segunda-feira, 30 de setembro de 2019

HOMÍLIA DIÁRIA, COMENTÁRIO E REFLEXÃO DO EVANGELHO DO DIA 29/09/2019

ANO C


26º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Ano C – Verde

“Não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos” Lc 16, 31b

Lc 16,19-31

Ambientação

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Viver em função da riqueza provoca a insensibilidade fraterna, nega o valor da dignidade humana e empobrece a todos de alguma forma. Peçamos, portanto, neste dia da Bíblia, que a Palavra de Deus abra os nossos olhos e ouvidos para vermos a realidade e escutarmos o clamor dos Lázaros sofredores de nossa sociedade.

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, a cada Domingo que nos reunimos para o Dia do Senhor, a Liturgia vai nos propondo avaliar nossa adesão a Jesus. É preciso que confiemos plenamente no Senhor; que depositemos nossa esperança apenas nele e não na riqueza e no poder deste mundo. O que desejamos é alcançar a vida eterna e cultivar aqui e agora as sementes do Reino de Deus. Por isso o Senhor nos pedirá menos apego às coisas que passam e uma atenção para com os irmãos que vivem na pobreza, passam fome e são excluídos. Cada gesto nosso de solidariedade nos fará alcançar mais rapidamente a salvação que esperamos. Que esta Eucaristia nos transforme e que o louvor ao Pai, por Jesus, na força do Espírito Santo brote da sinceridade de nosso coração.

INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Pobreza e riqueza são tão antigas como o mundo. Mas sempre constituíram problemas. As interpretações e soluções são várias. Há os que ligam pobreza e riqueza à "sorte" e ao acaso. Os que vêem na pobreza o sinal de incapacidade e da desordem moral, e na riqueza o sinal e o prêmio da inteligência e da virtude. Para outros é precisamente o contrário: os honestos não enriquecem, porque para enriquecer é preciso ser um tanto inescrupuloso. Riqueza coincide com exploração do homem pelo homem; o rico é ladrão, pronto para tudo a fim de defender seus privilégios. Surge a desordem, a sociedade violenta. E surge o problema: como fazer justiça? Como dividir com justiça os bens da terra e o fruto do trabalho do homem? Como mudar a ordem das coisas? Aceitar a pobreza como consolação alienante para os pobres deste mundo ou tentar construir uma teologia de revolução a partir do evangelho é iludir-se e não captar o essencial que Cristo nos passa. No plano dos objetivos e dos meios, todos devem procurar soluções eficazes, ainda que os comportamentos possam divergir, e, os cristãos conquistados pela aventura do amor e que aceitam vivê-la verdadeiramente com Cristo e em seu seguimento estarão mais atentos em fazer com que a riqueza não degenere em novas opressões e novo legalismo.

Comentário do Evangelho

Quais os meios para entrar no Reino de Deus?

Os versículos 14 a 18 do capítulo 16 fazem a transição da parábola do administrador desonesto para o do rico e Lázaro.
Estes versículos nos deixam a impressão de que os fariseus amam o dinheiro (cf. v. 14) e exaltam em seus corações o que é detestável (até mesmo idolátrico) aos olhos de Deus (cf. v. 15). O que é um momento pobre para os fariseus é, na verdade, um grande momento, pois é um tempo em que todo homem se esforça por entrar no Reino de Deus (cf. v. 16), pela obediência à Lei (cf. v. 17). O que Jesus está tentando fazer ver aos fariseus é que, num tempo onde os meios para entrar no Reino de Deus estão na Lei de Deus, eles correm o risco de abraçar não a Lei, mas o que é abominável aos olhos de Deus.
É sobre esse pano de fundo que Jesus conta a parábola do rico e de Lázaro, nosso evangelho de hoje, em que se vive a vida como se a Lei não impusesse obrigações com relação ao próximo, como: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18). O desprezo pelo outro compromete o cumprimento dos mandamentos. Marcos no seu evangelho nos alerta para situação semelhante: “Abandonais o mandamento de Deus, apegando-vos à tradição dos homens” (Mc 7,8). Da região dos mortos (v. 23), o rico compreende que é a obediência à Lei o meio de entrar no Reino de Deus, por isso ele pede a Abraão que envie Lázaro ao seu irmão para alertá-lo (vv. 27-28). Mas Abraão insiste que eles já têm os meios: Moisés e os Profetas (v. 29.31), isto é, toda a Escritura, que é preciso ouvir (v. 29). Se eles rejeitam este meio, rejeitarão também Lázaro, ressuscitado dos mortos (cf. v. 31).
Cabe a eles, como também a nós, buscar os meios adequados, não quaisquer meios, mas os consignados na Escritura, para entrar no Reino de Deus. A Lei e os Profetas são dados para esta vida em vista do Reino de Deus.
Fonte: Paulinas em 29/09/2013

