sábado, 3 de novembro de 2012

O INTERIOR DO HOMEM - Mário Eugênio Nogueira

O homem já foi estudado sobre vários aspectos. Disso resultou um material abundante o seu estar-no-mundo. Várias ciências contribuíram para isso, notadamente a Filosofia, a Metafísica, assim como a Antropologia Filosófica. "Hoje, há uma tendência a substituir o termo 'Psicologia' por 'Antropologia', que se considera como mais adequado para estudar todo o homem e não só sua alma" (B. Mondim).

Os estudiosos concordam que o ser humano possui inúmeros sentidos externos e internos que o ajudam na ação do conhecimento. É lá que se acumulam os conhecimentos, as experiências que o ser humano adquire ao longo da vida. 

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Mesmo não possuindo todas as informações sobre o homem, você não sente que o seu interior é um espaço, uma parte do seu "eu", que lhe interessa diretamente? Por ser uma coisa "viva" e atuante você o reconhece e o aceita como complemento do seu "ser". Você convive com sua interioridade. É assim mesmo? Estou certo? Você se identifica com seu interior?Corpo e Alma (a parte que anima o corpo), juntos, são elementos necessários e fazem parte de nossa vida. 

Admitimos também que nossas experiências (aquilo que aprendemos) ficam alojadas como conhecimento, arquivados em nossos neurônios e, como aprendizado, passam a fazer parte de nossa vida. Por essas informações alojadas no cérebro e com o auxílio das emoções é que guiamos e pautamos a nossa vida. De certa forma nós somos aquilo que pensamos; ou seja, somos uma máquina que não para de pensar. E, de resto, reagimos como aprendemos.

Parece não ser necessário muitos dados e nem muita informação sobre a natureza humana, para que possamos perceber essa ocorrência em nós. Nossa interioridade é uma realidade que experimentamos. É um dado que nos é dado, como disse alguém.

Paralelamente à ciência do homem existe outra, a ciência da Sabedoria. Essa é mais completa porque sua origem é divina. Ela ensina e trata sobre nossa realidade espiritual, como consignada no Salmo 18,20, que diz: "O senhor conduziu-me para um lugar seguro" (foi bondoso para comigo porque me ama). Esse "lugar seguro" (mesma coisa que lugar privilegiado) se dá quando o Criador convoca e estimula o ser humano a seguir e aceitar Suas graças, obtendo com isso a certeza do caminho correto. Reconhecidamente, essa é a ação divina que permite e possibilita ao homem administrar seu ser em pareceria com o divino.

Algumas pessoas podem não concordar, dispensando essa realidade. Julgam-se maduras e independentes, crendo-se capazes de gerir, por si mesmas, as experiências que enfrentam. Como o Criador deu-lhes liberdade para decidirem nesse particular, elas assumem esse risco de maneira inconsequente.

Temos uma natureza inclinada para as coisas do sensível/imediato. Essas sim têm merecido nossa atenção, puxando-nos para elas e suas reações emocionais. Quase sempre sucumbimos! Já as situações que nos levam a pensar (função da sabedoria) não nos interessam de imediato, só sendo possível quando a alma da pessoa esteja inclinada para essas ocorrências.

De tudo isso que foi dito até agora, cabe perguntar: será que exploramos e fazemos valer a riqueza escondida em nosso interior? Será que notamos que isso existe em nós e pede nosso empenho?

Cada um de nós deve experimentar, provando a si mesmo, que isso é possível, que existe de fato um "ferramental" dentro de nós, dentro da nossa natureza ontológica de "ser", onde essas realidades necessitam assumir suas dimensões. Além dos sentidos externos (tato, paladar, olfato, audição e visão), responsáveis pelo nosso aprendizado, existem outros sentidos dentro de nós, como sentido comum, a exemplo da memória, da fantasia e do instinto, que ao se juntarem nos ajudam a atingirmos um crescimento emocional e espiritual que desejamos para nossa vida.

É importante enfatizar, deixando claro que essas "potências" (possibilidades) estão lá dentro da nossa alma, do nosso ser, e, como coisa viva, desejando, necessitando serem acolhidas, identificadas. E, ao serem descobertas vão redundar, vão permitir que a pessoa, ao utilizar essas potências (possibilidades), experimente um crescimento emocional e espiritual mais objetivo, mais de acordo com a natureza para a qual foi criada.

