ANO A

3º DOMINGO DA PÁSCOA
Ano A - Branco
“Não ardia o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho!” Lc 24,32
Lc 24,13-35
Ambientação
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Reunidos em assembleia, compomos o novo povo de Deus que, mediante a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, deseja testemunhar a ressurreição. Jesus caminha conosco e, fortalecendo- nos com sua palavra e seu Corpo e Sangue, exorta-nos a anunciar ao mundo seu projeto salvador.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, eis que fomos convocados pelo Senhor Ressuscitado para nos reunirmos em torno da mesa santa, celebrando nossa ação de graças ao Pai, pela Páscoa do seu Filho Jesus, realizada na força e no poder do Santo Espírito. Assim como Ele caminhou ao lado dos discípulos de Emaús, Ele hoje caminha conosco, anuncia sua Palavra e reparte seu corpo e sangue. É a Vida do Senhor nos enchendo de vida nova.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: "Eles reconheceram o Senhor ao partir o pão". Esta observação, de caráter litúrgico, ritualiza para nós a experiência da primeira comunidade cristã, das refeições fraternas nas casas dos cristãos, lembrando o Senhor Jesus, suas palavras e seus gestos de salvação, seu sacrifício supremo. Só pode reconhecer o Senhor quem percorreu os caminhos dos problemas do homem, deles participando plenamente: o fracasso, a solidão, a busca pela justiça e verdade, a coerência em direção a um mundo melhor, a solidariedade. Então o Cristo, anônimo e misterioso companheiro, testemunha e interlocutor das hesitações e dúvidas, revela-se não como aquele que tem a solução para todas as questões, mas como alguém que, tendo aceito entrar no Plano de Deus, tornou-se o primogênito de uma nova humanidade.
JESUS COMEÇOU A CAMINHAR COM ELES
No dia da ressurreição de Jesus, dois discípulos voltavam para a aldeia de Emaús tristes e decepcionados. Haviam posto muitas esperanças em Jesus, como tantas outras pessoas. Haviam largado tudo para seguir esse Galileu, que os havia fascinado e enchido de esperanças, mas tudo se acabara. Os dois eram a imagem da frustração e do desânimo e já haviam tomado a decisão de retomar a vida que tinham abandonado para seguir Jesus.
Mas aí acontece a surpresa: Jesus começa a caminhar com eles, sem se dar a conhecer, e os vai tirando do abismo do desencanto e desânimo no qual se encontravam. caminhando com eles, aquece-lhes novamente o coração, enquanto lhes explica as Escrituras. E eles acolhem o sinal de Deus em suas vidas, abrem o coração e, por fim, também, as portas de sua casa para dividir com o “desconhecido” o teto e a mesa.
E aí acontece a revelação de Jesus, quando Jesus toma o pão e reparte com eles. Abrem-se os olhos deles e os dois exclamam: É Jesus! E no mesmo instante, refazem o caminho para Jerusalém, para contar aos outros o que havia acontecido no caminho e como haviam reconhecido Jesus ao partir do pão.
Esse fantástico relato pascal contém uma infinidade de mensagens para nós. No caminho da vida, temos decepções e desânimos. Se queremos resolver tudo sozinhos, damos passos para trás e mergulhamos sempre mais fundo no desânimo. Se acolhemos a companhia de Jesus conosco, as coisas mudam muito. Ele quer ser nosso companheiro de caminho e dar-nos amparo e coragem no caminho da vida.
Os dois fazem o caminho da frustração à esperança mediante a escuta da Palavra de Deus. Nossos próprios pensamentos e raciocínios não conseguem desvendar sozinhos o mistério da existência. Eles fazem um “itinerário catequético” de conversão e acolhida da Palavra de Deus, que os leva à caridade (abriram as portas e convidaram à mesa) e à celebração da Eucaristia. Liturgia da Palavra e Liturgia eucarística. Jesus se revela em ambas as partes desse itinerário da fé.
E os dois completaram o itinerário, tornando-se testemunhas e missionários incansáveis. Depois que Jesus se revelou a eles na fração do pão, eles saíram correndo para voltar a Jerusalém e anunciaram aos outros a experiência que tiveram do encontro com Jesus ressuscitado. São os discípulos missionários que anunciaram o Evangelho e testemunharam a ressurreição de Jesus. Também nós somos chamados a fazer o mesmo!
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo
Comentário do Evangelho
Do ver ao reconhecer
A riqueza do evangelho é tal que ele precisa ser saboreado internamente. Todo o capítulo 24 de Lucas pode ser considerado como um resumo de todo o seu evangelho. Cada um dos evangelhos é fruto da experiência pascal dos discípulos. Nesse sentido, trata-se de um testemunho de fé. Cada trecho do evangelho é uma verdadeira Páscoa: da cegueira à visão, da enfermidade à cura, da morte à vida, da tristeza à alegria, da falta da esperança à esperança, do ódio e rancor ao amor. O relato dos discípulos de Emaús é, do início ao fim, uma Páscoa. O caminho que separa Jerusalém de Emaús é metáfora de um caminho muito mais longo, o caminho através das Escrituras, em que a lição de exegese dada por Jesus aos dois discípulos oferece condições de eles reconhecerem o Senhor no partir o pão.
