
Informado da morte de João Batista, Jesus se retira para um lugar deserto, mas o povo vai atrás dele. Seu coração se compadece e ele cura os doentes. O tempo passa, e é preciso despedir as pessoas para procurarem alimento enquanto é dia. Jesus diz então aos discípulos algo aparentemente impossível: “Vocês mesmos vão dar-lhes de comer”. Eles tinham cinco pães e dois peixes, quase nada, mas bom começo para a partilha. E o milagre aconteceu. Um passe de mágica certamente não foi. Todos se alimentam e sobram doze cestos. Não importa saber como aconteceu a multiplicação. Basta ver e imitar. Inventem um modo de dar ao povo o pão de cada dia, e dar-lhe também o Pão da Eucaristia.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. Um evangelho gostoso de meditar, porque retrata nossas paróquias
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)
Às vezes lemos este evangelho de maneira fria, alguém deu a notícia a Jesus de que seu primo João Batista tinha sido morto por Herodes. João Batista morre e Jesus começa sua missão. Mateus informa que Jesus retirou-se para um lugar deserto, movido pela tristeza de ter perdido o primo e também por precaução, pois o cerco estava se apertando. Mas Jesus nem teve tempo de pensar nos próprios problemas, pois o povo soube e uma multidão foi procura-lo, indo á pé para o outro lado onde estava Jesus. A travessia do mar da Galiléia, a pé, é uma forma de Mateus lembrar a seus conterrâneos como ocorreu a libertação do povo hebreu, que atravessou o mar vermelho a pé enxuto. Essa terra prometida, a terra das delícias, onde corre leite e mel e o povo se sacia plenamente, é Jesus Cristo.
Jesus ensina e realiza curas dos enfermos, sinais evidentes do seu messianismo, sinais de um Reino de Deus que já está no meio dos homens. Não é um reino da fantasia ou da Alice no país das maravilhas, as comunidades têm preocupações, tal como os discípulos, ao cair daquela tarde “Este lugar é deserto, já se faz tarde, despede essa gente para que vá comprar víveres nas aldeias”. Como os discípulos, muitas vezes queremos “separar” das duas dimensões da nossa Santa Igreja, que deve cuidar da alma e do Espírito, com a Palavra e os Sacramentos, quando ao corpo e suas necessidades básicas, incluindo-se a alimentação, é melhor não se envolver com problemas que não temos como resolver.
Uma Equipe de Eventos tem muito trabalho pela frente, e preocupações dessa mesma ordem, precisamos construir salas de catequese, novas comunidades, adquirir imóveis para abrigar novas comunidades que vão surgindo...Há os que não conseguem fazer uma experiência profunda de Jesus em trabalhos desse tipo, e por isso muitos irmãos e irmãs, jogam o problema para o padre, o tesoureiro, o pessoal do CAE. “Ah...esse assunto de dinheiro não é problema da nossa pastoral, ou do nosso movimento" - ” pensam os omissos, os que não gostam de vestir a camisa. Se Jesus obedecesse ao conselho dos seus discípulos, diria a multidão “ Olha pessoal, por hoje chega de ensinamento, vão para suas casas, comprem alimentos, amanhã, já de barriga cheia, vocês voltem para continuarmos com o assunto...”
Jesus se compadece, sofre junto, afirma que a comunidade tem a solução para aquele problema, e são necessárias duas coisas: partilha do pouco, e organização, para resolvê-lo. A Comunidade sempre tem pouco, nunca têm muito, materialmente falando. O mês sempre começa com muitas contas a pagar, já efetivadas, valores dispendidos para materiais de construção, no caso de empreendimentos imobiliários. Na despesa não tem como mexer, os boletos e contas estão lá para serem pagos. Mas, e a Receita?
Será que o Dízimo e coleta será suficiente naquele mês? Jesus sente compaixão das pessoas, nossas comunidades precisam aprender com ele a sentirem também compaixão, uma das outras. Pensar juntos, enfrentar os problemas juntos, dispor do pouco que cada um tem, para somar e se viver a comunhão, fazendo o milagre acontecer, mas de maneira organizada...
