ANO C
28º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Ano C – Verde
“Não foram dez os curados?” Lc 17, 17
Lc 17,11-19
Ambientação
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Nossas comunidades são um espaço onde o Senhor da vida se
manifesta. Não nos reunimos para “pagar graças”, e sim celebrar o Deus que dá
gratuitamente a vida para todos. A gratidão é um ornamento da humildade. Por
isso, o senso de gratidão revela o interior do ser humano e, somado à fé e ao
amor, constitui o autêntico discípulo.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE
DEUS: Irmãos e irmãs, a Igreja, reunida em nome do Senhor, dá
graças e bendiz o Pai doador de todos os dons e de todas as bênçãos. Na sua
infinita misericórdia, o Pai enviou seu Filho em missão para nos libertar, nos
curar e nos salvar. A cada dia experimentamos a ação de Deus que nos salva e
nos tira da morte, por seu Filho amado, o Cristo Senhor. Elevemos, pois, a Deus
nosso hino de louvor e de ação de graças e, na oferta do seu Filho, ofereçamos
a nós mesmos como ofertas vivas e agradáveis a Deus.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: O anúncio do reino de Deus é anúncio de salvação, proclamado
não só com a palavra, mas também com ações. Os milagres confirmam o triunfo do
Espírito sobre satanás, e é por isso que Jesus, investido do Espírito, entra em
luta com satanás no deserto. O Cristo é o homem forte, que, lutando arduamente,
tira o espírito do mal aquilo que ele usurpou. Jesus inaugura o reino
messiânico destruindo a obra do adversário.
GRATIDÃO E HUMANIZAÇÃO
A gratidão é uma resposta de reconhecimento por algum bem
recebido. Ela não é uma exigência ou uma compensação e nem um pagamento, porque
isso vai contra a virtude da gratidão. A gratidão nasce da espontaneidade de um
coração agradecido, que se move na direção do outro. Um simples obrigado, um
olhar, aceno de cabeça ou uma flor, são gestos que podem vir carregados de
muita gratidão. A gratidão é uma atitude profundamente humana, e humanizadora.
Numa sociedade marcada pela eficiência e pela agilidade na
prestação de serviços, a palavra gratidão pode parecer um conceito deslocado.
De um lado agradecer por um serviço parece desnecessário, porque tudo é pago
com dinheiro e se transforma numa relação comercial. De outra parte, cresce a
indiferença no relacionamento com o outro, as pessoas ficam quase invisíveis,
assim como os gestos e as atitudes. A obrigação substitui a gratidão e
desumaniza.
é fonte transformadora da fé, e é necessário partir do encontro
para evangelizar. O Papa Emérito Bento XVI fala claramente a respeito dizendo
que, “o cristianismo não é uma filosofia ou uma moral, mas o encontro com uma
pessoa, que é Jesus”. No evangelho encontramos muitos relatos dos gestos e dos
milagres, que Jesus realizou durante a sua pregação. Em todos esses relatos
existe sempre um ponto comum, que é o encontro. O encontro com Jesus humaniza
as pessoas excluídas.
No encontro de Jesus com os leprosos aconteceu o milagre da
cura, e eles foram enviados para que se apresentassem aos sacerdotes no templo,
cumprindo o que a Lei estabelecia. Mas um deles percebeu algo além, que era
necessário render graças a Deus ali, em Jesus. Deus é fonte de toda graça e de
toda benção, mas não possível recorrer a Ele somente quando há necessidade.
Onde fica a gratidão? O encontro com Jesus gerou gratidão a Deus, de forma
espontânea e também humanizou. O testemunho cristão será sempre mais verdadeiro
quanto mais promover a cultura do encontro, que gera gratidão e humaniza.
Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo auxiliar de São Paulo
Comentário do Evangelho
É uma palavra que comunica o Sopro de Deus e faz
viver.
O episódio da purificação do sírio Naamã, um
pagão, pelo profeta Eliseu, já foi evocado por Jesus, no início do terceiro
evangelho (4,25-27), para responder às objeções dos nazarenos do porquê Jesus
não havia realizado em sua própria pátria os atos de poder realizados em
Cafarnaum: “Certamente ireis me citar o provérbio: ‘Médico, cura-te a ti
mesmo’. Tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum, faze-o, também,
aqui, em tua pátria” (4,23). Mas a falta de fé impedia os conterrâneos de Jesus
de acolhê-lo como dom de Deus e de ver em sua pessoa a irrupção da vida de Deus
em favor de toda a humanidade. O que eles pensavam saber de Deus os cegava.
Desse modo, Nazaré passará a ser o protótipo de Israel, que rejeita a salvação
no modo como ela é oferecida por Deus ao seu povo, na plenitude do tempo. Essa
rejeição será utilizada, no Novo Testamento, como um dos argumentos para
afirmar a abertura da salvação aos pagãos.
O evangelho deste domingo trata da cura por Jesus
de dez leprosos, entre os quais um samaritano, um estrangeiro (cf. v. 18), o
único que retorna a Jesus para agradecer (cf. v. 16). Nós já conhecemos a
situação dos leprosos e como, mesmo do ponto de vista religioso, eles eram
desprezados e excluídos da graça de Deus. O Levítico descreve a situação com
detalhes: “O leproso portador desta enfermidade trará suas vestes rasgadas e
seus cabelos sem pentear; cobrirá o bigode e clamará: Impuro! Impuro!… morará à
parte: sua habitação será fora do acampamento” (Lv 13,45-46). A lepra era tida
como castigo de Deus e somente Deus podia libertar a pessoa de tal enfermidade
(cf. Nm 12,9-13). Há uma outra purificação de um leproso, em Lucas 5,12-14, com
o mesmo alcance messiânico. “Dez” era o número dos leprosos que gritam
implorando compaixão (cf. vv. 12-13). Não há qualquer gesto, ao contrário da
história de Eliseu; somente a palavra de Jesus foi suficiente para
purificá-los. É uma palavra que é e comunica o Sopro de Deus que faz viver;
palavra eficaz, pois, “enquanto estavam a caminho, foram purificados” (v. 14).
