João 14,27-31a
Comentário do Evangelho
A paz de Jesus vai ao mais profundo do ser
Após anunciar sua volta à casa do Pai, Jesus, agora, dá a sua paz aos discípulos. A palavra "paz" tem nuances diferentes, conforme a língua. No hebraico (shalom) tem o sentido de uma transação comercial concluída com sucesso, em uma situação de abundância em que nada falta. O termo grego (eirênê) vai no sentido da ordem estabelecida. Jesus não dá sua paz à maneira do mundo. Seu desejo de paz não é uma saudação formal nem um desejo de riqueza ou de acomodação em um mundo de injustiças, seja como privilegiado, seja como espoliado. A paz de Jesus vai ao mais profundo do ser. Ela é fruto da libertação do oprimido e do explorado. Ela é a expressão de uma vida fraterna, em que cada um se sente respeitado e valorizado na simplicidade de seu ser. A paz de Jesus perturba a paz do mundo dos poderosos e acomodados.
Dada a paz, Jesus exorta à alegria pelo encontro com o Pai. Jesus fez tudo o que o Pai mandou, e o chefe deste mundo nada pode contra ele. A violência e a morte praticadas pelos poderosos nada podem contra a paz da comunhão com Deus, fonte de vida eterna.
José Raimundo Oliva
Vivendo a Palavra
A palavra ‘Shalom’ que expressa o que Jesus deseja
para nós e que traduzimos por ‘paz’ é muito mais do que essa paz que entendemos
como ausência de guerra, às vezes apenas uma trégua, tempo em que nos
preparamos para novas batalhas: Shalom é a Paz de Deus, fruto da Justiça e do
Amor.
Reflexão
No Evangelho de hoje, Jesus nos mostra um dos aspectos mais importantes do amor que é o desejo do bem maior para o outro. O mundo nos apresenta uma falsa ideia de amor que é o amor possessivo: quando amamos uma pessoa, queremos que ela esteja constantemente ao nosso lado porque assim somos felizes. Na verdade estamos pensando na nossa felicidade e não na da pessoa amada. Jesus diz: "Se me amasseis, ficaríeis alegres porque vou para o Pai, pois o Pai é maior do que eu". Assim, de fato, somos nós, uma vez que nos entristecemos quando a felicidade maior do outro não é como gostaríamos que fosse. Na verdade, confundimos paixão e sentimentalismo com amor verdadeiro.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "A Paz do Mundo..."
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)
Sempre que leio essa afirmativa de Jesus, no evangelho de João "Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como mundo a dá..." me questiono sobre a Paz que o mundo nos oferece... Paz que tem o sinônimo de sossego, ausência de problemas, tranquilidade, despreocupação. Para o mundo, ficar em paz é não ter nenhuma contrariedade ou aborrecimento, portanto, é poder fazer tudo o que se quer, é não ter que ficar esperando, é não depender de ninguém nem de nada, é ter autonomia, é poder quebrar certas normas ou regras, usufruir de exceções, ter regalias e mordomias. É difícil falar de Paz do mundo, sem pensar no poder econômico, em uma riqueza e um patrimônio egocêntrico. Que outra Paz o mundo pode nos oferecer que não seja esta?
Há uma outra paz que inventaram por aí, e que até colocaram nela um rótulo cristão, mas é tão fútil como a Paz do mundo: as vezes a chamam de Paz interior, é a religião que arrebata o homem para o céu, ainda em vida, o alienando de toda e qualquer realidade que o cerca, caindo naquele dualismo sinistro de que, o mundo é mal e cruel, só Deus é bom, resta esperar que Deus supere o mal e restitua esse paraíso que o nosso pecado perdeu. Essa paz , nós poderíamos chamar de "A Paz dos desiludidos..." E olhe que são muitos que pensam dessa forma, a gente tendo Fé, lá de vez em quando Deus revela o seu poder em Jesus e nos traz algum benefício. Um Deus que nos livra de todas as angústias humanas, bem diferente do Deus Pai de Jesus, que foi condenado e morreu em uma cruz.
