ANO C

26º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Ano C – Verde
“Não
acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos” Lc 16, 31b
Lc 16,19-31
Ambientação
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Viver em função da
riqueza provoca a insensibilidade fraterna, nega o valor da dignidade humana e
empobrece a todos de alguma forma. Peçamos, portanto, neste dia da Bíblia, que
a Palavra de Deus abra os nossos olhos e ouvidos para vermos a realidade e
escutarmos o clamor dos Lázaros sofredores de nossa sociedade.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE
DEUS: Irmãos e irmãs, a cada Domingo que nos reunimos para o Dia do Senhor, a
Liturgia vai nos propondo avaliar nossa adesão a Jesus. É preciso que confiemos
plenamente no Senhor; que depositemos nossa esperança apenas nele e não na
riqueza e no poder deste mundo. O que desejamos é alcançar a vida eterna e
cultivar aqui e agora as sementes do Reino de Deus. Por isso o Senhor nos
pedirá menos apego às coisas que passam e uma atenção para com os irmãos que
vivem na pobreza, passam fome e são excluídos. Cada gesto nosso de
solidariedade nos fará alcançar mais rapidamente a salvação que esperamos. Que
esta Eucaristia nos transforme e que o louvor ao Pai, por Jesus, na força do
Espírito Santo brote da sinceridade de nosso coração.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Pobreza e riqueza são
tão antigas como o mundo. Mas sempre constituíram problemas. As interpretações
e soluções são várias. Há os que ligam pobreza e riqueza à "sorte" e
ao acaso. Os que vêem na pobreza o sinal de incapacidade e da desordem moral, e
na riqueza o sinal e o prêmio da inteligência e da virtude. Para outros é
precisamente o contrário: os honestos não enriquecem, porque para enriquecer é
preciso ser um tanto inescrupuloso. Riqueza coincide com exploração do homem
pelo homem; o rico é ladrão, pronto para tudo a fim de defender seus
privilégios. Surge a desordem, a sociedade violenta. E surge o problema: como
fazer justiça? Como dividir com justiça os bens da terra e o fruto do trabalho
do homem? Como mudar a ordem das coisas? Aceitar a pobreza como consolação
alienante para os pobres deste mundo ou tentar construir uma teologia de
revolução a partir do evangelho é iludir-se e não captar o essencial que Cristo
nos passa. No plano dos objetivos e dos meios, todos devem procurar soluções
eficazes, ainda que os comportamentos possam divergir, e, os cristãos
conquistados pela aventura do amor e que aceitam vivê-la verdadeiramente com
Cristo e em seu seguimento estarão mais atentos em fazer com que a riqueza não
degenere em novas opressões e novo legalismo.
Comentário do Evangelho
Quais os meios para entrar no Reino de Deus?
Os versículos 14 a 18 do capítulo 16 fazem a
transição da parábola do administrador desonesto para o do rico e Lázaro.
Estes versículos nos deixam a impressão de que os
fariseus amam o dinheiro (cf. v. 14) e exaltam em seus corações o que é
detestável (até mesmo idolátrico) aos olhos de Deus (cf. v. 15). O que é um
momento pobre para os fariseus é, na verdade, um grande momento, pois é um
tempo em que todo homem se esforça por entrar no Reino de Deus (cf. v. 16),
pela obediência à Lei (cf. v. 17). O que Jesus está tentando fazer ver aos
fariseus é que, num tempo onde os meios para entrar no Reino de Deus estão na Lei de Deus, eles correm o risco de abraçar não a
Lei, mas o que é abominável aos olhos de Deus.
É sobre esse pano de fundo que Jesus conta a
parábola do rico e de Lázaro, nosso evangelho de hoje, em que se vive a vida
como se a Lei não impusesse obrigações com relação ao próximo, como: “Amarás o
teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18). O desprezo pelo outro compromete o
cumprimento dos mandamentos. Marcos no seu evangelho nos alerta para situação
semelhante: “Abandonais o mandamento de Deus, apegando-vos à tradição dos
homens” (Mc 7,8). Da região dos mortos (v. 23), o rico compreende que é a
obediência à Lei o meio de entrar no Reino de Deus, por isso ele pede a Abraão
que envie Lázaro ao seu irmão para alertá-lo (vv. 27-28). Mas Abraão insiste
que eles já têm os meios: Moisés e os Profetas (v. 29.31), isto é, toda a
Escritura, que é preciso ouvir (v. 29). Se eles rejeitam este meio, rejeitarão
também Lázaro, ressuscitado dos mortos (cf. v. 31).
