de Nestório. Encarregado de executar a sentença da excomunhão, Cirilo reuniu em concílio os bispos do Egito e enviou a Nestório a determinação da Santa Sé, e acrescentou dois anátemas do sínodo de Alexandria. Nestório revidou igualmente com doze anti-anátemas, assinado por ele e pelos bispos, com ele solidários. Tendo a controvérsia chegado a este ponto, os imperadores Teodósio II e Valentiniano III houveram por bem convocar o terceiro concílio ecumênico de Éfeso, que se realizou em 431.  Para este Concílio foram convidados todos os metropolitas e o Papa mandou como legados seus dois bispos e um sacerdote. Nestório, apesar de três vezes convidado, não compareceu. Dirigiu  o concílio São Cirilo. Estiveram presentes 198 bispos. Foi novamente condenada a heresia, e Nestório excomungado. Os nestorianos, com mais de duzentos bispos, conventos, etc., propagaram-se durante 6 séculos; penetraram na Índia, e na China. Em 1916 havia ainda uns 600 mil nestorianos caldeus, com a sede em Bagdad. Ultimamente estão se convertendo e voltando em massa à Igreja Católica.
                                             São Cirilo figura, pois, na história da Igreja como o grande e vitorioso defensor do Dogma mariano, que proclama Maria Santíssima Mãe de Deus. Muito teve que sofrer ainda das malevolências e agitações dos hereges, aos quais também não deu tréguas. Muito trabalhou pela liberdade e exaltação da Santa Igreja. Numerosos são os seus escritos apologéticos e humanísticos, todos de uma profundeza e clareza tais, que causaram a admiração de todos. Como defensor da fé católica e luminar da Igreja Oriental São Cirilo figura entre os grandes Padres orientais da escola de Alexandria. Faleceu em 444.

Reflexões:  

Pelo Papa Bento XVI - Audiência Geral das Quartas-feiras em 03/10/2007 (*)  
Cirilo, conhecido na Igreja antiga como "custódio da exatidão, quer dizer, da verdadeira fé", quis demonstrar sempre "a continuidade da teologia própria com a tradição da Igreja como garantia da continuidade com os apóstolos e  com o próprio Cristo".
Eleito bispo de Alexandria em 412, governou durante trinta anos essa sede e combateu a  pregação de Nestório, bispo de Constantinopla, que separando em  Cristo a  natureza humana da divina invocação a Maria "Mãe de Cristo" e  não "Mãe de Deus".  Segundo a cristologia antioquina de Nestório, "para salvaguardar a  importância da humanidade de Cristo se acabava por afirmar a divisão da divindade e assim já não era verdadeira a união entre Deus e homem no Cristo".
Cirilo rebateu imediatamente esta tese reafirmando "o dever dos pastores de  preservar a fé do Povo de Deus". Este critério, "é sempre válido" já que "a fé do povo de Deus é expressão da tradição da Igreja".  Por isso, Cirilo recorda a Nestório que "se deve apresentar ao povo o ensinamento da fé de forma irrepreensível e  recordar que quem escandaliza a  um só dos mais pequenos que crê em Cristo,  sofrerá um castigo intolerável".
O Santo define sua fé cristológica quando afirma: "São diversas as  naturezas  que se uniram a  uma verdadeira unidade,  porém,  de  ambas resultou um só Cristo e Filho,  não porque a  causa da  unidade se tenha eliminado a diferença das natureza humana e divina, mas porque a humanidade e divindade reunidas de forma inexpressiva (...) produzem ao único Senhor, Cristo,  Filho de Deus".  
"Cirilo nos ensina sobretudo,  que a fé cristã é antes de tudo um encontro com Jesus, uma pessoa que dá à vida um novo horizonte. De Jesus Cristo,  Verbo de Deus encarnado, São Cirilo foi um incansável e firme testemunho,  sublinhando sobretudo sua unidade:  Um só é o Filho, um só é o Senhor Jesus Cristo, tanto antes como depois da encarnação. (...) Nós cremos que Aquele que existia antes dos tempos, nasceu segundo a carne de uma Mulher (...) e segundo suas promessas, estará sempre conosco".  
"Isto é importante,  Deus é eterno, nasceu de uma Mulher e  permanece conosco todos os dias. Vivemos com esta confiança e nela encontramos o caminho de nossa vida".

