domingo, 8 de setembro de 2019

HOMÍLIA DIÁRIA, COMENTÁRIO E REFLEXÃO DO EVANGELHO DO DIA 08/09/2019

ANO C


23º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Ano C – Verde

“Jesus, mestre da nossa vida.”

Lc 14,25-33

Ambientação

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Ser cristão é peregrinar rumo ao encontro definitivo com Deus. Nesta caminhada, podemos tomar inúmeros caminhos, porém, apenas Cristo, caminho, verdade e vida, nos alcançará a meta de nossa existência. O seguimento a Jesus exige de nós atenção à sua palavra como autênticos discípulos, aceitação da cruz e total comprometimento para com a missão assumida.

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, no Dia do Senhor, nós, os cristãos, nos reunimos em torno do altar para bendizer a Deus por tantas maravilhas que Ele realiza em favor de cada um de nós e de sua Igreja. Fazemos isso, unidos a Cristo Jesus que, em cada Eucaristia, se oferece por nós todos e que nos deixou o mandamento de celebrar a Ceia em sua memória, nos fazendo participar do mistério de sua Páscoa.

INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: O ato de fé em Jesus se realiza e se torna concreto abrangendo a realidade do homem em todas as suas dimensões, tanto as do corpo como as sociais e históricas. A adesão à sua pessoa, que se vive na nova comunidade, tem exigências radicais e comporta rupturas e o sacrifício de certas realidades e certos valores. A renúncia que se faz a certas realidades e a certos valores ou é um ato de desespero e demissão ante o sentido da existência, ou a abertura da ordem terrena à realidade de Deus que vem do alto como graça.

RENUNCIE A SI MESMO...

“Qual o homem que conhece os desígnios de Deus?” (Sab 9,13). Esta interrogação do Livro da Sabedoria, que escutamos na primeira leitura, apresenta-nos a nossa vida como um mistério, cuja chave de interpretação não está em nossa posse. Os protagonistas da história são sempre dois: Deus de um lado e os homens do outro. A nossa missão é perceber a chamada de Deus e aceitar a sua vontade. Mas para aceitá-la sem hesitar, perguntemo-nos: qual é a vontade de Deus na minha vida?
No mesmo trecho do texto sapiencial encontramos a resposta: “Os homens foram instruídos no que é do Vosso agrado” (v 18). Para verificar a chamada de Deus, devemos perguntar-nos e entender o que Lhe agrada. Muitas vezes, os profetas anunciam o que é agradável ao Senhor. A sua mensagem encontra uma síntese maravilhosa na expressão: “Misericórdia quero, e não sacrifício” (Os 6,6; Mt 9,13). Para Deus todas as obras de misericórdia são agradáveis, porque no irmão que ajudamos, reconhecemos o rosto de Deus que ninguém pode ver (cf. Jo 1,18). E todas as vezes em que nos inclinamos às necessidades dos irmãos, damos de comer e beber a Jesus; vestimos, apoiamos e visitamos o Filho de Deus (cf. Mt 25,40). Em definitiva, tocamos a carne de Cristo.
Estamos chamados a por em prática o que pedimos na oração e professamos na fé. Não existe alternativa para a caridade: quem se põe ao serviço dos irmãos, embora não o saibamos, são aqueles que amam a Deus (cf. 1 Jo 3,16-18; Tg 2,14-18). A vida cristã, no entanto, não é uma simples ajuda oferecida nos momentos de necessidade. Se assim fosse, certamente seria um belo sentimento de solidariedade humana, que provoca um benefício imediato, mas seria estéril, porque careceria de raízes. O compromisso que o Senhor pede, pelo contrário, é o de uma vocação para a caridade com que cada discípulo de Cristo põe ao seu serviço a própria vida, para crescer no amor todos os dias.
Escutamos no Evangelho que “seguiam com Jesus grandes multidões” (Lc 14,25). Hoje, a “grande multidão” é representada pelo vasto mundo do voluntariado. Sois aquela multidão que segue o Mestre, e que torna visível o seu amor concreto por cada pessoa. Repito-vos as palavras do apóstolo Paulo: “Tive grande alegria e consolação por causa do teu amor fraterno, pois reconfortaste os corações dos santos” (Flm 7). Quantos corações os voluntários confortam! Quantas mãos apoiam; quantas lágrimas enxugam; quanto amor é derramado no serviço escondido, humilde e desinteressado! Este serviço louvável dá voz à fé e manifesta a misericórdia do Pai que se faz próximo daqueles que passam por necessidade.
Papa Francisco

