Concílio Vaticano II
Publicado em 25/06/2013
Grande momento do Concílio Vaticano II, os bispos decidem realizar o Concílio como um colégio apostólico em união com o papa.
Que longo caminho fez a Igreja no século 20! No Concílio Vaticano I, entre 1869 e 1870, participaram 744 bispos de um total de mil. A maioria da Europa, além de 121 padres das Américas, 41 da Ásia, 61 de ritos orientais, 18 da Oceania e só 9 de toda a África.
Já na primeira sessão do Concílio Vaticano II, em 1962, presentes 2.449 padres de 2.778 bispos convocados. Provinham de 116 países. Da Europa Ocidental eram 849; 601 da América Latina; 332 da América do Norte; 256 da Ásia; 174 do bloco comunista; 95 do mundo árabe; 70 da Oceania; e desta vez 250 bispos da África negra. Bom número (60%) não chegava aos 62 anos de idade, particularmente composto de jovens bispos vindos das Américas e da África por dezenas de nomeações do papa João XXIII a partir de 1959. O próprio papa fará na Basílica de São Pedro, a primeira sagração de um bispo negro, Charles Msakila, de Karema, Tanzânia, em 27 de dezembro de 1958. A África poderá falar ao mundo cristão pela voz dos mesmos africanos. Os orientais com sua riqueza e tradição poderão ser reconhecidos e não mais ignorados pelo mundo ocidental latino. Os momentos decisivos serão muitos e agora televisionados.
O Concílio será inédito quanto ao número. Dez mil pessoas atuarão nele, incluindo os auditores leigos, os casais, peritos, monges, religiosos, funcionários, tradutores e as dezenas de jornalistas. Será único por receber significativo número de bispos de países comunistas, exceto da China. Expressiva a presença dos bispos da Polônia, incluídos o jovem Karol Joseph Wojtyla (futuro papa), com passaporte especial da Santa Sé, e o primaz da Polônia, cardeal Wyszynski. A presença de bispos do Leste foi possível graças a um meticuloso trabalho do enviado papal, monsenhor Lardoni, que fora a Istambul, Turquia, tratar com o embaixador da Rússia a permissão de viagem pelas autoridades soviéticas. Emblemática será a participação do arcebispo de Praga, Tchecoslováquia, cardeal Josef Beran, direto da prisão para um exílio forçado até sua morte, em Roma, depois de três anos em prisões nazistas e de 14 anos incomunicável em cárceres comunistas.
Já na primeira sessão do Concílio Vaticano II, em 1962, presentes 2.449 padres de 2.778 bispos convocados. Provinham de 116 países. Da Europa Ocidental eram 849; 601 da América Latina; 332 da América do Norte; 256 da Ásia; 174 do bloco comunista; 95 do mundo árabe; 70 da Oceania; e desta vez 250 bispos da África negra. Bom número (60%) não chegava aos 62 anos de idade, particularmente composto de jovens bispos vindos das Américas e da África por dezenas de nomeações do papa João XXIII a partir de 1959. O próprio papa fará na Basílica de São Pedro, a primeira sagração de um bispo negro, Charles Msakila, de Karema, Tanzânia, em 27 de dezembro de 1958. A África poderá falar ao mundo cristão pela voz dos mesmos africanos. Os orientais com sua riqueza e tradição poderão ser reconhecidos e não mais ignorados pelo mundo ocidental latino. Os momentos decisivos serão muitos e agora televisionados.
O Concílio será inédito quanto ao número. Dez mil pessoas atuarão nele, incluindo os auditores leigos, os casais, peritos, monges, religiosos, funcionários, tradutores e as dezenas de jornalistas. Será único por receber significativo número de bispos de países comunistas, exceto da China. Expressiva a presença dos bispos da Polônia, incluídos o jovem Karol Joseph Wojtyla (futuro papa), com passaporte especial da Santa Sé, e o primaz da Polônia, cardeal Wyszynski. A presença de bispos do Leste foi possível graças a um meticuloso trabalho do enviado papal, monsenhor Lardoni, que fora a Istambul, Turquia, tratar com o embaixador da Rússia a permissão de viagem pelas autoridades soviéticas. Emblemática será a participação do arcebispo de Praga, Tchecoslováquia, cardeal Josef Beran, direto da prisão para um exílio forçado até sua morte, em Roma, depois de três anos em prisões nazistas e de 14 anos incomunicável em cárceres comunistas.