A morte de Jesus representou uma forte frustração para aqueles que punham nele as esperanças messiânicas (cf. v. 21) e fez com que, por um instante, a comunidade dos discípulos entrasse em crise. O nosso texto visa transmitir o fato que permitiu a passagem do abatimento à alegria, do ver ao reconhecer. O espaço teológico-espiritual entre o ver e o reconhecer permitiu a Jesus a lição de exegese. No tempo do reconhecimento os discípulos confessarão que foi ela que os transformou (cf. v. 32). A explicação e compreensão da Escritura, à luz da ressurreição do Senhor, abriram os olhos para o reconhecimento. A primeira ressurreição, para os discípulos é, então, a da memória. Eles compreenderam, então, que o Senhor que se apresenta vivo no meio deles, de alguma forma, estava presente em toda a Escritura que, por sua vez, encontra nele sua plenitude e sentido. Quando do reconhecimento o Senhor desapareceu da vista deles. É que a visão física não é mais necessária para “ver” o Senhor. Mesmo invisível aos olhos, o Senhor está e permanecerá presente. A invisibilidade não significa, no que diz respeito à fé, ausência. Fato, aliás, que eles nem sequer mencionam, como se a visibilidade não tivesse a menor importância. O que retém a atenção deles, e torna-se objeto da mensagem transmitida aos demais discípulos, é o acontecido no caminho para Emaús, no tempo que precedeu o reconhecimento (cf. v. 35), tempo de escuta, em que o Mestre ressuscitado continua a instruir os seus discípulos. Se a morte dispersou os discípulos, a experiência do Ressuscitado os congrega (cf. v. 33).
Carlos Alberto Contieri, sj
Oração
Pai, não permitas que eu caia na tentação de viver distante de meus irmãos e irmãs de fé, pois o Senhor Ressuscitado nos quer todos reunidos em seu nome.
Fonte: Paulinas em 04/05/2014
Vivendo a Palavra
Sob variadas formas o Cristo Jesus se faz também nosso companheiro de viagem. Estejamos vigilantes e atentos à sua Presença. Ele vem até nós nos irmãos de caminhada, na natureza, na história, nos sinais dos tempos, nas Escrituras Sagradas e na Igreja-Povo de Deus, com seu Magistério e Tradição.
Fonte: Arquidiocese BH em 04/05/2014
VIVENDO A PALAVRA
Sob variadas formas o Cristo se faz nosso companheiro de viagem. Estejamos vigilantes e atentos à sua Presença. Ele vem até nós nos irmãos de caminhada, na Natureza, na História, nos Sinais dos Tempos, nas Escrituras Sagradas, na Igreja – Família de Deus, com seu Magistério e Tradição – e nos fala, carinhosamente, no mais íntimo da nossa consciência.
Reflexão
I. INTRODUÇÃO GERAL
A liturgia do segundo domingo pascal apresentou a comunidade apostólica e sua fé em Jesus Cristo ressuscitado. Agora, o terceiro domingo apresenta a mensagem que essa comunidade anunciou ao mundo, a pregação dos apóstolos nos primórdios da Igreja: o “querigma”. A perspectiva do anúncio universal é criada pela antífona da entrada, com o Salmo 66[65],1-2: “Aclamai a Deus, toda a terra”, enquanto a oração do dia evoca a renovação espiritual dos que creem e recebem a condição de filhos de Deus.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. I leitura (At 2,14a.22-33)
A primeira leitura apresenta o “querigma” apostólico, o anúncio – no discurso de Pedro em Pentecostes – da ressurreição de Jesus e de sua vitória sobre a morte. É o protótipo da pregação apostólica. Suprimida a introdução do discurso, por ser a leitura de Pentecostes (At 2,15-21), a leitura de hoje se inicia com o v. 22, anunciando que o profeta rejeitado ressuscitou, cumprindo as Escrituras (Sl 16[15],8-10). Não se trata de ver aí uma realização “ao pé da letra”, mas de reconhecer nas Escrituras antigas a maneira de agir de Deus desde sempre, a qual se realiza num sentido “pleno” em Jesus Cristo. Ou melhor: naquilo que se vê em Jesus, aparece o sentido profundo e escondido das antigas Escrituras. O importante nesse querigma é o anúncio da ressurreição como sinal de que Deus “homologou” a obra de Jesus e lhe deu razão contra tudo e todos. Isso é atestado não só por testemunhas humanas, mas também pelo testemunho de Deus mesmo, na Escritura. O Salmo 16[15], por exemplo, originalmente a prece de quem sabe que Deus não o entregará à morte, encontra em Cristo sua realização plena e inesperada. Esse salmo é também o salmo responsorial de hoje e terá de ser devidamente valorizado.
2. II leitura (1Pd 1,17-21)
Na segunda leitura, continua a leitura da 1Pd iniciada no domingo passado. Jesus Cristo é visto como aquele que nos conduz a Deus. Sua morte nos remiu de um obsoleto modo de viver. Por meio de Cristo, ou seja, quando reconhecemos e assumimos a validade do seu modo de viver e de morrer, chegamos a crer verdadeiramente em Deus e o conhecemos como aquele que ressuscita Jesus, aquele que dá razão a Jesus e “endossa” a sua obra. Isso modifica nossa vida. Desde o nosso batismo, chamamos a Deus de Pai; mas ele é também o Santo que nos chama à santidade (1Pd 1,16; cf. Lv 19,2). O sacrifício de Cristo, Cordeiro pascal, obriga-nos à santidade. Os últimos versículos desta leitura (v. 19-21) constituem uma profissão de fé no Cristo, que desde sempre está com Deus: ele nos fez ver como Deus verdadeiramente é, e por isso podemos acreditar que Deus nos ama.
3. Evangelho (Lc 24,13-35)
O evangelho é preparado pela aclamação, que evoca o ardor dos discípulos ao escutar a Palavra de Deus (cf. Lc 24,32). Trata-se da narrativa dos discípulos de Emaús (lida também na missa da tarde no domingo da Páscoa). A homilia pode sublinhar diversos aspectos.