São Cirilo de Alexandria
NascimentoNo ano de 370
Local nascimentoAlexandria
OrdemBispo, Confessor e Doutor da Igreja
Local vidaAlexandria
EspiritualidadePatriarca de Alexandria, conseguiu, no Concílio de Éfeso, a condenação dos erros de Nestório e a proclamação da Maternidade Divina de Nossa Senhora, chamado o "Doutor" por excelência, da Encarnação. Homem forte. Soube afirmar que Nossa Senhora é verdadeira Mãe de Deus e não apenas mãe do Homem Jesus, como diziam outros, naqueles tempos famosos e difíceis da história da Igreja no Oriente, na luta pela ortodoxia, em nome do papa são Celestino. Foi ele a alma do Concílio de Éfeso, em 431, e é chamado até hoje "Defensor invencível da maternidade da Virgem Maria". Teólogo de olhar penetrante, foi um pastor vigilante das almas. Debatia-se nessa época, que Cristo não era como Deus e essa teoria era fortemente debatida por São Cirilo. Nos últimos anos de sua vida dedicou-se a promover a paz na Igreja.
Local morteAlexandria
MorteNo ano de 444, aos 74 anos de idade
Fonte informaçãoSanto nosso de cada dia, rogai por nós
OraçãoÓ Deus, que iluminastes e conduzistes o bispo São Cirilo na proclamação de Mariaa Mãe de Deus, daí, aos que professam a maternidade divina, serem salvos pela encarnação do Vosso Filho. Que convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo. Amém.
DevoçãoÀ paz entre todos
PadroeiroDa paz
Outros Santos do diaNossa Senhora do Perpétuo Socorro (Padroeira do Haiti); Cirilo de Alexandria (bispo e dr); Crescente e Fernando (bispos); Zoilo, Aniuceto, Cristo, Crispiniano e Benedita (mártires); Sansão, João, Adelino (presb); Ladislau (rei); Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
FONTE: ASJ


São Cirilo de Alexandria
Saint Cyril of Alexandria at Chora.jpg
Afresco na Igreja de São Salvador em ChoraIstambul
Patriarca de Alexandria,
ConfessorPadre grego,"Pilar da Fé" e
Doutor da Igreja (Doctor Incarnationis)
Nascimentopor volta de 375[1]
Mortepor volta de 444
Veneração por


Festa litúrgica
AtribuiçõesVestido como bispo com umfelônio e um omofório, frequentemente com a cabeça coberta no estilo dosmonges egípicios (por vezes, a cobertura da cabeça apresenta um padrão depolystavrion), é comumente retratado segurando osEvangelhos ou umpergaminho, com a mão direita levantada como quem transmite uma bênção


Cirilo de Alexandria


São Cirilo de Alexandria (c. 375444) foi o Patriarca de Alexandria quando a cidade estava no topo de sua influência e poder dentro do Império Romano. Um dos Padres gregos, Cirilo escreveu extensivamente e foi o protagonista liderante nas controvérsiascristológicas do final do século IV e do século V. Foi uma figura central no Primeiro Concílio de Éfeso, em 431, que levou à deposição de Nestório da posição de Patriarca de Constantinopla. Cirilo é listado entre os Pais e os Doutores da Igreja, e sua reputação no mundo cristão resultou em seus títulos: Pilar da Fé e Selo de Todos os Pais. Entretanto, os bispos nestorianos no Concílio de Éfeso o declararam um herético, rotulando-o como um "monstro, nascido e criado para a destruição da Igreja".[2]
Igreja Ortodoxa e as igrejas orientais celebram seu dia em 9 de junho e, junto com o Atanásio de Alexandria, em 18 de janeiro. AIgreja Católica não o comemora no calendário tridentino; sua celebração foi adicionada apenas em 1882, sendo 9 de fevereiro o seu dia. Aqueles que usam calendários anteriores à revisão de 1969 ainda observam este dia, mas a revisão atribuiu ao santo o dia 27 de junho, considerado o dia da morte do santo.[3] A mesma data foi escolhida para o calendário luterano. O Papa Pio XII, em 9 de abril de 1944, por ocasião do XV centenário da morte de São Cirilo, promulgou a encíclica Orientalis Ecclesiae.[4]