Consciência coletiva
O grande momento decisivo foi quando no segundo dia de trabalhos, 13 de outubro de 1962, depois de uma chuva torrencial em Roma, os bispos decidem realizar o Concílio como um colégio apostólico em união com o papa. Os bispos da Itália eram mais de 400, e acreditavam poder dirigir o encontro, mas nunca se encontraram como conferência episcopal. Tinha-se como certa a escolha das listas prévias da Cúria Romana. Um inédito pedido de dois membros da mesa diretora: cardeal Liénart de Lille, França, e cardeal Frings, de Köln, Alemanha, alterará todo o cenário. Solicitaram que a votação dos membros das comissões fosse adiada para que os bispos se conhecessem. As confêrencias episcopais puderam elaborar, então, novas listas, e nenhum italiano das listas prévias será eleito. Este será um momento nevrálgico para a consciência coletiva do evento conciliar. A maioria conciliar fará circular listas vitoriosas que trarão bispos como Manuel Larraín, Dario Miranda, Raul Silva Enriquez, Luigi Bertazzi e representantes dos orientais (patriarca Máximos) além de bispos jovens da África e Ásia que jamais seriam indicados pelas listas da Cúria. O próprio papa João XXIII dará seu apoio explícito ao gesto de colegialidade e comunhão dos bispos que assumiam assim o Concílio de fato e de direito, com maturidade. Irão rejeitar os 70 projetos prévios e farão tudo novo, bebendo das fontes da patrística e da fecunda produção de teólogos inovadores como Karl Rahner, Yves Congar e o jovem professor Joseph Ratzinger (o nosso atual papa).
Houve a ação preliminar de bispos profetas como Helder Câmara, João Batista Montini (o futuro papa Paulo VI), cardeal Suenens, da Bélgica, e cardeal Lercaro, de Bologna, Itália. Estavam sintonizados com a maioria dos padres e sensíveis aos novos desafios propostos pelo papa no discurso inaugural e visíveis no mundo. O espanto dos italianos será somado á a alegria dos novos bispos de todo o mundo católico que começarão a propor novos modos e novos esquemas teológicos de pensar e agir como Igreja universal e refletir esta nova identidade no seio do mundo moderno.
Lumen Gentium
Outro acontecimento decisivo é o processo da elaboração da Constituição Dogmática sobre a Igreja, Lumen Gentium, que é o texto central dos 16 documentos aprovados. A Igreja se afirma como comunhão de pessoas que marcham na história e vivem os dramas da condição humana, construindo o novo Povo de Deus, e comunica a mensagem alegre do Evangelho de Cristo a toda criatura: “Não desfaleça na perfeita fidelidade, mas permaneça sempre a Esposa digna do seu Senhor (LG 9)”. Como afirmará o perito brasileiro Guilherme Baraúna, em 1965: “A Lumen Gentium nada mais é que uma nova plataforma de lançamento e de projeção para o futuro. Ela injetou sangue novo na comunidade católica e cristã. Urge agora fazer que este novo plasma entre a fazer parte de sua circulação vital” (A Igreja do Vaticano II, Vozes, 1965, p. 26).
Algumas pérolas preciosas reencontradas pelo Concílio: uma Igreja entendida como comunhão de Igrejas particulares; os 140 observadores das Igrejas irmãs e de leigos ouvintes; uma Igreja não mais reivindicando domínio, mas liberdade; o sacerdócio batismal dos leigos como expressão corresponsável dos ministérios; a vivência adulta da liturgia por toda a comunidade dos fiéis; a relação estreita entre a Tradição e a Escritura, que faz com que o magistério não esteja acima da Palavra de Deus, mas a seu serviço (cf. Dei Verbum 9-10).
Dom Loris Capovilla, bispo emérito de Loreto, Itália, secretário pessoal de João XXIII, dirá que: “Hoje sabemos, melhor que ontem, quem somos e para onde vamos (Lumen Gentium), que idioma devemos falar e que mensagem devemos difundir (Dei Verbum), como e com que intensidade rezar (Sacrosanctum Concilium); que atitude assumir diante dos problemas e dramas da humanidade contemporânea (Gaudium et Spes). São “os quatro pilares que sustentam o edifício da renovada teologia pastoral e alentam a escutar a voz de Deus, a dirigir-se a Deus como filhos, e obrigam a dialogar com todos, os compromissos da família humana”.
As novidades foram muitas pelo sopro do Espírito Santo, mas a missão de aplicar e colher os frutos deste concílio ecumênico continua, pois como escreveu o padre Yves Congar: “A obra realizada é fantástica. Entretanto, resta tudo por fazer”.
* Fernando Altemeyer Junior é mestre em Teologia e Ciências da Religião pela Universidade Católica de Louvain-La-Neuve, na Bélgica, e doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e assistente doutor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Pertence ao Departamento de Ciências da Religião e escreve em revistas e periódicos sobre Teologia e Religião.
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