Vivendo a Palavra

O homem rico pedia aparições miraculosas de mortos para a conversão de seus parentes. Jesus ensina que a nossa opção deve ser feita diante de um milagre – sim, um milagre! – mas o milagre da vida e das relações com os irmãos. A Igreja é lugar de viver a fraternidade – caminho natural para o Reino de Deus.
Fonte: Arquidiocese BH em 29/09/2013

Vivendo a PalavrA

O homem rico pedia aparições miraculosas de mortos para a conversão de seus parentes. Jesus ensina que não precisamos disso: a nossa opção deve ser feita diante de um milagre – sim, um milagre! – mas o milagre diário da vida e das relações com os irmãos. Simples, assim! A Igreja é lugar de viver a fraternidade – caminho natural para o Reino de Deus.

Reflexão

TEMOS MISERICÓRDIA EM NÓS?

Lázaro passava necessidades, enquanto o homem rico fazia banquetes refinados todos os dias, sem se importar com o clamor daquele e de outros pobres. Não tinha misericórdia. Poderíamos dizer que era alguém que só pensava no próprio sucesso e não se compadecia dos sofredores, só levava em conta seu prazer e bem-estar. Em nossos dias, fala-se muito em ter sucesso, em conquistar o máximo de bens para si. Todos sabemos que bens materiais são importantes; por isso é que, inspirada em Jesus e em seu evangelho, a Igreja nos manda assistir os necessitados em suas dificuldades, partilhar o pão com os famintos, proporcionar refúgio aos desabrigados. No entanto, o evangelho nos ensina a viver com o necessário. Quem deseja ser discípulo de Jesus não pode fazer do bem-estar, do conforto, o principal objetivo da vida.
A parábola de Lázaro e do rico nos faz considerar uma verdade de nossa fé: quem só pensa em si mesmo e não é sensível aos sofrimentos dos outros fica longe do reino de Deus, por mais dinheiro que tenha, por mais riqueza que possua. Existe até uma propaganda de cartão de crédito que diz que o dinheiro não compra tudo, mas parece que muitos ainda não se convenceram disso e têm como meta de vida possuir mais e mais. O evangelho não está sugerindo que devemos ser displicentes ou desorganizados com nossas finanças, mas quer chamar a nossa atenção para o que é mais importante na vida. Vamos ouvir agora, enquanto temos tempo, “a Lei e os profetas”. A vida passa rápido, e o tempo perdido não volta.
Muita gente não desperdiça uma ocasião sequer de ganhar dinheiro. Não há problema nisso se não está trapaceando ou prejudicando alguém. No entanto, como discípulos e missionários de Jesus, não nos convém desperdiçar as ocasiões de fazer o bem a alguém. Lázaro estava passando fome e precisando de cuidados médicos. O rico o ignorava. A companhia do pobre eram os cachorros, que vinham lamber suas feridas. Talvez o evangelho queira nos dizer que quem ignora o sofrimento dos outros, quem não cuida do irmão, está abaixo dos cães, dos animais. Tudo isso não deve nos levar a julgar as outras pessoas, mas fazer um exame de consciência. Cada pessoa se pergunte: estou cuidando do meu próximo ou só penso em minhas necessidades?
Senhor, fazei-nos instrumentos de paz e amor!
Claudiano Avelino dos Santos, ssp
Fonte: Paulus em 29/09/2013