“Dez” é um número que simboliza a totalidade de um povo. Todo um povo é
visitado pela graça de Deus. No entanto, dos dez somente um retorna para
agradecer; os outros nove não souberam reconhecer o tempo da graça e da
salvação. A cura da lepra é um dos sinais dos tempos messiânicos (cf. 7,22-23).
A salvação da qual Jesus é portador e oferta a todos. Mas, se os dez foram
beneficiados pela Palavra do Senhor, por que somente o samaritano reconheceu e
retornou para agradecer? “Não foram dez os curados? E os outros nove, onde
estão?” (v. 17). Somente o samaritano, considerado herético pelos judeus, é que
retornou cumprindo a missão de Israel (cf. Sl 96[95],1-3). O texto interpela o
leitor do evangelho: quão difícil é reconhecer o Reino de Deus que se aproxima.
O que é necessário fazer ou cultivar para que não percamos a oportunidade de
reconhecer o tempo em que somos visitados?
Não obstante nós mesmos, “Deus permanece fiel,
mesmo quando nós lhe somos infiéis, pois não pode negar-se a si mesmo” (2Tm
2,13).
Fonte: Paulinas em 13/10/2013
Vivendo a Palavra
Aquele homem foi um dos dez curados da lepra. Eu
sou um dos muitos curados por Jesus. Será que reconheço as curas operadas em
mim pelo Senhor? Sou agradecido por isto? Demonstro gratidão, testemunhando aos
irmãos o inefável amor com que somos agraciados pelo Pai Misericordioso?
Fonte: Arquidiocese BH em 13/10/2013
VIVENDO A PALAVRA
Aquele homem foi um dos dez curados da lepra.
Eu sou um dos muitos curados por Jesus. Será que reconheço as curas operadas em
mim pelo Senhor? Sou agradecido por isto? Demonstro gratidão, testemunhando aos
irmãos o inefável amor com que sou agraciado pelo Pai Misericordioso?
Meditação
Que lugar ocupa a gratidão em sua vida? - Com
relação a Deus, você mais pede ou mais agradece? - Reconhece e retribui os
gestos de generosidade que encontra no seu dia a dia? Cite alguns testemunhos
de fé que você dá. - Conhece alguém que é de uma fé inabalável?
Padre Geraldo Rodrigues, C.Ss.R
Fonte: a12 - Santuário Nacional em 13/10/2013
Reflexão
A GRAÇA DE DEUS E NOSSO AGRADECIMENTO
I. INTRODUÇÃO GERAL
A liturgia do 28º domingo comum nos apresenta um
tema bem caro ao evangelista Lucas e muito esquecido em nossa sociedade: a
gratidão. Em nossos dias de individualismo e de egocentrismo exacerbado, por
causa do mito do bem-estar e da idolatria do mercado, a gratidão brilha como
uma luz nas trevas.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS
BÍBLICOS
1. I leitura (2Rs 5,14-17)
A 1ª leitura é a história da gratidão
de Naamã, o general sírio que ficou leproso. Aconselha-se, aos padres
ou ministros da Palavra, que expliquem e contextualizem bem esta leitura, pois
o trecho prescrito no Lecionário ficou muito truncado. O recorte litúrgico
exige pelo menos uma pequena introdução narrativa, para pôr os ouvintes a par
do que precedeu à entrada de Naamã na água do Jordão! É preciso lembrar
como esse estrangeiro concebeu a ideia de consultar um profeta de Israel
e, sobretudo, como ele queria montar um espetáculo, levando ricos
presentes e vestes (2Rs 5,5). O poderoso general sírio queria que o
profeta Eliseu o curasse por sua palavra, mas Eliseu o mandou banhar-se no
Jordão, para que ficasse claro que não era Eliseu quem curava, e sim o Senhor
de Israel e das águas do Jordão. O general, apertado, aprendeu a obedecer.
Então veio a hora de agradecer.
Novamente, Naamã quer mostrar seu prestígio oferecendo um presente
digno de príncipe. Eliseu recusa, pois quem agiu não foi ele, mas foi Deus!
Então vem o comovente fim da história: curado não só de sua lepra, mas de seu
orgulho de militar, Naamã pede para levar consigo, nos jumentos, umas
sacas de terra, para poder adorar, na Síria, o Deus de Eliseu sobre o chão de
Israel! Além disso, pede antecipadamente perdão, porque, como funcionário real,
terá que adorar também, de vez em quando, o deus sírio Remon; e Eliseu
responde: “Pode fazer tranquilamente”…
As lições dessa história são diversas:
a gratuidade do agir de Deus, pois o que o move não são as
manias militarescas ou os presentes, mas a simples
confiança de Naamã; a humildade do profeta, que só quer que Deus
apareça; a comovente gratidão do sírio; a abertura de espírito do profeta
quanto às obrigações religiosas do sírio; o fato de ele ser estrangeiro
e, nesse sentido, o fato de Deus o atender gratuitamente, sem “ter
obrigações” para com ele…
2.