Comentário do Evangelho

Atitude radical

Quais são as condições exigidas para seguir Jesus? O texto do evangelho deste domingo começa pela informação de que grandes multidões acompanhavam Jesus (cf. v. 25).
O que estas multidões buscavam? O que eles encontraram? Todos tinham a mesma intenção? Admiravam-se das palavras cheias de sabedoria, de sua autoridade, da sua compaixão, a ponto de alguns declararem se tratar da visita salvífica de Deus; outros tantos, porém, não eram capazes de ultrapassar o que os olhos contemplavam e reconhecer a verdadeira procedência de Jesus. Tudo isso, e muito mais, é suficiente para seguir Jesus Cristo?
A resposta do evangelho é negativa. É preciso, para segui-lo, uma atitude radical: “... renunciar a tudo o que tem” (v. 32) – esta é condição para ser discípulo de Cristo.
Entre os vv. 25 e 33 há uma inclusão, isto é, o tema que será desenvolvido entre estes dois versículos através das duas parábolas (vv. 28-30; 31-32). Nas parábolas, trata-se de prever, de medir forças, de saber calcular os riscos. Trata-se, noutras palavras, de sabedoria, de adequar as ambições aos meios de que se dispõe.
Para seguir Jesus é preciso fazer uma escolha. Em primeiro lugar estar disposto ao desapego. Sem desprezar a quem se ama, os familiares, é preciso não permitir que eles se constituam em obstáculo para o seguimento de Cristo. Se assim o fosse, não seria amor verdadeiro, mas possessão.
Mas o desapego tem de ser da própria vida. A defesa de interesses, privilégios e seguranças pessoais é incompatível com o seguimento de Cristo. Em segundo lugar é preciso aceitar o risco do seguimento de Cristo, a saber, a perseguição, o sofrimento. É exatamente isto que significa “carregar a cruz” (v. 27). Em terceiro lugar é preciso renunciar aos bens (v. 33). Trata-se, então, de renunciar, como exigência do seguimento de Jesus Cristo, às seguranças afetivas e materiais.
A quem se dispõe a seguir Jesus, desde o início, é exigido dele renunciar a tudo que possa ser um obstáculo para se colocar livremente a serviço do Reino de Deus. A segurança do discípulo é, antes de tudo, seu Senhor.
Como Santo Inácio de Loyola, podemos suplicar: “Dá-me o teu amor e a tua graça, e isto me basta. Nada mais quero pedir”.
Carlos Alberto Contieri, sj
Oração
Pai, reforça minha disposição a ser discípulo de teu Reino, afastando tudo quanto possa abalar a solidez de minha adesão a ti e a teu Filho Jesus.
Fonte: Paulinas em 08/09/2013

Vivendo a Palavra

Nosso Mestre não propõe um amor menor aos nossos parentes. Amando o Cristo, estaremos amando nEle e com Ele toda a Criação e a Humanidade – aí incluídos os parentes e a nossa vida – com o Amor purificado de interesses, de discriminações e de cobranças de reconhecimento: o mesmo Amor de Jesus.
Fonte: Arquidiocese BH em 08/09/2013

Vivendo a PalavrA

Nosso Mestre não propõe um amor menor aos nossos parentes. Ao contrário, amando o Cristo, estaremos amando nele e com Ele toda a Criação e a Humanidade – aí incluídos os parentes e a nossa própria vida – com o Amor purificado de interesses, de discriminações, de egoísmo e de cobranças de reconhecimento: o mesmo Amor de Jesus.