1) “Não era necessário que o Cristo padecesse tudo isso para entrar na glória?” (Lc 24,26). Cabe parar um momento junto ao termo “o Cristo”. Não é apenas de Jesus como pessoa que se trata, mas de Jesus enquanto Cristo, Messias, libertador e salvador enviado e autorizado por Deus. Não se trata apenas de reconhecer a vontade divina a respeito de um homem piedoso, mas do modo de proceder de Deus no envio de seu representante, o “Filho do homem” revestido de sua autoridade (cf. Dn 7,13-14), que deve levar a termo o caminho do sofrimento e da doação da vida (cf. Lc 9,22.31).
2) Jesus “lhes explicou, em todas as Escrituras, o que estava escrito a seu respeito” (Lc 24,27). Em continuidade com a primeira leitura, podemos explicitar o tema do cumprimento das Escrituras. As Escrituras fazem compreender o teor divino do agir de Jesus. Enquanto os discípulos de Emaús estavam decepcionados a respeito de Jesus, fica claro agora que, apesar da aparência contrária, Jesus agiu certo e realizou o projeto de Deus. As Escrituras testemunham isso. Jesus assumiu e levou a termo a maneira de ver e de sentir de Deus que, embora de modo escondido, está representada nas antigas Escrituras. Ele assumiu a linha fundamental da experiência religiosa de Israel e a levou à perfeição, por assim dizer. Mas só foi possível entender isso depois de ele ter concluído a sua missão. Só à luz da Páscoa foi possível que as Escrituras se abrissem para os discípulos (cf. também Jo 20,9; 12,16).
3) Reconheceram-no ao partir o pão (cf. Lc 24,31 e 35). A experiência de Emaús nos faz reconhecer Cristo na celebração do pão repartido. Na “última ceia”, o repartir o pão fora reinterpretado, “ressignificado”, pelo próprio Jesus como dom de sua vida pelos seus e pela multidão (Lc 22,19); e à comunhão do cálice que acompanhava esse gesto, Jesus lhe dera o sentido de celebração da nova e eterna aliança (Lc 22,20). Assim puderam reconhecê-lo ao partir do pão. Mas o gesto de Jesus na casa dos discípulos significava também a rememoração do gesto fundador que fora a Última Ceia, a primeira ceia da nova aliança. Desde então, esse gesto se renova constantemente e recebe de cada momento histórico significações novas e atuais. Que significa “partir o pão” hoje?Não é apenas o gesto eucarístico; é também o repartir o pão no dia a dia, o pão do fruto do trabalho, da cultura, da educação, da saúde… Os discípulos de Emaús, decerto, não pensavam num mero rito “religioso”, mas em solidariedade humana. Ao convidarem Jesus, não pensaram numa celebração ritual, mas num gesto de solidariedade humana: que o “peregrino” pudesse restaurar as forças e descansar, sem ter de enfrentar o perigo de uma caminhada noturna. O repartir o pão de Jesus é situado na comunhão fraterna da vida cotidiana. Esse é o “aporte” humano que Jesus ressignifica, chamando à memória o dom de sua vida.
III. DICAS PARA REFLEXÃO: Entender as Escrituras e partir o pão
A liturgia de hoje nos conscientiza de que Jesus, apesar – e por meio – de seu sofrimento e morte, é aquele que realiza plenamente o que a experiência de Deus no Antigo Testamento já deixou entrever, aquilo que se reconhece nas antigas Escrituras quando se olha para trás à luz do que aconteceu a Jesus. Ao tomarmos consciência disso, brota-nos, como nos discípulos de Emaús, um sentimento de íntima gratidão e alegria (“Não ardia o nosso coração…?” [Lc 24,32]) que invade a celebração toda, especialmente quando, ao partir o pão, a comunidade experimenta o Senhor ressuscitado presente no seu meio.
A saudade é a benfazeja presença do ausente. Quando alguém da família ou uma pessoa querida está longe, a gente procura se lembrar dessa pessoa. É o que aconteceu com os discípulos de Emaús. Jesus fora embora… mas, sem que o reconhecessem, estava caminhando com eles. Explicava-lhes as Escrituras. Mostrava-lhes o veio escondido do Antigo Testamento que, à luz daquilo que Jesus fez, nos faz compreender ser ele o Messias: os textos que falam do Servo Sofredor, o qual salva o povo por seu sofrimento (Is 52-53); ou do Messias humilde e rejeitado (Zc 9-12); ou do povo dos pobres de Javé (Sf 2-3) etc. Jesus ressuscitado mostrou aos discípulos de Emaús esse veio, textos que eles já tinham ouvido, mas nunca relacionado com aquilo que Jesus andou fazendo… e sofrendo.
Isso é uma lição para nós. Devemos ler a Sagrada Escritura por intermédio da visão de Jesus morto e ressuscitado, dentro da comunidade daqueles que nele creem. É o que fazem os apóstolos na sua primeira pregação, quando anunciam ao povo reunido em Jerusalém a ressurreição de Cristo, explicando os textos que, no Antigo Testamento, falam dele, como mostra a primeira leitura de hoje. Para a compreensão cristã da Bíblia, é preciso ler a Bíblia na Igreja, reunidos em torno de Cristo ressuscitado.
O que aconteceu em Emaús, quando Jesus abriu as Escrituras aos discípulos, é parecido com a primeira parte de nossa celebração dominical, a liturgia da Palavra. E muito mais parecido ainda com a segunda parte, o rito eucarístico: Jesus abençoa e parte o pão, e nisso os discípulos o reconhecem presente. Desde então, a Igreja repete esse gesto da fração do pão e acredita que, neste, Cristo mesmo se torna presente.
Emaús nos ensina as duas maneiras fundamentais de ter Cristo presente em sua ausência: ler as Escrituras à luz de sua memória e celebrar a fração do pão, o gesto pelo qual ele realiza sua presença real, na comunhão de sua vida, morte e ressurreição. É a presença do Cristo pascal, glorioso – já não ligado ao tempo e ao espaço, mas acessível a todos os que o buscam na fé e se reúnem em seu nome.