Reflexão

ABISMO ENTRE RICOS E POBRES

Pobreza e riqueza, eis uma questão presente no evangelho de hoje que se torna assunto de encontros e conferências ao longo do tempo e nos lugares mais remotos.
Há várias interpretações para a existência de pobreza e riqueza, pobres e ricos: muitos ligam pobreza e riqueza à sorte e ao acaso; outros veem na pobreza sinal de incompetência e preguiça e na riqueza prêmio de competência e dedicação. A verdade é que a pobreza deve ser combatida e a riqueza partilhada.
Segundo a parábola, o rico não é condenado por ser explorador, por tratar mal seus empregados, por este ou aquele ato, mas porque, enquanto se banqueteava em “festas esplêndidas”, não via o pobre faminto em frente à sua casa. Foi insensível e indiferente à necessidade do pobre. Eis o grande pecado de hoje, o abismo que separa ricos e pobres: a indiferença, que pode tornar-se definitiva, permanente, até a eternidade.
O perigo da riqueza mostra-se real quando desumaniza a pessoa, tornando-a insensível e indiferente à realidade de miséria e sofrimento de muitos filhos e filhas de Deus. A razão de ser dos bens, fruto do trabalho de todos, é a promoção de todas as pessoas da sociedade.
Muitos países ricos estão construindo um abismo, fechando a porta a imigrantes que buscam – em meio à angústia e necessidades – vida com dignidade. Nações ou grupos multinacionais controlam a riqueza e fazem dela fonte de divisões em favor de seu domínio econômico.
Há também o abismo da discriminação e da intolerância derivada da cor, do gênero e da cultura – esquecendo que nos tornamos mais humanos quando nos relacionamos com a diversidade e a aceitamos.
O planeta Terra é a casa de todos ou a “casa comum”, onde convivemos com todos e nos sentimos em nosso próprio lar, usufruindo dos frutos do trabalho humano e dos bens – dons de Deus – que a própria natureza nos fornece.
Pe. Nilo Luza, ssp
Fonte: Paulus em 29/09/2013

Reflexão

Jesus conta esta parábola para os fariseus. A narrativa gira em torno do conflito social entre ricos e pobres, tema muito caro a Lucas. O rico se veste de luxo, tem comida farta, muitos amigos e grande família, mas não tem nome. O pobre, faminto, vê de longe o desperdício de comida, sozinho, sem ninguém para ampará-lo, e ferido: só os cachorros se solidarizam ao lamber-lhe as feridas. Mas ele tem nome: Lázaro (= Deus ajuda). A riqueza é o grande abismo que separa um do outro. Os dois morrem: o rico foi enterrado, e o pobre, levado ao seio de Abraão. O diálogo entre o defunto rico e o pai Abraão é interessante porque nos mostra o caminho da superação do abismo entre ricos e pobres: a Palavra de Deus. O Brasil é um dos países campeões de disparidade entre ricos e pobres. Dado questionador: seis brasileiros mais ricos possuem a mesma riqueza de cem milhões de brasileiros mais pobres (dado de 2017). A desgraça da riqueza é quando ela se torna “mamona” (como diz Lucas), um dono possessivo que exige amor e fidelidade e que consiste num grande obstáculo ao Reino de Deus. O amor à riqueza torna cega a pessoa e a desfigura socialmente. A função social da riqueza é favorecer o bem-estar de todo cidadão. É preciso ouvir a Palavra de Deus para superar o abismo intransponível que separa ricos de pobres e para vencer as práticas de acúmulo que favorecem poucas pessoas em detrimento de muitos “Lázaros” humilhados.
(Dia a dia com o Evangelho 2019 - Pe. Luiz Miguel Duarte, ssp)

Meditação

Você é rico? Em que consiste sua riqueza? - Você é pobre? Pobre de que coisas? - Sua riqueza espiritual lhe dá sentido à vida? -  Como você encara seus irmãos pobres de bens materiais? -  Você participa de alguma obra que socorre os necessitados?
Padre Geraldo Rodrigues, C.Ss.R

Meditando o evangelho

APELO À CONVERSÃO

A parábola do rico e do pobre Lázaro comporta um apelo à conversão, especialmente dirigido a quem está tão preocupado com os prazeres desta vida, a ponto de se tornar insensível às carências de seus semelhantes, mormente, os mais pobres.
A primeira cena exibe o rico, cujo nome é omitido, gozando os prazeres da vida, vestindo roupas caras e banqueteando-se esplendidamente. À sua porta, jaz um mendigo doente, de nome Lázaro, que significa "Deus ajuda", coberto de feridas. Nada lhe chega da mesa do rico que possa saciar-lhe a fome. Suas chagas são lambidas por cães vagabundos, os quais Lázaro não tem força para afastar.
A morte, porém, inverte as posições. Lázaro recebe a ajuda de Deus, por quem é acolhido. O rico, porém, é brindado com um destino de tormentos indizíveis, no inferno. Só, então, dá-se conta do quanto fora insensato, despreocupando-se com a própria salvação. Era tarde demais! O rico havia desperdiçado o tempo posto à sua disposição, escolhendo um modo de vida egoísta e folgazão.
Caminho igualmente escolhido por seus cinco irmãos. Também eles recusavam-se a dar ouvido às Escrituras. Nem mesmo um milagre espetacular, como a ressurreição de um morto, seria suficiente para chamá-los à sensatez. Logo, estavam escolhendo a mesma sorte do irmão defunto, se não se convertessem imediatamente.
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE  e disponibilizado no Portal Dom Total).
Oração
Espírito de sensatez, ensina-me a aproveitar o tempo que me é concedido para viver o amor, solidário com os pobres, de forma a me preparar para o encontro com o Senhor.