Reflexão

AMAR A JESUS MAIS DO QUE A TODOS…

No evangelho de hoje, Jesus exige de que quem quiser ser seu seguidor que o ame mais do que a todas as outras pessoas, mais até do que as mais importantes em nossa vida, as quais o próprio mandamento da lei de Deus manda honrar. Como podemos entender isso? Será preciso deixar de amar nossos parentes para seguir Jesus?
Não! O mandamento mais importante, que sintetiza todos os outros, que condensa “a Lei e os profetas” é: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Parece que Jesus está querendo nos livrar do amor interesseiro. Como assim? Por exemplo: se você ama uma pessoa pelo que ela lhe faz, pelos benefícios que lhe traz, esse amor, por mais belo que seja, por mais que mereça ser conservado, não deixa de ter um pouco de interesse. É um tipo de amor marcado pela troca. Toma lá, dá cá. Nesses casos, se a pessoa que você ama lhe traz algum descontentamento ou decepção, logo não a amará tanto, já que ela não está satisfazendo suas vontades, seus gostos. No entanto, se você ama a Deus acima de todas as coisas, se ama o evangelho de Jesus acima de tudo, vai amar a pessoa por ela mesma. Mesmo que ela decepcione você, mesmo que não faça só aquilo de que você gosta, o amor vai permanecer. E porque esse amor está baseado em Deus e não no sentimentalismo humano, é um amor mais forte, que vai além das emoções passageiras.
É esse tipo de amor que faz um pai ou uma mãe ser firmes e, às vezes, dizer palavras duras a um filho ou filha que estão caminhando para longe do reino de Deus. Ainda que possa agradar, o amor a Deus não tem como objetivo principal agradar, mas causar o bem à outra pessoa. Ninguém gosta de tomar remédios amargos ou receber medicamentos por injeção, mas, para recuperar a saúde, muitas vezes é necessário fazer isso. Se um médico só quisesse agradar, curaria pouca gente.
O amor a Jesus é um amor firme, que resiste, permanece, passa por tempestades, perseguições, mas persevera. Não é um sentimento passageiro, só presente quando tudo está bem, que foge quando aparecem as dificuldades. Amar mais a Jesus não é desprezar as outras pessoas, mas amá-las de forma profunda, aconteça o que acontecer. É amor a toda prova!
Jesus, manso e humilde de coração, fazei o nosso coração semelhante ao vosso!
Claudiano Avelino dos Santos, ssp
Fonte: Paulus em 08/09/2013

Reflexão

No Evangelho de hoje, Jesus se dirige às multidões e as desafia ao seu seguimento. O Mestre parece não se animar muito com as grandes multidões. Sabe que provavelmente muitos dos que estão lá não têm muito interesse em ser um fiel seguidor comprometido com o projeto do Reino. Normalmente, nós nos animamos quando vemos grandes multidões participando de algumas celebrações, presididas por alguns ministros “famosos ou midiáticos”. Será que todas essas pessoas vivem sua fé no dia a dia? Ao apresentar as exigências para o seu seguimento, Jesus não se preocupa se serão muitos ou poucos dispostos a trilhar o caminho com ele. Três vezes, o Evangelho repete a expressão: “…não pode ser meu discípulo”. O texto de hoje apresenta três exigências do Mestre para segui-lo com fidelidade: desapego afetivo – a família é importante, mas Jesus é mais importante; disponibilidade para a cruz – muitos se dizem cristãos, mas são incapazes de assumir a “própria” cruz da fidelidade; renúncia a tudo – é preciso se desvencilhar de tudo o que impede a concretização do projeto do Reino. As duas parábolas mostram a necessidade de calcular antes de se decidir pelo seguimento. Não adianta se entusiasmar no primeiro momento e depois perceber que não tem condições de acompanhar o Mestre. Ele não quer iludir ninguém; apenas mostra o que é necessário para ser seu fiel discípulo e discípula.
(Dia a dia com o Evangelho 2019 - Pe. Luiz Miguel Duarte, ssp)

Meditando o evangelho

OPÇÃO E RENÚNCIA

A observação feita por Jesus visava levar a multidão que o seguia a deixar de lado a exaltação ingênua e colocar os pés no chão, para evitar possíveis frustrações. A empolgação do momento podia desviar as pessoas do verdadeiro significado do gesto de colocar-se no seguimento do Mestre. Quem quisesse segui-lo, deveria estar consciente das implicações de sua opção.
A primeira exigência consistia em romper com os laços familiares, por causa do Reino, colocando, em segundo plano, o amor aos entes mais queridos. O texto bíblico fala em "odiar pai, mãe etc.". Evidentemente, a palavra "odiar" não tem o mesmo sentido que nós lhe damos, hoje. Na boca de Jesus, ela quer dizer "dar preferência ao pai, à mãe"; colocá-los acima do Reino e de suas exigências.
A segunda exigência aponta para a predisposição de aceitar todas as conseqüências decorrentes da opção pelo Reino. Isto significa "tomar a própria cruz". Não é apto para seguir Jesus quem se intimida diante das perseguições, da indiferença, das calúnias sofridas por causa de seu testemunho de vida. Só quem é suficientemente forte para enfrentá-las, está em condições de se tornar seguidor de Jesus.
Portanto, a opção por se tornar seu discípulo funda-se numa dupla disposição para a liberdade: diante dos laços de parentesco e diante da cruz que se há de encontrar nesse seguimento.
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total).
Oração
Espírito que predispõe para a renúncia, torna-me apto para o discipulado, libertando-me diante do que pode me desviar das exigências do Reino.