Biografia

Cirilo nasceu por volta de 375[5] ou 378.[6] João de Nikiu afirma que ele nasceu em uma vila chamada Didusja[7] (em copta) e Teodósio (em grego), provavelmente próxima ou coincidente com a atual El-Mahalla El-Kubra; autores posteriores, especialmente gregos, porém, dão como sua cidade natal Alexandria,[6] o que várias fontes modernas corroboram.[1][5] Sua mãe seria natural deMênfis e passou algum tempo em mosteiros em Alexandria, antes de se casar.[6]

Educação


Alguns anos depois, em 385Teófilo assumiu a posição de Patriarca de Alexandria.[8] Teófilo era tio de Cirilo, (segundo aEnciclopédia Católica, irmão de seu pai;[9] de acordo com John McGuckin, irmão mais velho de sua mãe[6]) e guiou a educação de seu sobrinho. Em Alexandria, Cirilo recebeu educação clássica e teológica.[5] Provavelmente estudara gramática entre os doze e quatorze anos, entre 390 e 392, retórica e humanidades dos quinze aos vinte anos e, por fim, teologia e estudos bíblicos entre 398 e 402. Provavelmente entrou em contato com os autores que viriam a influenciar sua exegese nesse último período.[6] Entre suas leituras, se destacam AtanásioOrígenesClemente de AlexandriaBasílio de Cesareia,[10] Eusébio de CesareiaDídimo o Cego e até mesmo João Crisóstomo, a quem viria a citar extensivamente apesar do Sínodo do Carvalho. Outra influência relevante foi Isidoro de Pelúsio, importante líder nos círculos monásticos do Egito, dezoito anos mais velho que Cirilo. Embora a relação entre os dois ainda precise ser clarificada, Isidoro escrevia-lhe frequentemente, comumente em um tom crítico com surpreendente franqueza para um clérigo provincial, embora não houvesse sinal de ressentimento entre os dois. Por isso, cogita-se que Isidoro era um conselheiro respeitado, e talvez tivesse sido mentor do futuro patriarca.[6]
Se ele foi o Cirilo citado por Isidoro, então ele viveu um um tempo como monge.[9] Segundo Gibbon, este período seriam cinco anos da juventude de Cirilo vividos nos monastérios de Nítria, até Teófilo chamá-lo à cidade.[10] Uma carta de Isidoro na qual o remetente reclama do excesso de "interesses mundanos" de Cirilo, em oposição à busca da solidão, também é usada para sustentar essa afirmação. Entretanto, não é certo que Cirilo tenha passado pela vida monástica. O fato de nunca mencionar este suposto fato ao escrever, como arcebispo alexandrino, para monges egípcios é considerado surpreendente. Severo de Antioquia tinha dúvidas sobre essa tradição. Ibn al Muqaffa suporta essa hipótese, mas cita Serapião o Sábio como mentor de Cirilo, ao invés de Isidoro, e é considerado uma fonte pouco confiável. McGuckin cogita que, afinal, Cirilo tenha passado algum tempo em monastérios como parte de sua educação para a vida eclesiástica, dada a importância dessas instituições para o cristianismo egípicio à época.[6]

Início da carreira eclesiástica e Sínodo do Carvalho


Em 403, com aproximadamente vinte e cinco anos, Cirilo terminou seus estudos e foi ordenado leitor da igreja alexandrina, ao lado de seu tio patriarca. A partir daí, ascendeu a cargos eclesiásticos mais altos, mas provavelmente já estava ligado às esferas superiores da Igreja de Alexandria desde o começo. (McGuckin faz notar que, à época do Concílio de ÉfesoNestório assentara-se apenas por um ano no trono do Patriarcado de Constantinopla, enquanto Cirilo teria vinte e cinco anos de contato e experiência com a política da Igreja no nível mais superior, o que poderia ter lhe dado muito mais habilidade e pode ter decidido o resultado do concílio.)[6]
No mesmo ano, Cirilo acompanhou Teófilo ao Sínodo do Carvalho. Este sínodo, realizado em Calcedônia,[11] resultou na deposição de São João Crisóstomo do Patriarcado deConstantinopla.[9] Teófilo teve um papel central na deposição, e Cirilo alinhou-se à opinião de seu tio, de que Crisóstomo fora justamente deposto. Esse posicionamento causou atrito com Roma, que exigia a reabilitação de João. As relações entre Roma e Alexandria, inclusive, ficaram abaladas até os primeiros anos do patriarcado de Cirilo.[6]
(Durante o mandato de seu tio, Cirilo apoiou a deposição de João Crisóstomo e, no início de seu patriarcado, rejeitou a restauração do nome de Crisóstomo nas comemorações em Constantinopla e Antioquia. Entretanto, desde por volta de 417, o patriarca alexandrino começou uma longa e diplomática reabilitação de João, abandonando aos poucos a posição de seu tio e adotando a sua própria. João Crisóstomo veio a ser muito citado nos sermões de Cirilo, que o considerava um exemplo de ortodoxia.)[6]