COMENTÁRIOS DO EVANGELHO

1. A recompensa da riqueza mal utilizada
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)

Não se pode ler esse evangelho sob a ótica de alguma ideologia humana, pois se corre o risco de interpretar que os ricos vão para o inferno e os pobres para o céu. O evangelista, ao refletir com as suas comunidades, não estava nenhum pouco preocupado com a questão social, mas sim com algo que é muito mais importante: a abertura que damos a Deus, a sua palavra, a sua Salvação e á sua Graça Santificante.
O pobre Lázaro não têm muitos méritos para ir ao céu, aqui chamado de seio de Abraão, é um homem extremamente carente e que vive de esmolas, não fala que ele era bom, juto, amável, que frequentava comunidade. O Rico, que nem nome tem, curte a sua riqueza esbanjando seus bens, regalando-se com banquetes todos os dias. O evangelho nem menciona que o rico passava indiferente pelo esmoleiro chamado Lázaro. Talvez isso até ocorresse, já que Lázaro esmolava no portão da entrada do Palácio do Rico.
Parece que o pobre entrou nesse evangelho como “âncora”, para que o evangelista possa falar do pecado do rico, que, confiando unicamente em sua riqueza, apostou nela todas as suas fichas e nunca sentiu necessidade de se abrir á Deus e a tudo o que ele nos oferece. Só na outra vida é que “caiu a ficha”, pois descobre (tarde demais, diga-se de passagem) que há algo mais importante do que a riqueza: a Salvação que vem unicamente pela Graça, sua sede terrível mostra que ele não a tinha e imagina ingenuamente que poderá tê-la,e que um “pouquinho” já será suficiente.
O tal que se banqueteava na fartura, agora se contenta com uma minúscula gotinha de água da Salvação. Tarde demais...
O fato de não ter-se aberto á Salvação ainda em vida, criou um abismo entre ele e Deus e consequentemente com as pessoas, isolando-se em um terrível egocentrismo, o mesmo mal que hoje em dia corrói a alma e o coração de muitos.
Quem se abre a Graça de Deus e a sua Salvação, irá se relacionar com ele, porque o descobrirá nos mais carentes. Essa é a verdadeira religião, á que nos leva a Deus, passando antes pelo próximo. O resto é a Religião da Mentira que leva a pessoa ao mesmo lugar de tormento onde foi parar aquele Ricaço. Daí, qualquer arrependimento será inútil, porque daí, como dizia minha saudosa mãe “A Inês já é morta”.
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP

2. Um pobre, chamado Lázaro
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por Côn. Celso Pedro da Silva, ‘A Bíblia dia a dia 2017’, Paulinas e disponibilizado no Portal Paulinas - http://comeceodiafeliz.com.br/evangelho)