Comentário

Jesus, Mestre nossa vida! - A SABEDORIA E O REINO!

I. INTRODUÇÃO GERAL

O tema de hoje é a sabedoria evangélica. Esta não se deve confundir com a sabedoria do mundo, que, muitas vezes, é uma “safadoria”: calcular e safar-se… A sabedoria do evangelho é ponderar o nosso empenho pelo Reino de Deus. Não é uma posse segura, conquistada de uma vez para sempre. Até o sábio rei Salomão teve de pedi-la a Deus, mas ele a via muito em função do reinado dele. A nós cabe procurá-la em vista do reinado de Deus.

II. COMENTÁRIOS DOS TEXTOS BÍBLICOS

1. Leitura (Sb 9,13-19)

A 1ª leitura é uma parte da prece da Salomão pela sabedoria, dom indispensável de Deus para ser um bom rei.
O livro da Sabedoria é, na realidade, uma obra escrita por um judeu de língua grega, contemporâneo de Jesus. Foi posto sob o nome do grande rei Salomão, que tinha fama de sábio porque soube fazer julgamentos prudentes, construir o Templo e responder às perguntas da rainha do Sul (cf. 1Rs 3,1-18; 5,9-14; 8,22-61; 10,1-13 etc.). Sua sabedoria é o dom do discernimento e ponderação outorgados por Deus. Foi o que ele pediu a Deus (1Rs 3,9).
Também no livro da Sabedoria, Salomão pede esse dom e ensina a pedi-lo (9,1-19). O esforço de nossa inteligência, por si, não é o suficiente. As faíscas do Espírito de Deus não se deixam programar; devem ser recebidas como dádivas.
O mundo de hoje carece de sabedoria. Nem mesmo respeita suas próprias fontes de subsistência, sacrificando tudo à sustentação de obscuros poderes e lucros, com a cumplicidade de praticamente toda a sociedade, deixando-se envolver no jogo da competição e do consumo…