Cabe a eles, como também a nós, buscar os meios
adequados, não quaisquer meios, mas os consignados na Escritura, para entrar no
Reino de Deus. A Lei e os Profetas são dados para esta vida em vista do Reino
de Deus.
Fonte: Paulinas em 29/09/2013
Vivendo a Palavra
O homem rico pedia aparições miraculosas de
mortos para a conversão de seus parentes. Jesus ensina que a nossa opção deve
ser feita diante de um milagre – sim, um milagre! – mas o milagre da vida e das
relações com os irmãos. A Igreja é lugar de viver a fraternidade – caminho
natural para o Reino de Deus.
Fonte: Arquidiocese BH em 29/09/2013
Vivendo a PalavrA
O homem rico pedia aparições miraculosas de
mortos para a conversão de seus parentes. Jesus ensina que não precisamos
disso: a nossa opção deve ser feita diante de um milagre – sim, um milagre! –
mas o milagre diário da vida e das relações com os irmãos. Simples, assim! A
Igreja é lugar de viver a fraternidade – caminho natural para o Reino de Deus.
Reflexão
TEMOS MISERICÓRDIA EM NÓS?
Lázaro passava necessidades, enquanto o homem
rico fazia banquetes refinados todos os dias, sem se importar com o clamor
daquele e de outros pobres. Não tinha misericórdia. Poderíamos dizer que era
alguém que só pensava no próprio sucesso e não se compadecia dos sofredores, só
levava em conta seu prazer e bem-estar. Em nossos dias, fala-se muito em ter
sucesso, em conquistar o máximo de bens para si. Todos sabemos que bens
materiais são importantes; por isso é que, inspirada em Jesus e em seu
evangelho, a Igreja nos manda assistir os necessitados em suas dificuldades,
partilhar o pão com os famintos, proporcionar refúgio aos desabrigados. No
entanto, o evangelho nos ensina a viver com o necessário. Quem deseja ser
discípulo de Jesus não pode fazer do bem-estar, do conforto, o principal
objetivo da vida.
A parábola de Lázaro e do rico nos faz considerar
uma verdade de nossa fé: quem só pensa em si mesmo e não é sensível aos
sofrimentos dos outros fica longe do reino de Deus, por mais dinheiro que
tenha, por mais riqueza que possua. Existe até uma propaganda de cartão de
crédito que diz que o dinheiro não compra tudo, mas parece que muitos ainda não
se convenceram disso e têm como meta de vida possuir mais e mais. O evangelho
não está sugerindo que devemos ser displicentes ou desorganizados com nossas
finanças, mas quer chamar a nossa atenção para o que é mais importante na vida.
Vamos ouvir agora, enquanto temos tempo, “a Lei e os profetas”. A vida passa
rápido, e o tempo perdido não volta.
Muita gente não desperdiça uma ocasião sequer de
ganhar dinheiro. Não há problema nisso se não está trapaceando ou prejudicando
alguém. No entanto, como discípulos e missionários de Jesus, não nos convém
desperdiçar as ocasiões de fazer o bem a alguém. Lázaro estava passando fome e
precisando de cuidados médicos. O rico o ignorava. A companhia do pobre eram os
cachorros, que vinham lamber suas feridas. Talvez o evangelho queira nos dizer
que quem ignora o sofrimento dos outros, quem não cuida do irmão, está abaixo
dos cães, dos animais. Tudo isso não deve nos levar a julgar as outras pessoas,
mas fazer um exame de consciência. Cada pessoa se pergunte: estou cuidando do
meu próximo ou só penso em minhas necessidades?
Senhor, fazei-nos instrumentos de paz e amor!
Claudiano Avelino dos Santos, ssp
Fonte: Paulus em 29/09/2013
Reflexão
ABISMO ENTRE RICOS E POBRES
Pobreza e riqueza, eis uma questão presente no
evangelho de hoje que se torna assunto de encontros e conferências ao longo do
tempo e nos lugares mais remotos.
Há várias interpretações para a existência de
pobreza e riqueza, pobres e ricos: muitos ligam pobreza e riqueza à sorte e ao
acaso; outros veem na pobreza sinal de incompetência e preguiça e na riqueza
prêmio de competência e dedicação. A verdade é que a pobreza deve ser combatida
e a riqueza partilhada.
Segundo a parábola, o rico não é condenado por
ser explorador, por tratar mal seus empregados, por este ou aquele ato, mas
porque, enquanto se banqueteava em “festas esplêndidas”, não via o pobre
faminto em frente à sua casa. Foi insensível e indiferente à necessidade do
pobre. Eis o grande pecado de hoje, o abismo que separa ricos e pobres: a
indiferença, que pode tornar-se definitiva, permanente, até a eternidade.