A Paz de Jesus é a Graça Santificante e Operante que Ele nos comunica a partir do nosso Batismo e que nos possibilita viver com Ele em eterna comunhão, ter a Vida de Deus em nós e permitir que a nossa Vida também esteja Nele. É bom termos consciência de que essa situação de sermos agraciados a partir da Fé, não nos torna imunes as angústias, tribulações e sofrimentos inerentes ao ser humano, como muitos pensam..."Encontrei Jesus e meus problemas acabaram (quando na verdade, apenas começaram...) "
Que atitudes ou que testemunho deve dar um discípulo de Jesus, que vive na Fé pela Graça de Deus? Nada mais além do que o amor e a fidelidade ao Pai, como Jesus resume toda a sua postura no final do evangelho. Amar e ser Fiel a Deus, quando se navega em águas mansas e calmas, não é assim tão difícil, contudo, que ninguém se iluda, pois olhando para Jesus vamos ver que esse itinerário da Fé passa necessariamente pelas tribulações. É nesse sentido que Jesus quer tirar dos seus discípulos a insegurança e o medo diante dos desafios, e por isso os tranquiliza se fazendo presente, agora na plenitude do Espírito que orienta e conduz á sua Igreja, que somos todos nós...
2. A paz de Jesus vai ao mais profundo do ser
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva - e disponibilizado no Portal Paulinas)
VIDE ACIMA
Oração
Senhor Jesus, conduze-me pelos caminhos da tua paz, que é fruto do amor e da justiça, expressões da comunhão fraterna.
3. A Paz Libertadora
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês)
Nestes últimos momentos de despedida, Jesus comunica sua paz aos discípulos. A paz do mundo é falsa e enganosa, coexistindo com a perturbação e o medo. É a paz de Jesus que os remove. A paz do mundo é a ausência de discordâncias, questionamentos ou conflitos, vigorando a submissão geral à ordem imposta pelo poder. Era esta também a paz na concepção do messianismo davídico da tradição de Israel. Era assim no Império Romano e assim é hoje no império de mercado globalizado sob a hegemonia estadunidense. Para os pequenos e oprimidos, esta paz torna-se acomodação ao sistema opressor diante da insegurança e do medo. A paz de Jesus é decorrente da prática da justiça. É a paz que ele proporcionou aos discípulos e às multidões com sua prática libertadora, fraterna, solidária, restauradora da vida e da dignidade de homens e mulheres. É a paz alcançada ao se abrir mão da vida oferecida pelos ideais de sucesso deste mundo. É a paz de reencontrar a vida na união de vontade com o Pai amoroso. É o empenho, em mutirão, na construção de um mundo novo unido pelo amor que gera a vida eterna.
Escolha entre a paz do mundo e a paz de Jesus
Postado por: homilia
maio 8th, 2012
Chegou a hora do Príncipe da Paz partir para o seio do Pai. Não querendo deixar Seus melhores amigos em conflito, Ele rompe o silêncio provocado pelo medo da solidão, o qual foi provado pela Sua ausência. Jesus se levanta e pronuncia as benditas Palavras: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração” (Jo 14,27).
Trata-se aqui do discurso da despedida. O Mestre sabia que havia chegado a hora de sair desse mundo. Por isso, não queria partir sem dar calma, segurança, amparo, conforto, vitória, enfim, garantia de vida plena.
O Mestre faz uma clara declaração da Sua personalidade. Ele é, por natureza, o comunicador da paz. Sem dúvida, não estamos às voltas com uma espécie de tranquilidade “intimista e sentimental”, porque a paz de Jesus é muito mais do que isso.
A harmonia é um dom de Jesus para Seus discípulos, em vista do testemunho a que são chamados a dar. Ela visa a ação, por isso não se pode reduzi-la ao sentimento. A paz de Jesus tem como efeito banir, do coração dos discípulos, todo e qualquer resquício de perturbação ou de temor que leva ao imobilismo. Possuindo esse dom, eles deveriam manter-se imperturbáveis, sem se deixar intimidar diante das dificuldades.
Assim pensada, a paz de Cristo consiste numa força divina, a qual não deixa que os discípulos rompam a comunhão com o Mestre. É Jesus mesmo, presente na vida dos discípulos, sustentando-lhes na caminhada, sempre dispostos a seguir adiante com alegria, rumo à casa do Pai, apesar das adversidades que deverão enfrentar.
A paz do mundo é outra coisa, esta é falsa e enganosa, coexistindo com a perturbação e o medo. Ela é a ausência de discordâncias, questionamentos ou conflitos, vigorando a submissão geral à ordem imposta pelo poder. Essa pacificação encontra-se na fuga e na alienação aos problemas da vida. Leva o discípulo a cruzar os braços, numa confiança ingênua em Deus, de quem tudo espera sem exigir colaboração. Nesse sentido, é uma paz que conduz à morte!