2. Evangelho (Lc 14,25-33)

O evangelho nos coloca numa nova realidade, que tem como marco zero a cruz de Cristo. Essa nova realidade exige também uma nova sabedoria. Muitos pretendem seguir Jesus, mas será que sabem que seu caminho conduz ao Gólgota? Daí as duras exigências formuladas por Jesus: abandonar a família, o sucesso, a vida até (Lc 14,25-27), e ponderar sobriamente sua força e disponibilidade (14,28-32). Em resumo: o discípulo deve largar tudo (14,33). Como isso se realiza na vida de cada um, não é dito aqui. Ora, uma coisa é certa: Jesus não pede o impossível, mas a gente deve preparar-se para tudo o que for possível.
A sabedoria ensina a dar a tudo seu devido lugar, a ponderar o que é mais e o que é menos importante. Isso pode conduzir a conclusões que, aos olhos de pessoas superficiais, parecem loucura. As exigências do seguimento de Jesus parecem loucura: “Odiar (=não preferir) pai e mãe, mulher, filhos, irmãos e irmãs” (14,26), por causa de Cristo e seu evangelho, não é isso uma loucura? Não. É a consequência da sabedoria cristã, da ponderação do investimento necessário para o Reino de Deus. Começar a construir a torre sem o necessário capital, isso é que é loucura, pois todo mundo ficará gozando da cara da gente porque não conseguiu concluir a obra! A alusão à torre de Babel, símbolo da vaidade e da confusão humana, é evidente. O homem sábio faz seu orçamento e decide quanto vai investir. No caso do cristão, o único orçamento adequado é o do investimento total, já que se trata do supremo bem, sem o qual os outros bens ficam sem valor.
A sabedoria cristã consiste em ousar optar radicalmente pelo valor fundamental, mesmo se isso exige uma escolha dolorosa contra pessoas muito queridas, realidade que se repetia diariamente na Igreja no tempo de Lucas. E observe-se que essas palavras foram dirigidas às “grandes multidões” que seguiam Jesus (14,25), não a monges e ascetas. Além disso, formam a sequência da exortação ao convite gratuito e da parábola do grande banquete, em que Jesus ensina a dar a preferência às pessoas “não gratificantes” em vez dos familiares e amigos (14,7-14; evangelho de domingo passado). Assim, “odiar” seus familiares pode referir-se, concretamente, a duas realidades: 1) num primeiro sentido, muito atual no tempo de Lucas: a perseguição, que obriga o cristão a preferir o Cristo acima dos laços de parentesco e até acima da própria vida (sentido primeiro); 2) num sentido mais geral, atual também hoje: a preferência (por causa do Evangelho) por categorias de pessoas pouco estimadas, excluídas, mesmo se isso nos custa o afastamento de nossos círculos sociais preferidos.
Ouve-se, em nosso ambiente, muitas vezes, a observação de que é preciso ter “bom senso” em questões de justiça e direito, mas esse “bom senso”, geralmente, não significa outra coisa senão o medo, ou até a covardia. Quando é claro que o amor de Cristo está em jogo, a sabedoria cristã exige um investimento radical. Porém, radicalidade não é imprudência. É liberdade perante aquilo que nos pode desviar do que é importante. A sabedoria cristã nos ajuda a estabelecer as opções preferenciais certas. E depois, é preciso realizar na prática essas opções sabiamente feitas.
Quem acha que seguir Cristo é fundamental, deve fazê-lo, custe o que custar. Assim, o sábio cristão não é o sofista brilhante que explica tudo sem jamais se comprometer. É o homem que, ao mesmo tempo lúcido e convicto, investe tudo no que julga ser o sentido último da vida e da História, à luz da fé em Cristo Jesus. O sábio não é aquele que hesita quando se trata de saltar, mas aquele que salta; o que hesita é o que cai…

3. II leitura (Fm 9b-10.12-17)

A 2ª leitura não foi escolhida em função do tema principal, que determina a 1ª leitura e o evangelho, mas não destoa dele. A carta de Paulo a seu discípulo Filêmon gira em torno do incidente do escravo Onésimo. Este fugira de seu dono, Filêmon, para ficar cuidando de Paulo, aprisionado (provavelmente) em Éfeso, não muito longe de Colossas, a cidade de Filêmon. Agora Paulo manda-o de volta a Filêmon, não mais na qualidade de escravo (um escravo fugido poderia ser punido de morte), mas, como ele recebera o batismo, na qualidade de irmão, “filho” de Paulo, como era o próprio Filêmon (v. 10). Filêmon o deve receber não mais como escravo, mas como irmão (v. 16).
No mundo escravocrata daquele tempo, o que Paulo propõe deve ter parecido loucura; porém, é a mais pura sabedoria cristã. Mesmo se Paulo não pensava numa sociedade sem escravos, ele aboliu mentalmente a diferença entre senhor e escravo, judeu e grego, homem e mulher (cf. Gl 3,28), diante da perspectiva do encontro com Cristo na Parusia (cf. 1Cor 7,20-23). Espiritualmente falando, “em Cristo”, ambos, Onésimo e Filêmon, pertencem a uma nova realidade e são irmãos.