O perigo da riqueza mostra-se real quando
desumaniza a pessoa, tornando-a insensível e indiferente à realidade de miséria
e sofrimento de muitos filhos e filhas de Deus. A razão de ser dos bens, fruto
do trabalho de todos, é a promoção de todas as pessoas da sociedade.
Muitos países ricos estão construindo um abismo,
fechando a porta a imigrantes que buscam – em meio à angústia e necessidades –
vida com dignidade. Nações ou grupos multinacionais controlam a riqueza e fazem
dela fonte de divisões em favor de seu domínio econômico.
Há também o abismo da discriminação e da
intolerância derivada da cor, do gênero e da cultura – esquecendo que nos
tornamos mais humanos quando nos relacionamos com a diversidade e a aceitamos.
O planeta Terra é a casa de todos ou a “casa
comum”, onde convivemos com todos e nos sentimos em nosso próprio lar,
usufruindo dos frutos do trabalho humano e dos bens – dons de Deus – que a
própria natureza nos fornece.
Pe. Nilo Luza, ssp
Fonte: Paulus em 29/09/2013
Reflexão
Jesus
conta esta parábola para os fariseus. A narrativa gira em torno do conflito
social entre ricos e pobres, tema muito caro a Lucas. O rico se veste de luxo,
tem comida farta, muitos amigos e grande família, mas não tem nome. O pobre,
faminto, vê de longe o desperdício de comida, sozinho, sem ninguém para
ampará-lo, e ferido: só os cachorros se solidarizam ao lamber-lhe as feridas.
Mas ele tem nome: Lázaro (= Deus ajuda). A riqueza é o grande abismo que separa
um do outro. Os dois morrem: o rico foi enterrado, e o pobre, levado ao seio de
Abraão. O diálogo entre o defunto rico e o pai Abraão é interessante porque nos
mostra o caminho da superação do abismo entre ricos e pobres: a Palavra de
Deus. O Brasil é um dos países campeões de disparidade entre ricos e pobres.
Dado questionador: seis brasileiros mais ricos possuem a mesma riqueza de cem
milhões de brasileiros mais pobres (dado de 2017). A desgraça da riqueza é
quando ela se torna “mamona” (como diz Lucas), um dono possessivo que exige
amor e fidelidade e que consiste num grande obstáculo ao Reino de Deus. O amor
à riqueza torna cega a pessoa e a desfigura socialmente. A função social da
riqueza é favorecer o bem-estar de todo cidadão. É preciso ouvir a Palavra de
Deus para superar o abismo intransponível que separa ricos de pobres e para
vencer as práticas de acúmulo que favorecem poucas pessoas em detrimento de
muitos “Lázaros” humilhados.
(Dia a dia com o Evangelho 2019 - Pe. Luiz Miguel
Duarte, ssp)
Meditação
Você é rico? Em que consiste sua riqueza? - Você
é pobre? Pobre de que coisas? - Sua riqueza espiritual lhe dá sentido à vida? -
Como você encara seus irmãos pobres de bens materiais? - Você
participa de alguma obra que socorre os necessitados?
Padre Geraldo Rodrigues, C.Ss.R
Meditando o evangelho
APELO À CONVERSÃO
A parábola do rico e do pobre Lázaro comporta um apelo à conversão,
especialmente dirigido a quem está tão preocupado com os prazeres desta vida, a
ponto de se tornar insensível às carências de seus semelhantes, mormente, os
mais pobres.
A primeira cena exibe o rico, cujo nome é omitido, gozando os prazeres
da vida, vestindo roupas caras e banqueteando-se esplendidamente. À sua porta,
jaz um mendigo doente, de nome Lázaro, que significa "Deus ajuda",
coberto de feridas. Nada lhe chega da mesa do rico que possa saciar-lhe a fome.
Suas chagas são lambidas por cães vagabundos, os quais Lázaro não tem força
para afastar.
A morte, porém, inverte as posições. Lázaro recebe a ajuda de Deus, por
quem é acolhido. O rico, porém, é brindado com um destino de tormentos indizíveis,
no inferno. Só, então, dá-se conta do quanto fora insensato, despreocupando-se
com a própria salvação. Era tarde demais! O rico havia desperdiçado o tempo
posto à sua disposição, escolhendo um modo de vida egoísta e folgazão.