*Pe. Johan Konings, sj
Nascido na Bélgica, reside há muitos anos no Brasil, onde leciona desde 1972. É doutor em Teologia e mestre em Filosofia e em Filologia Bíblica pela Universidade Católica de Lovaina. Atualmente é professor de Exegese Bíblica na Faje, em Belo Horizonte. Dedica-se principalmente aos seguintes assuntos: Bíblia – Antigo e Novo Testamento (tradução), evangelhos (especialmente o de João) e hermenêutica bíblica. Entre outras obras, publicou: Descobrir a Bíblia a partir da liturgia; A Palavra se fez livro; Liturgia dominical: mistério de Cristo e formação dos fiéis – anos A-B-C; Ser cristão; Evangelho segundo João: amor e fidelidade; A Bíblia nas suas origens e hoje; Sinopse dos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas e da “Fonte Q”.
Fonte: Vida Pastoral em 04/05/2014
Reflexão
ALGUÉM CAMINHA CONOSCO
Nem sempre a nossa fé é tão firme, forte e convicta que nos garante a certeza da presença do Ressuscitado caminhando conosco. Mais difícil ainda é imaginar que um suposto morto esteja vivo e fazendo história com a humanidade.
Dois discípulos voltam de Jerusalém desanimados depois dos últimos acontecimentos trágicos que lá se sucederam. Deixam a esperança para trás, enterrada em Jerusalém, e voltam para sua vidinha do dia a dia, acompanhados por um “estranho”.
Conversa vai, conversa vem, e o “estranho” só escutando. Até que se interessa, toma parte na conversa e pergunta “o que aconteceu de importante em Jerusalém?” – que é o assunto da conversa. De ouvinte, o “estranho” começa a explicar os acontecimentos na perspectiva do Primeiro Testamento. Assim a volta para casa torna-se também um retorno à Escritura.
Agora o “estranho” torna-se também “hóspede”. A partir da casa, acontece a iluminação. Na casa há pão sobre a mesa. Casa sem pão é sinal de morte, casa com pão é sinal de vida. É na mesa que acontece a partilha e, a partir dela, revela-se o rosto de Jesus.
Segundo Lucas (e Mateus), Jesus nasce na “casa do pão” (Belém). Aprendeu, com certeza, desde pequeno a importância do pão e o jeito de partilhá-lo. Seu nascimento na “casa do pão” dá o rumo de sua atividade e do seu projeto.
A eucaristia é o grande símbolo de partilha e a maior demonstração da presença de Deus. Alimentados com a eucaristia, aprendemos a partilha e a solidariedade que nos darão a certeza da presença de Deus em nossa vida de caminhantes. A partilha destrói barreiras, cria laços e constrói comunhão e solidariedade.
Pe. Nilo Luza, ssp
Fonte: Paulus em 04/05/2014
Reflexão
’NÃO ARDIA NOSSO CORAÇÃO QUANDO ELE NOS FALAVA PELO CAMINHO E NOS EXPLICAVA AS ESCRITURAS?’’
Primeira leitura: Atos 2,14. 22-33;
Salmo 15 (16), 1-2a. 5.7-8.9-10.11 (R.1a);
Segunda leitura: 1Pedro 1,17-21;
Evangelho: Lucas 24,13-35.
Situando-nos brevemente
Neste terceiro domingo da Páscoa, o Senhor Ressuscitado caminha conosco e nos revela Palavra viva, senta à mesa e reparte conosco sua vida.
Nesta reunião, partilhamos com Ele as incertezas, as dúvidas e as dificuldades em compreender o caminho pascal. Somos iluminados pela Palavra da Escritura que faz arder nosso coração e nos prepara para o banquete da aliança, onde Ele mesmo se dá como alimento.
Ele vem ao nosso encontro, caminha conosco, abre nossos olhos e ouvidos para compreendermos o sentido da cruz. Deixemo-nos guiar por sua Palavra que nos tira do medo e da timidez e nos faz anunciadores da Boa Notícia.
Recordando a Palavra
A leitura do evangelho de Lucas narra o encontro do Ressuscitado com os discípulos de Emaús. Esse texto, exclusivo de Lucas, convida a percorrer o caminho do discipulado para encontrar Jesus ressuscitado, que parte o pão conosco e revela seu amor que inflama nosso coração. Os dois discípulos representam os cristãos de todos os tempos, sempre a caminho com o Senhor. Na década de 80 do primeiro século, quando o evangelho foi escrito, os cristãos necessitavam reavivar a fé em Cristo ressuscitado, presente na comunidade solidária que se reúne para partir o pão.
Os dois discípulos, após a morte de seu Mestre, na cruz, partem de Jerusalém em direção ao povoado de Emaús. Jesus de Nazaré, que ‘’foi um profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e diante do povo’’ (24,19), havia suscitado a esperança messiânica de libertação. Os discípulos estão tristes e desiludidos, pois tinham colocado a expectativa num messianismo político nacionalista: ‘’Esperávamos que fosse ele quem libertaria Israel’’ (24,21). Apesar de não terem acolhido o anúncio pascal das mulheres que diziam: ‘’o Crucificado está vivo’’, eles lembram, conversam e discutem a respeito de Jesus, mas seus olhos são incapazes de reconhecer a presença viva de Jesus que estava próximo e caminhava com eles.