A parábola do rico festejador e do pobre Lázaro é mais um tema sobre o uso dos bens deste mundo, uma das preocupações de São Lucas. O discípulo de Jesus pode tropeçar muito em seu caminho se não souber administrar com liberdade os bens deste mundo.
A parábola fala de um homem rico e elegante que fazia festas diariamente, e de um pobre que ficava na porta do rico esperando alguma sobra para comer. Cachorros vinham lamber as feridas do pobre. Os dois morreram. Os anjos levam o pobre para junto de Abraão. O rico é sepultado e vai para um lugar de tormentos.
O profeta Amós ataca fortemente os que vivem seguros e despreocupados, cercados de belas mobílias e alimentados em saborosos banquetes, que podem estar em festas com música e bebida, que usam perfumes finos, mas não se importam com a sorte do povo. Um dia, diz o profeta, eles estarão na primeira fila dos deportados e acabará a quadrilha dos que zombam dos outros.
Na parábola de Jesus, o rico é de tal forma rebaixado que nem nome tem, enquanto o pobre se chama Lázaro. A distância entre os dois depois da morte é intransponível. Um não pode passar para o lado do outro. Vendo que não pode receber uma ajuda de Lázaro, o rico pede a Abraão que mande Lázaro voltar e visitar sua família e explicar a todos o que acontece no outro lado da vida, quem será o vitorioso, o que vale a pena e o que não interessa. Eles têm a Bíblia, diz Abraão. Que a leiam e pratiquem. Nela está a revelação do que Deus quer e do que é decisivo na vida humana. Tudo está ao alcance deles. Eles não precisam que um morto volte a eles para lhes falar.
A parábola nos leva a uma opção muito clara, a opção pelo pobre. A salvação está do lado de Lázaro. Se pensarmos em vitória, sucesso ou bom êxito, Lázaro é o vencedor. Estar do lado do pobre supõe clareza de visão e radicalidade de opção.
“Ai de mim se não evangelizar”, dizia São Paulo. É preciso ensinar qual é o caminho seguro. O apóstolo dá conselhos práticos a Timóteo: fugir das coisas perversas, procurar a justiça, a piedade, a fé, o amor, a firmeza, a mansidão. Tais virtudes não se encontravam nem no rico nem em Lázaro. Os dois representam extremos. Tais virtudes supõem um nível humano de equilíbrio. É preciso que Timóteo esteja com Lázaro e ambos se aproximem do rico para que este não fabrique Lázaros, ou ao menos para que ele perceba Lázaro em sua porta.

Liturgia comentada

No outro mundo... (Lc 16, 19-31)
Notável a parábola do “rico indiferente”, ou melhor, a “parábola dos seis irmãos”, como sugere J. Jeremias (“As Parábolas de Jesus”, Ed. Paulinas, 1983). Parábola que pode ser lida com humor ou com tremor...
Uma narrativa em dois tempos: neste mundo, o pobre entre dores e o rico entre gozos; no outro mundo, posições invertidas. E... para sempre, sem remissão... Detalhe curioso: é a única parábola de Jesus em que um dos personagens tem nome: Lázaro (ou Eleazar), que significa, em hebraico, “Deus ajuda”. Já o apelido do rico indiferente – Epulão – é posterior e não consta do original.
Entre os dois “tempos”, a morte como um limiar e uma virada, que tudo multiplica por (–1), invertendo todos os valores. O mendigo sofredor acaba no “seio de Abraão” (imagem do Céu), enquanto o rico gozador acaba atormentado no inferno (dispensa imagens!). O rico tenta um recurso paradoxal: pede a Abraão uma espécie de mediação do próprio Lázaro, para refrescar sua sede infernal. O mesmo que, antes, negara migalhas de pão, agora súplica por uma gota d’água...
Como isto era impossível, pois um abismo intransponível (chaos magnum, em latim) impede o contato entre céu e inferno, o condenado mostra preocupação com seus cinco irmãos que ainda vivem na terra e – supõe-se – viviam um estilo de vida semelhante ao que ele mesmo havia escolhido. Pede que o fantasma de Lázaro vá alertá-los. E ouve do Pai Abraão a resposta: “Eles têm Moisés (a Palavra escrita, lógos) e os Profetas (a Palavra viva, rhema). Basta ouvi-los!”
O ricaço ainda argumenta que a aparição de um morto teria mais impacto e os levaria à conversão. E a crua resposta: quem não ouve a Lei e as Profecias, também não daria ouvidos a um morto...
Quantas lições para nós! Não se vive impunemente. Há uma retribuição proporcional. Ficar surdo à Lei de Deus é coisa séria, de graves consequências. A indiferença ao pobre é mortal!
Prefiro, contudo, fixar-me em uma única lição: existe um OUTRO MUNDO. Este mundo não é o único. Aliás, este é provisório, passageiro. O outro, sim, é definitivo, tecido de eternidade. E viver como se nada houvesse além deste mundo, é pura insanidade!
Para que mundo nós estamos vivendo?
Orai sem cessar: “A ti, Senhor, o pobre se abandona confiante!” (Sl 10, 14)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Fonte: NS Rainha em 29/09/2013

Comentário

O rico e Lázaro
COITADO, SÓ TEM DINHEIRO!

I. INTRODUÇÃO GERAL

As leituras do 26º domingo comum dificilmente deixarão insensível o coração do verdadeiro cristão. Trazem uma contundente crítica à ganância, que, esta sim, torna insensíveis as pessoas. As leituras de hoje trazem um forte chamamento à conversão à solidariedade e à justiça social para a transformação de uma realidade injusta e iníqua, segundo a vontade de Deus. Essa necessidade de conversão não é apenas para os ricos, mas também para os pobres que têm coração e mentalidade de ricos e para todos os que não abrem os olhos para a realidade social injusta.