Caminho igualmente escolhido por seus cinco irmãos. Também eles
recusavam-se a dar ouvido às Escrituras. Nem mesmo um milagre espetacular, como
a ressurreição de um morto, seria suficiente para chamá-los à sensatez. Logo,
estavam escolhendo a mesma sorte do irmão defunto, se não se convertessem
imediatamente.
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese
Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado
no Portal Dom Total).
Oração
Espírito de sensatez, ensina-me a aproveitar o tempo que me é concedido
para viver o amor, solidário com os pobres, de forma a me preparar para o
encontro com o Senhor.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. A recompensa da riqueza mal utilizada
(O comentário do Evangelho
abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP)
Não se pode ler esse evangelho sob a ótica de alguma ideologia
humana, pois se corre o risco de interpretar que os ricos vão para o inferno e
os pobres para o céu. O evangelista, ao refletir com as suas comunidades, não
estava nenhum pouco preocupado com a questão social, mas sim com algo que é
muito mais importante: a abertura que damos a Deus, a sua palavra, a sua
Salvação e á sua Graça Santificante.
O pobre Lázaro não têm muitos méritos para ir ao céu, aqui
chamado de seio de Abraão, é um homem extremamente carente e que vive de
esmolas, não fala que ele era bom, juto, amável, que frequentava comunidade. O
Rico, que nem nome tem, curte a sua riqueza esbanjando seus bens, regalando-se
com banquetes todos os dias. O evangelho nem menciona que o rico passava
indiferente pelo esmoleiro chamado Lázaro. Talvez isso até ocorresse, já que
Lázaro esmolava no portão da entrada do Palácio do Rico.
Parece que o pobre entrou nesse evangelho como “âncora”, para
que o evangelista possa falar do pecado do rico, que, confiando unicamente em
sua riqueza, apostou nela todas as suas fichas e nunca sentiu necessidade de se
abrir á Deus e a tudo o que ele nos oferece. Só na outra vida é que “caiu a
ficha”, pois descobre (tarde demais, diga-se de passagem) que há algo mais
importante do que a riqueza: a Salvação que vem unicamente pela Graça, sua sede
terrível mostra que ele não a tinha e imagina ingenuamente que poderá tê-la,e
que um “pouquinho” já será suficiente.
O tal que se banqueteava na fartura, agora se contenta com uma
minúscula gotinha de água da Salvação. Tarde demais...
O fato de não ter-se aberto á Salvação ainda em vida, criou um
abismo entre ele e Deus e consequentemente com as pessoas, isolando-se em um
terrível egocentrismo, o mesmo mal que hoje em dia corrói a alma e o coração de
muitos.
Quem se abre a Graça de Deus e a sua Salvação, irá se relacionar
com ele, porque o descobrirá nos mais carentes. Essa é a verdadeira religião, á
que nos leva a Deus, passando antes pelo próximo. O resto é a Religião da
Mentira que leva a pessoa ao mesmo lugar de tormento onde foi parar aquele
Ricaço. Daí, qualquer arrependimento será inútil, porque daí, como dizia minha
saudosa mãe “A Inês já é morta”.
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim
– SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
2. Um pobre, chamado Lázaro
(O comentário do Evangelho
abaixo é feito por Côn. Celso Pedro da Silva, ‘A Bíblia dia a dia 2017’,
Paulinas e disponibilizado no Portal Paulinas - http://comeceodiafeliz.com.br/evangelho)
A parábola do rico festejador e do pobre Lázaro é mais um tema
sobre o uso dos bens deste mundo, uma das preocupações de São Lucas. O
discípulo de Jesus pode tropeçar muito em seu caminho se não souber administrar
com liberdade os bens deste mundo.
A parábola fala de um homem rico e elegante que fazia festas
diariamente, e de um pobre que ficava na porta do rico esperando alguma sobra
para comer. Cachorros vinham lamber as feridas do pobre. Os dois morreram. Os
anjos levam o pobre para junto de Abraão. O rico é sepultado e vai para um
lugar de tormentos.
O profeta Amós ataca fortemente os que vivem seguros e
despreocupados, cercados de belas mobílias e alimentados em saborosos
banquetes, que podem estar em festas com música e bebida, que usam perfumes
finos, mas não se importam com a sorte do povo. Um dia, diz o profeta, eles
estarão na primeira fila dos deportados e acabará a quadrilha dos que zombam
dos outros.