Evangelho (Lc 17,11-19)
O evangelho lembra, sob vários aspectos, a
história de Naamã (1ª leitura). Trata-se de lepra. Dez leprosos são
curados não imediatamente (exatamente como Naamã), mas somente depois de
ter mostrado confiança inicial na Palavra de Jesus, que os mandou mostrar-se
aos sacerdotes. Porém, quando eles obtêm a cura, a história se torna menos
emocionante que a de Naamã: torna-se um caso grave de ingratidão. Só um
dos dez volta para agradecer, e este é, por sinal, um estrangeiro
(como Naamã), e, além disso, samaritano, inimigo dos judeus.
Parece que a graça de Deus é melhor acolhida
pelos estrangeiros. E é verdade, pois os estrangeiros se sabem agraciados,
enquanto as pessoas da casa acham que tudo quanto recebem é “por direito” e
que, portanto, não precisam agradecer! Esquecem que tudo é graça. Acham que
estão quites quando cumprem as prescrições: mostrar-se aos sacerdotes. Sua
atenção é absorvida por seu próprio sistema. Por isso, diz-se que os piores
cristãos são os que moram perto da Igreja: apropriam-se da religião e esquecem
o extraordinário de tudo o que Deus faz.
3.
II leitura (2Tm 2,8-13)
Na 2ª leitura, o “testamento de Paulo” (cf.
domingos anteriores) chega ao ponto mais significativo: Paulo confia a seu
cooperador, Timóteo, o evangelho que ele mesmo pregou, o anúncio da
ressurreição de Cristo, que garante também a nossa ressurreição – se ficarmos
firmes na fé nesta palavra. Quem segue no trilho do Apóstolo arrisca-se. O amor
ao Evangelho e aos “eleitos” exige empenho total. Isso é possível a partir da
certeza de que Cristo foi ressuscitado dos mortos (2,8). Paulo está algemado,
mas a palavra não está algemada (v. 9)!
As últimas frases da perícope (2Tm
2,11-13) formam um hino. A palavra que é verdadeira nos ensina: se morrermos
com Cristo, viveremos; se formos firmes, reinaremos com ele; se o renegarmos,
ele nos renegará; – e agora vem uma quebra surpreendente nos paralelismos – se
formos infiéis, ele será… fiel! À nossa infidelidade, Deus responde com sua
fidelidade, pois não pode negar seu próprio ser!
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
Gratidão: os textos nos convidam a
refletir sobre a gratidão. A 1ª leitura nos oferece uma das mais belas
histórias do Antigo Testamento. Naamã, general sírio, foi curado da lepra
pelo profeta israelita Eliseu. Para mostrar a sua gratidão, levou consigo para
a Síria, nos seus jumentos, uns sacos cheios de terra de Israel, para, lá na
Síria, adorar o Deus de Israel no seu próprio chão! Em contraste com este
exemplo de singela gratidão, o evangelho narra a história dos dez leprosos
curados por Jesus, dos quais apenas um voltou para agradecer. E esse era,
por sinal, um estrangeiro (como o general sírio), pior, um samaritano, inimigo
do povo de Jesus…
Gratuidade do agir de Deus, gratidão por tudo o
que Deus faz: tudo é graça. O tema da gratidão é bem enquadrado pela liturgia
toda. A oração do dia reza que a graça de Deus deve preceder e acompanhar
nosso agir; devemos estar atentos ao bem que Deus nos dá para fazer. O
salmo responsorial (Sl 98[97]) e a aclamação ao evangelho estão
no mesmo tom. É também o dia indicado para ler o belo prefácio comum
IV: agradecemos a Deus até o dom de o louvar! Graça, gratuidade, gratidão,
agradecimento: é o momento de ensinar ao povo o parentesco, não apenas
etimológico, mas vital, dessas palavras.
As antigas orações estão cheias de ação de
graças. O próprio termo “eucaristia”, que indica a principal celebração cristã,
significa “ação de graças”. Contudo, quando se faz, depois da comunhão, uma
ação de graças partilhada, a maioria das pessoas dificilmente consegue formular
um agradecimento; a oração de pedido é que lhes vem aos lábios. Numa missa,
depois da comunhão, o padre convidou os fiéis a formular orações de louvor e
gratidão, não de pedido, mas a primeira voz que se fez ouvir rezou: “Eu te
agradeço, Senhor Deus, porque te posso pedir por meu marido e meus
filhos…”.
A gratidão é uma flor rara. Brota, frágil e
efêmera, nas épocas de trocar presentes (Natal, Páscoa…), mas desaparece
durante o resto do ano. Quase ninguém agradece pelos dons que recebe
continuamente, dia após dia: a vida, o ar que respira, os pais, irmãos,
vizinhos…
Se fosse apenas o costume de pedir, não seria
grave. Pedir com simplicidade pode ser outra face da gratidão – como aquele
frei que, depois de uma boa sobremesa na casa de uma benfeitora, assim falou:
“Minha senhora, não sei como mostrar minha gratidão por esse almoço e essa
sobremesa tão gostosa… posso pedir mais um pedaço?”. Ao contrário, porém, a
mania de pedir sem agradecer reflete a mentalidade de nosso ambiente:
sempre querer levar vantagem. Será por causa das dificuldades da vida? Mas os
que têm a vida mais folgada é que mais pedem sem agradecer… Falta motivação
para se dirigir em simples agradecimento àquele que é a fonte de todos os bens.
Talvez não seja apenas a gratidão que desapareceu. Receio que Deus mesmo tenha
sumido dos corações.
Não só as pessoas individuais, também as
comunidades eclesiais devem precaver-se desse perigo. Lutar pelo
amor-com-justiça é bom e necessário, mas a luta deve estar inspirada pela visão
alegre e alentadora do bem que Deus dispõe para todos, e não pela insatisfação
e frustração. Um espírito de gratidão pelo que já se recebeu, em termos de
solidariedade e fraternidade, é o melhor remédio para que a luta não faça
azedar as pessoas. Então a desgraça que se vive não abafará a gratidão; será
apenas um desafio a mais para que tudo o que fizermos seja uma ação de graças a
Deus, conforme a palavra de Paulo na 2ª leitura.