II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

1. I leitura (Am 6,1a.4-7)

Mais uma vez (como no domingo passado) Amós, mestre da ironia profética (veja as “vacas de Basã”, Am 4,1), critica a “sociedade de consumo” de Samaria e de Jerusalém (Sião). Os ricos, especialmente os da corte real, aproveitam a vida sem se importar com a “casa de José”, ou seja, com a ruína do povo. A “casa de José” são as tribos de Efraim e Manassés, filhos de José do Egito, que constituíram o reino do Norte (Samaria). José, porém, distribuía alimentos ao povo, enquanto os donos de Samaria tiravam o pão do povo. Por isso, essa elite tem que ir ao cativeiro, para aprender o que é a justiça e o direito.
Na leitura da semana passada, Amós revelava a ambiguidade dos ricos comerciantes da Samaria. Hoje, censura-lhes a irresponsabilidade. Denuncia o luxo e a luxúria das classes dominantes. Evoca ironicamente a gloriosa história antiga: os ricos, porque têm uma cítara para tocar, acham que são cantores como Davi… enquanto o povo é ameaçado pela catástrofe da injustiça social e da invasão assíria. Por isso, esses ricaços sairão ao exílio na frente dos deportados…

2. Evangelho (Lc 16,19-31)

A insensibilidade pelo sofrimento do pobre é também o tema da leitura evangélica deste domingo, a parábola do ricaço e do pobre Lázaro, Lc 16,19-31. Nesta parábola, própria de Lucas, o narrador acentua o perigo da riqueza. Mostra a insensibilidade de quem vendeu sua alma em troca de riqueza – quem é tão pobre que só possui dinheiro!
A descrição do pobre e de sua contrapartida, o ricaço, é extremamente viva. As sobras da mesa do rico não vão para o pobre, mas para o cachorro. Parece que é hoje. Significativo é que Lázaro tem nome, e seu nome quer dizer: Deus ajuda. O rico não tem nome, é ignominioso. Quando então sobrevém a morte, igual para ambos, o quadro se inverte. Lázaro vai para “o seio de Abraão” (é acolhido por Abraão no lugar de honra do banquete, podendo reclinar-se sobre seu lado). O rico, entretanto, vai para o xeol, a região dos mortos, onde passa por tormentos. Há entre os dois um abismo intransponível, de modo que Lázaro não poderia nem dar ao ricaço um pouco de água na ponta do dedo para aliviar-lhe o calor infernal. Na realidade, esse abismo já existia antes da morte – o abismo entre ricos e pobres –, mas com a morte tornou-se intransponível, definitivo. Então, o rico pede que Lázaro possa avisar seus irmãos, que vivem do mesmo jeito como ele viveu. Mas Abraão responde: “Eles têm Moisés e os profetas. Nem mesmo se alguém ressuscitasse dos mortos, não acreditariam nele”: alusão a Cristo.
Dureza, isolamento, incredulidade: eis as consequências do viver para o dinheiro. Podemos verificar esse diagnóstico em redor de nós, cada dia, e, provavelmente, também em nós mesmos. A pessoa só tem um coração; se o coração se afeiçoa ao dinheiro, fecha-se ao irmão.
Os ricos são infelizes porque se rodeiam de bens como de uma fortaleza. É a impressão que suscitam hoje os condomínios fechados. São “incomunicáveis”. As pessoas vivem defendendo-se a si e a suas riquezas. Os pobres não têm nada a perder. Por isso, “as mãos mais pobres são as que mais se abrem para tudo dar”.
Em nosso mundo de competição, a riqueza transforma as pessoas em concorrentes. A riqueza é vista não como “gerência” daquilo que deve servir para todos, mas como conquista e expressão de status. Tal atitude marca a riqueza financeira (capitalização sem distribuição), a riqueza cultural (saber não para servir, mas para sobrepujar) e a riqueza afetiva (possessividade, sem verdadeira comunhão). Considera-se a riqueza recebida como posse em vez de “economia” (palavra grega que significa: gerência da casa). Não se imagina o tamanho deste mal numa sociedade que proclamou o lucro e a competição como seus dinamismos fundamentais. Até a afetividade transforma-se em posse. As pessoas não se sentem satisfeitas enquanto não possuem o objeto de seu desejo, e, quando o possuem, não sabem o que fazer com ele, passando a desejar outro… Não sabem entrar em comunhão. Assim, a parábola de hoje é um comentário do “ai de vós, ricos” (Lc 6,24).