Na parábola de Jesus, o rico é de tal forma rebaixado que nem
nome tem, enquanto o pobre se chama Lázaro. A distância entre os dois depois da
morte é intransponível. Um não pode passar para o lado do outro. Vendo que não
pode receber uma ajuda de Lázaro, o rico pede a Abraão que mande Lázaro voltar
e visitar sua família e explicar a todos o que acontece no outro lado da vida,
quem será o vitorioso, o que vale a pena e o que não interessa. Eles têm a
Bíblia, diz Abraão. Que a leiam e pratiquem. Nela está a revelação do que Deus
quer e do que é decisivo na vida humana. Tudo está ao alcance deles. Eles não
precisam que um morto volte a eles para lhes falar.
A parábola nos leva a uma opção muito clara, a opção pelo pobre.
A salvação está do lado de Lázaro. Se pensarmos em vitória, sucesso ou bom
êxito, Lázaro é o vencedor. Estar do lado do pobre supõe clareza de visão e
radicalidade de opção.
“Ai de mim se não evangelizar”, dizia São Paulo. É preciso
ensinar qual é o caminho seguro. O apóstolo dá conselhos práticos a Timóteo:
fugir das coisas perversas, procurar a justiça, a piedade, a fé, o amor, a
firmeza, a mansidão. Tais virtudes não se encontravam nem no rico nem em
Lázaro. Os dois representam extremos. Tais virtudes supõem um nível humano de
equilíbrio. É preciso que Timóteo esteja com Lázaro e ambos se aproximem do rico
para que este não fabrique Lázaros, ou ao menos para que ele perceba Lázaro em
sua porta.
Liturgia comentada
No outro mundo... (Lc 16, 19-31)
Notável a parábola do “rico indiferente”, ou
melhor, a “parábola dos seis irmãos”, como sugere J. Jeremias (“As Parábolas de
Jesus”, Ed. Paulinas, 1983). Parábola que pode ser lida com humor ou com
tremor...
Uma narrativa em dois tempos: neste mundo, o
pobre entre dores e o rico entre gozos; no outro mundo, posições invertidas.
E... para sempre, sem remissão... Detalhe curioso: é a única parábola de Jesus
em que um dos personagens tem nome: Lázaro (ou Eleazar), que significa, em
hebraico, “Deus ajuda”. Já o apelido do rico indiferente – Epulão – é posterior
e não consta do original.
Entre os dois “tempos”, a morte como um limiar e
uma virada, que tudo multiplica por (–1), invertendo todos os valores. O
mendigo sofredor acaba no “seio de Abraão” (imagem do Céu), enquanto o rico
gozador acaba atormentado no inferno (dispensa imagens!). O rico tenta um
recurso paradoxal: pede a Abraão uma espécie de mediação do próprio Lázaro,
para refrescar sua sede infernal. O mesmo que, antes, negara migalhas de pão,
agora súplica por uma gota d’água...
Como isto era impossível, pois um abismo
intransponível (chaos magnum, em latim) impede o contato entre céu e inferno, o
condenado mostra preocupação com seus cinco irmãos que ainda vivem na terra e –
supõe-se – viviam um estilo de vida semelhante ao que ele mesmo havia
escolhido. Pede que o fantasma de Lázaro vá alertá-los. E ouve do Pai Abraão a
resposta: “Eles têm Moisés (a Palavra escrita, lógos) e os Profetas (a Palavra
viva, rhema). Basta ouvi-los!”
O ricaço ainda argumenta que a aparição de um
morto teria mais impacto e os levaria à conversão. E a crua resposta: quem não
ouve a Lei e as Profecias, também não daria ouvidos a um morto...
Quantas lições para nós! Não se vive impunemente.
Há uma retribuição proporcional. Ficar surdo à Lei de Deus é coisa séria, de
graves consequências. A indiferença ao pobre é mortal!
Prefiro, contudo, fixar-me em uma única lição:
existe um OUTRO MUNDO. Este mundo não é o único. Aliás, este é provisório,
passageiro. O outro, sim, é definitivo, tecido de eternidade. E viver como se
nada houvesse além deste mundo, é pura insanidade!
Para que mundo nós estamos vivendo?
Orai sem cessar: “A ti, Senhor, o pobre se abandona confiante!” (Sl 10, 14)
Texto de Antônio Carlos
Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Fonte: NS Rainha em 29/09/2013
Comentário
O rico e Lázaro
COITADO, SÓ TEM DINHEIRO!