O ressuscitado se faz presente no caminho dos que procuram descobrir o significado da suas palavras e obras, dos que fazem sua memória de sua vida doada totalmente. À luz das Escrituras, os discípulos e discípulas encontram o verdadeiro sentido da paixão e ressurreição de Cristo: ‘’Não era necessário que o Cristo sofresse tudo isso para entrara na glória?’’ (24,26). Compreendem que Jesus é o verdadeiro Messias, que realizou o projeto salvífico, passando pelo sofrimento da cruz. ‘’Começando por Moisés e passando por todos os profetas, explicou-lhes, em todas as Escrituras, as passagens que se referiam a ele’’ (24,27). A presença do Ressuscitado ilumina os discípulos, fazendo-os compreender a palavra: ‘’Não ardia o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?’’ (24,32).
A adesão à palavra de Jesus manifesta-se na hospitalidade: ‘’Fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando!’’(24,29). O gesto de partir e compartilhar o pão suscita a fé no Ressuscitado. Os olhos dos discípulos se abrem e reconhecem a presença de Jesus, quando ele sentou-se à mesa, ‘’tomou o pão, pronunciou a benção, partiu-o e deu a eles’’ (24,30). Na última ceia, Jesus repartiu o pão como dom de sua própria vida (cf. 22,19). Os discípulos de Emaús celebram o memorial de Jesus como gesto de solidariedade, acolhendo o ‘’peregrino’’ para que pudesse restaurar as forças. Ao repartir o pão de Jesus na comunhão fraterna da vida, eles fazem a experiência de sua presença viva e atuante.
O gesto de Jesus, que recorda sua vida compartilhada, doada por amor, reconduz os discípulos ao caminho. Reavivados na fé e na esperança, os discípulos levantam-se e voltam para Jerusalém, para testemunhar a experiência do encontro com Cristo ressuscitado: ‘’Realmente, o Senhor ressuscitou!’’ (24,34). Jerusalém, lugar onde Jesus concluiu sua obra de salvação, torna-se o marco inicial da missão dos discípulos, que deve se estender até os confins da terra (cf. At 1,8).
Na primeira leitura dos Atos dos Apóstolos, Pedro, porta-voz dos demais discípulos, apresenta o querigma cristão. Jesus de Nazaré, o Enviado do Pai, realizou-se ‘’milagres, prodígios e sinais’’ em favor do povo (2,22). Ele foi acolhido por muitos e rejeitado por outros até a morte na cruz. ‘’Mas Deus o ressuscitou, libertando-o das angústias da morte’’ (2,24)), revelando a eficácia de sua doação a serviço do projeto divino de salvação. Em Cristo realiza-se plenamente o sentido do salmo de hoje (cf. At 2,25-28; Sl 15,811(16)). O Pai não abandonou o Filho na morada dos mortos, mas o ressuscitou para a vida plena em sua glória.
A vitória da vida sobre a morte, manifestada em Cristo, plenifica a promessa messiânica de estabelecimento de um reino eterno de salvação (cf. 2Sm 7,12-16). Na obra de Jesus, o Messias (= ungido), a qual culminou com sua exaltação à direita do Pai, cumprem-se as Escrituras. Jesus venceu a morte através da ressurreição, instaurando o reinado eterno da justiça e paz. Os cristãos tornam-se testemunhas da vida nova, revelada em Cristo: ‘’Deus ressuscitou este mesmo Jesus, e disso todos nós somos testemunhas’’ (2,32).
O salmo 15 (16) é uma prece de confiança em Deus: ‘’não vais abandonar minha vida no sepulcro’’. A experiência da salvação em Deus leva a seguir o caminho da vida, abandonando as falsas seguranças. Assim, o salmista encontra a verdadeira felicidade, que faz exultar de alegria. Cristo ressuscitado, exaltado na glória do Pai, realiza plenamente a esperança de salvação anunciada no salmo.
A segunda leitura da primeira carta de Pedro convida a testemunhar a fé e a esperança, durante ‘’o tempo de permanência como migrantes’’ (1,17). Os cristãos, que estavam sofrendo discriminação, opressão, como no tempo do Egito e da Babilônia, são fortalecidos pala presença de Deus, o Pai que ama e acolhe a todos como filhos. O amor do Pai, revelado ao povo ao longo da história da salvação, culminou na vida, morte salvífica e ressurreição de Cristo.
‘’Fomos resgatados (...) pelo precioso sangue de Cristo, cordeiro sem defeito e sem mancha’’ (1,19). Jesus, como cordeiro pascal (cf. Ex 12,5), realiza o êxodo que liberta plenamente, conduzindo à comunhão filial com o Pai. O seguimento a Cristo, a fidelidade ao seu projeto testemunham a verdadeira fé e esperança em Deus (cf.1,21). A esperança em Deus, que ressuscitou Jesus dos mortos, assegura o compromisso em defesa da vida e da dignidade dos que são discriminados, marginalizados.
Atualizando a Palavra
O Ressuscitado caminha conosco. Sua presença viva torna-se perceptível aos nossos olhos, quando acolhemos os irmãos e nos reunimos para ‘’partir o pão’’. Ele alimenta nossa vida, nossa fé, fortalece nosso caminho e nossa missão. A força de sua ressurreição faz renascer nossa esperança, que deve ser testemunhada através de gestos de hospitalidade, de partilha. ‘’A ressurreição de Cristo produz por toda a parte rebentos deste mundo novo; e, ainda que os cortem, voltam a despontar, porque a ressurreição do Senhor já penetrou a trama oculta desta história; porque Jesus não ressuscitou em vão. Não fiquemos à margem desta marcha da esperança viva!’’ (Evangelli Gaudium, n.278).