3. II leitura (1Tm 6,11-16)

A 2ª leitura de hoje não participa da temática principal da 1ª leitura e do evangelho, mas completa-a, no sentido de apresentar o contrário da dureza e avareza.
Imediatamente antes do trecho de hoje, a primeira Carta a Timóteo fala da avareza, que chega a abalar a fé (6,10). Também os ministros da Igreja devem cuidar-se dela. Depois, positivamente, exorta Timóteo a cultivar as boas virtudes (6,11-12), a ser fiel à profissão da fé (6,12.13), confiada a ele por Cristo, até sua volta (6,14.15-16). A Igreja está no tempo do crescimento; deve conservar o que lhe é confiado.
O testemunho de Cristo neste mundo não é nada pacífico. É uma luta: o bom combate. Importa travar esta luta – como o fez Paulo – até o fim, para que vivamos para sempre com aquele que possui o fim da História. (Poder-se-iam acrescentar à leitura os versículos que seguem, 1Tm 6,17-19, e que são uma lição do que o cristão deve fazer com seus bens.)

III. PISTAS PARA REFLEXÃO

A riqueza que endurece: ouvimos as censuras de Amós contra os ricos da Samaria, endurecidos no seu luxo e insensíveis ao estado lamentável em que se encontra o povo. Jesus, no evangelho, descreve esse tipo de comportamento na inesquecível pintura do ricaço e seus irmãos, que vivem banqueteando-se, enquanto desprezam o pobre Lázaro, mendigo sentado à porta. Quando morre e vai ao xeol, o rico vê, de longe, Lázaro no céu, com o pai Abraão e todos os justos. Pede a Lázaro que venha com uma gota d’água aliviar sua sede. Mas é impossível. O rico não pode fazer mais nada, nem sequer consegue que Deus mande Lázaro avisar seus irmãos a respeito de seu erro. Pois, diz Deus, nem mandando alguém dentre os mortos eles não acreditam. Imagine, se mesmo a mensagem de Jesus ressuscitado não encontra ouvido!
E nós? Nós continuamos como o rico e seus irmãos. Os pobres morrem às nossas portas, onde despejamos montes de comida inutilizada… (Alguma prefeitura poderia talvez organizar a distribuição das sobras dos restaurantes para os pobres.) Será que devemos criar uma nova estrutura na sociedade, de modo que não haja mais necessidade de mendigar nem supérfluos a despejar? Isso certamente aliviaria, ao mesmo tempo, o problema social e o problema ecológico, pois o meio ambiente não precisaria mais acolher os nossos supérfluos. Mas, ao contrário, cada dia produzimos mais lixo e mais mendigos.
O exemplo do rico confirma a mensagem de domingo passado: não é possível servir a Deus e ao dinheiro. Quem opta pelo dinheiro afasta-se de Deus, de seu plano e de seus filhos. Talvez decisivamente.
m teoria, aceitamos essa lição. Mas ficamos por demais no nível pessoal e interior. Procuramos ter a alma limpa do apego ao dinheiro e, se nem sempre o conseguimos, consideramos isso uma fraqueza que Deus há de perdoar. Mas não fazemos a opção por Deus e pelos pobres em nível estrutural, ou seja, na organização de nossa sociedade, de nosso sistema comercial etc. Temos até raiva de quem quer mudar a ordem de nossa sociedade. Prendemo-nos ao sistema que produz os milhões de lázaros às nossas portas. Pior para nós, que não teremos realizado a justiça, enquanto eles estarão na paz de Deus.
A “lição do pobre Lázaro” só produzirá seu efeito em nós, “cristãos de bem”, se metermos a mão na massa para mudar as estruturas econômicas, políticas e sociais de nossa sociedade. Porém, que adiantariam novas estruturas se também não se renovassem os corações? Quem conhece a história sabe que nenhuma estrutura social ou econômica é definitiva, porque é fruto do trabalho humano, que é sempre provisório. As estruturas mais justas não dispensam a sensibilidade por aquele que sofre, e é assumindo nossa responsabilidade diante do sofrimento de cada um, na dedicação ao amor fraterno, que cuidaremos também de tornar mais fraternas as próprias estruturas da sociedade.
Pe. Johan Konings, sj
Nascido na Bélgica, reside há muitos anos no Brasil, onde leciona desde 1972. É doutor em Teologia e licenciado em Filosofia e em Filologia Bíblica pela Universidade Católica de Leuven (Lovaina). Atualmente, é professor de Exegese Bíblica na Faje, em Belo Horizonte. Entre outras obras, publicou: Descobrir a Bíblia a partir da liturgia; A Palavra se fez livro; Liturgia dominical: mistério de Cristo e formação dos fiéis – anos A - B - C; Ser cristão;
Evangelho segundo João: amor e fidelidade; A Bíblia nas suas origens e hoje.
Fonte: Vida Pastoral em 29/09/2013