I. INTRODUÇÃO GERAL
As leituras do 26º domingo comum dificilmente
deixarão insensível o coração do verdadeiro cristão. Trazem uma contundente
crítica à ganância, que, esta sim, torna insensíveis as pessoas. As
leituras de hoje trazem um forte chamamento à conversão à solidariedade
e à justiça social para a transformação de uma realidade injusta e iníqua,
segundo a vontade de Deus. Essa necessidade de conversão não é apenas para os
ricos, mas também para os pobres que têm coração e mentalidade de ricos e para
todos os que não abrem os olhos para a realidade social injusta.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS
BÍBLICOS
1. I leitura (Am 6,1a.4-7)
Mais uma vez (como no domingo passado) Amós,
mestre da ironia profética (veja as “vacas de Basã”, Am 4,1),
critica a “sociedade de consumo” de Samaria e de Jerusalém (Sião). Os ricos,
especialmente os da corte real, aproveitam a vida sem se importar com a “casa
de José”, ou seja, com a ruína do povo. A “casa de José” são as tribos de
Efraim e Manassés, filhos de José do Egito, que constituíram o reino do
Norte (Samaria). José, porém, distribuía alimentos ao povo, enquanto os
donos de Samaria tiravam o pão do povo. Por isso, essa elite tem que ir ao
cativeiro, para aprender o que é a justiça e o direito.
Na leitura da semana passada, Amós revelava a ambiguidade dos
ricos comerciantes da Samaria. Hoje, censura-lhes a irresponsabilidade.
Denuncia o luxo e a luxúria das classes dominantes. Evoca ironicamente a
gloriosa história antiga: os ricos, porque têm uma cítara para tocar, acham que
são cantores como Davi… enquanto o povo é ameaçado pela catástrofe da injustiça
social e da invasão assíria. Por isso, esses ricaços sairão ao exílio na frente
dos deportados…
2. Evangelho (Lc 16,19-31)
A insensibilidade pelo sofrimento do pobre é
também o tema da leitura evangélica deste domingo, a parábola do ricaço e do
pobre Lázaro, Lc 16,19-31. Nesta parábola, própria de Lucas, o
narrador acentua o perigo da riqueza. Mostra a insensibilidade de quem vendeu
sua alma em troca de riqueza – quem é tão pobre que só possui
dinheiro!
A descrição do pobre e de sua contrapartida, o
ricaço, é extremamente viva. As sobras da mesa do rico não vão para o pobre,
mas para o cachorro. Parece que é hoje. Significativo é que Lázaro tem nome, e
seu nome quer dizer: Deus ajuda. O rico não tem nome, é ignominioso. Quando
então sobrevém a morte, igual para ambos, o quadro se inverte. Lázaro vai para
“o seio de Abraão” (é acolhido por Abraão no lugar de honra do banquete,
podendo reclinar-se sobre seu lado). O rico, entretanto, vai para o xeol,
a região dos mortos, onde passa por tormentos. Há entre os dois um abismo
intransponível, de modo que Lázaro não poderia nem dar ao
ricaço um pouco de água na ponta do dedo para aliviar-lhe o calor
infernal. Na realidade, esse abismo já existia antes da morte – o abismo entre
ricos e pobres –, mas com a morte tornou-se intransponível, definitivo. Então,
o rico pede que Lázaro possa avisar seus irmãos, que vivem do mesmo
jeito como ele viveu. Mas Abraão responde: “Eles têm Moisés e os profetas. Nem
mesmo se alguém ressuscitasse dos mortos, não acreditariam nele”: alusão a
Cristo.
Dureza, isolamento, incredulidade: eis
as consequências do viver para o dinheiro. Podemos verificar esse
diagnóstico em redor de nós, cada dia, e, provavelmente, também em nós mesmos.
A pessoa só tem um coração; se o coração se afeiçoa ao dinheiro, fecha-se ao
irmão.
Os ricos são infelizes porque se rodeiam de bens
como de uma fortaleza. É a impressão que suscitam hoje os condomínios fechados.
São “incomunicáveis”. As pessoas vivem defendendo-se a si e a suas riquezas. Os
pobres não têm nada a perder. Por isso, “as mãos mais pobres são as que mais se
abrem para tudo dar”.
Em nosso mundo de competição, a riqueza
transforma as pessoas em concorrentes. A riqueza é vista não como “gerência”
daquilo que deve servir para todos, mas como conquista e expressão
de status. Tal atitude marca a riqueza financeira (capitalização sem
distribuição), a riqueza cultural (saber não para servir, mas para sobrepujar)
e a riqueza afetiva (possessividade, sem verdadeira comunhão). Considera-se a
riqueza recebida como posse em vez de “economia” (palavra grega que significa:
gerência da casa). Não se imagina o tamanho deste mal numa sociedade que
proclamou o lucro e a competição como seus dinamismos fundamentais. Até a
afetividade transforma-se em posse. As pessoas não se sentem satisfeitas
enquanto não possuem o objeto de seu desejo, e, quando o possuem, não sabem o
que fazer com ele, passando a desejar outro… Não sabem entrar em comunhão.