A Palavra transforma nosso coração e revela sua eficácia na Eucaristia, lugar privilegiado do encontro e do reconhecimento do Ressuscitado. ‘’A Eucaristia é o lugar privilegiado do encontro do discípulo com Jesus Cristo. Com este sacramento, Jesus nos atrai para si e nos faz entrar em seu dinamismo em relação a Deus e ao próximo. Existe estreito vínculo entre as três dimensões da vocação cristã: crer, celebrar e viver o mistério de Jesus Cristo, de tal modo que a existência cristã adquira verdadeiramente forma eucarística. Em cada eucaristia, os cristãos celebram e assumem o mistério pascal, participando nele. Portanto, os fiéis devem viver sua fé na centralidade do mistério pascal de Cristo através da eucaristia, de maneira que toda sua vida seja cada vez mais vida eucarística. A Eucaristia, fonte inesgotável da vocação cristã é, ao mesmo tempo, fonte inextinguível do impulso missionário. Aí, o Espírito Santo fortalece a identidade do discípulo e desperta nele a decidida vontade de anunciar com audácia aos demais o que tem escutado e vivido’’ (Documento de Aparecida, n. 251). O Papa Francisco mostra que a palavra alcança a máxima eficácia no sacramento: ‘’Não é só a homilia que se deve alimentar da palavra de Deus. Toda a evangelização está fundada sobre esta palavra escutada, meditada, vivida, celebrada e testemunhada. A Sagrada Escritura é a fonte da evangelização. Por isso, é preciso formar-se continuamente evangelizar. É indispensável que a palavra de Deus ‘se torne cada vez mais o coração de toda a atividade eclesial’. A Palavra de Deus ouvida e celebrada, sobretudo na eucaristia, alimenta e reforça interiormente os cristãos e torna-os capazes de um autêntico testemunho evangélico na vida diária. Superamos já a velha contraposição entre palavra e sacramento: a palavra proclamada, viva e eficaz, prepara a recepção do sacramento e, no sacramento, essa palavra alcança a sua máxima eficácia’’ (Evangelli Gaudium, n. 174).
O gesto de partir e compartilhar o pão, que levou os discípulos de Emaús a reconhecer a presença viva do Ressuscitado, revela a prática das comunidades primitivas de celebrar a Eucaristia. Os cristãos costumavam se reunir para escutar a Palavra, esta reunião culminava na fração do pão, na ceia eucarística (cf. At 2,42. 46). Justino, mártir, ao falar sobre a Eucaristia ressalta que ‘’no chamado dia do Sol, reúnem-se em um mesmo lugar todos os que moram nas cidades ou nos campos. Leem-se as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas, na medida em que o tempo permite. Terminada a leitura, aquele que preside toma a palavra para aconselhar e exortar os presentes à imitação de tão sublimes ensinamentos. Reunimo-nos todos no dia do Sol, não só porque foi o primeiro dia em que Deus, transformando as trevas e a matéria, criou o mundo, mas também porque neste mesmo dia Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dos mortos’’.
Ligando a Palavra com a ação eucarística
É o primeiro dia da semana, dia do Senhor. Ele está no meio de nós. Somos uma comunidade reunida em nome d’Ele. Ele nos revigora, abre nossos olhos e nossos ouvidos para lermos os acontecimentos à luz do seu mistério pascal.
Não há do que duvidar: Ele é aquele de quem falava as Escrituras, como testemunhavam as leituras de hoje.
Na celebração, a proclamação da Palavra ganha pleno significado, como relata a introdução do lecionário: ‘’a economia da salvação, que a palavra de Deus não cessa de recordar e prolongar, alcança seu mais pleno significado na ação litúrgica, de modo que a celebração litúrgica se converta numa contínua, plena e eficaz apresentação desta palavra de Deus, Assim, a palavra de Deus, proposta continuamente na liturgia, é sempre viva e eficaz pelo poder do Espírito Santo, e manifesta o amor ativo do Pai, que nunca deixa de ser eficaz entre as pessoas’’ (Ordo Lectjonum Missae – OLM, n. 4).
Ele é também aquele que entra em nossa casa, senta à mesa conosco e partilha conosco seu Corpo entregue e seu sangue derramado.
Vale lembrar o que afirma o Elenco das Leituras da Missa: ‘’Espiritualmente alimentada nestas duas mesas, a Igreja, em uma, instrui-se mais, e na outra se santifica mais plenamente; pois na Palavra de Deus se anuncia a aliança divina, e na Eucaristia se renova esta mesma aliança nova e eterna. Numa, recorda-se a história da salvação com palavras; na outra, a mesma história se expressa por meio de sinais sacramentais da Liturgia. Portanto, convém recordar sempre que a divina que a Igreja lê e anuncia na Liturgia conduz, como seu próprio fim, ao sacrifício da aliança e ao banquete da graça, isto é, à Eucaristia. Assim, a celebração da missa, na qual se escuta a palavra e se oferece e se recebe a Eucaristia, constitui um só culto divino, com o qual se oferece a Deus o sacrifício de louvor e se realiza plenamente a redenção do homem’’ (OLM, n.10).
Alimentados nestas mesas, recebemos do Senhor força e coragem para a entrega de nosa própria vida para a vida do mundo.
Sugestões para a celebração
Cuidar do espaço para que seja expressão da Páscoa do Senhor, destacando o círio pascal, a fonte batismal, a mesa da Palavra e a mesa eucarística.
Depois da saudação inicial, a comunidade pode fazer a recordação da vida, ou seja, de fatos, acontecimentos, dores e alegrias – a páscoa do povo, na páscoa de Cristo – a exemplo dos discípulos de Emaús que conversam com o Senhor sobre os acontecimentos.
Preparar bem os leitores e salmistas para que o pão da Palavra seja bem repartido.
‘’A verdade do sinal exige que a matéria da celebração eucarística pareça realmente um alimento. Convém, portanto, que, embora ázimo e com a forma tradicional, seja o pão eucarístico de tal modo preparado que o sacerdote, na Missa com o povo, possa de fato partir a hóstia em diversas partes e distribuí-las ao menos a alguns dos fiéis’’ (Instrução Geral do Missal Romano – IGMR 321).