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 Se o Ser necessita evoluir para se adequar às realidades desejadas pelo Criador, como se fará isso se as almas não trouxerem dentro de si essas possibilidades em forma de potências, que nada mais são do que possibilidades? Esse potencial que trazemos dentro de nossa natureza prepara e dispõe ao discernimento.

Pode parecer um caminho difícil, escorregadio, mas ao conhecimento mais direto dessas realidades só se chega aos poucos e com a iluminação divina (Carlos Josaphat - Paradigma de Tomás de Aquino, Paulus - 2012, Loyolla). A esse propósito Tomás de Aquino afirmou que "a natureza não é nunca carente daquilo que é necessário".

Essas realidades parecem estar escondidas dentro de nós, em forma embrionária e, só aos poucos, nos vão chegando à compreensão, cujos efeitos deixam perceber e sentir a semelhança da sua Causa. Então, a partir daí, a alma e o ser estão preparados para ir entendendo essa realidade de forma mais ampla e profunda, sempre crescendo.

"Ficam, pois, assim, as coisas: admitindo o fato de um conhecimento humano, portador de um caráter intelectivo, isto é, não redutível aos sentidos e à imaginação, e excluída a possibilidade de explicar a origem, devemos concluir que a fonte de tal conhecimento se encontra dentro do próprio homem" (B. Mondim - "O homem, quem é ele?" pág 77- Paulus). Descobrir essas verdades é como sair da nossa fase dialética e enfrentar a realidade bem mais ampla, que é a própria vida.

Além do conhecer sensitivo (feito através dos sentidos) e do imaginativo, o homem é dotado de um conhecer de outro tipo, que não tem por objeto o particular, o sensível, o material, mas sim o universal e o abstrato. A existência dessa forma de conhecer se faz, antes de tudo, pela posse das ideias universais. Podemos incluir aqui também nosso potencial à religiosidade.

Esse conhecimento (essa experiência) é um tipo de aproximação e se faz como foi dito, de maneira lenta, porém firme, deixando claro sua validade. É uma extensão que nos atinge como consequência complementar, fazendo parte do nosso lado ontológico.

Isso nos faz admitir que só uma recriação radical, isto é, que chegue às nossas raízes e atinja o cerne de nosso ser, só assim as coisas, as situações enfrentadas por nós conseguem andar e estarem em conformidade com Deus e Sua vontade. Não há nenhuma verdade espiritual ou qualquer descoberta que já não esteja antes dentro de você.

A palavra "iluminação" transmite a ideia de uma conquista sobre-humana e isso poderia agradar nosso ego. O que você pode descobrir é o "sentir-se" em unidade com o seu Ser, um estado de conexão com o que já está dentro de você e você não tem dado conta dessas realidades. A iluminação consiste em encontrar sua verdadeira natureza por detrás do nome e da forma.

Quando isso estiver acontecendo você irá perceber que cessou seu processo dialético e, agora, a partir dessa descoberta, as realidades percebidas dentro de você se abrem e ficam mais claras, e você mais liberto para vivê-las intensamente. Isso ocorre, muitas vezes, a partir do momento em que nos debruçamos sobre esses dados e o seu correspondente, que é o "ser".

O SER

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Não desejando complicar, posso dizer que "ser" é tudo que ocupa espaço; tudo que tem vida, à sua maneira, como as coisas à nossa volta.

Convencionou-se agrupar o ser, respeitando sua perfeição e natureza: reino mineral (pedras); reino vegetal (plantas); reino animal (animais), compreendido ai o homem e seus atributos que o diferenciam dos outros reinos.

Comparativamente percebe-se que cada reino é, em si mesmo, mais perfeito do que o outro. Essa equivalência, esses valores, evidenciam a grandeza e a pluralidade do Criador. Quanto mais um ser contém "perfeição" mais ele se destaca, se comparado a outro. Cabe ao homem, então, como "ser", destacar-se dos outros reinos, atingindo a capacidade para amar e ser amado, com seu esforço e sua vontade, fazendo jus ao desejo do Criador que o concebeu à Sua Imagem e Semelhança (Gn 1,26).

Por isso o homem deve se empenhar nessa tarefa. E, se não o fizer, tendo todos esses recursos e acertos à mão, torna-se um filho mal-agradecido, um ser incompleto.

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