Assim, a parábola de hoje é um comentário do “ai de vós, ricos” (Lc 6,24).
3. II leitura (1Tm 6,11-16)
A 2ª leitura de hoje não participa da temática
principal da 1ª leitura e do evangelho, mas completa-a, no sentido de
apresentar o contrário da dureza e avareza.
Imediatamente antes do trecho de hoje, a primeira
Carta a Timóteo fala da avareza, que chega a abalar a fé (6,10). Também os
ministros da Igreja devem cuidar-se dela. Depois, positivamente, exorta Timóteo
a cultivar as boas virtudes (6,11-12), a ser fiel à profissão da fé (6,12.13),
confiada a ele por Cristo, até sua volta (6,14.15-16). A Igreja está no tempo
do crescimento; deve conservar o que lhe é confiado.
O testemunho de Cristo neste mundo não é nada
pacífico. É uma luta: o bom combate. Importa travar esta luta – como
o fez Paulo – até o fim, para que vivamos para sempre com aquele que possui o
fim da História. (Poder-se-iam acrescentar à leitura os versículos que seguem,
1Tm 6,17-19, e que são uma lição do que o cristão deve fazer com seus bens.)
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
A riqueza que endurece: ouvimos as
censuras de Amós contra os ricos da Samaria, endurecidos no seu luxo e
insensíveis ao estado lamentável em que se encontra o povo. Jesus, no
evangelho, descreve esse tipo de comportamento na inesquecível pintura do
ricaço e seus irmãos, que vivem banqueteando-se, enquanto desprezam o pobre
Lázaro, mendigo sentado à porta. Quando morre e vai ao xeol, o rico vê, de
longe, Lázaro no céu, com o pai Abraão e todos os justos. Pede a Lázaro que venha
com uma gota d’água aliviar sua sede. Mas é impossível. O rico não pode fazer
mais nada, nem sequer consegue que Deus mande Lázaro avisar seus irmãos a
respeito de seu erro. Pois, diz Deus, nem mandando alguém dentre os mortos eles
não acreditam. Imagine, se mesmo a mensagem de Jesus ressuscitado não encontra
ouvido!
E nós? Nós continuamos como o rico e seus irmãos.
Os pobres morrem às nossas portas, onde despejamos montes de comida
inutilizada… (Alguma prefeitura poderia talvez organizar a
distribuição das sobras dos restaurantes para os pobres.) Será que devemos
criar uma nova estrutura na sociedade, de modo que não haja mais
necessidade de mendigar nem supérfluos a despejar? Isso certamente aliviaria,
ao mesmo tempo, o problema social e o problema ecológico, pois o meio ambiente
não precisaria mais acolher os nossos supérfluos. Mas, ao contrário, cada dia
produzimos mais lixo e mais mendigos.
O exemplo do rico confirma a mensagem de domingo
passado: não é possível servir a Deus e ao dinheiro. Quem opta pelo dinheiro
afasta-se de Deus, de seu plano e de seus filhos. Talvez decisivamente.
m teoria, aceitamos essa lição. Mas
ficamos por demais no nível pessoal e interior. Procuramos ter a alma limpa do
apego ao dinheiro e, se nem sempre o conseguimos, consideramos isso uma
fraqueza que Deus há de perdoar. Mas não fazemos a opção por Deus e pelos
pobres em nível estrutural, ou seja, na organização de nossa sociedade, de
nosso sistema comercial etc. Temos até raiva de quem quer mudar a ordem de
nossa sociedade. Prendemo-nos ao sistema que produz os milhões de lázaros às
nossas portas. Pior para nós, que não teremos realizado a justiça, enquanto
eles estarão na paz de Deus.
A “lição do pobre Lázaro” só produzirá seu efeito
em nós, “cristãos de bem”, se metermos a mão na massa para mudar as estruturas
econômicas, políticas e sociais de nossa sociedade. Porém, que adiantariam
novas estruturas se também não se renovassem os corações? Quem conhece a
história sabe que nenhuma estrutura social ou econômica é definitiva,
porque é fruto do trabalho humano, que é sempre provisório. As
estruturas mais justas não dispensam a sensibilidade por aquele que sofre, e é
assumindo nossa responsabilidade diante do sofrimento de cada um, na dedicação
ao amor fraterno, que cuidaremos também de tornar mais fraternas as próprias
estruturas da sociedade.