‘’A Comunhão realiza mais plenamente o seu aspecto de sinal, quando sob as duas espécies. Sob esta forma se manifesta mais perfeitamente o sinal do banquete eucarístico e se exprime de modo mais claro a vontade divina de realizar a nova e eterna Aliança no Sangue do Senhor, assim como a relação entre o banquete eucarístico e o banquete escatológico no reino do Pai’’ (IGMR 281).
Os cantos sejam preparados com antecedência, prevendo ensaios. O Hinário Litúrgico da CNBB possui ótimas sugestões. As melodias estão gravadas no CD Liturgia XVI – Páscoa – Ano A.
Fonte: Eis a Luz de Cristo! - Roteiros Homiléticos para o Tríduo Pascal e Tempo Pascal l– CNBB 2014 - Ano A
Fonte: Emanarp em 04/05/2014
Reflexão
Dois discípulos tristonhos retornam de Jerusalém após o drama da paixão e morte do Mestre. Parecia tudo acabado, já não havia esperança. Só restava agora voltar à vida do dia a dia. Durante a caminhada, meditam sobre a Sagrada Escritura e a confrontam com os últimos acontecimentos. Iluminados pela Palavra, começam a entender tudo o que aconteceu. A morte eliminou Jesus, mas não sua mensagem e seu projeto. Entenderam que ele continua vivo e presente na caminhada do dia a dia, no diálogo fraterno, fundamentado na Palavra, e, principalmente, na partilha do pão, do alimento. Entenderam que o que estava morto vive novamente e foi ao encontro de sua comunidade. A fé dos dois, pouco a pouco, vai despertando e ficando cada vez mais clara. Seu coração começa a arder, e a esperança vai animando-os. Jesus voltou ao Pai, mas sem abandonar a humanidade: continua caminhando com ela. A comunidade cristã necessita iluminar os acontecimentos do dia a dia com a Palavra de Deus.
Oração
Senhor Jesus, companheiro nosso na lida diária, queremos manifestar- te os mesmos sentimentos dos discípulos de Emaús: “Permanece conosco”. Sim, caminha ao nosso lado, cada dia, para falar-nos ao coração e explicar-nos as Escrituras. Concede-nos renovado ardor missionário. Amém.
(Dia a dia com o Evangelho 2020 - Pe. Luiz Miguel Duarte, ssp (dias de semana) Pe. Nilo Luza, ssp (domingos e solenidades))
Recadinho
Quando Deus se manifesta em sua vida? - Você se desespera facilmente ou confia em Deus? - Você sabe encontrar a força de sua fé na Eucaristia? - Você faz como os discípulos de Emaús: caminha desanimado pelo mundo afora? - Você vê Deus presente e que lhe fala através dos acontecimentos da vida?
Fonte: a12 - Santuário Nacional em 04/05/2014
Meditando o evangelho
A FRUSTRAÇÃO SUPERADA
A crucifixão de Jesus foi um duro golpe para a comunidade cristã. Com ela, vieram abaixo os projetos de libertação, carinhosamente acalentados pelos discípulos. As palavras e as ações do Mestre pareciam dignas de fé. Seu modo de ser tinha algo de especial, bem diferente do que até então se tinha visto. Sua morte na cruz, no entanto, deixou, nos discípulos, o sabor da frustração e da desilusão!
Foi preciso que o Ressuscitado os chamasse à realidade. Eles não estavam dispensados da missão. Por conseguinte, não havia motivo para se dispersarem e voltarem para sua cidade de origem, uma vez que tinham, diante de si, um mundo a ser evangelizado. Era insensato cultivar sentimentos de morte, quando a vida já havia despontado e se fazia presente no Ressuscitado. Por que fixar-se no aspecto negativo da vida, já que a realidade vai muito além?
Os discípulos de Emaús retratam os cristãos desiludidos de todos os tempos, uma vez que não acreditam na possibilidade de se criar um mundo fraterno. São os pessimistas, centrados em si mesmos, incapazes de projetar-se para além dos próprios horizontes. Ou seja, são cristãos nos quais a ressurreição ainda não produziu frutos.
Só a descoberta do Ressuscitado permite ao cristão superar os reveses da vida. Aí então, ele se dará conta de que, apesar da cruz, vale a pena somar esforços para construir o Reino.
(O comentário do Evangelho é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado neste Portal a cada mês)
Oração
Espírito de otimismo, abre meus olhos para que eu perceba a presença do Ressuscitado junto de mim, e assim, reencontre a razão de viver.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. Os discípulos de Jesus
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)
Nhá Maria era uma senhora bem pobre que gostava muito de vir em nossa casa para receber alguma ajuda. Naquele tempo, o pedinte não era um estranho que causava medo e insegurança como hoje, e nós a acolhíamos na mesa da refeição, porque jamais minha mãe permitia que ela ficasse na porta ou na calçada, um filho de Deus tem que sentar-se á mesa, nos dizia sempre. Claro que os tempos eram outros e ninguém pensava em seqüestro ou assalto. Depois de ouvi-la atentamente, a conversa sempre terminava com a frase tão batida lá em casa, “Se for da vontade de Deus, tudo vai melhorar e dar certo”, que minha mãe dizia, enquanto preparava um cafezinho fresco que a Nhá Maria tomava antes de ir embora, toda agradecida, não sem antes ajudar a arrumar a cozinha.
Este evangelho mostra algo que hoje não se pratica muito em nossas relações: ouvir as pessoas, caminhar com elas, saber como está a vida, o que anda pensando ou sonhando, ou porque andam tristes. Passamos de carro, sempre apressados, e no máximo fazemos um aceno ou buzinamos para os conhecidos.