Pe. Johan Konings, sj
Nascido na Bélgica, reside há muitos anos no
Brasil, onde leciona desde 1972. É doutor em Teologia e licenciado em Filosofia
e em Filologia Bíblica pela Universidade Católica de Leuven (Lovaina).
Atualmente, é professor de Exegese Bíblica na Faje, em Belo Horizonte. Entre
outras obras, publicou: Descobrir a Bíblia a partir da liturgia; A Palavra se
fez livro; Liturgia dominical: mistério de Cristo e formação dos fiéis – anos A
- B - C; Ser cristão; Evangelho segundo João: amor e fidelidade; A Bíblia nas
suas origens e hoje.
Fonte: Vida Pastoral em 13/10/2013
Reflexão
“TUA FÉ TE SALVOU”
A primeira leitura e o evangelho de hoje se
assemelham ao relatar a cura de pessoas doentes. O profeta Eliseu cura o sírio
Naamã, usando como terapia o banho no rio Jordão; e Jesus, a caminho de
Jerusalém, cura o grupo dos dez homens, dos quais apenas um volta para dar
glória a Deus.
Quando Cristo realizava os milagres, não tinha
como objetivo fazer alarde de sua condição divina, tampouco ser visto como
“todo-poderoso”; na verdade, sempre se opôs a tais atitudes. Seus milagres
devem ser vistos na perspectiva libertadora do reino de Deus e como sinais
messiânicos desse reino. Pois assim fez ele em várias ocasiões: na sinagoga de
Nazaré (cf. Lc 4,31-34), na casa de Pedro (cf. Mt 8,14-15), diante da mulher
enferma (cf. Lc 8,43-48). Os milagres são, na verdade, sinais da presença
salvadora do reino do Deus vivo e atuante na história e parte integrante da
boa-nova anunciada por Cristo por meio de palavras e obras.
Mas de onde eles brotam? São frutos da fé que os
destinatários tinham em Jesus: “Levanta-te e segue o teu caminho; a tua fé de
salvou”. Ou seja, era a fé dos favorecidos pelos milagres que suscitava a ação
do poder divino presente em Jesus de Nazaré. A fé era o pressuposto essencial e
condição indispensável para a realização dos milagres. Prova disso é que, onde
não encontrava fé, como ocorreu com seus conterrâneos em Nazaré, Jesus “não
pôde” fazer nenhum milagre (cf. Mt 6,5).
Na atualidade, não raro nos queixamos da falta de
milagres em nossa vida – seja o de ganhar na loteria, seja o de conquistar um
bom emprego, a casa nova ou até mesmo um grande amor. Esquecemo-nos que o maior
milagre Jesus já realizou em nossa vida: acordar todos os dias com a oportunidade
de ser melhores, melhores com nós mesmos e com o próximo.
Ao que parece, o que nos falta é voltar aos pés
de Jesus, como fez o samaritano, e agradecer tão grande dádiva. Confiantes,
digamos: “Senhor, livra-nos da falta de fé”.
Jorge Alves Luiz, ssp
Fonte: Paulus em 13/10/2013
Reflexão
COMPAIXÃO E GRATIDÃO
Os dez enfermos do evangelho – que atualmente
poderiam ser identificados com os hansenianos – gritam a Jesus que tenha
compaixão, algo que não encontram na sociedade. As doenças de pele que se
reuniam sob o nome “lepra” não tinham cura no tempo de Jesus; hoje, graças a
Deus, a hanseníase tem cura, mas ainda muita gente sofre dessa doença. Os
doentes de pele, além da doença, sofriam a dor da discriminação e da exclusão.
Não podiam conviver socialmente nem ser tocados, pois eram considerados impuros.
Obedecendo ao mandato de Jesus, enquanto vão aos
sacerdotes, ficam curados. Somente um toma a iniciativa de voltar para
agradecer; era um samaritano, desprezado como estrangeiro. Este nos deixa bela
lição de gratidão. Nesse relato do evangelho encontramos duas nobres atitudes:
a compaixão, por parte de Jesus, e a gratidão, por parte do samaritano.
Aqueles doentes de pele representam as pessoas
que sofrem e são discriminadas e marginalizadas na sociedade. Diante disso,
cabe-nos a pergunta: quem hoje vive o mesmo drama de sua condição? Todos os que
sofrem a exclusão: doentes, dependentes químicos, mendigos de rua das grandes
cidades, certos grupos étnicos e religiosos… Eles, quando encontram compaixão,
que faz cessar a indiferença e resulta em socorro, recuperam a dignidade e se
reintegram ao convívio social. Seu grito, além de denúncia de sua miséria, é
apelo por uma vida mais digna.
O exemplo do samaritano motiva e desperta nossa
atitude de gratidão. Esse gesto enobrece a vida de qualquer cidadão. Parece que
a gratidão hoje saiu de moda ou é algo para os fracos. Certo é que, na atual
sociedade mercantilista, ela está sumindo. Tudo se rege pelo comércio, pela
troca. A gratidão a Deus produz na pessoa agradecida novo olhar, novo
relacionamento com os outros e com a natureza, porque sabe que a sua existência
e a dos outros são dons de Deus. O samaritano que voltou e agradeceu recebe de
Jesus a alegre boa-nova: Tua fé te salvou.
