sexta-feira, 1 de maio de 2015

Oração de São José

Querido São José, desejo neste dia dirigir-te a minha prece; na verdade esta prece deve iniciar-se com um pedido de desculpas. Sim um pedido de desculpas, no dia de tua solenidade. É que desde a minha infância tomei-te como um homem sério. Com efeito, as tuas imagens, as tuas gravuras sempre te apresentaram a mim como um homem grisalho, barba branca, idoso e sei também, querido São José, que esta visão distorcida vem de longe. Se não me falha a memória, vem do Século III. Egesipo te descreveu assim e acrescentou que tu eras um viúvo, já com filhos, disposto a casar pela segunda vez com Maria. Um século mais tarde São Jerônimo divulgava, contra Egesipo, que os famosos irmãos de Jesus na verdade não eram seus filhos. Em resumo toda a Igreja Latina acostumou-se a ver-te velho, alquebrado, avançado em anos e guardião da castidade da Maria.
Amado São José, certamente as coisas não se passaram dessa maneira. Eras tão jovem quanto a esposa que estavas para assumir; tão cheio de vida quanto ela. Havia em teu coração propósitos como os dela: casar, possuir muitos filhos e assim obedecer ao primeiro mandamento do Deus Criador: “crescei , multiplicai-vos, enchei e dominai a Terra”.
Compreendo, São Jose, tua grande crise, quando certo dia percebestes que aquela que te estava prometida em casamento encontrava-se grávida. Não sabías a origem daquela gravidez, que tua certamente não era. Que tormenta, que tempestade assolou teu espírito naquela ocasião!
Querido São José, posso compreender-te porque eu também passei por momentos de escuridão, de trevas e  noite densa em minha própria existência.
Diz-nos o Evangelista Mateus que um Anjo do Senhor, naquela ocasião, veio ao teu encontro e te revelou o segredo daquela que deveria ser tua esposa. Pediu-te aquele Anjo que não a despedisses, pelo contrário, a recebesses em tua casa. E mais, pediu-te que ainda que desses `a Criança, dela nascida, o nome de Jesus, porque Ele salvaria o teu povo dos seus pecados.
Caríssimo São José, juntamente com tua Esposa foste testemunha dos primeiríssimos dias e dos primeiríssimos anos de Jesus. Com teu trabalho na carpintaria de Nazaré sustentastes a Sagrada Família. Com o suor do teu rosto, como ordena Deus no livro do Gênesis, mantiveste o teu lar. Ensinaste, como era costume outrora, tua profissão a Jesus, teu Filho putativo, porque Ele mais tarde haveria de ser chamado o Filho do Carpinteiro de Nazaré.
Amado São José, como foram os dias em que passaste junto a tua querida esposa e teu Filho adotivo? O que conversavas tu com ele durante as longas noites em que com Ele passavas junto? Quais eram os desejos prediletos que conservavas em teu próprio coração? Sim, porque existem camadas profundas de nós mesmos que não ousamos transmitir a ninguém. Deus, e apenas Deus, é aquele que perscruta rins e corações.
Não te foi concedida, querido São José, a graça de contemplar com teus olhos a vida pública de Jesus, graça esta concedida a tua esposa Maria.
Meu caro São José, começaste uma bela obra, mas não pudeste terminá-la. Semeaste São José, mas não pudeste colher. Realizaste simplesmente a tua missão e depois te afastaste silenciosamente, na ponta dos pés.
São José, ao louvar hoje e bendizer a Deus por tua vida, por tua missão nesta Terra, pelo teu trabalho, pela tua piedade e pelo teu amor, nós gostaríamos de suplicar a tua interseção.
Intercede por nós, São José, para que saibamos realizar bem nossa missão. Para que saibamos a hora de entrar em cena e também a hora de sair de cena, sem aquela exigência irritante de querer ver a todo custo aquilo que nossas mãos semearam com fadiga e cansaço.
Concede-nos a graça de abandonar tudo e tudo colocar nas mãos de Deus, quando chegar para nós o seu filho. Concede-me ainda outra graça, querido São José, no dia em que celebramos com a Igreja a tua solenidade. Não sabemos como foi o teu fim; sabemos, no entanto, que Deus esconde das vistas curiosas dos homens os que lhe são mais queridos. Que sabemos nós de tua vida? Mas que sabemos nós também da vida de tua Esposa? Da vida de teu Filho Adotivo conhecemos apenas um décimo.
Sim, querido São José, assim trata Deus seus melhores amigos; reserva-os apenas para Si; não permite que outros olhares curiosos perscrutem este sacrário.
Eu te peço, caríssimo São José, que me alcançe finalmente uma ultima graça. Tenho a certeza de que tua morte, embora desconhecidas as  circunstâncias, terá sido a morte melhor  e a mais invejável de todas porque morreste nos braços de Jesus e de Maria.
Quando chegar o final dos meus dias; quando o Sol se puser sobre a minha vida e tudo estiver para desaparecer definitivamente deste cenário magnífico e cruel que é o mundo em que vivo, dize-me querido São José, segurando-me pela mão: amigo, passemos agora para a outra margem.
Amém!
Pe. Fernando José Carneiro Cardoso

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