III. PISTAS PARA REFLEXÃO

Os cristãos e as estruturas sociais: “Se Deus só serve para deixar tudo como está, não precisamos dele”, palavras de uma agente da educação popular. O Deus que é apenas o arquiteto do universo, mas fica impassível diante da injustiça dos habitantes de sua arquitetura, não tem relevância alguma. O cristianismo serve ou não para mudar as estruturas da sociedade?
São Paulo tinha um amigo, Filêmon. Este – como todos os ricos de seu tempo – tinha escravos, que eram como se fossem as máquinas de hoje. Um dos escravos, sabendo que Paulo tinha sido preso, fugiu do dono, Filêmon, para ajudar Paulo na prisão. Paulo o batizou (“o fez nascer para Cristo”). Depois, mandou-o de volta a Filêmon, recomendando que este o acolhesse não como escravo, mas como irmão. Mais: como se ele fosse o próprio Paulo!
Essa história é emocionante, mas nos deixa insatisfeitos. Por que Paulo não exigiu que o escravo fosse libertado, em vez de acolhido como irmão, continuando escravo? Aliás, a mesma pergunta surge ao ler outros textos do Novo Testamento (1Cor 7,21; 1Pd 2,18). Por que o Novo Testamento não condena a escravidão?
A humanidade leva tempo para tomar consciência de certas incoerências, e mais tempo ainda para encontrar-lhes remédio. A escravidão, naquele tempo, podia ser consequência de uma guerra perdida ou uma forma de compensar as dívidas contraídas. Imagine que se resolvesse desse jeito a dívida do Brasil! Seríamos todos vendidos (se já não é o caso…).
Na Antiguidade, a escravidão fazia parte da estrutura econômica. Na Idade Média, com os numerosos raptos praticados pelos piratas mouros, surgiram até ordens religiosas para resgatar os escravos e, se preciso, tomar o lugar deles. Apesar disso, ainda na Idade Moderna, a Igreja foi conivente com a escravidão dos negros. A consciência moral cresce devagar, e mudar alguma coisa nas estruturas é mais demorado ainda, porque depende da consciência e das possibilidades históricas. As estruturas manifestam lentamente, com clareza, a sua injustiça, e então levam séculos ainda para transformá-las.
Porém, a lição de Paulo nos ensina que, não obstante essa lentidão histórica, devemos viver desde já como irmãos, vivenciando um espírito novo que vai muito além das estruturas vigentes e que – como uma bomba-relógio – fará explodir, cedo ou tarde, a estrutura injusta. Novas formas de convivência social, voluntariados dos mais diversos tipos, organismos não governamentais, pastorais junto aos excluídos – a criatividade cristã inventa mil maneiras para viver já aquilo que as estruturas só irão assimilar muito depois.
Essa é uma forma da sabedoria do Reino, não para construir um templo ao modo de Salomão, mas o templo de pedras vivas, fundamentado em Cristo.
Pe. Johan Konings, sj
Nascido na Bélgica, reside há muitos anos no Brasil, onde leciona desde 1972. É doutor em Teologia e licenciado em Filosofia e em Filologia Bíblica pela Universidade Católica de Leuven (Lovaina). Atualmente, é professor de Exegese Bíblica na Faje, em Belo Horizonte. Entre outras obras, publicou: Descobrir a Bíblia a partir da liturgia; A Palavra se fez livro; Liturgia dominical: mistério de Cristo e formação dos fiéis – anos A - B - C; Ser cristão; Evangelho segundo João: amor e fidelidade; A Bíblia nas suas origens e hoje.
Fonte: Vida Pastoral em 08/09/2013