Pe. Nilo Luza, ssp
Fonte: Paulus em 13/10/2013
Reflexão
A caminho de Jerusalém, dez doentes (leprosos) vão ao encontro de Jesus
e gritam por piedade. O Mestre os envia aos sacerdotes, para que, curados,
possam retomar a vida social, da qual estavam excluídos por causa de sua
doença. Enquanto vão, ficam curados e um deles volta para agradecer. Jesus se
admira que só o samaritano (estrangeiro) voltou para dar “gloria a Deus”. Os
doentes são fiéis cumpridores da Lei: param a distância, pois não podiam se
aproximar de outras pessoas por causa da doença; obedecem à palavra de Jesus,
que os envia aos sacerdotes. Os nove que não retornam para agradecer se julgam
curados por ter observado a Lei; consideram-se merecedores. O samaritano,
porém, reconhece a ação e a bondade de Deus, que se revelam em Jesus. Muitos
cristãos, por serem fiéis cumpridores dos mandamentos de Deus e da Igreja,
pensam ter méritos diante de Deus e da comunidade. Mais uma vez, temos a lição
de um samaritano (desprezado pelos judeus) que foi capaz de reconhecer o dom e
agradecer ao Pai, que é fonte de todos os dons. Como são bonitos os gestos de
gratidão ao Senhor e também às pessoas que nos auxiliam em alguma necessidade.
(Dia a dia com o Evangelho 2019 - Pe. Luiz Miguel
Duarte, ssp)
Meditação
Que lugar ocupa a gratidão em sua vida? - Com
relação a Deus, você mais pede ou mais agradece? - Reconhece e retribui os
gestos de generosidade que encontra no seu dia a dia? Cite alguns testemunhos
de fé que você dá. - Conhece alguém que é de uma fé inabalável?
Padre Geraldo Rodrigues, C.Ss.R
Fonte: a12 - Santuário Nacional em 13/10/2013
Meditando o evangelho
O PECADO DA INGRATIDÃO
O modo
como os leprosos agem em relação ao benefício recebido de Jesus corresponde às
nossas atitudes perante a misericórdia divina.
No seu
desespero, os leprosos recorrem a Jesus, implorando piedade. Era insuportável a
situação em que se encontravam, vítimas da doença. Mesmo para recorrer ao
Mestre, deviam manter-se à distância, como mandava a Lei. Esta os obrigava a
andar com as vestes rasgadas, com os cabelos desgrenhados e a barba coberta. E
mais, deveriam habitar fora da cidade, e gritar: "impuro, impuro!",
quando alguém se aproximasse, para evitar a contaminação. Situação dolorosa!
A súplica
pungente do grupo de doentes encontra guarida no coração de Jesus. Ele os
atende imediatamente, ordenando que se apresentem aos sacerdotes, como se já
estivessem curados.
Só um
sentiu-se motivado a voltar atrás e agradecer a quem o havia curado. Jogou-se
aos pés de Jesus, dando gritos de louvor a Deus. E este era um samaritano,
membro de um povo inimigo dos judeus, visto com desprezo. A gratidão brotou-lhe
espontânea do coração.
Já os
outros nove, judeus de origem, esqueceram-se de agradecer. Assim, deram mostras
de não ter dado o passo da fé, reconhecendo a condição messiânica de Jesus. E
perderam a chance de receber os benefícios da salvação.
(O comentário do Evangelho abaixo é
feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica,
Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total).
Oração
Espírito de agradecimento, torna-me sensível aos
benefícios que eu recebo cada dia, e dá-me um coração que seja sempre capaz de
agradecer.
Comentário
No tempo de Jesus, a lepra era uma doença que
excluía duramente a pessoa enferma do lugar onde vivia e de sua própria
família. A pessoa era condenada a viver na periferia das cidades. Um leproso só
podia conviver com outros leprosos justamente para evitar o contágio em pessoas
“sadias”. Se uma pessoa sadia se aproximasse do lugar onde os leprosos ficavam,
estes eram obrigados a gritar para informar que eram contagiosos, impuros, e,
além disso, deviam se afastar.
É nesse contexto que Jesus, numa zona de fronteiras
entre a Galileia e a Samaria, encontra dez pessoas com lepra na periferia de um
povoado; elas aproximam-se dele, mas a uma certa distância, param e gritam:
“Jesus, Mestre, tem piedade de nós!”. Estes leprosos pedem ajuda a Jesus. Eles
não podem fazer nada por si mesmos, mas podem receber ajuda de alguém que tem
poder sobre a sua enfermidade.
Mas o texto parece mostrar que Jesus quer se
livrar deles também. Manda eles irem aos sacerdotes, sem ter feito
absolutamente nada para curá-los. Segundo as leis do AT, os sacerdotes têm a
competência de verificar a cura de um leproso, e, assim, reintegrá-lo na
sociedade.
Na I leitura, do II Livro dos Reis, quando o
sírio Naamã é curado por Deus, vai apresentar-se imediatamente a Eliseu e
agradece ao profeta. Os dez leprosos devem ser, antes de tudo, curados para que
possa haver sentido irem se apresentar aos sacerdotes; mas, Jesus, simplesmente
os põe a caminhar; e é aí, que vemos a fé e a confiança daqueles leprosos em
Jesus, na esperança de que, cumprindo seu mandamento, conseguirão aquilo que
desejam.
Um deles, ao perceber que estava curado, toma uma
atitude diferente da dos outros nove que correram apressadamente para serem
readmitidos na sociedade; este tal retorna a Jesus para agradecê-lo. Aqueles
nove olham só para seus próprios interesses, só para o futuro, já não se
lembram de quem os livrou daquele destino miserável; e, Jesus, decepciona-se
com eles: “onde estão os outros nove?”
Todos gritavam por Jesus quando estavam no
momento do sufoco, mas por que só um gritou de agradecimento: glorificando a
Deus? Na realidade, é que só para este, a cura foi um verdadeiro encontro com
Deus.