Pe. Johan Konings, sj
Nascido na Bélgica, reside há muitos anos no
Brasil, onde leciona desde 1972. É doutor em Teologia e licenciado em Filosofia
e em Filologia Bíblica pela Universidade Católica de Leuven (Lovaina).
Atualmente, é professor de Exegese Bíblica na Faje, em Belo Horizonte. Entre
outras obras, publicou: Descobrir a Bíblia a partir da liturgia; A Palavra se
fez livro; Liturgia dominical: mistério de Cristo e
formação dos fiéis – anos A - B - C; Ser cristão;
Evangelho segundo João: amor e fidelidade; A
Bíblia nas suas origens e hoje.
E-mail: konings@faculdadejesuita.edu.br
Fonte: Vida Pastoral em 29/09/2013
REFLEXÕES DE HOJE
29 DE
SETEMBRO-DOMINGO
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HOMILIA
DIÁRIA
Não construa sua riqueza em cima da miséria
alheia
Onde vivemos, há ricos cada
vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres. Muitas vezes, a riqueza de alguns
é construída em cima da miséria de muitos.
“Filho lembra-te que tu recebeste teus bens
durante a vida e Lázaro, por sua vez , os males. Agora, porém, ele encontra
aqui consolo e tu és atormentado” (Lc 16,25).
Um dos Evangelhos que relata, de forma muito
clara, o drama que vive a comunidade desde os seus primórdios. O Evangelho nos
mostra duas realidades. De um lado, a do rico que tudo tem, que tudo pode, que
esbanja dos bens que tem, das posses, do dinheiro e de tudo aquilo que as
riquezas podem dar a uma pessoa. E do outro lado, o pobre Lázaro praticamente
miserável, que vive das misérias, da boa vontade das pessoas quando lhe dão
algo para comer ou para poder sobreviver, de modo que ele vive jogado nas ruas,
até os cachorros lambiam suas feridas.
No mundo em que nós vivemos, existem muitos ricos
como no Evangelho de hoje; não existe pecado nenhum em ser rico, não existe mal
nenhum em ter bens, em trabalhar honestamente, em adquirir posses e riquezas. O
único mal é quando você olha a riqueza pela riqueza, faz dela o seu triunfo e
coloca nela o sentido da sua vida, e você não pode olhar mais além; e pior
ainda quando você se torna rico e não se lembra dos pobres.
Onde vivemos, há ricos cada vez mais ricos e
pobres cada vez mais pobres. Muitas vezes, a riqueza de alguns é construída em
cima da miséria de muitos.
Muitas vezes, o rico não se lembra de tratar com
dignidade, com respeito e até promover a dignidade daqueles que estão sofrendo
na miséria; por isso o Evangelho de hoje apresenta para nós o destino final da
humanidade. O rico que vai sofrer os tormentos do inferno e o pobre que vai
receber o consolo de Deus. Lá, o rico vai pedir o consolo ao pobre para vir em
seu socorro, mas Abraão, representando o pai eterno, diz que é um abismo que
separa quem está no céu de quem está no inferno.
Hoje, pobres e ricos podem conviver juntos pelo
menos no mesmo planeta. É óbvio que um abismo social enorme os separa. É nosso
papel, é nosso dever em cima daquilo que nos ensina o Evangelho, a Doutrina
Social da Igreja. Trabalharmos e nos empenharmos, cada vez mais, para que a
pobreza desapareça e para que menos pessoas passem por necessidades. Cuidemos
dos pobres, porque a carne dos pobres, desprezados e sofridos, é a carne do
próprio Jesus.
Deus abençoe você!
Padre Roger Araújo
Sacerdote da Comunidade Canção Nova, jornalista e
colaborador do Portal Canção Nova.
Fonte: Canção Nova em 29/09/2013
Oração Final
Pai Santo, dá-nos sabedoria para viver
fraternalmente com os companheiros que colocaste perto de nós nesta jornada.
Que sejamos testemunhas para o mundo do quanto nos sentimos amados por ti, e da
esperança/certeza do teu Reino. Pelo Cristo Jesus, teu Filho e nosso Irmão, na
unidade do Espírito Santo.
Fonte: Arquidiocese BH em 29/09/2013
Oração FinaL
Pai Santo, dá-nos sabedoria para viver em Paz
com os companheiros que colocaste perto de nós para caminhar nesta terra
encantada que nos emprestas para ser cuidada, usufruída e partilhada. Que
testemunhemos diante do mundo o quanto nos sentimos envolvidos por teu Amor, e
a esperança/certeza de que temos o teu Reino já presente em nós. Pelo Cristo
Jesus, teu Filho e nosso Irmão, na unidade do Espírito Santo.

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