Depois as multidões sentam-se na relva em grupos que lembram também nossas comunidades grandes ou pequenas. Jesus eleva os olhos ao céu, agradece e abençoa o pouco que foi partilhado, e os grupos se saciam abundantemente e ainda há sobras. É a Eucaristia que alimenta a todos, despertando a todos para a Vida em Comunhão, comunhão não fechada na minha comunidade, na minha pastoral, no meu movimento, mas solidária com toda paróquia.
Pensar assim, é ser discípulo de Jesus, comprometido com ele. Pensar diferente disso, é omitir-se, é tirar o corpo fora dos problemas que não são do nosso “grupo” em particular. É agir de maneira farisaica achando que cada um deve resolver os seus problemas, rompendo a comunhão, negando na prática a Eucaristia que recebemos.
2. Eles não precisam ir embora. Vós mesmos dai-lhes de comer! - Mt 14,13-21
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por Côn. Celso Pedro da Silva, ‘A Bíblia dia a dia 2017’, Paulinas e disponibilizado no Portal Paulinas - http://comeceodiafeliz.com.br/evangelho)
“Todos comeram e ficaram saciados e dos pedaços que sobraram recolheram ainda doze cestos cheios.” Recolheram, não jogaram fora, não desperdiçaram. Eis outro aspecto a ser meditado no episódio da multiplicação dos pães e dos peixes. Basta olhar as estatísticas e teremos uma ideia do desperdício de alimentos, no mundo em geral e no Brasil em particular, com suas consequências. As estatísticas também nos mostram o número de pessoas que passam fome no mundo e quais são as regiões mais afetadas por falta de água e de alimentos. Sabemos de tudo isso, talvez só não saibamos deixar de desperdiçar. Evite o desperdício e tenha um pouco mais para poder partilhar com quem não tem nada.
HOMILIA DIÁRIA
Quem confia no Senhor jamais será abandonado
Aqueles que confiam no Senhor jamais serão abandonados. Mas quem não sabe confiar no Senhor, muitas vezes abandona-O por causa daquilo que lhe falta.
“Os filhos de Israel começaram a lamentar-se, dizendo: ‘Quem nos dará carne para comer?”’(Nm 11,4b)
Meus irmãos, hoje a Liturgia com a riqueza da sua palavra, nos chama a atenção para o Livro dos Números, onde o povo de Deus se encontra reclamando, murmurando, porque está passando fome e não tem o que comer.
Deus sempre cuidou do seu povo ao longo do caminho, mas eles preferiram se recordar das cebolas, das coisas que haviam no Egito mas não tinham Deus. Agora, eles têm Deus. Mas sentem, às vezes, a falta disso ou a falta daquilo. E às vezes começam, então, a murmurar.
Nós somos assim também: muitas vezes andamos longe de Deus, mas estamos cercados de coisas materiais, estamos com abundância disso ou daquilo. Aí nos vangloriamos! Sabe por quê? Porque a nossa visão é materialista, é carnal. O que importa para nós é ter as coisas.
Quem é de Deus, não. Às vezes falta isto, falta aquilo… Mas tem Deus. Sabe agradecer, louvar. Sabe que no tempo certo Deus há de prover. E aqueles que confiam no Senhor jamais serão abandonados. Mas quem não sabe verdadeiramente confiar no Senhor, muitas vezes abandona-O por causa daquilo que lhe falta.
Você pode estar passando por algum aperto, por alguma necessidade. Pode até ser que você se encontre desempregado, e não consiga dar a seus filhos aquilo que deseja. Mas eu quero dizer a você, meu filho: “Aguenta firme no Senhor!” Pode lhe faltar tudo, mas que nunca falte a sua fé e confiança no Senhor.
Não murmure. Não reclame. Não comece simplesmente a lamentar e murmurar contra Deus, porque isso só vai tirar a paz do seu coração, só vai abalar sua fé. Quando, na verdade, o que você precisa – mais do que nunca agora – é viver uma experiência de fé. Crescer na fé, na confiança, na convicção de que a Divina Providência do Senhor está do seu lado.