E quanto a nós? Quando recebemos uma graça de
Deus na nossa vida, o que vale mais para nós? O dom ou aquele que nos concedeu
o dom? Quando ganhamos um presente, se a nossa atenção se restringe ao bem
material, somos egoístas; se, pelo contrário, se a experiência do presente nos
leva a colocar a nossa atenção no amor e na benevolência daquele que nos
presenteou, isto torna-se um encontro novo e pessoal com o nosso benfeitor.
Ganhar um presente é muito bom. Mas, dá-nos mais
felicidade ainda reconhecer a benevolência e a ajuda daquele que nos presenteou
e poder agradecê-lo. Junto com o pedido, a acção de graças deve ser a forma
fundamental da nossa oração e da nossa relação com Deus. Quantas vezes durante
a nossa vida pedimos, imploramos a Deus por uma série de coisas e quando Ele
finalmente nos concede a graça, esquecemo-nos completamente dele. Desta forma,
perdemos a chance de reconhecer e experimentar o amor de Deus.
A lepra tinha levado a um primeiro encontro com
Jesus, mas um encontro à distância. Movido pela fé em Deus, o samaritano foi
curado, sua relação com Deus tornou-se mais íntima, o que lhe rendeu uma fé
mais firme.
Assim, podemos dizer que não basta a saúde para
ser feliz. Ela é um bem precioso, e deve ser conservada, procurada, com um
estilo de vida saudável, com exercícios físicos, reeducação alimentar, é
preciso ter paz no coração de quem encontra Deus e descobre o próprio projecto
de vida, para ter um bem estar psicofísico profundo. Mas não basta só a saúde,
precisamos da felicidade. Jesus nos diz que a saúde não é tudo, mais que a
saúde, precisamos nutrir constantemente a esperança e a fé na salvação. E a
felicidade consiste no abrir o coração à gratidão de um Deus que nos cura no
profundo de toda solidão, de toda a dor.
Que nós também tenhamos a coragem de gritar por
socorro ao Senhor para que ele cure a nossa lepra, especialmente, aquela
espiritual, a fim de que reconhecendo as maravilhas que ele opera na nossa
vida, possamos cada vez mais ter uma fé firme e contagiante.
Pe. Ulrish Pais
Sacerdote de Lisboa
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. De novo Israel perde para um
estrangeiro...
(O comentário do Evangelho
abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP)
Mateus, que escreve para os Judeus, não provocaria dessa maneira
seus leitores, mas estamos diante de Lucas, para quem Jesus é o Salvador e a
oferece gratuitamente a todos os homens. Por isso o personagem em evidência é
novamente um estrangeiro, um Samaritano, mal visto pelos Judeus, considerado
impuro e que por isso mesmo jamais iria ser salvo, uma vez que não tinha acesso
aos ritos de purificação e expiação dos pecados. A palavra “Estrangeiro” com a
qual Jesus se refere ao Samaritano nos induz a pensar que os outros nove eram
Judeus. Por que será que não voltaram?
A primeira leitura nos dá uma dica importante quando Naamã, ao
ver-se curado totalmente da lepra, como predissera Eliseu que o mandou
mergulhar sete vezes no rio Jordão, ele quer de alguma forma retribuir ao
profeta com presentes, que Eliseu recusa veementemente. Naamã professa uma fé
maravilhosa mas se vê na obrigação de “dar algo em troca da cura”. O judeu
pensa a mesma coisa “Deus faz, mas eu preciso dar algo, eu preciso merecer, com
minhas boas ações, rituais, holocaustos e a prática da Lei. Eis aí porque os
outros não voltaram, pensavam assim: se foram curados, é porque mereceram
aquela ação Divina a seu favor e agora o mais importante a fazer era
apresentar-se diante do Sacerdote do templo, que iria homologar a cura” .Depois
certamente iriam procurar Jesus para agradecê-lo. Mas o Samaritano não pensa
assim, para ele, a sua cura não está em nível institucional, mas físico e
espiritual. Cura de lepra, por aquele tempo, era algo fantástico, que somente o
Poder Divino poderia fazê-lo. Lepra significava pecado, e a Instituição apenas
separava os “Impuros” dos “puros” , os pecadores dos que
estavam salvos. Era a religião altamente excludente!
Compreender a Graça como Dom realmente gratuito não é nada
fácil, até mesmo para nós,pois, quando alguém de nossas relações, recebe
algum ganho ou benefício, seja ele material ou espiritual, logo dizemos “Você
merece!”. Por que será que Deus atende a alguns, cura esses, e não cura
aqueles? Parece que atende mais a oração de alguém em especial. Isso me lembra
“Súplica Cearense” onde a certa altura da música, a letra diz “Desculpe, eu não
rezei direito o Senhor me perdoe, eu acho que a culpa foi, deste pobre que não
sabe fazer oração”. Existirá uma fórmula certa para se rezar? O Segredo está no
mais íntimo do ser humano, quando percebemos Deus e a sua Graça agindo em
nossas entranhas, somos impelidos a louvá-lo, manifestando assim nossa
gratidão.
O Samaritano deixa que o coração fale mais alto, não há nada com
que possa retribuir aquela cura, que para ele, diferente do modo de pensar dos
outros nove, era imerecida! Só Deus poderia manifestar um amor tão grande,
gratuito e incondicional, por isso ele volta e se prostra aos pés de Jesus,
reconhecendo o seu messianismo, possivelmente disposto a tornar-se um seguidor.
Os outros nove como já o dissemos anteriormente, também viriam agradecê-lo, mas
certamente não iriam se prostrar, pois a Ação Divina estava no templo e no
sacerdote, que para eles estava acima de qualquer coisa.