REFLEXÕES DE HOJE

29 DE SETEMBRO-DOMINGO

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HOMILIA DIÁRIA

Não construa sua riqueza em cima da miséria alheia

Onde vivemos, há ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres. Muitas vezes, a riqueza de alguns é construída em cima da miséria de muitos.

“Filho lembra-te que tu recebeste teus bens durante a vida e Lázaro, por sua vez , os males. Agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado” (Lc 16,25).

Um dos Evangelhos que relata, de forma muito clara, o drama que vive a comunidade desde os seus primórdios. O Evangelho nos mostra duas realidades. De um lado, a do rico que tudo tem, que tudo pode, que esbanja dos bens que tem, das posses, do dinheiro e de tudo aquilo que as riquezas podem dar a uma pessoa. E do outro lado, o pobre Lázaro praticamente miserável, que vive das misérias, da boa vontade das pessoas quando lhe dão algo para comer ou para poder sobreviver, de modo que ele vive jogado nas ruas, até os cachorros lambiam suas feridas.
No mundo em que nós vivemos, existem muitos ricos como no Evangelho de hoje; não existe pecado nenhum em ser rico, não existe mal nenhum em ter bens, em trabalhar honestamente, em adquirir posses e riquezas. O único mal é quando você olha a riqueza pela riqueza, faz dela o seu triunfo e coloca nela o sentido da sua vida, e você não pode olhar mais além; e pior ainda quando você se torna rico e não se lembra dos pobres.
Onde vivemos, há ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres. Muitas vezes, a riqueza de alguns é construída em cima da miséria de muitos.
Muitas vezes, o rico não se lembra de tratar com dignidade, com respeito e até promover a dignidade daqueles que estão sofrendo na miséria; por isso o Evangelho de hoje apresenta para nós o destino final da humanidade. O rico que vai sofrer os tormentos do inferno e o pobre que vai receber o consolo de Deus. Lá, o rico vai pedir o consolo ao pobre para vir em seu socorro, mas Abraão, representando o pai eterno, diz que é um abismo que separa quem está no céu de quem está no inferno.
Hoje, pobres e ricos podem conviver juntos pelo menos no mesmo planeta. É óbvio que um abismo social enorme os separa. É nosso papel, é nosso dever em cima daquilo que nos ensina o Evangelho, a Doutrina Social da Igreja. Trabalharmos e nos empenharmos, cada vez mais, para que a pobreza desapareça e para que menos pessoas passem por necessidades. Cuidemos dos pobres, porque a carne dos pobres, desprezados e sofridos, é a carne do próprio Jesus.
Deus abençoe você!
Padre Roger Araújo
Sacerdote da Comunidade Canção Nova, jornalista e colaborador do Portal Canção Nova.
Fonte: Canção Nova em 29/09/2013

Oração Final
Pai Santo, dá-nos sabedoria para viver fraternalmente com os companheiros que colocaste perto de nós nesta jornada. Que sejamos testemunhas para o mundo do quanto nos sentimos amados por ti, e da esperança/certeza do teu Reino. Pelo Cristo Jesus, teu Filho e nosso Irmão, na unidade do Espírito Santo.
Fonte: Arquidiocese BH em 29/09/2013

Oração FinaL
Pai Santo, dá-nos sabedoria para viver em Paz com os companheiros que colocaste perto de nós para caminhar nesta terra encantada que nos emprestas para ser cuidada, usufruída e partilhada. Que testemunhemos diante do mundo o quanto nos sentimos envolvidos por teu Amor, e a esperança/certeza de que temos o teu Reino já presente em nós. Pelo Cristo Jesus, teu Filho e nosso Irmão, na unidade do Espírito Santo.

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