Início do Patriarcado de Alexandria


Teófilo faleceu em 15 de outubro de 412. O patriarcado foi disputado, então, entre Cirilo e o arcediago Timóteo; da disputa, evoluiu um tumulto, resultado do conflito entre os apoiadores de cada um dos candidatos.[9] Embora Timóteo tivesse o apoio de Abundâncio, o comandante das tropas romanas no Egito, Cirilo venceu: foi feito patriarca em 18 de outubro, três dias após o falecimento de Teófilo,[12] apoiado pelos populares.[10]
O novo patriarca passou a exercer mais poder que seu antecessor, assumindo a administração de questões seculares e a autoridade do prefeito civil.[2][12] Segundo Gibbon, sob o comando de Cirilo, os parabolani controlavam os programas de caridade, e os prefeitos egípcios temiam sua influência.[2] À época, Alexandria, habitada por judeuspagãos ecristãos,[13] era conhecida pela instabilidade; Sócrates de Constantinopla afirma que nenhuma outra cidade era mais propensa a tumultos, sempre violentos.[13][14]

Expulsão dos Novacianos

Cirilo fechou as comunidades dos novacianos e tomou seus objetos sacros.[1][2][9][12] Os novacianos eram a seita dos seguidores do antipapa Novaciano; separaram-se da Igreja Católica basicamente porque criam que os cristãos que apostataram durante a perseguição de Décio não podiam ser perdoados e readmitidos.[15] Entretanto, suas práticas condiziam com a dos católicos em quase todos os aspectos,[15] e Gibbon os descreve como "os mais inocentes e inofensivos dos sectários".[2] Segundo Sócrates, o bispo novaciano Teopempto teve também suas posses cassadas.[12]

Conflito com Orestes e a comunidade judaica


A comunidade judaica de Alexandria era grande e tradicional. Presentes na cidade desde sua fundação, havia sete séculos, eram bem sucedidos e protegidos pela lei secular. Na época de Cirilo, os judeus alexandrinos chegavam a ser quarenta mil.[2]
Sócrates Escolástico conta que, durante uma deliberação sobre alguma festividade dos judeus, eles acusaram um monge Hierax, exaltado seguidor de Cirilo, de incitar tumulto entre os presentes.[12] Orestes, o prefeito, que invejava o poder dos bispos, aproveitou para tomar o monge, torturá-lo[14] e assassiná-lo em público.[13] Cirilo foi aos principais judeus e os ameaçou. Esses, por sua vez, organizaram um ataque aos cristãos: saíram, em uma noite, pelas ruas, anunciando um suposto incêndio em uma igreja. À medida que os cristãos saíam para salvar seu templo, os judeus os assassinavam.[14] Gibbon, por sua vez, cogita que a morte dos cristãos possa ter sido acidental;[2] de qualquer forma, sabe-se que houve o assassínio dos cristãos pelos judeus.[9][13]
Seja como for, Cirilo respondeu aos ataques indo, acompanhado por uma multidão, às sinagogas, tomando os judeus à força; pegos de surpesa, não puderam se defender e foram expulsos da cidade.[2][9][13] As sinagogas foram demolidas e os bens dos judeus saqueados.[2][14] Vários historiadores afirmam que praticamente todos os judeus (que chegariam a ser quarenta mil cidadãos[2]) foram expulsos da cidade; outros, porém, vêem nesta afirmação um exagero.[16] Sabe-se, de qualquer forma, que grande parte da população judaica foi expulsa de Alexandria.[1][2][5][14]
Orestes ficou descontente com o ocorrido: a perda de grande parte da população o desagradou[14] e, ademais, os judeus eram protegidos pelas leis.[2] O prefeito comunicou o ocorrido ao imperador Teodósio;[14] entretanto, Pulquéria, a imperatriz, era profundamente cristã e intercedeu em favor dos cristãos, conseguindo sobrepor-se à voz de Orestes.[16]Após o conflito, diz Sócrates, Cirilo tentou reconciliar-se com Orestes, escrevendo-lhe e enviando mensageiros, mas as negociações fracassaram.[14]