Quero, hoje, convidar você a não desanimar. Se você passa por alguma circunstância difícil na sua vida, por algum aperto, necessidade, coloque no Senhor a sua confiança e não desanime jamais.
Que Deus abençoe você.
Padre Roger Araújo
Sacerdote da Comunidade Canção Nova, jornalista e colaborador do Portal Canção Nova.
HOMILIA DIÁRIA
Tenhamos compaixão dos mais necessitados
“Encheu-se de compaixão por eles e curou os que estavam doentes.” (Mateus 14,14)
Hoje, olhamos para Jesus e queremos pedir que em nós estejam os sentimentos d’Ele, porque Jesus era profundamente de Deus, todo de Deus e profundamente humano.
A humanidade de Jesus estava triste, porque, mesmo Ele se retirando, estava triste com o que aconteceu. João Batista tinha sido martirizado, Ele se recolheu para meditar, porém, viu a multidão e compadeceu-Se dela.
Precisamos nos compadecer uns dos outros, mas precisamos ter compaixão, sobretudo dos mais sofridos e dos mais necessitados. Se nós perdemos a compaixão, perderemos o sentimento evangélico mais nobre que é a capacidade de sofrer e sentir com o outro, estar com o outro.
Pode ser que não mudemos o mundo, mas podemos sofrer com o mundo, lutar com o mundo e dar o melhor para aliviar o sofrimento do outro.
Jesus, compadecido, curou e cuidou dos doentes. O primeiro lugar onde se deve voltar o olhar é para os doentes, para os enfermos e sofredores. Existe uma multidão de irmãos nossos que estão nos hospitais, em nossas casas, no meio de nós sofrendo e padecendo os mais diversos males no corpo, na alma, no espírito e nas emoções. Quantas doenças emocionais estão se manifestando no meio de nós, e não podemos confundi-las com o mal. Por mais doente que a pessoa esteja, ela merece o nosso amor, o nosso cuidado e a nossa compaixão.
Se nós perdemos a compaixão, perderemos o sentimento evangélico mais nobre que é a capacidade de sofrer com o outro
As pessoas estão famintas, não têm o que comer, o que vestir; e, é mais fácil afastar-se delas. Assim queriam fazer os discípulos, mas Jesus disse: “Dai-lhes vós mesmos de comer”.
Nós não podemos nos fechar no sentimento egoísta de que o que temos é só nosso, além de não sermos capazes de tirar do bolso, da mão ou do coração para alimentar a fome e a sede do outro; para dar o que vestir a quem não tem o que vestir. O nosso cristianismo não pode se tornar egoísta, porque, esse caminho cristão ou essa religião não é a de Jesus.
Jesus está ordenando aos seus: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Quando não temos o alimento para dar, nós mesmos nos tornamos alimento para o outro, damos o alimento da nossa atenção, os escutamos e precisamos fazer isso com os nossos irmãos que estão sofrendo. Precisamos repartir e partir o pão. Porque Jesus tomou o pão e deu aos Seus discípulos e eles distribuíram às multidões.
Eu sei que todos nós gostamos de estar com Jesus na Eucaristia, mas antes do milagre da Eucaristia que foi o Seu próprio corpo, Jesus pegou o pão que alimenta a fome de matéria (a que todos nós temos para a sobrevivência) e o repartiu.
Não se pode repartir a Eucaristia, tomar a Eucaristia, se não sabemos repartir o nosso pão de cada dia. A Eucaristia se celebra na Igreja, e sim a vive nas ruas e em todas as dimensões do sofrimento humano, em que seremos o pão de Cristo para os sofredores, para os doentes e enfermos, para o mundo que está padecendo fome, miséria e tantas situações opressoras.
Precisamos ser presença viva de um Jesus que é vivo e Se compadece do Seu povo.
Deus abençoe você!
Padre Roger Araújo
Sacerdote da Comunidade Canção Nova, jornalista e colaborador do Portal Canção Nova.
HOMILIA DIÁRIA
Saciemos a fome dos nossos irmãos
“Jesus porém lhes disse: ‘Eles não precisam ir embora. Dai-lhes vós mesmos de comer!’.” (Mateus 14,16)
Os discípulos querem despedir as multidões porque o dia já vai avançando e aquele povo todo está ouvindo Jesus, se saciando de Jesus, porque Ele anuncia a eles a Palavra que dá vida, é a Palavra que dá vida preenche a nossa alma e o nosso coração.