COMENTÁRIOS DO EVANGELHO

1. O que é ser Discípulo?
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)

A prática cristã requer continuamente uma decisão firme a favor de Jesus e seu evangelho, muita gente se ilude achando que uma experiência mais forte com Jesus Cristo em um retiro, já foi suficiente para a conversão, um pensamento bem equivocado, pois a partir do momento em que conheço Jesus e tenho uma disposição interior de ser discípulo, a Fé vai exigir de mim inúmeras decisões de caráter íntimo e pessoal.
As primeiras palavras de Jesus neste evangelho parecem ser marcadas por um amor egoísta, o Mestre exige que o amem acima de qualquer outra pessoa e até acima da própria vida. Fala-se aqui de relações afetivas muito fortes para o Povo Judeu, e a Vida é Dom Sagrado, uma bênção Divina também, como é que o ouvinte vai por em prática essas palavras do Mestre, que parecem ser tão duras?
Diferente dos Fariseus, Jesus não está colocando um fardo pesado demais nos ombros de quem quer ser seu discípulo... Embora os evangelhos não sejam narrativas históricas ou jornalísticas, mas eles mostram claramente que um belo dia, Jesus formou o seu grupo e saiu de casa, deixando para trás a mãe e os demais parentes (inclusive eles acharam que Jesus estava louco, lembram-se dessa passagem?) De fato, parece loucura romper com tudo para ser seguidor de Jesus e do seu evangelho, principalmente porque se caminha na contramão do Sistema Religioso, Político e Econômico daquela época. É desse conflito do Reino com a Humanidade, e com os interesses de grupos poderosos que detêm o poder político, econômico ou religioso, que surge a cruz, consequência da rejeição. Cruz para o discípulo significa todas contrariedades que irão ter, por fazer a sua opção por Jesus e seu Evangelho nas decisões que precisarão ser tomadas ao longo da vida.
Então a segunda parte do evangelho nos convida a pensar seriamente nisso: que ser discípulo não é apenas uma filosofia de vida, ou uma prática religiosa entre outras tantas que existe por aí, ou pior ainda, a fachada de uma determinada igreja da qual me fiz membro. Quem pensar assim não conseguirá levar adiante o seu discipulado, que requer coerência entre Fé e Vida, pois os desafios são muitos, basta ver as investidas contra a Igreja de Cristo, que sempre aconteceram e vão continuar acontecendo na História da Igreja. Sentar-se para ponderar sobre a missão, é sinal de que a Fé não se desliga da razão, é preciso planejar, é preciso determinação e perseverança no Discipulado.
Hoje em dia há uma multidão de “discípulos de araque” seguindo Jesus, na ilusão de que o cristianismo é um mar de rosas “Encontrei Jesus e a minha vida mudou para melhor!” Emoções e lágrimas, curas miraculosas, Jesus sofreu para que agora nós curtíssemos o paraíso do conforto, do bem material e da riqueza! Essa multidão de discípulos, ao final vai cair no ridículo. Essa é uma falsa premissa, sustentada pela pregação de líderes espertalhões que oferecem um cristianismo ameno, sem muitas exigências, a não ser desembolsar o $sagrado Dízimo que vão para as “gordas contas bancárias” nem sempre das igrejas...
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP

2. Multidões acompanhavam Jesus
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por Côn. Celso Pedro da Silva, ‘A Bíblia dia a dia 2017’, Paulinas e disponibilizado no Portal Paulinas - http://comeceodiafeliz.com.br/evangelho)

Estamos na quarta etapa da viagem de Jesus para Jerusalém, segundo o Evangelho de Lucas. O ensinamento desta etapa consiste no desapego dos bens deste mundo, sobretudo, do dinheiro. O discípulo humilde de domingo passado é o discípulo sábio no início desta etapa. Depois se mostrará convertido, esperto e radical. Jesus faz uma “propaganda vocacional” difícil de ser compreendida. O chamado que Jesus faz para que as pessoas o sigam nada tem a ver com benefícios, progresso na vida, prosperidade material. Para seguir Jesus, é preciso se desapegar de tudo, dos familiares e até da própria vida. É preciso carregar a cruz e caminhar com ele. O seguimento de Jesus Cristo é um valor maior do que o bom e afetuoso relacionamento com os pais, os irmãos, os esposos e os filhos. O seguimento de Jesus está ligado à cruz, à humilhação, ao sofrimento, à morte, ao último lugar. A proposta está feita. Antes de acatá-la é bom calcular se é possível começar e ir até o fim. Podemos ao menos perceber que a proposta é séria e pode não ser para todo mundo. Quem pode tomar tal decisão e seguir Jesus dessa forma? Quem pode conhecer os planos de Deus? Nosso pensamento é fraco, com dificuldade entendemos as coisas da terra; como poderemos compreender o que vem de Deus? Só é possível compreender alguma coisa do plano de Deus para nós e para o mundo, se ele mesmo nos der o seu Espírito de Sabedoria. É o único jeito de saber o que Deus quer de nós e então dar uma resposta inteligente.
É preciso ser sábio para se decidir por uma vocação tão radical. O discípulo sábio saboreia com a Sabedoria que lhe é dada o gosto que tem as coisas de Deus, nem sempre compreensíveis para nós da terra. “Ensinai-nos a contar os nossos dias, Senhor, e daí aos nossos corações Sabedoria” para nos movermos sempre na direção certa, nem sempre compreensível para quem não vê com os olhos da fé. São Paulo pede a Filêmon, na segunda leitura, que ele aja com sabedoria em relação a seu antigo escravo Onésimo. Filêmon não pode reagir como todo mundo, não pode seguir simplesmente o que parece claro, lógico e compreensível. E por que Filêmon tem que ser diferente? Exatamente porque é seguidor de Jesus Cristo. Há certas coisas que parecem absurdas, ou pelo menos incompreensíveis. De fato, não são. O que importa é ter uma visão clara do que se está fazendo e não querer outra coisa a não ser aquilo que Deus quer. No seguimento de Jesus, queira realmente seguir Jesus e não suporte ser diferente dele. O discípulo que inicia a quarta etapa da viagem é sábio porque sabe o que quer.