Ataque a Orestes


As reclamações do prefeito, afirma Gibbon, descontentaram alguns monges nitrianos.[2] Enquanto a carruagem de Orestes passava pelas ruas, cerca de quinhentos desses monges atacaram-na, acusando o prefeito de paganismo. A maioria dos guardas do prefeito fugiram; Orestes informou que era cristão batizado, mas os monges continuaram atacando-o a pedradas, ferindo-lhe a cabeça.[2][9][17]
A população alexandrina dispersou os monges. Amônio, o monge lançador da pedra que feriu o prefeito, foi capturado. Como punição, foi torturado até a morte publicamente. Cirilo tomou o corpo do torturado, levou-o a uma igreja e mandou listá-lo entre os mártires, intitulando-o Thaumasius.[2][9][17][nota 1] Segundo Sócrates, este ato foi malvisto, mesmo entre os cristãos: Amônio teria morrido não por não renunciar a fé, mas sim por um crime comum. Cirilo mesmo seria consciente disso, afirma Sócrates, de modo que procurou deixar o episódio cair no esquecimento.[17]

Assassinato de Hipátia




Hipátia, segundo uma gravura tradicionalmente usada para representá-la.
Habitava Alexandria, à época, uma filósofa chamada Hipátia. Pagã e neoplatonista, era considerada muito sábia e virtuosa, mesmo pelos cristãos.[18] Entretanto, corriam boatos de que ela prevenia Orestes contra Cirilo, porque Hipátia era amiga do prefeito.[19] Assim, naquaresma de 415 (ou 416),[20] uma multidão, incitada por um leitor chamado Pedro, tomou-a de sua carruagem, arrastou-a até uma igreja e a assassinou, desmembrando-a e queimando seu corpo.[18] Gibbon afirma que os perpretadores do assassinato foram poupados da justiça através de suborno.[2]
A relação de Cirilo com o ocorrido é controversa.Sócrates e Gibbon afirmam que sua morte trouxe opróbio para a Igreja de Alexandria e seu patriarca, mas não mencionam envolvimento de Cirilo.[2][18] Damáscio, por sua vez, atribui explicitamente o assassinato ao patriarca, que invejaria Hipátia;[21] a Enciclopédia Católica, porém, lembra que Damáscio escreveu em um tempo bem posterior, e afirma que ele repudiava os cristãos.[9] Vários autores tendem a atribuir culpa ou responsabilidade indireta ao patriarca: ele teria incitado as multidões com seus discursos, mesmo não dando ordens explícitas.[18][nota 2] Outros afirmam, porém, que as multidões agiram por iniciativa própria e que Cirilo não tinha controle da situação.[16] De qualquer forma, o episódio ficou associado a Cirilo.[22]
Também há algumas dúvidas sobre as motivações. McGuckin cogita que o crime tenha sido resultado de uma tentativa de conversão forçada.[16] Algumas pesquisas modernas, porém, crêem que o episódio resultou do conflito de duas facções cristãs: uma mais moderada, ao lado de Orestes, e outra mais rígida, seguidora de Cirilo.[23]

A reação de Constantinopla


A constante violência em Alexandria levou Orestes a escrever uma carta denunciando Cirilo à corte bizantina. Teodósio II tinha apenas 14 anos, e sua irmã Pulquéria Augustareinava como regente. Cirilo escreveu-lhe também, afirmando que a expulsão dos judeus fora um ato para proteger os cristãos. Como resultado Pulquéria implantou uma comissão de inquérito para avaliar a situação.[16]
Em 416, Edésio, o investigador enviado por Constantinopla, concluiu que os parabolani eram uma ameaça à segurança pública. Como consequência, limitou-se o número deparabolani a quinhentos; além disto, o grupo estaria subordinado, agora, ao prefeito. A nova legislação ainda admoestava o bispo a manter-se distante da política: "apraz Nossa Clemência [o imperador] que os clérigos não devam ter nada em comum com questões públicas ou temas pertinentes ao senado municipal."[16][24] Entretanto, dois anos depois, haveria uma notável restauração do poder de Cirilo: o número de parabolani subiu para 600, e foram novamente colocados sob direção do patriarca.[16][25]