Não coloquemos a Instituição, nossas virtudes e labutas
pastorais, como uma paga á Deus pelos inúmeros benefícios que Ele nos concede
no dia a dia. Antes, sintamos a alegria da sua Graça presente em nós, e que é
muito maior que nossos pecados e limitações. Gratidão e louvor que expressamos
em nossas liturgias, por esse Deus manifestado em Jesus, e que nos ama do jeito
que somos agora. Dando abertura a essa Graça, como aquele Samaritano,
sentiremos sempre uma alegria inexplicável, que um dia se tornará plena, quando
o Reio de Deus for manifestado á toda a Humanidade!
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim
– SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
2. Mestre, tem compaixão! - Lc 17,11-19
(O comentário do Evangelho
abaixo é feito por Côn. Celso Pedro da Silva, ‘A Bíblia dia a dia 2017’,
Paulinas e disponibilizado no Portal Paulinas - http://comeceodiafeliz.com.br/evangelho)
Jesus está iniciando a quinta etapa da subida para Jerusalém. No
caminho, dez leprosos lhe suplicam: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós”.
Jesus manda que se apresentem aos sacerdotes, como previa a Lei mosaica, para
que fosse constatada a cura. Eles são curados no caminho e um deles volta
imediatamente para agradecer a Jesus. E este era samaritano. Jesus, então,
pergunta por que os outros não voltaram para agradecer e glorificar a Deus?
Talvez porque quisessem garantir o cumprimento da Lei, apresentando-se logo aos
sacerdotes, ou por não terem sentimento de gratidão. Pode ser até que achassem
desnecessário, uma vez que eram membros do povo eleito. Afinal, Deus tem
obrigações para com os eleitos!
Aquele que voltou para agradecer não era membro do povo eleito.
Era samaritano, e homem de fé. Sua fé se manifestou na gratidão. Agradeceu e
glorificou a Deus. Outro estrangeiro, um sírio chamado Naamã, também foi um
homem de fé, cheio de gratidão. Era leproso como os dez que procuraram Jesus. O
profeta Eliseu o atendeu e mandou que se banhasse sete vezes no rio Jordão. No começo
ele não quis, mas depois aceitou e ficou muito agradecido quando se viu curado.
Quis até dar um presente a Eliseu, que não aceitou. Reconheceu, então, que não
existe outro deus a não ser o Deus de Eliseu.
O Senhor faz prodígios, seu amor é fiel e o mundo pode ver a sua
salvação, diz o salmista. Por que a Palavra de Deus dá um destaque tão grande a
quem não pertence ao povo escolhido, e parece criticar os que são membros de
tal povo? São Paulo, na segunda leitura, faz uma afirmação esclarecedora. Ele diz
que “a Palavra de Deus não está algemada”. Ele mesmo, Paulo, está na prisão,
por causa de Cristo e de seu Evangelho. A Palavra, porém, não está presa. Ela
não é prisioneira de Paulo nem do povo eleito, seja ele judeu, seja cristão.
Ela paira sobre o universo até se realizar plenamente, e se realiza em qualquer
lugar e em qualquer pessoa.
Isto não significa um destaque aos de fora em detrimento dos de
dentro. Ao contrário, significa que, se ela se realiza fora, deve realizar-se
muito mais dentro, onde tem cidadania, onde está naturalmente em casa. O
discípulo é fiel e agradecido. Se não for, outros o serão, para estimulá-lo. Se
os discípulos não forem fiéis e agradecidos, Deus não ficará preso.
Para mostrar que a Palavra não está algemada, ele fará surgir
gente fiel e agradecida para estimular os seus discípulos e, sobretudo, para
revelar que o importante é ser fiel e agradecido. Para que os eleitos sejam
verdadeiramente eleitos, Paulo suporta as algemas da prisão e não tem medo nem
mesmo da morte. E mais uma vez faz uma afirmação desconcertante: “Deus
permanece fiel, mesmo se lhe formos infiéis”.
Paulo sabe o que também sabemos, que o único verdadeiramente
fiel é somente Deus. A certeza que temos de ser plenamente a Igreja de Cristo
nos obriga a ser coerentes com nossa fé,e nos leva a admirar tudo o que vemos
de bom no mundo e nos outros, inclusive o coração agradecido do sírio e do
samaritano.
Liturgia comentada
Era um samaritano... (Lc 17,11-19)
No Evangelho de São Lucas – que escreveu para um
público de cristãos provenientes do paganismo – a figura do estrangeiro merece
o maior destaque. Em contraste com a dureza de coração do Povo Escolhido,
sobram elogios de Jesus para a fé cega do centurião romano (Lc 7,9), a gratidão
do leproso samaritano(Lc 17,18), além do ato de fé do outro oficial romano aos
pés da cruz (Lc 23,47) e da confiança inabalável da siro-fenícia (Mt 15,28). E
Jesus, admirado: “Não vi fé igual em Israel.” Isto é, era de esperar que o Povo
da Aliança manifestasse uma fé fosse maior, mais fácil, mais visível. Quem
dera!
Desta vez, temos dez leprosos: nove judeus e um
samaritano. Aos olhos dos judeus, o samaritano era inimigo, herético, idólatra,
bastardo, impuro (cf. Eclo 50,27-28). Eram incomunicáveis (cf. Jo 4,9).
Naturalmente, a desgraça comum – a lepra que os atingira – tinha colocado os
dez no mesmo nível, superadas as divergências religiosas e sociais. Daí estarem
juntos naquelas fronteiras entre Judeia e Samaria.