O discípulo sensato rejeita a paz oferecida pelo mundo para acolher aquela que Jesus oferece. Pois eles sabem que só esta desfaz aquela oferecida pelos homens.
A paz de Jesus é fruto da prática fraterna, solidária, restauradora da vida e da dignidade dos homens e mulheres. É o reencontro da vida em união com a vontade do Pai.
“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou”. Sim, Senhor Jesus, dê-nos a graça e a força para que, no nosso dia a dia – a começar por hoje – tomemos posse da Sua paz, pois ela nos tranquiliza a alma e nos faz “mais do que vencedores” em todas as situações, porque o Senhor está sempre conosco.
Padre Bantu Mendonça
Leitura Orante
Inicio minha oração, em sintonia com todos que fazem este momento de oração,
cantando ou rezando:
"Deus não está longe de cada um de nós
Nele vivemos, nos movemos e existimos"
(At 17,27b,28)
(CD Palavras Sagradas do Apóstolo Paulo, faixa 6)
1. Leitura (Verdade)
O que diz o texto do dia?
Leio atentamente, na Bíblia, o texto
Jo 14,27-31a
e observo as palavras de paz de Jesus.
Jesus está se despedindo dos discípulos. Ele oferece a paz e lhes dá ânimo: não é preciso se afligir, nem ter medo. Anuncia a alegria, resultado da vitória. O que Jesus quer que o mundo saiba é que ele ama o Pai e faz o que ele manda. A paz de Jesus é diferente da paz do mundo que é baseada na injustiça. Ao contrário, é baseada na justiça e no amor. A paz que o mundo dá, prescinde de Deus. Não só desconsidera a pessoa, mas a explora e mata. A paz de Jesus tem em vista um mundo mais fraterno.
2. Meditação (Caminho)
O que o texto diz para mim, hoje?
Onde fundamento a minha paz?
A minha paz vem de Deus?
Os projetos de paz do mundo em que vivo propõem a paz de Jesus?
A paz sempre comunica alegria. E é desta alegria que falaram os bispos em Aparecida:
"Desejamos que a alegria que recebemos no encontro com Jesus Cristo, a quem reconhecemos como o Filho de Deus encarnado e redentor, chegue a todos os homens e mulheres feridos pelas adversidades; desejamos que a alegria da boa nova do Reino de Deus, de Jesus Cristo vencedor do pecado e da morte, chegue a todos quantos jazem à beira do caminho, pedindo esmola e compaixão (cf. Lc 10,29-37; 18,25-43). A alegria do discípulo é antídoto frente a um mundo atemorizado pelo futuro e agoniado pela violência e pelo ódio. A alegria do discípulo não é um sentimento de bem-estar egoísta, mas uma certeza que brota da fé, que serena o coração e capacita para anunciar a boa nova do amor de Deus. Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria." (DAp 29).
3. Oração (Vida)
O que o texto me leva a dizer a Deus?
Rezo, espontaneamente, e concluo com a
Oração de Dom Pedro Casaldáliga:
Dá-nos a paz que se faz!
Senhor, quando te pedimos paz, devolve-nos o pedido, que é fácil pedir sem dar...
Ensina-nos a passar da tolerância ao amor;
de sermos notas dispersas a sermos uma canção.
Quando entregamos as armas,
ajuda-nos a entregar também, abertas, as almas,
que a paz apenas sem guerra é pouca paz para nós.
Necessitamos da terra com casa, trabalho e pão,
contigo no coração, com todos os povos,
juntos, forjando o novo amanhã.
Dá-nos a paz que se faz!
Dá-nos a paz que se dá!
Ó Jesus Mestre, Verdade, Caminho e Vida, tem piedade de nós.
4. Contemplação (Vida e Missão)
Qual meu novo olhar a partir da Palavra?
O meu novo olhar é de paz, da paz que vem de Deus, oferecida por Jesus Cristo.
Bênção
- Deus nos abençoe e nos guarde. Amém.
- Ele nos mostre a sua face e se compadeça de nós. Amém.
- Volte para nós o seu olhar e nos dê a sua paz. Amém.
- Abençoe-nos Deus misericordioso, Pai e Filho e Espírito Santo. Amém.
Irmã Patrícia Silva, fsp
Oração Final
Pai Santo, faze de nós instrumentos de tua Paz.
Dá-nos coragem e força para anunciar aos companheiros peregrinos deste mundo a
chegada do teu Reino de Amor, seguindo o caminho de Jesus de Nazaré, o Cristo,
teu Filho que se fez nosso Irmão e contigo reina na unidade do Espírito Santo.
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