Polêmica com Nestório e Concílio de Éfeso


Entre 427 e 428,[9] Nestório, um monge nativo de Germanícia que vivia em Antioquia, foi elevado ao Patriarcado de Constantinopla. Seguindo a tradição da escola teológica síria, Nestório se opunha ao uso do termo Theotokos (em grego, mãe de Deus) para se referir à Virgem Maria.[2] Cirilo, porém, defendia e incentivava o uso do termo, como consequente da natureza única de Cristo; assim, em 429, escreveu uma carta pascal apoiando o uso do título. Os patriarcas trocaram correspondências, em um tom relativamente moderado. Nestório, então, envia seus sermões ao Papa Celestino I, pedindo sua opinião, mas não obtém resposta. Posteriormente, Cirilo também escreve ao papa, solicitando que decrete sua opinião.[9]
O papa decidiu a favor de Cirilo e delegou ao patriarca alexandrino a autoridade de cassar o episcopado de Nestório e impor um prazo de dez dias para que Nestório apresentasse penitência e arrependimento. Cirilo escreveu a Nestório uma carta, em um tom não conciliatório, exigindo que Nestório apresentasse arrependimento e penitência em dez dias. Além disso, acrescentou à carta doze anátemas que o patriarca bizantino deveria confirmar; esses anátemas, acrescentados pela própria conta de Cirilo, viriam a ser fonte de grande polêmica.[2]
O imperador Teodósio I e as igrejas do Leste resistiram ao veredito papal, de modo que Teodósio conclamou um concílio ecumênico para o ano 431, em Éfeso. Nestório chega à cidade logo após a Páscoa; Cirilo, acompanhado de uma grande comitiva, chega por volta do Pentecostes.[2] Cirilo aliou-se a Menon, bispo de Éfeso, e Nestório encontra todas as igrejas fechadas, além da oposição dos efésios.[2]
Enquanto isso, João de Antioquia se atrasara, assim como os enviados do papa, que determinariam se Nestório poderia ou não participar no Concílio. Cirilo temia que João atuasse em favor de Nestório e que estivesse tentando ganhar tempo para seu adversário.[2] Assim, no dia 22 de junho, antes da chegada dos emissários papais e dos bispos do Leste, Cirilo abriu o concílio, na posição de presidente e representante papal (embora não tivesse sido comissionado para tal representação ante o conselho), a despeito do pedido de sessenta e oito bispos e de Candidiano, o representante imperial, para que aguardasse. Esses bispos e o representante do Imperador acabaram excluídos do concílio.[2] Cirilo também mandou quatro bispos convocarem Nestório, para que ele se explicasse, mas o patriarca de Constantinopla não os recebeu.[9]
Sem a participação dos sessenta e oito bispos, dos bispos do leste que ainda não chegaram, de Nestório e de Candidiano, o Concílio foi unânime: as cartas de Cirilo foram declaradas compatíveis com o Credo Niceno e a doutrina dos Pais da Igreja. Houve uma condenação unânime, sem discussão e uniforme até mesmo no estilo, a Nestório, que deveria ser deposto e excomungado.[9] Entretanto, em 26 ou 27 de junho, João e sua comitiva de bispos chegaram a Éfeso. Depois de se reunirem com Candidiano, João e os demais bispos do Leste declararam outro concílio, que condenaria Cirilo e Mênon por apolinarianismo e eunomeanismo através de outros doze anátemas.[9] Em resposta, Cirilo e Mênon declaram a deposição de João de Antioquia.[2]
Enquanto isso, o caos toma Éfeso. Mênon fecha as igrejas aos bispos orientais e guarnece a catedral da cidade; Candidiano tenta tomá-la, com as tropas do Imperador, mas fracassa. O conflito entre os partidários de Cirilo e de Nestório chega às raias da violência física. Teodósio buscava o acordo entre as partes, fosse por argumentação ou por intimidação; concedeu amplos poderes a seus representantes efésios e chegou a promover um concílio alternativo, nos arredores de Éfeso, com alguns representantes de cada facção. Entretanto, os orientais não cediam aos argumentos, e os católicos, em maior número e com apoio papal, rejeitavam a reconciliação.[2] Após três tumultuados meses, Teodósio dissolve o concílio e ameaça destituir Cirilo, João e Mênon. Depois de algum tempo sob custódia, Cirilo e João retornam a suas dioceses; o imperador adota a posição de Cirilo, e Nestório é deposto e exilado, primeiro em Antioquia, depois em Petra e posteriormente no Grande Oásis do Egito.[9]
Em 432, morre o papa Celestino I; seu sucessor, Sixto III, corrobora o resultado do concílio presidido por Cirilo. Sixto tenta convencer João a entrar em acordo com o patriarca alexandrino; o patriarca de Antioquia resiste, mas acaba se reconciliando com Cirilo. Após o concílio, Cirilo escreveu ainda vários tratados, cartas e sermões. Foi patriarca alexandrino até a sua morte, em 9 ou 27 de junho 444; seu patriarcado se estendeu por trinta e dois anos.[9]