É gostoso e saboroso ouvir Jesus, como precisamos realmente nos deliciar com a graça de ouvir a Palavra de Deus. E como nós precisamos levar esse gosto, esse sabor, essa delícia que é ouvir Jesus, estar na presença d’Ele ao coração de todos os homens e todas as mulheres, daqueles que nos cercam.
Escutamos muitas coisas, assistimos filmes, vemos programas, escutamos as pessoas contando piadas e histórias engraçadas, mas é somente para nos distrair, porque, realmente, quem nos sacia, quem realmente traz plenitude e vida para a nossa vida é Jesus, por isso, precisamos ouvi-Lo de todo o nosso coração.
É desumano e triste ignorarmos a fome dos irmãos
Aqui tem uma coisa importante: assim como precisamos cuidar e alimentar a nossa vida espiritual, nossa vida psíquica e psicológica, o nosso ser inteiro precisa se alimentar de Deus, precisamos do pão do cotidiano. Assim como não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que vem da boca de Deus (cf. Mateus 4,4), não é só da palavra que vem da boca de Deus que vive a nossa humanidade. Nós trabalhamos para ter o pão de cada dia, para termos resistências, para termos fortaleza e é uma bênção podermos nos alimentar bem com a graça de Deus.
Não é somente nós e os nossos, mas todos os filhos de Deus tem direito ao pão do cotidiano, ao pão de cada dia. Não podemos permitir que ninguém ao nosso lado, ao nosso redor, próximo a nós, ninguém que venha a nós volte de mãos vazias, volte com fome ou com sede.
Deus criou este mundo com abundância de alimentos capaz de saciar mais três planetas, dez planetas como este ou quantos forem necessários, porque Deus criou tudo em abundância. Por isso, é triste e desumano quando qualquer ser humano passa fome, mas é mais desumano e mais triste ainda ignorarmos a fome dos irmãos, fazermos como os discípulos: “Deixa eles irem embora para que eles se virem”. Não! “Dai-lhes vós mesmos de comer”.
O primeiro significado é que eu preciso ser alimento para o outro, preciso me dar ao outro, escutar a fome e a necessidade do outro, mas eu preciso dar o pão para saciar a necessidade do outro. Vou pegar o pouco que tenho, o pouco que temos ao nosso lado, que seja cinco pães, que seja os dois peixes e, com a graça de Deus, saber multiplicar os dons.
Na humanidade perversa em que nós vivemos, as pessoas retém e guardam, as pessoas acumulam para si. A sociedade do Evangelho é aquela que multiplica o pouco para que se torne muito, divide o que tem para que ninguém passe necessidade. Saciemo-nos de Jesus e levemos Jesus aos outros, mas não nos esqueçamos que nem nós e nem eles vivemos sem o pão do cotidiano. Por isso, nos alimentemos, mas alimentemos também uns aos outros e dai-lhes vós mesmo de comer.
Deus abençoe você!
Padre Roger Araújo
Sacerdote da Comunidade Canção Nova, jornalista e colaborador do Portal Canção Nova.
Fonte: Canção Nova em 02/08/2021
Oração Final
Pai Santo, faze-nos atentos às carências dos irmãos, abertos para ouvir os seus desejos e disponíveis para atendê-los com espontânea generosidade. Mantém-nos humildes e discretos, na certeza de que há maior alegria em dar do que em receber. Por Jesus, teu Filho e nosso Irmão, na unidade do Espírito Santo.
ORAÇÃO FINAL
Pai Santo, faze-nos atentos às carências dos irmãos, abertos para ouvir os seus desejos e disponíveis para atendê-los com espontânea generosidade. Mantém-nos humildes e discretos, na certeza de que há maior alegria em dar do que em receber. Por Jesus, teu Filho e nosso Irmão, na unidade do Espírito Santo.
Fonte: Arquidiocese BH em 05/08/2019
Nenhum comentário:
Postar um comentário