sábado, 31 de agosto de 2013

O poder de uma Ave Maria

Flávia Cristina de Oliveira - 2009/06/03

Padre Hans regressava recolhido, levando o Santíssimo ao peito, quando um jovem lenhador veio correndo a seu encontro gritando: "Um padre! Um padre!".


Era uma manhã ensolarada. As montanhas do Tirol mostravam-se especialmente bonitas naquele dia de primavera. A neve já estava quase toda derretida, mas os cumes ainda brancos cintilavam sob os raios do Sol.
Padre Hans havia terminado de celebrar sua Missa matutina e se preparava para a catequese das crianças. Selecionava a matéria, consultava livros e escolhia alguns santinhos para premiar as crianças mais aplicadas, parte que mais agradava a todas elas na classe.
Encontrou uma linda gravura de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e a separou para quem soubesse responder à pergunta mais difícil.
Nesse momento entrou o sacristão, dizendo aflito:
- Padre Hans... Acaba de chegar a filha da Sra. Binzer, com a notícia de que sua mãe está muito mal, quiçá em seus últimos momentos, e pede que o senhor lhe leve o Viático. Mas não posso acompanhá-lo, pois hoje é o dia de folga do secretário paroquial, e alguém precisa cuidar da igreja.
- Não se preocupe, Rolf, já estive várias vezes na casa da Sra. Binzer e conheço bem todos os atalhos. Saindo imediatamente, conseguirei regressar a tempo ao meio-dia, se Deus quiser.
Sem demora, o bom pároco tomou os Santos Óleos e a teca com o Santíssimo, montou a cavalo e partiu, muito recolhido. Ia adorando Jesus Sacramentado, que levava pendente em seu pescoço, envolto numa bolsa de seda bordada com as iniciais JHS: Jesus Hóstia Santa.
O caminho estava belíssimo! As flores já haviam desabrochado, o regato corria suave, fazendo cantar suas águas cristalinas, e as árvores, outra vez recobertas de folhas, davam ao ar da primavera um frescor muito agradável. Os passarinhos cantavam e as borboletas pareciam bailar diante do cavalo, convidando o sacerdote a um passeio através dos pinheirais perfumados.
Padre Hans observou um pouco a beleza da paisagem, glorificando a Deus por tais dons concedidos ao homem, mas concentrava toda a sua atenção no Criador dessas maravilhas, o qual ele levava apertado ao peito. Assim recolhido, continuava o seu caminho, em atitude de adoração. Apenas pensou:
- Faz tempo que não desfruto um pouco do ar fresco desse bosque. Na volta vou aproveitar um pouquinho, e creio que não atrasarei o retorno...
Chegando à casa da Sra. Binzer, encontrou-a mesmo muito mal. Era uma camponesa piedosa, que sempre participara das atividades paroquiais, mas a idade e a enfermidade lhe haviam consumido todas as forças, e agora ela preparava sua alma para apresentar-se diante de Deus. Toda a família estava reunida ao redor de sua cama. Alguns choravam, e uma das filhas puxava os Mistérios Dolorosos do Rosário.
Padre Hans ministrou-lhe a Unção dos Enfermos, que ela recebeu com toda consciência e piedade. Mas ao dar-lhe a Comunhão, notou que, por um equívoco, havia levado duas partículas. Não era costume na época consumir duas hóstias ao mesmo tempo, e, ademais, a pobre senhora já quase não conseguia engolir. Isso contrariou um pouco o sacerdote, porque precisaria levar de volta à igreja o Santíssimo Sacramento; portanto, deveria regressar recolhido, em oração, sem poder desfrutar da primavera no bosque.
Depois de dizer à família umas breves palavras de reconforto e esperança, montou sua cavalgadura e retornava rezando.
Quando se aproximava do bosque, veio correndo a seu encontro um jovem lenhador, gritando ainda de longe:
- Um padre! Um padre! 
Chegando ao lado do cavalo, o moço disse:
- Senhor Vigário, meu companheiro de trabalho acaba de sofrer um acidente. Uma árvore caiu sobre ele. Está morrendo e o único que consegue fazer é pedir um padre. Venha logo, senhor Vigário!
Padre Hans compreendeu, então, o motivo de haver pegado duas partículas, sem dar-se conta. Não fora um equívoco! Era a Divina Providência que queria vir em auxílio daquela alma na hora suprema. O pobre rapaz confessou-se, com muito custo, e recebeu sua última Comunhão.
O sacerdote perguntou-lhe, bondosamente, se fizera algo especial para merecer uma graça tão grande. O lenhador respondeu, com a voz entrecortada:
- Ah, padre... cada vez que via passar um sacerdote levando o Viático a alguém, eu rezava uma Ave Maria, rogando à Santíssima Virgem a graça de não morrer sem confessar-me e receber a Sagrada Eucaristia pela última vez. E Ela, como Mãe que nunca deixa de atender pedido algum de seus filhos, me concedeu tamanha graça. Que ao senhor também Ela ajude, quando chegar sua hora.
Em seguida, deu um profundo suspiro e entregou sua alma a Deus.
Na manhã seguinte, Padre Hans contou o belo fato às crianças do catecismo, para ensinar-lhes qual é o poder de uma Ave Maria. E premiou com o santinho de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro aquela que soube recitar de memória este belo trecho da oração de São Bernardo: "Lembrai- Vos, ó piedosíssima Virgem Maria, que nunca se ouvir dizer que algum daqueles que tenha recorrido à vossa proteção, implorado a vossa assistência e reclamado o vosso socorro, fosse por Vós desamparado"...
(Revista Arautos do Evangelho, Jun/2009, n. 90, p. 46-47)

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