Mariologia

Cirilo de Alexandria tornou-se conhecido na história da Igreja, por causa de seu espírito de luta do título de "Theotokos" (Mãe de Deus), durante o Concílio de Éfeso (431). Inclusive, na Liturgia da Palavra, a leitura recomendada pela Igreja Católica para o dia deste santo é exatamente uma defesa do título de Mãe de Deus[26]. Seus escritos incluem ahomilia pronunciada em Éfeso e vários outros sermões.[27] Em vários escritos, Cirilo centra-se no amor de Jesus a sua mãe. Na cruz, ele supera sua dor e pensa em sua mãe. No casamento em Caná, ele faz uma reverência aos seus desejos.

Legado

Cirilo foi um arcebispo erudito e um escritor prolífico. Nos primeiros anos da sua vida ativa na Igreja, ele escreveu exegeses diversas. Entre elas estavam: Comentários sobre oAntigo Testamento,[28] Thesaurus, discurso contra Arianos, Comentário do Evangelho de João,[29] e os Diálogos sobre a Trindade. Em 429 as controvérsias cristológicas aumentaram sua produção de textos, de modo que seus adversários não conseguiram acompanhar. Seus escritos fazem frequentemente alusão às doutrinas dos demais Padres da Igreja.

Notas

  1.  A nota 943 no Ecclesiastical Histories encontrado online (página 293) esclarece que "Thaumasius" significa, em grego clássico, "maravalhoso", "admirável".
  2.  Ver nota 947 no Ecclesiastical Histories encontrado online (página 294).

Bibliografia


  • McGuckin, John A. St. Cyril of Alexandria and the Christological Controversy. Crestwood, NY: St. Vladimir’s Seminary Press, 2004. ISBN 0-88141-259-7
  • Wessel, Susan. Cyril of Alexandria and the Nestorian Controversy:The Making of a Saint and a Heretic. Oxford 2004. ISBN 0-19-926846-0

Referências

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  21.  DamáscioLive of Isidore (em inglês). [S.l.: s.n.]. Capítulo The Life of Hypatia, publicado no Suda.
  22.  Bertrand Russell. History of Western Philosophy (em inglês). 2ª edição ed.Londres: [s.n.], 2004. 342 p. ISBN 0-415-32505-6
  23.  Maria Dzielska. Hypatia of Alexandria (em inglês). [S.l.]: Harvard University Press, 1995. xi, 157 p. vol. 8. ISBN 0-674-43775-6 Referência retirada da Wikipédia anglófona, não verificada.
  24.  Livro XVI, 16.2.42 (em latim)Codex Theodosianus. Página visitada em 25 de janeiro de 2012.
  25.  Livro XVI, 16.2.43 (em latim)Codex Theodosianus. Página visitada em 25 de janeiro de 2012.
  26.  São Cirilo de Alexandria. Defensor da maternidade divina da Virgem Maria. Página visitada em 27 de Junho de 2011.
  27.  PG 76,992 , Adv. Nolentes confiteri Sanctam Virginem esse Deiparem PG 76, 259
  28.  Cyril of Alexandria, Commentary on Luke (1859) Preface. pp.i-xx
  29.  Cyril of Alexandria, Commentary on John, LFC 43, 48 (1874/1885). Preface to the online edition

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