terça-feira, 20 de março de 2012

CRISTOLOGIA NOS SINÓTICOS

Sabemos que os Evangelhos, tais como nós os temos se situam num determinado estágio da vida da primeira comunidade cristã; nela, primeiro o “Evangelho” (Boa Nova) do reino de Deus, que se fez presente e próximo na pessoa de Jesus morto e ressuscitado, foi pregado de viva voz pelos doze e pelos outros discípulos em várias partes do mundo; depois, começou-se a colecionar por escrito alguns ditos do Senhor e episódios da sua vida, para servir às exigências da pregação, da liturgia, da vida da Igreja primitiva; somente após isto forma compostos os Evangelhos, que se referem tanto à pregação oral quanto à já escrita.


Cada um dos Evangelhos está profundamente ligado à vida da comunidade primitiva; cada um deles foi composto como livro da vida, não como livro de escola ou de arquivo, movido por interesses não cronológicos ou históricos, mas pelo serviço da fé, através do qual sente os problemas, as interrogações, os questionamentos, as perspectivas próprias da concreta comunidade cristã em que cada um dos evangelistas se insere e para a qual escreve, e ainda mostra a mentalidade, o estilo, a sensibilidade próprias de cada um dos autores. É sempre o mesmo Cristo que é anunciado, porém de modos diversos, sob pontos de vista diversos, a partir de problemáticas diversas.
Em Marcos
Marcos escreveu o seu Evangelho para os cristãos provenientes, sobretudo do paganismo: um mundo e um “clima cultural” cheio de “homens divinos”, gloriosos, autores de ações extarordinárias.
A estrutura geral é divida em duas secções: a primeira (1,1-8,26) tem como tema principal a revelação progressiva de messianidade de Jesus; a segunda (8,27-16,8) é toda orientada para a cruz. Substancialmente, no centro está sempre o messianismo de Jesus, mas na segunda parte, se fala claramente do messianismo “sofredor”...
Tomamos como ponto de referência a sua cristologia o título-programa posto no princípio do Evangelho: “Início do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (1,1). Este título de Filho de Deus é usado com muita sobriedade por Marcos; comparemos sobretudo em três textos importantes, que se referem a etapas centrais da existência de Jesus, a presença dele: o batismo (1,11), a transfiguração (9,7), a profissão de fé do centurião aos pés da cruz (15,39). Como entender os textos?
O batismo coloca a vocação messiânica de Jesus na linha do Servo de Iahweh de quem falou Isaías: uma ação de salvação marcada não pela glória ou pelo triunfo, mas pelo sofrimento e pela morte em favor dos outros.
A transfiguração é colocada depois do anúncio da paixão e esta em estreitíssima relação com esta: o evangelista quer fazer os discípulos intuírem que a cruz não é um fim em si mesma, embora encerre a “glória” da ressurreição.
Mas, sobretudo, é justamente diante de Jesus morimbundo que o primeiro pagão se converte: o centurião romano reconhece em Jesus o Filho de Deus, sem ver prodígios nem ações miraculosas, mas vendo-o morrer.
No seu Evangelho, está particularmente presente e faz sentir a sua influência o chamado “segredo messiânico”: o convite de Jesus, inúmeras vezes repetido por ocasião de alguns milagres, curas, profissões de fé particularmente explícitas.... para nada dizer a ninguém, para não revelar a coisa abertamente, para manter até o “segredo”.
Ele quer exatamente sublinhar que a paixão e a cruz fazem parte do plano de Deus, devem ser livremente assumidos por Jesus, e não contradizem de modo algum o seu ser Messias; pelo contrário, justamente por isto o seu messianismo se caracterizará, porque há de realizar-se no sofrer e no dar a vida.
Em Mateus
O ambiente em que nasceu o Evangelho de Mateus é o de judeu-cristãos, que conheciam muitíssimo bem o AT e captavam particularmente o mistério da vinda escatológica do Reino de Deus e da inserção neste dos pagãos ao lado, e mais, como que no lugar dos judeus; a estes seus cristãos Mateus deve, de um lado, fortalecer a fé esclarecendo como em Jesus se realizam efetivamente todas as promessas veterotestamentárias referentes ao Messsias, e de outro, apresentar argumentos que os ajudem a enfrentar o confronto com o judaísmo contemporâneo, explicando a relação entre o antigo Israel e a Igreja de Cristo. Ele é bem mais elaborado que o de Marcos, dividido fundamentalmente em cinco grandes discursos, cada um organizado em torno de um tema bem preciso.
A tese de Mateus é bem precisa: os discípulos de Cristo são o “verdadeiro Israel”, diversamente dos que se definem como Israel, mas que não o são mais, porque rejeitaram Jesus. É este, com efeito, o verdadeiro Filho de Davi, o verdadeiro Filho de Abraão. Jesus “cumpre” todas as Escrituras: é o que documentam, entre outras, as contínuas citações escriturísticas, freqüentíssimas. O seu ensinamento é a nova Torah que devemos acolher (5-7); é este um aspecto particularmente sublinhado por Mateus, em que a figura de Jesus se aproxima muito da de um “Mestre”, de um “rabino”.
Jesus é o Cristo: Aquele que “cumpre”, isto é, que realiza e supera todas as promessas feitas ao antigo Israel. E esta superação ocorre porque em Jesus está presente uma novidade radical, uma vinda de Deus imprevisível e insuperável: Ele é o Filho de Deus. O cumprimento e a superação das antigas promessas não valem só para o Messias (que não é um simples homem, mas o Filho de Deus).
A característica própria de Mateus pode ser considerada a de “Reino dos Céus”; em Jesus este Reino veio estabelecer-se entre nós, tornou-se próximo; na Igreja, ele se realiza e cresce até atingir seu cumprimento escatológico.
Em Lucas
Lucas que provém quase do paganismo, escreve para pagãos-cristãos, e mostra-se particularmente marcado pela experiência missionária de Paulo; compreende-se, pois, que a sua obra seja especialmente sensível ao significado do “tempo da Igreja” e da sua missão universalista.
No centro está Jerusalém, tendo uma posição como acontecia nas expectativas dos judeus: Deus é fiel ás suas promessas. A cidade, porém, está no centro de modo diferente, inesperado: em Jerusalém o Messias sofrerá a paixão e a morte por todos, e de Jerusalém a salvação se difundirá por toda parte. Não serão as nações que virão á cidade santa, mas será o Evangelho que irá ao encontro das nações.
Na teologia lucana, Jesus é, sobretudo o “Senhor” de toda a história e a sua existência é determinante para todas as várias épocas da humanidade. Com efeito, são características de Lucas os “ganchos” variados e preciosos que ele gosta de introduzir no seu Evangelho, relacionando este com a história de então, tanto a judaica quanto a do Império Romano; principalmente, ele insere Jesus na trama da história universal, a partir de Adão. A Jesus refere-se toda a história: Ele é na verdade o Senhor, o Kyrios.
É em Jesus, no seu agir, no seu comportamento, na sua pessoa, que se evidencia a “filantropia” do Pai: em toda a sua existência, Ele é o Salvador, desde o nascimento até a ascensão à direita de Deus. É reconhecido o destaque que o tema da “misericórdia” divina recebe no Evangelho de Lucas: o perdão e a salvação de Deus são para todos, sem distinções, sobretudo para os pecadores, e tudo isto aparece definitivamente em Jesus. E isto porque Jesus é o Filho, numa realização toda particular de intimidade como Pai. 

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