Assim, todos os dez clamam à passagem de Jesus,
pedindo cura e compaixão. Jesus prontamente os remete aos sacerdotes do Templo,
que tinham o encargo de examinar o ex-leproso e dar-lhe um atestado de saúde
(cf. Lv, cap. 12 e 13). Obedecendo – o que supõe um ato de fé -, eles se põem a
caminho para Jerusalém. Na estrada, os dez se veem curados. Enquanto os
nove judeus seguem adiante, em busca do tão desejado atestado de saúde, o
estrangeiro (o samaritano) volta-se para Jesus, para dar graças pela cura
recebida.
O Evangelho não chega a dizer que os nove judeus
são mal-agradecidos. Mas é claro que, para eles, a declaração de pureza
sanitária vinha em primeiro lugar. Também em nossa vida, nós corremos o risco
de deixar a ação de graças em último plano, enquanto procuramos sempre a Deus
em busca de vantagens pessoais: paz interior, cura física, progresso material,
sucesso no vestibular, melhores salários...
Ora, o Senhor tem coisas melhores para nos dar, a
começar por seu próprio Espírito, que nos convence da filiação divina e nos
leva a chamar a Deus de Pai. Deus tem para nós dons de eternidade, que não
passam com tempo, não acabam roídos pela inflação nem corroídos pelo tempo.
Que vale mais para nós? A gratidão ou o atestado
de saúde?
Orai sem cessar: “Fora de vós, Senhor, não há felicidade para
mim!” (Sl 16,2)
Texto de Antônio
Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Fonte: NS Rainha em 13/10/2013
REFLEXÕES
DE HOJE
13 DE OUTUBRO-DOMINGO
VEJA AQUI MAIS HOMILIAS (Blog seguro)
HOMILIA DIÁRIA
O egoísta não reconhece a grandeza do amor de
Deus
Precisamos aprender com este
leproso do Evangelho que não basta pedir, e que um coração egoísta é incapaz de
reconhecer a grandeza do amor de Deus.
“Um deles, ao perceber que estava curado, voltou
glorificando a Deus em alta voz” (Lc
17,15).
Foram dez os leprosos que tentaram se aproximar
de Jesus. A situação da lepra, na época de Jesus, era uma coisa muito dolorosa.
Esses dez leprosos pararam a uma certa distância de Jesus, pois quem era
leproso não podia se aproximar de quem não tinha lepra.
A lepra era uma impureza, não só material, mas
também impureza no sentido religioso da Palavra, e por isso os leprosos
mantiveram-se à distância, pois sabiam que Jesus podia fazer algo por eles. Por
este motivo que de longe gritaram: “Jesus, tenha compaixão de nós!”. E Jesus
pede que eles se apresentem aos sacerdotes. Enquanto eles deram atenção à
Palavra de Jesus e foram adiante, perceberam no meio do caminho que estavam
curados. A lepra havia desaparecido!
Mas, somente um voltou para agradecer. É
importante lembrar que esse “um” era estrangeiro, não era judeu, não fazia
parte do povo eleito, não era parte desse povo consagrado ao Senhor. Esse único
estrangeiro, esse samaritano, voltou glorificando e bendizendo o nome do Senhor.
Jesus, então, diz a ele: “Levanta-te e vai! Tua
fé te salvou”.
Hoje, nós precisamos aprender com este leproso do
Evangelho que não basta pedir. A religião que só pede benefícios, que só busca
receber os benefícios de Deus, mas não é capaz de nos ensinar a ter um coração grato,
que glorifica o Senhor, nos mantêm cativos das nossas lepras e impurezas,
porque a pior delas se chama “egoísmo”. E um coração egoísta é incapaz de
reconhecer a grandeza do amor de Deus.
Essa maldita “lepra” que nos faz egoístas e
orgulhosos, nos mantêm cativos de nós, presos ao nosso pecado; faz de nós
pessoas que reclamam por tudo e quase não agradecem por nada, faz de nós
pessoas muito ociosas, com um desejo, com ímpeto de somente receber graças e
não viver em ação de graças.
A graça já acontece, a libertação vem ao nosso
caminho, ao nosso encontro, quando temos um coração agradecido, quando sabemos
reconhecer Deus na nossa vida. Seja mais agradecido! Seja mais homem e mulher
do louvor, da ação de graças! Retire da sua vida o mal da murmuração, da reclamação,
de viver sempre dizendo que as coisas não andam boas e tudo está mal.
O Deus de bondade está conosco. A Ele todo o
louvor, toda a glória, toda a honra, toda ação de graças, pois quando você
entrega o seu coração ao louvor, a bendizer o nome do Senhor, você verá que – a
começar pela sua cabeça – aquilo que tanto o importuna e o deixa “para baixo”,
já vai estar deixando a sua vida.
Que Deus seja glorificado e exaltado na nossa
própria vida!
Deus abençoe você!
Padre Roger Araújo
Sacerdote da Comunidade Canção Nova, jornalista e colaborador do Portal Canção Nova.
Oração Final
Pai Santo, faze-nos reconhecer a tua presença
amorosa no cotidiano da vida. Que a rotina da existência não nos torne
acomodados – sempre esperando mais, sempre pedindo milagres, esquecidos de
que extraordinário é o teu Amor. Por Jesus Cristo, teu Filho e nosso Irmão, na
unidade do Espírito Santo.
Fonte: Arquidiocese BH em 13/10/2013
ORAÇÃO FINAL
Pai Santo, faze-nos reconhecer a tua presença
amorosa no cotidiano da vida. Que a rotina da existência não nos torne
acomodados – sempre esperando mais, sempre pedindo milagres, esquecidos de que
extraordinário é o teu Amor, extraordinárias são a nossa vida e a nossa fé. Por
Jesus Cristo, teu Filho e nosso Irmão, na unidade do Espírito Santo.
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