O caminhante que se junta aos dois peregrinos age diferente, percebe que estão tristes e desanimados, se junta a eles, quer saber o que aconteceu, qual a causa da tristeza, ouve com atenção e somente depois é que vai falar, não deixou suas inquietações sem uma resposta, não terminou a prosa com aquele jeito resignado “fazer o que, a vida é assim mesmo...” Como muitas vezes encerramos nossa conversa com alguém que está sofrendo ou desanimado. É bem verdade que os censurou por serem tão lerdos na compreensão da escritura antiga, mas a conversa foi agradável, marcada pela ternura, pois não se pode anunciar o evangelho com gestos bruscos e cara feia, como se quisesse dar uma lição de moral em quem ouve, isso é perda de tempo! O texto não deixa dúvidas quanto a isso, seus corações ficaram abrasados, enquanto Jesus lhes falava, levando-os a descoberta de algo novo, o sofrimento faz parte da vida, mas não é a última palavra.
Considerando-se a intencionalidade do autor, o texto trata de uma celebração eucarística, com duas partes bem distintas: a Palavra e a Eucaristia, aliás, coisa que nós cristãos herdamos do Judaísmo em uma junção da Sinagoga, lugar da reflexão da Palavra, e Templo, lugar do Sacrifício. Vivemos um tempo histórico diferente do que viveram esses discípulos, porém a situação é quase a mesma, achamos difícil perceber a presença do Senhor em meio a um quadro muitas vezes desolador, e a história de Emaús, mais parece uma bela lembrança. Eis uma fé distorcida e fragilizada como a dos dois discípulos peregrinos! No coração do Cristão, Jesus Ressuscitado na maioria das vezes é alguém distante de nossa vida e de nossos problemas, parece que o Jesus da história é um, e o Jesus da Salvação é outro.
Pois o evangelho desse domingo, belíssimo por sinal, nos mostra que na comunidade, em cada celebração a história se repete o Senhor nos questiona sobre o que estamos falando pelo caminho desta vida, em que acreditamos, quais são nossas aspirações, o que queremos ver realizado. A palavra que celebramos nos fala da vida de Jesus e de nossa vida também, ela nos encoraja porque penetra em nosso coração, não se restringindo a um mero rito.
Uma caminhada com uma prosa saudável e edificante, fortalecedora e motivadora, não tem coisa mais revigorante neste mundo, assim é que Jesus vem ao nosso encontro em cada domingo. A palavra de Jesus que caminha com eles, não é conversa fiada, lamentação e choramingos, porque as coisas não vão bem, em casa, na comunidade, no trabalho ou na política, Jesus é alguém diferente, que encontrou um sentido novo e sua palavra renovadora, fortalecedora é revigorante, porque nos faz dar a volta por cima, por isso, aos seus discípulos de ontem e de hoje, ele vem confirmar o seu projeto de salvação, anunciando que a morte e a força do mal, não têm nenhum poder sobre o Reino que ele instalou no meio dos homens.
E depois de uma boa conversa, em uma mesa de refeição, Cleofas e seu amigo de caminhada sentem que não podem mais viver sem aquele homem, e o acolhem no coração, quando o conhecem no partir do pão, onde o Senhor partilha com eles seus sonhos e projetos de vida, que ajudam a construir o reino novo.
Não tenhamos medo de percorrer o caminho de Emaús, onde levamos, é verdade, nossos desânimos e fracassos, mas diante da palavra que nos aquece o coração, , manifestemos o desejo de que o Senhor fique sempre conosco, “Fica conosco Senhor pois é tarde, e a noite vem chegando”. E no pão que se parte e reparte, nos fortalecemos, e voltamos com pressa á nossa comunidade, onde não há mais noite, mas na fé caminhamos com os irmãos e irmãs, diante da luz sempre reluzente que é o próprio Deus, presente em Cristo - Jesus!
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
2. O que andais conversando pelo caminho? - Lc 24,13-35
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por Côn. Celso Pedro da Silva, ‘A Bíblia dia a dia 2017’, Paulinas e disponibilizado no Portal Paulinas - http://comeceodiafeliz.com.br/evangelho)
Pedro dá testemunho da ressurreição e fala à multidão que o ouve. Jesus de Nazaré morreu pregado na cruz, mas Deus o ressuscitou dos mortos e lhe deu a glória. Fomos assim resgatados da vida fútil pelo precioso sangue de Cristo. Nossa fé e nossa esperança estão em Deus.
No dia da ressurreição, o primeiro dia da semana, dois discípulos conversam sobre o que tinha acontecido. Jesus se aproxima e caminha com eles sem que se deem conta de que era Jesus. Aquele era o dia mais alegre para toda a humanidade, mas eles estavam tristes. Pensavam saber o que tinha acontecido e tentavam explicar a Jesus a causa da sua tristeza, quando, na realidade, só Jesus sabia de fato o que tinha acontecido. Explicou-lhes, em todas as Escrituras, as passagens que se referiam a ele. Iluminou os acontecimentos com a Palavra de Deus.
Os discípulos pediram gentilmente que Jesus ficasse com eles, porque já era tarde e a noite vinha chegando. Sentaram-se para comer. Jesus então tomou o pão, pronunciou a bênção, partiu-o e deu a eles. Seus olhos se abriram, eles o reconheceram, e Jesus desapareceu. Voltaram logo a Jerusalém, onde ficaram sabendo que o Senhor tinha aparecido a Simão.
Conversem entre amigos sobre os acontecimentos do dia! Procurem interpretá-los à luz da Sagrada Escritura! Tirem conclusões e rezem juntos! Voltem para a vida diária, anunciem o que descobriram e fiquem atentos aos sinais dos tempos!
Homilia do 3º Domingo da Páscoa, por Pe. Paulo Ricardo

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