VEJA AQUI MAIS HOMILIAS DESTE DOMINGO

HOMILIA DIÁRIA

Não abandone a sua cruz

Queria que nós entendêssemos que para sermos discípulos de Jesus nós não podemos abandonar a nossa cruz. É o contrário, o discípulo é aquele que abraça a sua cruz, a sua condição de vida.

Disse Jesus: “Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo” (cf. Lc 14,27).

Na verdade, eu queria que nós entendêssemos que para sermos discípulos de Jesus nós não podemos abandonar a nossa cruz. É o contrário, o discípulo é aquele que abraça a sua cruz, a sua condição de vida.
A tentação faz com que algumas pessoas acreditem que seguir Jesus fará com que elas não tenham mais sofrimentos, não passará mais por dificuldades e sua vida será transformada. É verdade que Jesus transforma, muda a nossa vida, mas a transformação não significa não ter mais aflições, sofrimentos e dificuldades. Aqui, estamos falando da transformação de mentalidade.
Jesus abre a nossa mente para não fugirmos de nossas responsabilidades e nos ensinar a abraçar com amor e ternura aquilo que é próprio da nossa vida. Digo isso, porque você sabe que ser pai e mãe é uma cruz; sabe que o casamento é uma cruz, ser padre é também carregar uma cruz a cada dia.
O trabalho, o emprego, os estudos, a vida que levamos têm as dificuldades próprias de cada tempo, de cada situação, é por isso que nos bate a tentação do abandono, da tristeza, da dor, do desânimo, do cansaço e nos faz querer fugir das responsabilidades e dizer: “Agora eu vou ser de Deus!”.
O Senhor está nos dizendo: “Não fuja, abrace, carregue o que é seu, o que é da sua responsabilidade”. Às vezes, por causa das doenças, das enfermidades, das dificuldades econômicas e de todas as situações que passamos na vida, achamos que Deus nos abandonou. Muito pelo contrário, quando essas dificuldades baterem à nossa porta, quando alguma espécie de sofrimento vem ao nosso encontro, só podemos clamar: “Senhor, ajude-nos a carregar a nossa cruz de cada dia; ajude-nos a enfrentar esse novo desafio, essa nova aprovação, essa nova situação de vida pela qual estamos passando. Não nos permita desanimar, Senhor, nem correr da nossa cruz de cada dia”.
Peço que o bom Deus, o qual nos convida a um desapego, nos dê condição de olharmos para Ele e nos tornarmos Seus seguidores. Que esse mesmo Deus nos dê a força e a graça necessárias para carregarmos a nossa cruz de cada dia.
Que Deus nos dê ânimo, força, coragem e fortaleza, porque nós queremos ser discípulos de Jesus, e como bons discípulos, queremos carregar a nossa cruz de cada dia.
Deus abençoe você!
Padre Roger Araújo
Sacerdote da Comunidade Canção Nova, jornalista e colaborador do Portal Canção Nova.
Fonte: Canção Nova em 08/09/2013

Oração Final
Pai Santo, dá-nos grandeza d’alma para nos entregarmos inteiramente ao seguimento de Jesus de Nazaré. Assim seremos para os irmãos testemunhas alegres e confiantes, saboreando desde agora os sinais do Teu Reino, que um dia teremos em plenitude unidos ao Cristo Jesus, teu Filho e nosso Irmão, que contigo reina na unidade do Espírito Santo.
Fonte: Arquidiocese BH em 08/09/2013

Oração FinaL
Pai Santo, dá-nos grandeza d’alma para nos entregarmos inteiramente ao seguimento do Cristo. Assim seremos, para os irmãos, testemunhas alegres e confiantes, saboreando desde agora os sinais do teu Reino, em que – falo com Esperança! – viveremos um dia em plenitude, unidos ao Cristo Jesus, teu Filho e nosso Irmão, que contigo reina na unidade do Espírito Santo.

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